Mal entendido🎭
- Caralho, Jungkook, come alguma coisa. Dessa forma vai desmaiar de fome! - disse Yoongi irritado, vendo o miojo que fez na cômoda, intocado.
- Não é como se fizesse muita diferença. - resmunguei. - Se morrer ninguém vai perceber...
- Cala essa boca! - crispou os lábios finos, me ameaçando com um cascudo, mas se conteve ao meu ver fazer um bico e encher os olhos d'água. - Ninguém é insubstituível, entendeu? Se esse alguém aí não te valorizou, que se dane. Você precisa se amar... - suspirou, trocando o peso do corpo magrelo para outro pé. - Puta merda, eu não gosto de te ver assim, pirralho! Já faz uma semana que está nessa fossa. Se essa pessoa te amasse tanto assim como você disse, com certeza já teria vindo aqui ou ao menos ligado, não é?
Eu neguei.
- É complicado, hyung... Você não iria entender.
Yoongi não sabia da história toda. Apenas resumi que o fim do meu namoro coincidiu com minha demissão da loja e por isso estava triste.
- Hum... E por que não vai passar uns dias na sua cidade natal? Você não disse que precisava visitar seus pais?
- Não tô no clima, hyung. Como vou ser um apoio para minha mãe se nem tenho forças de sair dessa cama? Eu só quero chorar e fazer do colchão minha segunda pele... - enfiei o travesseiro no meu rosto para abafar meus soluços. Já nem disfarçava mais meu drama, deixava à mostra minha tristeza por tudo que vinha acontecendo. As caixas com os pertences de Yoongi estavam espalhadas pela sala. Levaria para o outro país apenas o essencial, como seus equipamentos e computador, o que já custaria uma nota pela companhia cobrar por bagagem pelo peso extra.
Entretanto o mais velho continuava preocupado comigo e talvez me agarrasse ao único vestígio de sentimento humano naquele instante, mesmo sabendo que era por pouco tempo... Não me julguem fazer chantagem emocional, eu não me orgulho disso. Foi um momento difícil, pesaroso. O branquelo me fez prometer que procuraria o quanto antes alguma ajuda profissional, minha saúde mental não estava equilibrada, obvio, era perceptível para qualquer leigo no assunto. De fato, não conseguiria sozinho, nem queria imaginar o que teria acontecido comigo caso Yoongi ou sua noiva não me oferecesse água ou algo para comer nesse meio tempo com a depressão me assolando. Para terem ideia, minha vida se resumia em acordar, chorar e dormir. Não precisamente nessa ordem.
Saindo do meu torpor de lamentações, a música do Justin Bieber fez eu lembrar que ainda tinha um celular, mas não me mexi para olhar quem era.
- Jungkook, alguém chamado "traidor" está ligando. - sibilou o compositor, fazendo eu fungar e dizer com a voz abafada que não queria falar com ninguém, principalmente com ele. - É esse talzinho que partiu seu coração? Filho da pura... - não deu tempo de negar, em dois segundos o outro sacou o aparelho e gritou, com certeza deixando o outro surdo no primeiro instante. - Escuta aqui, seu merdinha, quem pensa que é para desmerecer o amor do meu saeng, hein?! - ouvi um silêncio em seguida e eu descobri meu rosto molhado para espiar o que estava acontecendo. O Min estava ouvindo com atenção o que Taehyung, o traidor, falava. Sua feição foi suavizando e o peito esvaziando à medida que eu ficava curioso com o que conversavam. Tinha até parado de me lamuriar. Isso era uma novidade a se comemorar. - Então foi um mal entendido? Hum... Ele está aqui, sim. Só um minuto. - olhou para mim, estendendo o celular. - Acho que deveria ouvi-lo.
Receoso, mas muito curioso, aceitei o aparelho, pressionando bem o fone na minha cartilagem..
"Quero escutar a desculpa tosca que o 'potencial causador da minha infelicidade' tem a dizer...". Ri soprado do meu pensamento melodramático, logo sentindo os cílios úmidos pelo choro contido.
"Querendo jogar culpa no outro quando na verdade o erro foi você ter nascido, Jungkook? Parabéns, você é ridículo".
- Oi...
- Jk, me desculpa. Eu não fazia ideia que o manequim era tão importante assim para você. Tirei aquilo como uma brincadeira, um passatempo. Era uma esquisitice sua, com certeza, ninguém beija um boneco em pleno juízo, mas isso não me dava direito de fazer o que eu fiz... Não queria te magoar, de verdade. Sinto muito, muito mesmo! - pediu sem reservas, falando rápido, sem ao menos respirar entre as frases até o ar lhe faltar. - O que queria dizer é que passei esses dias tentando convencer o senhor Cha que você não teve culpa de nadinha, foi eu quem provoquei, eu que te tirei do sério de propósito. Você quer voltar a trabalhar aqui? Pode continuar me odiando, não me importo, só não acho justo ficar aqui se o merecedor desse emprego é você. Sempre foi.
Eu já tinha voltado a chorar, mas dessa vez era de felicidade.
Yoongi aguardava receoso ao meu lado, mas assim que viu minhas reações, sorriu aliviado.
- Eu aceito. - sussurrei, abrindo um meio sorriso.
- Aigoo, essa foi uma excelente resposta! - Taehyung deu um gritinho, comemorando. Pude até imaginar seu sorriso quadrado do outro lado da linha. - Mas eu preciso ser sincero com você... Na verdade esse foi o outro motivo por ter te ligado...
- O que quer dizer?
- É sobre o Minji.
- Quem? - perguntei confuso.
- Minji, seu boneco. - repetiu, soletrando as letras e quando iria lhe corrigir, ele emendou. - Vieram uns caras aqui da fábrica e o levaram dizendo que tinham mandado o manequim errado. Pediram mil desculpas, devolveram o dinheiro com multas e juros. O senhor Cha ficou aliviado, milagrosamente, nem foi pela grana, mas por terem levado o boneco. Ele disse que foi por causa do manequim que perdeu seu melhor funcionário.
- O que vão fazer com ele, Taehyung? Eles disseram alguma coisa? - me levantei de um pulo, indo ao armário para pegar uma roupa qualquer que não fosse o pijama infantil que tinham ganhado da minha mãe.
- Pelo o que entendi, ele nunca deveria ter saído de lá. Acho que irá virar sucata.
- Droga... - foi a última coisa que falei antes de largar o celular de qualquer jeito e me vestir o mais rápido que conseguisse.
- O que aconteceu? Para onde vai com tanta pressa? - questionou o mais velho.
- Vou atrás dele, hyung. Só espero não ser tarde demais.
🎭
Em um curto prazo dos meus dezenove aninhos, tinha usado o táxi apenas três vezes em toda minha, o que era muito, visto que táxi era um item de luxo na época. Porém o curioso não era isso, e sim Jimin ser o motivo para tal disparate: a primeira foi para encontra-lo, a segunda vez foi quando saí com ele e a terceira seria para lhe encontrar de novo. Correção: lhe resgatar de um mal maior, seja lá qual fosse o plano absurdo que queriam com meu ruivinho, eu não permitiria.
Foi com esse sentimento heróico rodopiando minhas entranhas, que pedi ao taxista que aguardasse uma rua antes da fábrica, caso a fuga de fato fosse necessária. Para minha surpresa, dois funcionários saíram tagalerando pelo portão principal, esquecendo o mesmo entreaberto, facilitando dessa forma meu plano. Entrando na ponta dos pés, notei que o universo conspirava ao meu favor, pois sequer o vigia estava na guarita, fazendo eu dar mais alguns passos confiantes e finalmente entrar no deposito.
Por sorte era feriado local, e ainda que facultativo, muitas empresas presentearam essa folga a mais para os empregados. Sem querer prolongar mais minha missão, fui direto ao lugar onde guardavam o estoque, o mesmo onde vai o ruivinho pela primeira vez e ele estava lá.
Não tinha ninguém lá, apenas um carro estacionado com uns caixotes, indicando que ainda existia alguém perambulando ali. Cauteloso, fui me esgueirando, evitando olhar para as câmeras, por mais que meu rosto estivesse encoberto por uma máscara e meu cabelo escondido em um boné que peguei do Min Yoongi.
As batidas do meu coração pareciam escola de samba e não resistir em correr e abraçá-lo por trás. Uma semana sem lhe ver, foram sete longos dias, cento e sessenta e oito horas turbulentas. Apenas admirar as selcas que tiramos e beijar a tecla do celular, não supria a saudade que estava em tê-lo por perto.
- Jimin-sshi!
Esmaguei o seu corpo pequeno com força, ao ponto da minha sanidade ofusgar, jurando ter ouvido um grunhido e depois outro. Mas ao abrir os olhos, minha alma fugiu do corpo... Não era possível, eu estava enlouquecendo. Pisquei os olhos mais uma vez sentindo o corpo do manequim se debater, então a cabeleira ruiva se moveu e o rosto, antes inexpressivo do ruivinho, ficou rente ao meu. O hálito de menta batia na minha pele, me fazendo arrepiar.
- Me solta!
- V-você respira? - perguntei chocado, vendo o ruivo se contorcer com uma carranca.
- Claro que eu respiro, seu idiota!
Ele respirava! Com sobrancelhas franzidas e os olhos vivos tentavam me encarar, se tornando uma tarefa difícil por causa da posição, o outro tentava me acertar chutes.
- Você está v-vivo? - murmurei, afrouxando mais o abraço e Jimin se desvencilhando de vez. - Você está...
E tudo ao meu redor escureceu.
🎭
Tharãaaaaaaaa, surpresa. Jimin se mexeu! Eu tô escrevendo esse capitulo bebinha de sono, mas com o coração levinho porque cumpri minhas promessas em postagem diária. O próximo capítulo será o último e o desfecho dessa estória maluquinha.
Obrigada pelo 1k de visu, nem acredito que a fanfic ganhou isso tudo em quinze dias. Vocês são demais 😭💜
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