Sombras

Malévola não demorou a chegar ao lago, afinal asas eram a coisa mais prática já inventada pela natureza. Não estava cem por cento certa se estava bem, ela não estava tão bem quanto gostaria, mas ver Aurora chorando e quase implorando pra que ela viva a fez querer viver. Se não por si mesma, talvez pela filha, seu neto e toda sua grande e vasta família em Moors.

Retirou suas roupas sem fazer um grande caso disso, afinal em Moors não existe a maldade que existe no coração dos homens. Entrou na água quentinha sentindo sua energia ser renovada. Agora sim ela sentia as consequências de ficar uma semana fugindo de todos e encolhida no chão. Seus músculos foram relaxando conforme o vapor da água quente entrava pelos seus poros. Mergulhou a cabeça lavando o rosto com as mãos. Nadou de um lado ao outro do lago várias vezes e quando menos esperava se sentiu viva de novo. Não totalmente pronta pra viver, mas enfim viva.

Malévola não tinha a menor intenção de sair daquela água mágica tão cedo, suas asas estavam apreciando a sensação de serem finalmente lavadas. Até o brilho nas penas negras havia retornado. O cabelo molhado e colado ao corpo dava um ar jovial diferente a ela. Malévola sentiu um sorriso em seu rosto quando lembrou da primeira vez que apresentou o corvo ao lago. Quase que o pobrezinho não conseguiu sair, água quente é boa, mas em excesso deixa o corpo mole e cansado. Pensando nisso a fada tomou a decisão de sair daquela banheira natural.

Começou secar o corpo em um pano que havia trazido, ela podia pular essa burocracia com sua magia, mas estava agradável cuidar do próprio corpo naquele momento. Secou com calma o cabelo e os chifres, e então iniciou o processo de retirar a água em excesso das penas. Entretida como estava a fada negra não reparou na sombra que a observava da escuridão.
Escondido pela densa folhagem das árvores do lugar, alguém observava a fada negra com curiosidade. Não havia interesse, apenas curiosidade. Era a primeira vez que o guardião à via em Moors, mesmo tendo plena certeza de que ela morava ali, desde que tomara posse como guardião, a criatura ainda não tinha tido o prazer de conhecer a herdeira da Fênix. Concentrado da mesma forma que a fada estava enquanto secava as próprias penas nua, ele se deixou ter um pequeno deslise. O que chamou atenção da outra.

Malévola olhou para todos os lados, buscando a criaturinha que estava certamente escondida por ali. Talvez estivesse esperando a própria vez de usar o lago. Sem pressa a fada moveu sua magia, materializando um lindo vestido rendado, a cor preta ia do busto até o fim do tronco, dali começava o branco que fazia seu caminho até próximo a barra, essa voltava a ser preta novamente. A fada caminhou até o local que ela jurou ter visto uma silhueta alta, mas devido a escuridão não poderia garantir se seus olhos estavam corretos. A forma da sombra despertou um certo receio no coração de Malévola, temendo o pior a outra lançou uma linha mágica de luz naquela direção, pra própria surpresa não havia nada ali nem em nenhum lugar.

Temendo ser pego bisbilhotando o guardião saiu caminhando erroneamente as pressas dali, os passos silenciosos não denunciaram sua posição, viu a linha iluminada passar bem ao seu lado, quase tocando o braço. Parou com medo de tocar na linha e ser descoberto, esperou até que a linha sumisse e quando isso aconteceu sentiu a força dos batimentos do próprio coração, acabara de descobrir um sentimento novo, adrenalina. Sorrindo pro nada o homem que já estava fora de perigo e da vista levantou voo saindo da mata em rumo as montanhas.

Malévola sossegou apenas quando procurou em cada canto escuro presente e desconsiderou a ideia que teve, claramente não haviam humanos ali, e certamente a sombra foi apenas uma ilusão de ótica rápida. Pelo menos aquilo havia a feito concluir o banho. Levantou voo batendo levemente as asas apenas uma vez e saiu rumo a Ulstead.

(...)

A chegada da fada em Ulstead não teve nenhum contra tempo. Depois da batalha a dois anos atrás não havia mais guerra ou humanos contra criaturas. Todos circulavam em harmonia pela vila, tanto que havia uma ponte ligando ambos os reinos. Mesmo que Malévola houvesse colocado uma magia invisível ao redor do seu lar, uma que impedia que corações munidos de ambição entrassem ali. Mas ninguém sabia disso, e se alguém já tinha ficado preso do lado de fora, não fez questão de questionar o porquê.

Entrou no castelo sem problemas e foi surpreendida quando duas pequenas meninas humanas correram ao seu encontro. Os cabelos trançados e enfeitados com flores não negavam que aquilo era arte de sua Aurora. A única questão em sua cabeça era se as crianças não deveriam ter medo dela. Aparentemente não!

"Eu sou Adélia." Uma falou super animada.

"Eu sou Amália." A outra segurou com ternura a mão da irmã.

"Você quer ser nossa fada madrinha também?" Ambas falaram em uníssono.

"Meninas venham comer..." O rapaz que surgiu olhou Malévola com medo e respeito. Congelou no meio da frase.

"Esse é Lucas, nosso irmão mais novo." Incrível como elas pareciam uma gravação. Falando tudo sempre sincronizadas.

"Olá." Malévola sorriu para os presentes.

"O-oi." Lucas sorriu sem graça tenta do controlar as próprias pernas.

"Vem, vamos levar você até a princesa Aurora e a nossa irmã Liz." Cada uma pegou em uma das mãos da fada negra e saíram guiando Malévola castelo a dentro.

Lucas demorou um pouco para recobrar a força em suas pernas. Nem parecia que havia ligado em uma batalha com uma serpente mágica, como podia estar com medo de Malévola? Riu da própria covardia e se dirigiu a cozinha.

A mesa onde estava servido o almoço estava repleta, talheres entalhados na madeira ornando ainda mais com a aparência envelhecida da mesa. Havia flores ao redor das cadeiras e a mesa também enfeitada alegremente. As servas do castelo já haviam acabado de servir a mesa e Aurora se encontrava lá, tão nervosa organizando detalhes que não havia percebido ainda a presença da mãe e das meninas.

"Olá praga." Malévola falou quando as meninas soltaram suas mãos e correram para perto de Aurora.

"Você está deslumbrante." A loira sentiu o coração repleto de alegria, Malévola ainda estava meio magra mas só por tela ali já fazia desse seu melhor almoço.

"Tudo está maravilhoso." Malévola sorriu olhando a moça nos olhos.

"Vejo que já conheceu as meninas. Elas já te fizeram o pedido?" Aurora sorriu para as gêmeas.

"Já. Eu vou pensar no assunto com muito carinho." Aurora convidou a mãe a se sentar, depois colocou as gêmeas em suas cadeiras especiais.

Logo a mesa estava repleta, Liz tinha a mesma admiração no olhar que as gêmeas tinham. Malévola era linda de perto. Lucas e Erik olhavam a fada somente quando ela não estava olhando para eles, tinham medo dos olhos intensos da mulher. Tenerife fez uma reverência a recém chegada e se apresentou formalmente logo tomando seu lugar a mesa. Phillip sentou-se na cabeceira e ao lado dele Aurora. Malévola trocou poucas palavras com o príncipe e surpreendeu o garoto quando o abraçou. Declarando sua tristeza pela perda dele e Phillip fez o mesmo pela perda dela.
O almoço correu maravilhosamente bem e depois de alimentadas as gemas não podiam estar mais engraçadas lutando contra o sono. Não queriam sair dali sabendo que não veriam mais o alvo de sua admiração.

"Eu aceito ser a fada madrinha de vocês. Mas para isso precisam ir dormir." Malévola ajudou Liz tirar as meninas das cadeirinhas. A intenção era pegar apenas uma no colo, mas como escolheria? No fim a fada levou as duas meninas até o quarto que tinham separado no castelo, sendo guiada por Liz.

"Elas não são pesadas?" Liz se preocupou.

"A magia faz todo trabalho pesado pra mim." Malévola afirmou.

So então Liz reparou na fina magia verde amarelada que envolvia as irmãs. A moça estava encantada.

"Obrigada por cuidar de Aurora." Malévola se sentiu na obrigação de dizer. Liz tinha uma energia muito bonita.

"Obrigada por criar uma menina tão explendida. Se não fosse por ela e a amizade que temos, não sei o que seria de mim e da minha família. Ainda a muito preconceito pela minha cor, mas Aurora não tem isso. Obrigada." Elisabeth estava falando de todo seu coração. Se sua mãe estivesse ali estaria ainda mais admirada.

"Muito bom saber que ela está em boas companhias." Malévola depositou as meninas nas camas dispostas ali.

Voltaram a mesa do almoço e dessa vez na companhia de Aurora as três se sentaram na varanda. O ar da tarde era leve apesar do sol que brilhava alto no céu. O dia foi tão agradável que Malévola estava tentada a aparecer em todos os almoços que Aurora a convidasse.

"Sabe que elas não vão esquecer que você aceitou o pedido. Tem meio que uma responsabilidade com elas agora. Pode vim almoçar conosco todos os dias. Se chegar um pouco mais cedo pode passar um tempinho com elas." Aurora falou apreciando o leve calor do sol, mas sem conseguir disfarçar a ansiedade em sua voz.

"Eu imaginei que sim. Aparecerei sempre que possível, quando não puder enviarei os presentes atravéz de alguma criatura de Moors." Malévola garantiu sorrindo sem perceber, tinha um fraco pelas crianças e seu coração puro.

"Elas vão pirar se verem criaturas de Moors. Elas brincam disso todo santo dia." Liz se pronunciou.

"Levarei elas lá um dia." A fada garantiu. "Obrigada por me obrigar a vim hoje." Malévola segurou a mão da filha.

"Vê se não some de novo." Aurora sorriu meio que se despedindo.

"Não vou. Até mais praga. Adeus Liz." A fada saiu voando da varanda mesmo e sumiu rumo a Moors.

(...)

Aquela noite Malévola não voltou para a sua "caverna" decidiu dormir no castelo de aurora. O pequeno canto florido que havia feito para a mais nova ali em Moors. Queria estar perto dos seus. Sabia que não se seguraria se voltasse pro seu ninho naquela noite. Lembrou de quando ela e o corvo construíram aquilo. Quando menos esperava adormeceu, dessa vez sem lágrimas, sem dor.

Escondido pela sombra de algumas árvores o guardião observava toda Moors. Olhando a lua cheia no céu ele questionava a estranheza em seu ser. Ele não saberia dizer o que, mas parecia que a conhecia. Caminhando pelos pontos mais baixos viu a grande fada adormecida no ninho de flores que havia no tronco de uma enorme árvore. Observou ela por mais algum tempo antes de alçar vôo pra longe.

═══════════════════
E aí galerinha que assiste meu canal, tudo bom com vocês. Será que vem um novo boy por aí? Não sei kkkk

Mais um aí pra vocês, apreciem.

Até o próximo!
❤️

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top