O rádio🎭
— Ei... acorda!
Eu morri e agora estava no céu.
A voz doce acariciava meus tímpanos e me fazia sorrir. Meus olhos tentaram se adaptar ao clarão, doía, mas conseguia distinguir os traços de Jimin ali, era ele o ser celestial que me encarava de perto. Boca carnuda, olhos cintilantes que pareciam guardar uma galáxia inteira.
— Acorda, caralho! — disse o anjo e eu só acordei de fato quando senti um tapa ardido no rosto.
Abri bem os olhos, ficando lúcido.
— Aaai, por que me bateu?! — choraminguei me sentando, mas ao tentar tocar o local dolorido, notei que minhas mãos estavam amarradas com fita adesiva, unidas na frente do meu corpo. — Aish.
— Já revistamos seus bolsos, Jung Huck... Espera, droga de lentes... — olhou para minha identidade, tentando soletrar meu nome. — Jungkook! — riu sem humor e pude ver pela primeira vez seus dentes branquinhos. Dentes! Voltou a falar depois de lubrificar os lábios gordinhos com a língua e... Caramba, ele tinha língua também?! Fiquei hipnotizado com o movimento sutil de cada traço, cada gesto, mal acreditando no que estava acontecendo. Pensei: "posso estar mesmo morto e esse ser um tipo de universo paralelo?". Por que não? Acreditava até em disco voador e shippes de kpop, então não descartaria aquela hipótese por nada. — Deve ser alguém corajoso ou um ladrão muito burro para entrar aqui desarmado. Mas se tentar alguma gracinha, aquele grandalhão ali... — apontou para o segurança que tinha o dobro do meu tamanho e mantinha os braços malhados cruzados sobre peito. — ... vai te partir em dois pedaços!
Fiquei confuso, me remexendo no chão frio.
— Por que você me machucaria, Jimin?
O ruivo estreitou os olhos.
— Como sabe meu nome? Oh, espera... Você é algum stalker? — acusou com a voz crescente e eu negava com a cabeça a cada palavra. — Está me seguindo?!
— O quê?! Não, eu sou seu namorado... Não lembra, hyung?
Sua boca de abriu, formando um perfeito "o". A lanterna do seu celular foi ligada novamente e o fleche de luz, colocado em meus olhos.
— As pupilas dele continuam dilatadas. Acho que a pancada foi forte demais! — olhou para trás, conversando com o segurança.
— O que faremos, chefe?
— Por que fingiu ser um manequim esse tempo todo? — comecei a perguntar ao passo que a mágoa por ele ter me enganado, fazia meu peito apertar.
— Hum... Acho que já entendi tudo. — sua expressão se transtornou indecifrável, mas percebi o sorriso mínimo repuxado em sua boca. Então ele se virou para o grandalhão e indicou com a cabeça. — Pode soltar ele, Kim. Eu assumo sozinho agora.
— Tem certeza, senhor Park?
— Absoluta.
🎭
— Então tudo não passou de uma brincadeira de mal gosto do seu sócio?
O empresária afirmou.
— Jaesang tem um humor excêntrico, exagerado. Tudo é razão para fazer piadinhas fora de hora ou trolar os desavisados... Já perdi a conta de quantas vezes diferentes inventou algum acidente, adora pregar peças. — revirou os olhos esfumaçados pela sombra cinza. Jimin versão humana era parecidíssimo com o protótipo. Tudo nele exalava luxo: o terno de corte nobre deveria custar um ano inteiro do meu salário e o relógio dourado no pulso fino provavelmente não era uma cópia barata como a que comprei no mercado. Com as duas mãos, agora enfiadas no bolso em uma pose mais relaxada, o ruivo continuou. — Foi ideia dele o primeiro manequim ter minha aparência. Seria um desafio para a equipe de designers, que cumpriu perfeitamente a tarefa proposta. Logo outros modelos vieram, sendo desnecessário tê-lo no mostruário. Além do mais, me sentia incomodado... Toda vez que vinha aqui dava de cara com meu sósia, então mandei dar "fim" no boneco.
Ao final da história sobre como o meu Jimin surgiu, me mantive em silêncio, sem saber se deveria ser sincero com o homem a minha frente.
— Foi preciso meu sócio encher a cara para soltar em meio a gargalhadas o que tinha feito de fato... Então eu sinto muito pelo transtorno, mas eu mandei um reembolso bem "gordo" e se for preciso Jae vai pessoalmente falar com o seu patrão.
— Ex-patrão. — corrigi triste. O ruivo arregalou os olhos e a cena pareceu um tanto fofa. — Fui demitido e não acho que agora, sem ele, teria algum sentido voltar a trabalhar lá.
— Como assim? — sussurrou intrigado.
Engoli em seco pegando meu celular. Minhas mãos tremiam quando desbloquiei a tela e entreguei ao empresário.
— Eu costumava conversar com ele. Jogar, cantar... e até sair. — olhei para o empresário procurando algum vestígio de repulsa ou zoação, mas o ruivo se mantinha calado, atento ao meu discurso, ao mesmo tempo que olhava as fotos que passavam na tela. — Ele tinha um nome e eu o tratava como um bom amigo... um companheiro. — engoli em seco. — Então fui descoberto. O senhor Cha achou que eu era maluco e me demitiu. Você... também deve pensar que sou louco.
Por longos segundos o silêncio tomou conta do armazém cheio de manequins, até escutar o empresário estalar a língua em sinal de contradição, chamando minha atenção.
— Não acho. — balançou a cabeça, esvoaçando a franja vermelha que cobria parcialmente sua testa. — Quando estava no colegial, gostei de uma garoto. — sorriu nostálgico e eu suspirei. — Eu conversava com a foto dele, fazia vídeos secretos, às vezes sentava no assento dele só para rabiscar corações em sua mesa. Era apaixonado, mas nunca expressei meus sentimentos... Sua loucura é bem melhor que a minha.
Sorri largo deixando todo o ar que prendia sair sonoro.
— Que alívio. — minha risada veio me seguida e pareceu contagiar o tal Park, que retribuiu um sorriso lindo, elevando as bochechas um pouco cheinhas até os olhos sumirem por detrás delas.
— Mas você iria mesmo roubar minha fábrica? — a pergunta me pegou desprevenido, ainda que a voz e os olhos cintilhantes guardassem um leve ar de humor.
— Bom... — cocei a nuca, me escorando em uma das máquinas que estava desligada. — Você já fez alguma loucura por amor?
Estava falando informalmente sem perceber, mas ele não me corrigiu, apenas desviou o olhar pensativo antes de responder:
— E quem nunca?
Concordei, cada vez mais relaxado com a presença do estranho que era a cara do meu hyung.
— Existem vários tipos de amor... — comecei a falar, recordando de algo que até então não tinha parado para pensar. — Meu avô era apaixonado por um rádio. Ele compartilhou o coração dele com aquele objeto por anos. O velho Jeon cantarolava músicas, o limpava, religiosamente, todos os dias com algodão macio para não arranhar, trocava as pilhas a cada dois meses... Era muito cuidadoso. Um dia o rádio, simplismente, parou de funcionar. Ele não permitiu ninguém mexer nas peças, tinha medo do que poderia acontecer, mesmo assim nunca deixou de cuidar do aparelho. — crispei os lábios com os olhos marejados. — Um dia meu avó se foi... mas o rádio continuou conosco. — completei. — Mandamos consertar.
— E agora funciona?
— Sim. — ri soprado e o empresário também. — Funciona muito bem.
— Sabe o que é engraçado? — perguntou, se aproximando para entregar meu celular, que recebi, tocando sem querer nos dedos miúdos e delicados. Uma onda elétrica passou pelo nosso corpo. Ele pigarriou, recolhendo a destra para colocar no bolso, ficando do meu lado para imitar minha posição. — Depois dessa minha paixonite, eu comecei a gostar de um grupo de k-pop. Sabia o nome dos sete, a cor favorita de cada um, o aniversário, as manias, acompanhava a rotina nas redes sociais, ia a shows, lia fanfics... E quando alguém me perguntava o porque de ser tão obcecado por eles, eu só... — ergueu os ombros, simplista. — respondia que eles me faziam bem.
Pisquei os olhos devagar.
— Então você me entende de verdade?
— Sim, Junghuck.
Nem sei quando as lágrimas grossas começaram a transbordar em meu rosto, mas era de felicidade, alívio... Alguém enfim compreendia minha cabeça fudida, não me julgava, não me olhava torto. Só não esperava a boca macia dele tocar minha face com ternura e quando virei, vendo o ruivo tão perto, percebi pelo rosto rubro do mesmo que nem ele planejava isso, fez por puro impulso.
— D-desculpa... — murmurou envergonhado. As palavras saíram embaladas, mas se contradice quando seus olhos desceram automaticamente para minha boca, que eu mordia ruindosamente, sentindo meu lábio inferior dolorido pela força que fazia. Era uma mania que tinha desde de criança, talvez por isso meus dentes da frente fossem mais salientes como de um coelho. — Eu...
Engoli em seco, meu pomo de Adão subindo e descendo ao meu inclinar um pouco mais, mirando aquela boca perfeita. Estava mesmo acontecendo aquilo? Não era delírio meu? Não sabia, mas vê-lo fechar os olhos e esperar que eu findasse a distância entre nós, fez eu ter certeza que ele também queria me beijar.
O selar singelo foi apenas um roçar dos lábios. Suspirei como apenas isso, abrindo um pouco os olhos para ter certeza que era verdade, que não era um sonho. Jimin também fez o mesmo e por uma centelha de segundos encontrei reciprocidade, mas não por muito tempo.
— Não! — o ruivo me empurrou com brusquidão e choquei minhas costas na máquina.
— Jimin, espera! — gritei ainda atordoado, vendo o empresário sair a passos largos.
Ele se virou com o semblante fechado, tão diferente do cara simpático que há minutos atrás abriu seu coração a um desconhecido, no caso eu.
— Não sou o seu Jimin!
🎭
Eu disse que seria o último, mas dividi para não ficar muitos grande. Hihihi
Vocês entenderem o que quis dizer de forma lúdica? O nosso amor de fã é assim, como os sentimentos do Jk pelo manequim. Eu nunca vi os meninos, nunca fui a nenhum show, mas eu me apaixonei pelos sete. Minha vida é em torno deles, eu respiro BTS 24 horas por dia. Seja lendo, escrevendo Fanfic, vendo vídeos, fazendo edições, ouvindo música... É constante. E quando eu deixo de "vê-los" por um dia, já sinto falta. Eles mudaram minha vida, sabe? Eu sinto o amor deles mesmo que de longe, separados por dois oceanos e inúmeros países. Eles me tocam de um jeito que ninguém nunca conseguiu, então por mais que eu tente explicar para os outros esse sentimento, não adianta... Só quem sente, sabe, me entendi.
😥💜
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