Aproximação


6 DIAS PARA O ANIVERSÁRIO

   Aurora sai de casa com um ânimo que nunca sentiu antes.

— Tias, eu colherei framboesas para preparar uma torta!

— Certo, querida. — Primavera começa.

— Tome cuidado. — Flora continua.

— E não fale com estranhos! — E Fauna finaliza.

   Rindo, ela morde o lábio e sente que quebrou a regra. Mesmo assim, não pode deixar de fazer isso. É uma pessoa nova! Um feiticeiro!

   Corre com a cesta para o lago e olha ao redor, empolgada. Sorri ofegante e ansiosa para que o desconhecido chegue.

   Infelizmente, ela não sabe que Mal está nesse exato momento sentado em seu trono repleto de raizes, balançando a perna. Ele se mexe inquieto e o seu corvo pousa em seu ombro. Em sua mente, há um debate em que um lado quer que ele vá e o outro não.

   Cansado, Malévolo olha para o caldeirão, onde a imagem de Aurora descansa.

— Eu vou! — Levanta-se com tudo e então se corrige: — Mas só para afastar qualquer rastro de Phillip...

   Está tarde. A jovem suspira e olha para o céu, onde o sol já deixou tudo em tons alaranjados.

— Ele não gostou de mim. É isso. — Diz com tristeza e se levanta da pedra que deixou seu traseiro quadrado.

   Pega a cesta do chão e caminha em direção a sua casa, frustrada.

— Quando começamos a praticar magia, sempre temos que ter em mente que precisamos ser otimistas.

   Aurora para e vira instantaneamente, logo o encarando. Mal sorri torto e ela sorri de volta.

— Pensei que você não viria.

— Pensou errado. — Ele fala, simplesmente.

   A loira ri e vai para perto dele. O homem engole em seco e dá um passo para longe, mantendo a distância.

— Como é que você virou feiticeiro para poder criar e desaparecer com as coisas?

   Uma ideia maldosa surge em sua cabeça e ele aponta para o lago com o cajado.

— Nasci assim.

   Então, a água se ergue como se tivesse vida. Aurora fica boquiaberta, maravilhada e Malévolo sorri torto, indicando-a com o cajado. A água começa a perseguí-la.

   Ela gargalha alto e corre o mais rápido que pode, mas tropeça numa rocha perversa e cai com tudo no chão. A água derrama sob ela e Mal interrompe o feitiço na hora. Uma preocupação o toma pela mais nova estar parada e ele se aproxima dela.

— Senhorita...

   Assim que o moreno chega perto demais, ela levanta ligeiramente e ri, falando:

— Isso é incrível!

   E isso foi muito do nada! Assustado, Mal dá um pulo para trás e acaba caindo dentro do lago. Aurora ri mais ainda e sente falta de ar com a cena dele ensopado. A felicidade sincera e tranquila dela o encanta... E ele ri de volta.


5 DIAS PARA O ANIVERSÁRIO

— E pronto.

   Malévolo termina de mostrar a jovem um feitiço para nascer uma flor rara. As pétalas são azuis turquesa e algumas são rosas, e a combinação é maravilhosa.

— É perfeito, Mal...

   O homem arranca a flor do chão e olha a garota. Com delicadeza, coloca atrás de sua orelha, em meio aos cabelos dourados. Aurora sorri com o gesto e indaga:

— Qual o nome dela?

   E ele simplesmente responde:

— Eu a criei, então posso colocar o nome que eu quiser... E ela se chamará Aurora.


4 DIAS PARA O ANIVERSÁRIO

— Eu ganhei! — Aurora grita, sorrindo logo depois de terminar de chegar ao destino final da corrida.

   Mal chega logo depois e sorri convencido.

— Ouça... Se eu quisesse, poderia muito bem te ultrapassar. Esqueceu que tenho a magia ao meu favor?

— Mas aí seria trapaça.

— Eu não te avisei que era mal?

   Ela ri, sendo acompanhada por ele.

— Você não é mal... É doce.

   Malévolo precisa respirar fundo, mas acaba sorrindo. A garota se senta e tira uma torta de amora da cesta. Sorri e diz:

— Pronto para o piquenique?

3 DIAS PARA O ANIVERSÁRIO

   É engraçada a visão de Aurora tentando equilibrar o cajado. Os dois estão ensopados depois de terem nadado tanto e Mal acaba rindo quando ela quase tomba para o lado. A loira ri apavorada de volta.

— É muito pesado.

— Meus músculos não apareceram sozinhos. — Ele se gaba, enquanto caminha ao lado dela.

   O mais velho não percebe, mas as bochechas da garota ficam coradas e ela se força a não olhá-lo. A capa dele bem que poderia cobrir tudo...

   Atento, Malévolo percebe a aproximação de Phillip mais uma vez. Mesmo sem o cajado, lança um pequeno feitiço para mantê-lo longe. Satisfeito pela própria façanha, ele sorri e passa a mão no ombro de Aurora, a fim de guiá-la pela floresta.


2 DIAS PARA O ANIVERSÁRIO

— Como é a cidade?

   Mal fica surpreso e para de comer o seu sanduíche de carne de veado. Ele levou para os dois lancharem enquanto fizessem uma pausa.

— Bom... não gostam muito de mim lá.

   Aurora inclina a cabeça, confusa.

— Por quê?

— São problemas passados, nada de mais. — Diz, com indiferença e volta a mastigar.

— Nós sempre falamos sobre tudo e até sobre algumas histórias. Te mostrei meus lugares favoritos, nadamos e até te presenteei com um sabonete de rosas. Fiz muito, mas você nunca me falou muito sobre você.

  Malévolo se incomoda com isso. Socializar era algo tão passado para ele que ainda é um pouquinho difícil.

— Não tem muito o que dizer.

   Lentamente, Aurora se aproxima e coloca a mão nas costas dele. Ele se assusta com o toque.

— Calma... — Com delicadeza, ela puxa um pouco da roupa e da capa e vê a cicatriz.

   Arregala os olhos e coloca a mão na boca, horrorizada com o que devem ter feito a ele.

   Por Deus, quanta dor deve ter sentido?

— Preciso ir. — Interpretando seu olhar, Mal apenas se ergue e se afasta.

— Mal! Por favor, fica! Desculpa por isso, eu só-

   Aurora tenta impedí-lo... Mas ele só desaparece.


1 DIA PARA O ANIVERSÁRIO

   A floresta nunca foi tão solitária. Depois de terem cantado tanto (e de Mal ter desafinado tanto) e brincado de se esconder entre os arbustos - além de caçarem amoras pelos cantos -, o ambiente não é mais tão acolhedor assim quando se está sozinho.

   Aurora suspira e olha para o céu. Uma coruja voa nesse exato momento e ela fala, alto e ao vento:

— Amanhã é o meu aniversário. Eu não sei se você está aí ou se está me escutando, Mal. Mas, eu queria que você estivesse presente.

   Ele a vê. Malévolo nunca observou o caldeirão com tanta atenção. Seu peito dói e a culpa o consome. A vontade de chorar é maior que tudo e só uma coisa volta na sua cabeça:

   A maldição.

   O moreno quebra os vasos já rachados. Com o cajado, destrói o trono e o teto. Quebra janelas, o candelabro e tudo o que tem a sua volta. Sem que possa se controlar... Ele chora. A tristeza o consome e ele até mesmo soluça.

   A traição não é a dor que mais o incomoda, agora. É a perda.

— Eu jamais poderei me perdoar por isso. Jamais.


(1136 palavras)

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