De Volta Para Casa

Malévola e Borra caminharam juntos por mais alguns passos, mas a fada estava impaciente. O peso dos últimos momentos estava começando a se tornar sufocante. Ela não podia se dar ao luxo de esperar a vontade de Borra em lhe falar o que queria.
"Pode me falar o intuito dessa caminhada?" A fada não queria soar grosseira, mas não estava se importando muito, precisava que Borra fosse direto ao assunto.
"Eu sei que o dia de hoje foi cheio de acontecimentos, e que não nos falamos bem desde a batalha no castelo." Era como se a filha da Fênix já soubesse o que o rapaz diria a seguir. "Mas sei de tudo que perdeu, e quero que saiba que tem em mim um amigo, para qualquer hora." Borra se aproximou da fada segurando a mão da outra como para reafirmar sua intenção, nunca escondeu ou disfarçou os olhares para a sua rainha.
"Eu agradeço a oferta Borra, mas no momento só preciso voltar pra casa." De maneira seca a fada rejeitou a investida do rapaz, não queria que o outro tivesse esperança, seu coração estava fechado e por tempo indeterminado.
"Sabe onde me encontrar." Borra soltou a mão da fada e simplesmente pulou da beira do penhasco antes de finalmente bater as asas castanhas indo para a sua tribo.

Malévola não cominhou de volta para seu ninho depois do acontecido. A sensação sufocante do dia que viveu estava se apossando da fada, e havia apenas um lugar no qual poderia estar apenas na companhia da sua solidão e do sol que nascia.
Assim que pousou no campo onde gostava de tomar seu café da manhã a filha da Fênix caiu sobre seus joelhos. A dor era lascinante em seu peito. Havia acontecido tanta coisa em tão pouco tempo que Malévola mal podia associar tudo. Vira seus pais e a verdadeira face do irmão que nunca conheceu. Lutou em uma batalha que parecia invencível contra o amor de sua vida, que estava tomado por um mal muito maior. Perderá os seus, quase perdeu um amigo, quase perdeu a filha e o genro. E de acordo com os ventos mágicos que chegavam de Moors, havia perdido muitos de seus amigos mágicos também.

Se rendendo vagarosamente a tudo aquilo Malévola permaneceu de joelhos no chão enquanto permitia que a tristeza saísse por seus olhos. As lembranças de seu amigo começavam a brilhar e girar ao seu redor, como se suas memórias ganhassem vida, ela sabia que poderia soar egoísta se alguém perguntasse. Mas a dor de perder Diaval doía mais do que a dor das outras perdas. Só ela sabia o quão difícil era pra ela amar outras pessoas, estava disposta a admitir a Diaval que o amava. Mas era tarde. Muito tarde.

Os soluços da fada se faziam audiveis pra quem dedicasse o mínimo de atenção, mas todos sabiam que ela precisava de um momento. Malévola chorou por algumas horas, as lembranças que ela podia projetar, era o combustível para manter as lágrimas rolando. Depois de muito choro apenas o cansaço permaneceu. Cansada demais para se levantar e procurar um abrigo a fada construiu um pequeno abrigo ao próprio redor, feito de galhos e folhas, se assemelha a um casulo, seria seu descanso temporário. E assim a fada se rendeu ao sono.

(...)

Era quase noite quando Aurora acordou e percebeu que sua mãezinha ainda não havia voltado pra casa. Usando dos conhecimentos que tinha a princesa preparou o jantar para os habitantes da casa e aguardou paciente enquanto conversava com a criaturinha em seu ventre, esperando que Phillip acordasse ou que sua mãe retornasse. A princesa não percebeu em qual momento começou a chorar, talvez tenha sido quando começou a contar suas lembranças com seu padrinho que a emoção lhe dominou. Ela já havia chorado por Diaval, mas toda vez que se lembrava dele a dor ainda estava lá, afinal era tão recente.
Entre sorrisos e lágrimas a menina contava as suas aventuras e nem notou o príncipe que estava de pé na porta ouvindo tudo. Phillip não conseguiu não se emocionar com a cena, não imaginava a dor que deveria ser a de perder alguém tão próximo. Ainda mais agora que seria pai.

Entrou no cômodo abraçando a esposa e depois se afastou para repousar a cabeça em seu colo, o mais próximo possível da barriga de Aurora. A loira sorria chorosa olhando os movimentos do marido.
"Oi bebê, você está sentindo muita dor e tristeza na sua mamãe hoje, mas não se prenda a isso, quando sair daí ela vai te recontar todas essas histórias e você vai saber tudo e muito mais sobre o seu avô. Se apegue a todo amor que tem nela aí dentro pra você. Eu também vou ter muitas coisas pra te contar, sabe quem eu sou? Seu pai. Você é a coisinha mais amada que existe." Phillip prosseguiu a conversa e os assuntos foram variando, sempre com uma gracinha ou outra e conseguindo retirar sorrisos da esposa. Ambos comeram a sopa que Aurora havia preparado, e Malévola não parecia que chegaria tão já. Era por volta das oito quando o casal voltou para o seu "quarto" para dormirem novamente, visto que sairiam cedo no dia seguinte, rumariam de volta para a própria casa e terra. Phillip não suportaria mais um dia se quer longe de casa, precisava ver sua família e seus amigos.

(...)

Malévola foi acordada por uma brisa leve e fria. A lua cheia no céu denunciava que ja era tarde da noite, sorte a da fada de ela possuir mágica para disfarçar a sua tristeza, sabia que sua aparência não estava das melhores, mas com um balançar da sua magia parecia nova de novo.
Ainda sentindo a dor em seu peito, coisa que não passaria tão cedo. Malévola se obrigou a voar de volta pra seu ninho, encontrou a panela com a comida preparada pela filha, mas não sentia fome alguma. Mesmo sabendo que precisava comer, afinal fazia quase dois dias que não colocava nada no estômago. Caminhou levemente até seu "quarto" e lá passou a noite até que certo momento o sono a alcançou de novo.

Malévola estava em Moors, justo onde as flores da morte voltavam a crecer, já que a rainha de Ulstead havia mandado seus soldados lá e eles levaram quase todas suas flores. Mas agora que a rainha havia partido suas flores e toda Moors se recuperava. Aurora ainda vinha visitar Moors todos os dias, brincava com as criaturas e resolvia pequenos conflitos, só cumprindo seus deveres como guardiã daquele lugar mágico. Malévola estava sentada na mesma árvore que estivera quando foi atacada e só saiu dali quando escutou alguns gritos de medo alcançar seus ouvidos. O cheiro da fumaça e do fogo ardiam nas narinas da fada.
Sobrevoando baixo ela viu algumas árvores em chamas. Como aquilo havia começado? Ela não saberia dizer.
A fada estava pronta para conter a situação quando uma sombra escura com asas tomou sua frente, e com um bater de asas a chama foi apagada. A magia que fluía da criatura sem rosto ou corpo sólido refez as copas das árvores queimadas e da mesma maneira repentina que apareceu a criatura desapareceu. Malévola sentiu um calafrio, não seria Gilic novamente não é?Sem mais esperas a fada saiu voando atrás da sombra alada.
"Mamãe?" Malévola olhou para os lados perdendo a criatura de vista.

"Mamãe." Aurora acariciou a face da fada.
"Bom dia praga." Malévola se sentou, ainda encabulada com o sonho que teve.
"Vamos partir para casa agora cedo, a senhora vai com a gente ou vai ir voando sozinha?" Aurora perguntou se levantando e ajudando a mãe se levantar em seguida.
"Irei com vocês." Malévola afirmou ganhando um sorriso de gratidão por parte da menina.

Aurora e Phillip tomaram o café da manhã e depois partiram rumo ao navio qual haviam usado pra chegar ali. Seguidos por Malévola e mais algumas fada que consideravam amigos. Udo, Malek, Shrike e Ária estavam na praia para se despedirem dos convidados.
Muitos abraços e cumprimentos depois todos estavam no barco, incluindo os guerreiros que haviam navegado com o príncipe e a princesa até ali. Malévola ficou no convés durante toda viagem, apesar do sol brilhar alto no céu, não fazia calor. Era um clima ameno como se só pra iluminar.

Algumas horas depois e podiam ver terras ao longe, Malévola ajudava o navio a ir mais rápido usando sua magia, ninguém reclamou. Ela só precisava chegar logo em seu antigo canto, o canto que dividia com seu amigo antes de ir para sua ilha sagrada. Quando enfim aterraram em um dos portos de Ulstead, os guerreiros permaneceram apenas para terminar de ajeitar o grande barco. Malévola seguiu para Moors sem esperar a recepção dos humanos. Phillip teve a chegada anunciada e ele e a esposa foram recebidos amorosamente por Ulstead assim que chegaram a entrada da "cidade". Mas ainda tinham muitas notícias a receber.

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E aí está, mais um, e a coisa tende a ficar um tantinho mais triste agora. Afinal Phillip ainda não sabe que perdeu o pai.

O próximo capítulo vem logo, não vou mais demorar pra atualizar. Não quero perder os poucos leitores que sobraram!

Até o próximo!
❤️

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