CAPÍTULO 7

Corro pelo parque de diversões como se fosse uma criança visitando o lugar pela primeira vez.

Brincamos nos carrinhos de bate-bate, tiro ao alvo, obrigo Ayden a fazer uma tatuagem de henna e chego a dobrar o estômago ao ver como ficou horrível em comparação com as que ele tem de verdade.

Escolhi a típica "i love mom" escrito dentro de um coração com uma flecha atravessando. O garoto problema fecha a cara por alguns minutos, mas acaba se rendendo e caindo na risada junto comigo. Continuamos passeando e subindo nos vários brinquedos, até que Ayden para na frente de um que me deixa com as pernas tremendo.

— Não mesmo, Ayden. - Resmungo tentando sair dali o mais rápido que posso, mas ele segura meu braço me puxando para perto de si.

— Vai ser legal, prometo! - Insiste e nego veementemente.

— Não vou subir nessa roda gigante, é praticamente uma arma mortal... e se ela quebrar com a gente lá em cima! - Acabo dizendo alto demais, ganhando olhares preocupados de crianças e alguns irritados dos pais.

— Lily, não vai acontecer nada, eu vou estar com você. Vai valer a pena, acredite.

— Eu tenho medo Ayden, sério. Posso ir em qualquer outro brinquedo, mas esse eu... só por favor não me obrigue. - Resmungo e ele suspira resignado.

— Tudo bem, não importa. Quer comer alguma coisa? - Muda de assunto e agradeço por isso. Procuramos uma barraca de cachorro-quente e cada um faz o seu pedido.

Procuro uma mesa vazia para sentarmos e Ayden aparece alguns minutos depois com nossos lanches e dois copos de suco.

Comemos tudo em um silêncio confortável e não consigo evitar observar como esse garoto é bonito até comendo um maldito pão com salsicha.

Sinto um calor de formando dentro de mim e sei que preciso apagar esse fogo antes que me arrependa.

Bebo uma golada do suco que está tão gelado que chega a doer minha cabeça, pelo que faço uma careta enquanto massageio a fronte.

Ayden não diz nada, apenas observa tudo com uma expressão divertida enquanto acaba de comer.

Aproveito o momento para prestar atenção nos detalhes do garoto. Ele tem uma pequena cicatriz no pescoço que quase chega até a orelha, o que me deixa bastante curiosa para saber o que causou esse ferimento. No entanto, como sei que ele é bem fechado com suas coisas, prefiro não estragar o momento tão tranquilo que estamos tendo. Seus olhos castanhos carregam uma tristeza que só olhando bem de perto para perceber, e seu corpo musculoso coberto por tatuagens está visivelmente relaxado, quem sabe ele também esteja desfrutando da minha companhia.

Começo a pensar que esse passeio não era apenas para levantar meus ânimos. Ayden pode até tentar disfarçar, mas consigo perceber que debaixo dessa pose de bad boy, ele esconde uma personalidade amável, porém que foi muito machucada e como defesa, acabou se refugiando detrás de uma armadura de tatuagens e jaqueta de couro.

Por isso penso que ele não sorri com frequência. Para algumas pessoas, isso é sinal de vulnerabilidade, o que é bem triste, já que seu sorriso é realmente lindo.

— Consigo ver as engrenagens rodando nessa sua cabecinha ruiva, Lily. - Ele solta de repente e quase engasgo com meu suco que agora está em uma temperatura aceitável.

— O-o que? - Sussurro tentando me recompor.

— Onde quer que esse seu cérebro de nerd esteja te levando, caia fora. - Solta e acabo fingindo uma risadinha sem graça.

Será que ele lê mentes ou algo assim?
Balanço a cabeça rindo de mim mesma por pensar algo tão idiota. Eu devo ter ficado o encarando como uma psicopata, por isso ele percebeu que estava pensando nele.

Tenho esse péssimo costume de encarar os outros e espero que isso não me causa alguma confusão.

Não consigo inventar nenhuma desculpa decente sobre o porquê de estar olhando fixamente para ele, então aproveito que terminei meu lanche para levar a embalagem vazia até o lixo.

Caminho lentamente, olhando ao redor e percebendo como quase todo mundo aqui parece estar bastante feliz. Por isso amo parques de diversões.

Por alguns minutos, esquecemos do mundo lá fora e nos dedicamos a brincar sem se importar de ser vistos, ou de que pensem que somos infantis. Aqui podemos liberar nossa criança interior e se divertir sem medo de sorrir.

Pude ver a animação de Ayden quando quis que eu subisse na roda gigante. Aquela expressão triste, deu lugar a um brilho divertido e foi a coisa mais bonita que vi em muito tempo. Não durou mais que apenas alguns segundos, mas eu vi.

Fico com a consciência pesada por recusar subir, apesar de morrer de medo, sei que o brinquedo é seguro e que dificilmente acontecem acidentes.

De repente, como se fosse invadida por um golpe de adrenalina, decido o que vou fazer.

Respirando fundo para criar coragem e caminho a passos seguros até ficar de frente para o garoto que me observa curioso.

— Tudo bem, eu subo. - Essas palavras bastam para que ele entenda e saia quase correndo até a roda gigante.

Quando chegamos, o operador da máquina nos explica algumas coisas breves sobre não se balançar na cabine, não soltar a trava de segurança e mais um monte de instruções que me deixam bastante nervosa e Ayden ao perceber isso, segura minha mão provavelmente suada.

— Você vai ficar bem, vai adorar a vista. Eu não vou soltar sua mão okay? - Sussurra e balanço a cabeça engolindo seco.

Nos sentamos na cabine e como prometido, Ayden segura firme minha mão.

Solto um gritinho quando o negócio começa a girar e fecho os olhos por instinto, sentindo meu coração se acelerar tanto que parece que vai sair pulando pela minha garganta a qualquer momento.

— Ei, abra os olhos... - Escuto sua voz bem próxima a mim e nego com a cabeça.

— Estou com medo, Ayden. - Murmuro tremendo.

— Só esqueça que está aqui, se concentre na minha voz. Você vai ficar bem, confie em mim.

— E-eu não sei...

— Confie em mim Lily. - Sua voz autoritária acaba chamando minha atenção e abro os olhos me surpreendendo.

— Uau, é... lindo Ayden. - Sussurro observando a cidade bem embaixo de nós.

Quando estávamos em terra firme, não dava para ver, mas o parque fica bem em cima de uma colina, e ao subir na roda gigante, conseguimos ver todas as luzes embaixo de nós, carros se movendo, pessoas caminhando. É impressionante.

— Sim... é lindo. - Ressopra e encosto minha cabeça no seu ombro, me esquecendo do medo de minutos atrás.

Como eu não sabia da existência desse parque?

A roda gira mais algumas vezes e quando descemos, e sinto um clima diferente no ar.

Ayden parece ter a mesma sensação, pois fica em silêncio de repente, me deixando curiosa e temerosa ao mesmo tempo.

Damos mais algumas voltas pelo parque até que decidimos ir embora.

A viagem de volta é mais lenta, como se o garoto quisesse atrasar nossa despedida.

Abraço-o apertado, usando a moto como desculpa, mas a verdade é que eu gosto disso. Do seu calor e da sua companhia.

Oh não, não, não!

O que acha que está fazendo Lily?

Retiro meus braços da sua cintura rapidamente, percebendo que talvez ele possa interpretar o abraço como outra coisa, no entanto, seus dedos puxam minhas mãos fazendo com que o abrace novamente.

O que está acontecendo?

Apoio a cabeça nas suas costas e fecho os olhos, aproveitando essa proximidade enquanto dure.

Vinte minutos depois, estacionamos na frente do meu dormitório e desço lentamente da moto, colocando o capacete no compartimento sem coragem de olhar nos olhos do garoto.

— Obrigada, Ayden. Adorei o passeio... - Sopro e ele apenas balança a cabeça.

Respiro profundamente na tentativa de controlar meus batimentos cardíacos.

— Não foi nada Lily, nos vemos amanhã. - Pela primeira vez, vejo um Ayden desarmado. A voz fraqueja e posso sentir que sua respiração está tão acelerada quanto a minha.

— O-okay.

Sem dar tempo de fazer alguma besteira, abro o portão e corro para dentro do dormitório como uma garotinha covarde.

Tomo um banho gelado para tentar combater esse maldito calor que me invade cada vez que estou com Ayden.

Faço um chá de camomila para ver se consigo dormir e depois de quase duas horas, pego no sono, esperando ansiosamente que o dia amanheça, para me encontrar outra vez com ele. 

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