A Luta de um Ser e um Homem

Ulstead estava um caos, graças a  comoção de pessoas que teimaram em desobedecer as ordem diretas reais. Apesar de cada vez menor o pandemonio, já que todas as pessoas que ousaram sair para as ruas estavam sumindo em meio a fumaça densa, ainda sim não deixava de ser desesperador para o rei e para sua tropa que se aproximava o mais rápido possível da vila, ver essas pessoas inocentes sendo levadas devido ao seu medo.

"Saiam das ruas. Voltem para os abrigos e para as casas, para as casas mais próximas." Tenerife e o rei bradavam a plenos pulmões.

A cavalaria estava próxima quando o rei e seu chefe de batalha ganharam um cavalo cada um. Ambos subiram em suas devidas montarias e então a serpente desapareceu de vez, nem mesmo a aglomeração desesperada estava desaparecendo mais. Era como se o animal, se é que podiam chamar aquilo de animal, parecia estar esperando um momento para atacar. O sumiço repentino da criatura fez o povo se acalmar e enfim o que havia sobrado dos habitantes entraram nas casas mais próximas. O rei e sua cavalaria começaram a recuar calmamente, em direção ao castelo, onde a fumaça era mais baixa, onde talvez a criatura se tornasse mais visível.

"Recuem devagar. Nada de alvoroço." O chefe da guarda falou em um bom tom, já que o silêncio do local era quase perturbador.

"Está ouvindo isso?" Tenerife apontou com a cabeça a direção de onde certamente Moors ficava.

"Estão em guerra." A primeira imaginação de John foi que a serpente havia mudado seu local de ataque para ir para Moors, isso justificaria o repentino sumiço da criatura.

"Porque Malévola enviaria um ser mágico para destruir sua própria terra?" A resposta a pergunta de um dos soldados era tão óbvia que não obteve se quer resposta. Não era Malévola a autora daquele ataque, e John só percebeu que estava com o coração apertado quando sentiu ele se aliviar ao saber que não era a mãe de Aurora quem os atacava.

"Devemos enviar ajuda majestade?" Tenerife perguntou levemente incerto sobre qual seria a resposta de seu rei.

"Sim, mande quinze homens para lá." John não se orgulhava em enviar apenas quinze, mas seu próprio reino estava em perigo, não podia desviar todos os seus guerreiros, mas ajudaria como fosse possível o reino aliado ao seu.

Os quinze cavaleiros se desprenderam da armada que formavam e seguiram em direção aos barulhos da guerra que acontecia ao lado. John começava a cogitar seriamente a ideia de que seu monstro havia atravessado a ponte, foi quando um dos seus soldados foi engolido inteiro com cavalo e armadura. A serpente subiu em uma velocidade surpreendente, mostrando toda sua magnitude, em direção ao céu.  Todo o exército de John se espalhou, temendo serem engolidos também. A serpente observou o chão com seus olhos brilhantes. John arriscaria dizer que parecia que a criatura estava sorrindo.

"Lancem flechas contra ela, tentem não ser engolidos." Tenerife tomou a frente vendo que seu rei estava muito impresionado para tecer algum comando.

"Acha que vamos derrotar isso?" John perguntou incerto.

O rei deveria ser o último a demonstrar medo ou fraqueza, John sabia disso. Mas temia muito que não conseguissem derrotar aquela criatura, já estava um tanto abalado pelo tanto de cidadãos e guerreiros que presenciou a criatura engolir. Como um ser daquele podia existir? Como matariam aquilo?

"Vamos, com certeza vamos vencer." Tenerife conseguia ver de longe o desespero nos olhos da sua majestade. Era tão comum pra ele presenciar aquele olhar, já havia estado em tantas guerras ao longo de sua vida, tantas vezes que quase perdeu sua família toda. Precisava ganhar mais essa, não podia abandonar sua Elisabeth, nem Lucas, Erik e muito menos as gêmeas.

(...)

As flechas lançadas contra aquela coisa não pareciam tão efetivas, apesar de algumas entrarem na pele da serpente, não parecia abalar ela de nenhum modo. Já estavam ao fim das munições que apesar de não causar um dano efetivo mantinham a criatura afastada.

"Pensou em algo meu rei?" Tenerife olhou para o velho homem ao seu lado.

"Acho que sim. Mas é uma ida apenas, não terá volta." O rei falou baixo a segunda parte, era um plano seu e ninguém pagaria pelas suas loucuras, ninguém além dele mesmo.

Um homem árvore seus quinze homens se juntaram a eles, mais cedo do que o esperado. Aparentemente, Moors havia vencido a batalha contra a sua criatura, e sequer havia precisado da ajuda de Ulstead. John sabia o que fazer, ele sabia que era uma boa ideia que tivera e precisava investir nela.

"Tenerife, preciso de espadas. Das grandes até às mais pequenas." O conselheiro saiu pelo campo recolhendo as espadas, alguns guerreiros nem se importa com aquilo, outros ficaram preocupados, visto que suas flechas estavam acabando.

"Já as trarei de volta." Ele gritou voltando a galopes para onde havia deixado o rei. "O que fará com tantas espadas?" Tenerife segurava com certa dificuldade as armas que havia escolhido.

"Coloque as no chão." John pediu saindo de sua montaria.

Tenerife fez o mesmo e depositou as armas no chão. "O que pretende fazer?" Ele perguntou.

John não respondeu, apenas ajeitou sua armadura e começou a enfiar espadas pelas brechas que ela tinha. Por todo lado o rei agora tinha espadas, se assemelhava a um porco espinho. Tenerife olhava preocupado, se seus pensamentos estivessem sincronizados então o rei estava pensando em...

"Você não está pensando em ser engolido não é?" A preocupação do conselheiro o fez chamar o rei de você, John riu.

"E seu eu estiver?" O olhar do amigo ficou ainda mais preocupado. "Sim, Tenerife eu sei que é uma ideia suicida, mas você tem uma melhor?" Tenerife balançou a cabeça de forma negativa, ele certamente não tinha nenhuma ideia. "As flechas estão acabando, e mesmo já tendo cinquenta cravadas na carne a criatura ainda não caiu. Ela tem um ponto fraco, mas deve estar dentro dela." John agora estava sério, falando em voz alta que pretendia ser engolido se sentia ainda pior.

"Um rei que se sacrifica pelo seu povo, será eternamente lembrado." O conselheiro considerava o rei de Ulstead um amigo. Já perderá tantos amigos que seu coração se apertava com a ideia de perder mais um.

"Cuide e guie Phillip. Ele é um bom rapaz e com sua orientação será um bom rei." John tinha lágrimas nos olhos. "Diga a ele que... Foi necessário.

"Eu direi." Tenerife apertou a mão do seu rei antes de entregar a ele a sua espada.

Tenerife afastou tudo que pudesse distrair o ataque da criatura. Ela precisava ver o rei, e atacar apenas ele. Então o ataque de flechas cessou. John começou a se agitar e gritar, ganhou atenção da serpente imediatamente. O brilho das lâminas pareceu deixar John ainda mais apetitoso. A serpente se rastejou em alta velocidade na direção do rei e como planejado John foi engolido. John ainda estava consciente quando passou pela parte transparente da garganta da serpente, e a espada de Tenerife fez sua parte ao rasgar a carne da criatura. Todo caminho onde o rei passou, foi se abrindo logo depois de ele passar. A criatura parecia já arrependida de ter engolido a coisinha brilhante.

Como se já não fosse suficientemente nojento, a cobra explodiu quando o corte no seu interior chegou ao seu estômago. Haviam vencido, graças ao seu rei. Mas a vila precisaria de tempo para se reerguer, pedaços de tudo e todos que a criatura havia engolido estava por todos os lados. A fumaça começou a retroceder e então Tenerife avistou o que procurava. John estava deitado sobre a poça maior de sangue não se movía. Tenerife cavalgou até lá e saiu de sua montaria.

"John?" E mais uma vez o conselheiro esqueceu as formalidades. O rei não respondeu, e só então Tenerife percebeu que naquele corpo faltava metade da estrutura, John havia sido partido ao meio e as espadas estavam amassadas de modo que algumas perfuraram seu corpo. Seu rei estava morto, seu amigo estava morto. A tropa estava paralizada, apesar de a criatura ter sido derrotada, eles estavam sem seu rei.

"Esperaremos pelo retorno de Phillip, o herdeiro real. Temos muito trabalho a a fazer até o príncipe e futuro rei voltar." As lágrimas se acumulava nos olhos do conselheiro.

O pós guerra era cruel de se observar e o cheiro era quase insuportável. Mas haviam vencido! As preces estavam voltadas para o príncipe. Que ele estivesse vivo.

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Obrigada por quem ainda está aqui. Mais um cap aí, fresquinho!

Perdemos um, então. Phillip é o novo rei, custa saber se ele está vivo também.

Até a próxima!
❤️

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