A Mesa Negra para Decisões 2

Malévola não se sentia bem, de forma alguma. Ela testemunhou o que o amor de seus pais havia permitido ter uma segunda chance, quanta morte eles teria evitado, quantas guerras se eles tivesse abortado a ideia do amor e pensado logicamente.
Era o amor da sua vida que estava adormecido naquela caixa de vidro, Diaval nunca saberia que ela o amava com todas as forças, nunca sentiria dor de novo, não veria Aurora e seu neto. Mas ele viveria em sua memória mais feliz, Malévola tem certeza de que seria uma vida plena, afinal Diaval sempre deixava qualquer memória mais feliz, então ele reviveria todas. E se ela escolhesse o trazer de volta? Se ele tivesse partes da alma de Gilic com ele, se a escuridão tivesse tomado o coração do corvo. Traria de volta uma parte de Gilic, traria a escuridão de volta a terra. Poderia estar condenando as próximas gerações ao seu próprio Gilic.

Todos a mesa aguardavam em silêncio a decisão de sua rainha legítima. Malévola olhou em todos os rostos ao redor da grande mesa, alguns olhares eram ansiosos, como se tentassem ler a fada. Mas foi em Nazca que seu olhar parou. A velha fada que parecia carregar toda sabedoria do mundo, olhou a fada dentro dos olhos e com um leve sorriso afirmou a outra, que independente da decisão que ela tomasse, ela a apoiaria. Udo carregava o mesmo olhar, ele sabia o sentimento que a fada tinha, ele foi a testemunha mais real do sentimento de perder alguém que se ama tanto e seria eternamente grato por saber que Melek o esperava em terra e com vida. Se Malévola escolhesse dar a segunda chance ao amigo e amado, ele a apoiaria.

A filha da Fênix se levantou decidida, as lágrimas que secaram sobre a pele pálida, haviam deixado apena uma linha quase invisível. Ninguém a mesa se moveu mais daquele momento em diante.

"Eu decido que Diaval, o corvo, descanse eternamente em suas memórias mais felizes, em agradecimento a sua força e determinação, que me ajudaram a vencer Gilic o cruel." O silêncio repentino foi seguido de muitos aplausos, muitos estava admirados pela força de sua rainha em permitir que seu maior amigo e amor morresse, mesmo tendo a opção de trazê-lo de volta.

"Admirável a sua decisão herdeira da Fênix. Eu não acreditava que seria capaz, mas devo dizer que foi a melhor decisão. Então assim será feito. Diaval, descansará agora e para sempre em suas melhores memórias." A caixinha de vidro onde o pequeno corvo jazia adormecido desapareceu em uma explosão de luz. "Como recompensa pelo seu ato de coragem e sabedoria, eu Lumus, limparei as terras de todos sinais dessa guerra, não haverá mais sangue ou cheiro da podridão, mas as memórias ficaram, para que nunca se esqueçam o mal que a ambição pode causar." Com um estalar dos dedos, uma magia espessa como fumaça saiu por todos os cantos daquela sala.

Ninguém sabia para o que aquela fumaça serviria, mas sabiam que não se tratava de algo ruim.
"Todos vocês aqui presente, mostraram o poder e a honra de permanecer junto mesmo nas batalhas, e por isso sua ilha sagrada será restaurada. Mortos permaneceram mortos, mas os feridos serão curados. Sua árvore sagrada estará lá como se nunca houvesse sido arrancada." Mais um estalar de dedos de Lumus e mais parte da magia branca e enfumaçada saiu. "O reino humano também será restaurado, mas as lembranças também permanecerão, para que eles nunca se esqueçam da aliança com seus vizinhos." Malévola respirou aliviada, ignorando a dor em seu peito. "E Moors será igualmente restaurada, e junto a restauração haverá uma nova criatura, responsável em proteger o pequeno reino." Mais um estalar de dedos foi dado e agora parecia que tudo havia voltado ao normal. "Essa reunião está suspensa, nenhum de vocês terá memórias deste momento, exceto pela herdeira da Fênix. Hora de voltarem pra casa." Mais um estalar de dedos e então Udo, Malévola e Borra estavam de volta a ilha sagrada, mas não estava mais nada destruído, toda a ilha estava em perfeitas condições.

Malévola olhou para todos os lados buscando o corpo humano de Diaval, mas não estava mais em lugar nenhum. Reparou então que a anciã não estava de pé, e sim deitada no gramado. Não parecia algo que Nazca faria, mesmo muito cansada. A fada então se aproximou do corpo e mesmo antes de colocar a mão no corpo sabia que a anciã não acordaria mais. Enfim a velha fada poderia descansar. Levantou o corpo ainda quente com o uso de sua magia, imaginou que Nazca provavelmente havia escolhido ficar onde Lumus estava ao invés de retornar, era um jeito digno de partir.

"Nazca está..." Foi Udo quem se aproximou.

"Sim, ela está enfim em paz. Descansando em um lugar tão belo quanto esse." A fada garantiu forçando um pequeno sorriso. Viu o amigo olhar ao redor diversas vezes. "Eu assumo a responsabilidade por arrumar toda a ilha sagrada, mesmo que não tenha sido eu." Malévola viu Udo concordar com a cabeça, aceitando a ideia da fada.

"Não encontrei o corpo do seu amigo." Udo observou a expressão triste da sua rainha.

"Não é com ele que estou preocupada..." Malévola já sabia que fim Diaval teve. Ela escolheu.

"Irmão." Ambos olharam na direção da voz, era Ária. Trazia nos braços algo adormecido.

Quanto mais a jovem fada do gelo se aproximava mais Malévola reconhecia o que ela tinha nos braços, o cabelo loiro, o vestido rosa... era sua Aurora. Ela repousou o corpo de Nazca sobre uma cama feita com a grama e correu para onde a jovem fada certamente pousaria. Pegou dos braços da criança a sua criança e com cuidado aninhou Aurora em seu colo. As lágrimas voltaram a encher os olhos verdes da fada. Ela estava feliz, feliz por saber que sua filha estava bem. Viu Udo abraçar a irmã e chorar como crianças enquanto conversavam em sua língua materna. A fada negra voou para mais longe com Aurora e usou sua magia para curar a menina.
"Mãe." Aurora chorou, as lágrimas deixavam linha brancas na pele suja da menina. Malévola sorriu abraçando ainda mais a outra. "O meu padrinho, ele não está bem, ele foi muito mal comigo, mas acho que ele não sabia o que estava fazendo. Onde ele está?" Malévola chorou novamente e Aurora não precisava de frases inteiras para saber oque aquelas lágrimas significavam. Seu paizinho estava morto. "Me desculpa." Ela pediu afagando o cabelo da mãe.

(...)

Phillip estava ajudando outros fadas a retirar e mover os corpos quando uma fumaça branca e expressa encheu toda a ilha, não enxergaram nada por um tempo e quando a fumaça branca se foi toda a ilha estava perfeita novamente, toda destruição causa da por aquele mostro havia sido restaurada. Os corpos espalhados das fadas mortas agora estavam devidamente alinhados em baixo da árvore dos mortos. Aurora e nem Malévola estava entre eles, o que aqueceu de certa forma o coração do príncipe. Significava que a sogra e sua esposa estavam bem, mesmo que ele ainda não soubesse onde ambas estavam. Mas algo ainda apertava seu coração. Queria poder estar em Ulstead e saber que seu pai estaria bem também.

Todos que trabalhavam na retirada dos corpos começaram a caminhar e voar para a árvore dos mortos, sem precisar de um pedido formal, fadas ajudaram Phillip e seus homens a voarem até lá, estavam gratos pela ajuda do príncipe e dos outros humanos. Eles não fugiram da batalha, mesmo a luta não sendo deles. Phillip não esperou um convite formal, correu para sua amada assim que reconheceu a mancha rosa em meio às outras fadas, Aurora estava bem.
"Minha amada, você está bem, e viva." O príncipe levantou a princesa do chão e girou. Todos observavam com meios sorrisos.
"Phillip eu estou grávida." Phillip parou o tempo por uns segundo e então abraçou Aurora mais uma vez. Rindo alto em pura alegria.
"Eu vou ser pai, seremos pais e esse bebê tara uma avó mágica e dois avôs muito babões." A alegria do príncipe foi contagiante, não teve quem não riu. Mesmo sabendo de algumas verdades, tipo a de que o bebê teria apenas um avô, afinal Diaval estava morto.
"Bom, chegou ao fim a batalha." Todos se calaram quando a rainha começou a falar. "Perdemos muitos dos nossos, e a batalha não aconteceu apenas aqui. Em Ulstead e em Moors houveram batalhas semelhantes. Não sei a dimensão das perdas nesses outros lugares, mas sei que houveram. O importante é que vencemos, vencemos uma luta contra um mal maior, e vencemos unidos. De hoje em diante Moors, Ulstead e a Ilha Sagrada formam uma aliança." Phillip concordou com as palavras da sogra se levantando ao lado dela. "Enquanto essa geração existir, todas crianças e jovens escutarão essa história, e saberão que a união de homens e criaturas venceu uma guerra contra a escuridão. Que fomos nós com o apoio um do outro que derrotamos Gilic o cruel." Todos aplaudiram. "Guiaremos os nossos mortos em uma cerimônia hoje ao amanhecer, e eles serão parte da nossa árvore dos mortos, serão parte da nossa história para todo sempre."

Ainda haveria tristeza por muito tempo, perderam muitos na batalha. Mas nenhuma morte havia sido em vão, tinham toda sua ilha de volta, a salvo. Tudo estava sendo preparado para a celebração, Flora fora nomeada como a nova anciã. Cargo esse que a fada da floresta aceitou de coração. Ela conhecia muito de ervas e flores, e não haveria substituto melhor para chefe da tribo da floresta do que seu amigo Malek. Todos tiveram tempo para se preparar para a celebração. Se espalhava como água a teoria de que a herdeira da fênix havia curado todos os feridos, e era melhor assim.

Malévola estava recolhida em seu ninho, se preparando para a cerimônia. Ainda havia muitas coisas de Diaval ali. Até mesmo um anel diferente ela havia encontrado, era brilhante como tudo que Diaval trazia para si, mas era diferente. A joia que havia em cima era preta e tinha leves manchas verde brilhantes por dentro, certamente ele a presentearia como anel em algum momento. A fada pendurou o anel em seu colar e com sua magia refez o vestido que usava, mesmo contra toda sua vontade de usar preto ela escolheu um vestido que certo dia Aurora e Diaval votaram como sendo o seu vestido mais bonito. Era longo atrás e mais curto na frente, era amarelo escuro e com uma leve manta preta em cima. Soltou os cabelos e colocou seus acessórios de sempre, principalmente seu cajado. Era hora de se juntar ao seu povo.

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E aí galerinha do mal, é isso, só falta resolver a situação de Ulstead e então chegaremos ao fim desse livrinho. Agradeço a quem chegou até aqui e prometo que o discurso final vai ser bonito!

Até o próximo!
❤️

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