Encontros e Desencontros
7 DIAS PARA O ANIVERSÁRIO
O ambiente é diferente. Não é nada como a casa que viveu durante os dezoito anos de sua vida. As paredes são de pedra e transmitem uma certa frieza. O quarto é estranho e só há uma única coisa... Uma roca de fiar. Aurora não faz ideia de como sabe o que é isso, ela apenas sabe. Sem conseguir controlar o próprio corpo, caminha até o objeto e estende a mão para o fuso. Seu dedo espeta ali. Automaticamente sua garganta seca. Tudo começa a queimar dentro dela... E a última coisa que ela vê são olhos incrivelmente verdes.
Aurora dá um pulo e se senta na cama, assustada e ofegante. Sente o suor escorrer entre os seios e a luz do sol quase a cega.
Cristo, o que foi isso?!
De repente, suas tias saem da parte de trás da cama e gritam, animadas:
— Falta só uma semana!
Dito isso, Fauna usa uma língua de sogra e as outras duas batem palmas, comemorando com empolgação a chegada tão esperada dos seus dezoito anos. A loira sorri e ri com isso, balançando a cabeça negativamente.
— Vocês estão mais animadas do que eu.
— Mas é claro! — Primavera exclama.
— Você fará dezoito anos! — Flora continua.
— E finalmente conhecerá seus pais! — Fauna finaliza.
Aurora suspira e se sente um pouco sem graça.
— Não estou tão ansiosa assim para conhecê-los. Eles nunca nem pensaram em me visitar.
— Querida... — Primavera se senta na beirada da cama e acaricia a bochecha dela. — Seria perigoso. Por isso não vieram.
— Que perigo é esse que tanto falam? Deus, isso é tão... Frustrante. Por que não me dizem?
— P-Porque temos que f-fazer sabonetes e você precisa pegar flores! — Flora fala rapidamente e pega uma cesta. Estende para a jovem, que arqueia uma sobrancelha. — Traga bastante, tá meu bem?
Sem reclamar, a garota apenas sorri e se levanta. Coloca um dos seus vestidos de verão e vai fazer a tarefa que sua tia pediu.
Ah, sim... Em dezessete anos, nenhuma delas jamais mencionou a existência da magia. Ou da maldição.
— Ah! — Primavera aparece na janela do quarto e acena para ela. — Não fale com estranhos!
A jovem só sorri e acena de volta, pedindo:
— Não comam a minha torta de amora antes que eu volte, okay?
As três suspiram de alívio pelo assunto encerrado e Aurora desaparece no campo. Caminha com tranquilidade, sem medo de nada.
Mas, sem que saiba e sem que perceba, ela está sendo seguida. E observada. Mal anda ao seu lado, acompanhando todos os seus passos. Usa um feitiço de invisibilidade que aprimorou bem ao longo dos anos.
Se ele a vigiou antes? Obviamente. Durante todos esses anos, seguiu cada passo dela e viu cada coisa que Aurora fez. Cada vez que a olha, consegue odiá-la ainda mais. Também não consegue deixar de ficar com raiva por ela ter crescido tão bem, tão linda, graciosa e gentil.
— Maldita...
Seus pelos ficam eriçados e de longe, é capaz de escutar o galopar do cavalo do príncipe Phillip. O prometido. Rapidamente, Malévolo se teletransporta para o caminho dele e usa o seu cajado para desviar o cavalo da direção da princesa.
— De maneira alguma a maldição será acabada com um amor verdadeiro. — Bufa, encantando o animal.
Este corre para outro lugar. E Lip só ri e deixa que o bicho o leve.
— Calma aí, garotão! Exploraremos sim aquelas áreas.
Tranquilo porque o garoto de cabelos estranhos e chapéu feio foi embora, Mal volta para perto da jovem. A encontra sentada numa pedra, acariciando os pelos de um coelho e cantando baixo para ele. O moreno ri nasalado e com ironia.
— Adorável...
Então, por uma falha miserável... O feitiço falha. E Mal é revelado na frente dela.
Aurora arregala os olhos e levanta abruptamente. Malévolo engole em seco e tenta pensar numa saída plausível e silenciosa e...
— Eu sabia!
O mais velho a olha, apavorado. É aí que ela sorri largo e diz:
— Sabia que magia existe! Eu sabia!
Que alívio, mas que estranho. Por que ela não está assustada? Os chifres enormes e a roupa sinistra não dão medo o bastante?
Respondendo a essa pergunta, Aurora se aproxima dele e o fita com encanto.
— Você é alguma espécie de feiticeiro ou algo assim?
Engolindo em seco, ele somente balança a cabeça. A loura sorri ainda mais.
— Sua roupa é tão diferente e incrível.
Mal se engasga sozinho e se sente um idiota. A mais nova tenta se aproximar mais.
— Você é a quarta pessoa que eu já conheci, depois das minhas tias que me criaram e-
Ele a segura pela cabeça. Fica com a mão espalmada em toda a cara dela, a mantendo longe de si.
— O que você está fazendo?
Como se ela fosse tóxica, Malévolo se afasta.
— Essas suas três tias não te ensinaram a não falar com estranhos?
Aurora cora e ele se sente um estúpido enquanto tenta se corrigir.
— Digo... Existe dois tipos de feiticeiros. Os do bem e dos do mal... Eu posso ser qualquer um desses dois.
A princesa sorri novamente.
— Apesar de ter vestimentas estranhas, eu não acho que você seja alguém ruim.
Como é que você não pode me achar ruim?, Mal se pergunta e a encara sem acreditar. Aurora ri e começa a falar sobre a sua vida, como se ele quisesse ouvir.
— Sabe, às vezes é solitário morar no campo, longe de tudo... Digo, eu só conhecia as minhas tias até hoje. Ah, e o meu nome é Aurora.
Abaixa-se para colher flores e encher a cesta, enquanto tagarela sobre si e sobre tudo o que já aconteceu consigo (tudo o que ele já sabia). Entediado, o homem somente pisa em uma pobre flor e a esmaga.
— Então... — Ela o olha e sorri. — Quero saber sobre você.
Ele abre a boca, mas é salvo pelo gongo:
— Aurora, venha para dentro! — Flora berra, de muito longe.
A jovem faz biquinho e se levanta.
— Olha, eu preciso levar flores para as minhas tias fazerem sabão. Podemos nos encontrar de novo amanhã? Tem tantas coisas que eu quero te perguntar ainda.
Pigarreando, Mal joga a capa para o lado e segura firme seu cajado mágico, numa pose importante.
— Sinto, amanhã estarei muitíssimo ocupado.
— Se você puder vir, prometo te dar um sabão de flores.
Ele ri com ironia.
— Eu pareço com alguém que usaria um sabonete de flores?
— Quer saber se você se parece com alguém que usaria sabão com aroma de flores? — Aurora sorri e continua: — Apareça amanhã que eu lhe responderei.
O moreno fica boquiaberto, enquanto a garota só sorri mais e sai dali. Como um bom Mal humorado, ele resmunga e usa sua magia para desaparecer.
Sua masmorra é mais confortável e deprimente do que um maldito campo. Se Malévolo ainda está irritado por ela ter sido tão adorável com ele? Sim!
Em dez minutos, gritou e expulsou todos os criados que se aproximaram dele. E agora, olha como um imbecil para o caldeirão. Aurora e suas tias riem e brincam enquanto fazem sabonetes.
— Esse cheiro é maravilhoso! — A loira sorri e aprecia sua obra.
Incomodado por ter focado tempo demais no rosto dela, Mal apenas mistura a poção, desfazendo a imagem perfeita.
(1200 palavras)
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