9. UMA LONGA CONVERSA

Depois que Bella partiu, os lobos se transformaram e seguiram seu caminho.

Passado o momento de reencontro entre melhores amigos e as trocas de farpas entre as irmãs de Zef, a preocupação com o vampiro nas terras quileutes voltou.

Nós seguimos para casa enquanto conversávamos sobre o assunto. Eu não podia ter certeza, mas tive a impressão de que Bella ficou agitada com a notícia, pois arregalou os olhos e sua boca se torceu para baixo em uma careta. Foi muito rápido e acho que só eu a estava observando naquele momento.

Quando chegamos perto do rio, o sol que aparecia nas montanhas estava escondido pelas nuvens cinzentas. Outro dia nublado na cidade.

Estávamos nas férias de fim de ano, por isso não tinha escola, o que era um alívio para mim. Odiava ter que fingir ser um adolescente. Menos mal que só faltavam alguns meses para a minha formatura junto com Rosalie e Emmett. Apenas Edward e Alice ainda teriam que aturar mais um ano daquele loop infernal antes de um ou dois anos na faculdade e o recomeço de sempre em outro lugar.

Faltava poucas semanas para o Natal, e todos queríamos resolver o problema dos recém-criados o quanto antes.

Joseph ia passar o dia na mansão, então Bella teria que ficar escondida, a menos que fosse para outro lugar.

— Você deveria convidá-la para passear — Alice sugeriu, sorrindo. — Ela vai aceitar.

— Você teve outra visão? — questionei com a sobrancelha arqueada.

— Não, mas essa é a melhor escolha dela. É entediante passar o dia se escondendo sem fazer nada.

Eu assenti e corri para casa, onde encontrei Bella sentada na varanda, mexendo no celular. Quando me aproximei, ela digitou rapidamente e guardou o aparelho no bolso.

— Meus irmãos querem saber como estou. Eu disse que preciso de mais alguns dias aqui.

Eu assenti e decidi ser direto no convite. Estava meio temeroso de que ela fosse recusar passar um tempo comigo por querer observar seu irmão.

— Zef vai passar o dia aqui de novo. Você não prefere dar uma volta para conhecer as belezas naturais de Forks em vez de ficar trancada no quarto como ontem?

— Ele não vai estranhar tua ausência? Ontem vocês conversaram bastante.

— Foi necessário, já que eu tive que fingir ser o autor dos planos que você fez.

Ela sorriu daquele jeito irônico e eu me derreti, admirando sua beleza.

— Bem, você é o major da família Cullen. Tinha que ser você para ser convincente. Será que eu vou poder saber um pouco mais sobre essa história? Estou curiosa, soldado.

— Depende... — respondi com um sorriso. — Eu te conto a minha história se você me contar um pouco sobre a sua família imortal. Sabe, eu também estou curioso sobre você. E a Ali está frustrada por não conseguir nada além de “eles são mais experientes que eu e muito bons em combate corpo-a-corpo”.

— Hum... Minha família é muito reservada, não gosta de se expor. Mas acho que posso falar um pouquinho... Se você não espalhar por aí.

— Sou um cavalheiro, Milady. — Ofereci o braço a ela, fazendo um gesto para indicar a floresta além do rio. — Jamais contaria os segredos de uma dama.

Ela se levantou sorrindo e colocou a mão no meu braço.

— Sendo assim, pode me perguntar o que quiser, Milorde. Eu responderei o que achar necessário.

— Pelo menos você é honesta. — Eu gargalhei baixinho enquanto corríamos para a floresta na direção oposta à que fomos naquela madrugada. — Sua família... Eles são muito protetores com você?

— Mais do que eu acho necessário. — Ela fez uma careta. — Eu gostaria de ficar mais tempo sem ninguém tentando me monitorar. Quer dizer, eu fui filha única por vinte anos, acostumada a andar por todo lugar sozinha. Desde que fui transformada, raramente posso aproveitar a solidão.

Observei seu rosto perfeito e admirei a forma como ela respirava profundamente o ar puro das montanhas, mesmo não precisando. O vento balançava seus cabelos e o sobretudo cinza que ela vestia por cima do conjunto preto de calça de couro e blusa de mangas compridas. As botas impermeáveis davam a ela uma vibe de motoqueira de estrada. Ou uma roqueira muito sexy.

— Então seus irmãos são tipos sociais, enquanto você é antissocial?

— Algo assim. Digamos que eu sou do tipo leitora ávida, e eles preferem festas.

— Uma garota de biblioteca, então. Deve estar sendo difícil pra você ficar há dois dias com uma família que fica te fazendo perguntas.

Ela sorriu, e mais uma vez eu me senti rendido por aquele sorriso. Acho que a palavra certa seria: enfeitiçado. Seu sorriso me deixava fascinado.

— É diferente, porque nós estamos nos conhecendo, então é de se esperar muitas perguntas. Com meus irmãos é mais uma questão de controle. Eles convivem comigo todos os dias, então eu realmente não vejo necessidade de querer ficar perto o tempo todo, e às vezes, essa mania deles me sufoca.

— Vocês parecem tão diferentes, e você fala deles com certa dureza, mas eu sinto as suas emoções quando pensa neles. Você ama a cada um, mesmo que tente esconder.

Ela me encarou e cruzou os braços, suspirando.

— Não sei o que faço com esse seu hábito de ficar sondando minhas emoções.

Eu dei de ombros, sorrindo.

— Eu não tenho controle sobre isso sempre. E você é interessante demais para eu não tentar saber como está se sentindo. Por que é tão difícil se deixar sentir?

Trocamos um longo olhar silencioso. Eu pude sentir, se esgueirando por suas emoções sombrias de sempre, um tipo de ternura mesclada com admiração, que ela tentava suprimir. Se ela apenas parasse de tentar não sentir...

— Bem... Não somos uma família muito sentimental, nenhum dos meus irmãos costuma demonstrar carinho ou amor. Eu simplesmente fui ensinada assim. Não demonstramos nada além de indiferença, e em raras vezes, humor, em sua maioria cáustico.

— Mas por quê? Qual a necessidade de parecer tão insensível?

— Vocês têm vivido há tempo demais entre humanos, mas nós vivemos nas sombras, tendo que lidar com outros de nossa espécie, e nem sempre essas relações são cordiais. Não podemos demonstrar fraqueza. Ser temidos é a melhor forma que temos de nos proteger de inimigos. A vida nas sombras nem sempre é pacífica, tenho certeza que você sabe disso. Não é comum encontrar alguém que tenha lidado com tantos recém-criados ao mesmo tempo, major. Você é raro.

— Sim, eu sei. Não é algo de que me orgulho.

— Pois deveria. Todas essas cicatrizes são prova de que você é forte e muito mais poderoso do que seu jeito reservado demonstra.

Desviei o olhar, olhando para o horizonte. Havíamos chegado em um dos meus lugares favoritos no mundo. Empoleirados no topo de uma árvore antiga e gigantesca, podíamos observar o mar azul-acinzentado emoldurado por uma cadeia de montanhas escarpadas. Era uma vista realmente espetacular.

Mas a razão para desviar o olhar do seu rosto belamente esculpido não era a paisagem, e sim vergonha.

Eu não via minhas cicatrizes como troféus, mas como defeito. Bella tinha a pele perfeita. Eu era deformado pelas marcas de batalha e não gostava quando as pessoas só viam essas marcas. Era útil para causar medo e respeito em outros imortais, no entanto, que mulher iria se interessar por Jasper Whitlock, o soldado todo marcado?

Percebendo meu silêncio, Bella chamou minha atenção.

— Jasper... Você não gosta das suas cicatrizes, não é?

Eu suspirei pesadamente. Ela era mais perceptiva do que eu lhe dava crédito.

— Elas são lembranças de uma época sombria que eu gostaria de esquecer. Durante anos fui manipulado pela minha criadora. Maria me fez pensar que tínhamos um relacionamento amoroso autêntico, mas na verdade eu era só um fantoche que ela puxava as cordas. Meu dom era útil para manter os recém-criados controlados, e a minha experiência como líder de tropa era boa para manter o exército como o maior e mais poderoso do sul. Tanta carnificina e vidas desperdiçadas pela ganância de uma mulher. Esse modo de viver só me rendeu culpa, vazio existencial e marcas que sempre serão a primeira coisa que qualquer pessoa verá em mim.

Ela franziu a testa.

— Suas cicatrizes não foram as primeiras coisas que reparei em você.

— Mas você acabou de falar delas.

— Não. Eu disse que elas são prova de que você é forte, não que eu tenha reparado nelas primeiro. Na verdade, eu te achei sexy antes mesmo de analisar a sua aparência.

Eu arqueei uma sobrancelha.

— Sexy? — Isso me causou uma estranha sensação de prazer. — Sério?

— Já se olhou no espelho, major? Você é gostoso. As cicatrizes só adicionam um charme selvagem que muito me atrai.

Fiquei surpreso que ela estivesse flertando tão descaradamente comigo. Embora tivesse uma sensação agradável por causa dos elogios, pensar em tudo que ela passou...

Bella deve ter visto alguma coisa na minha expressão, pois disse com deboche:

— O que foi? Você achou que, por ter sido machucada por um grupo de animais em forma masculina, eu não sentiria atração por homens?

— Bem... É comum que mulheres que passam por uma situação como essa se retraiam e se afastem do sexo oposto.

Ela fez muxoxo e sua boca se torceu para baixo em sua habitual careta de desgosto, com a qual eu já estava me acostumando.

— Rosalie parece muito bem com Emmett. Não conheço a história dela, mas pelo que falou na noite em que nos conhecemos, não é difícil imaginar.

— Sim... foi exatamente como aconteceu com você, com o agravante de que um deles era seu noivo. Eles estavam com a data do casamento marcado... Carlisle sentiu o cheiro de sangue, ficou penalizado, pois ela era uma das garotas mais bonitas da cidade, se não a mais linda. Ela sempre se ressentiu por não ter morrido naquela noite, mas ao menos se vingou de seus abusadores. — Dei de ombros. — Aí ela encontrou o Emmett morrendo por causa de um ataque de urso, e de alguma forma conseguiu correr por muitos quilômetros com ele nos braços, sem respirar, para que Carlisle pudesse salvá-lo. Eles nunca se separaram desde então. Ela encontrou o amor que merecia.

Bella passou a mão no cabelo e suspirou.

— Eu nunca me relacionei amorosamente desde a minha transformação. Meu único namorado foi um dos meus abusadores e eu também me vinguei de todos eles, caso não tenha ficado claro quando contei minha história a vocês. O motivo de estar sozinha não é trauma ou aversão ao sexo masculino, eu só nunca encontrei alguém que despertasse meu interesse. Você queria saber sobre a minha família imortal. Tem coisas que não tenho permissão para contar, mas o que posso dizer é que tenho exemplos muito claros entre os meus irmãos de como um homem deve tratar a pessoa com quem se relaciona. Eu nunca aceitarei menos que isso.

— Agora você me deixou curioso e intrigado. Como são os teus irmãos?

Ela sorriu, aceitando meu modo indireto de mudar a conversa para tópicos mais leves.

— A Jay também curte a solidão. É impaciente, colérica, um pouco sádica, e ninguém que tenha amor à própria vida se atreve a mexer com ela. Já os rapazes adoram ficar ocupados o tempo todo. Fe é totalmente dedicado à esposa, assim como Deme, que é o marido mais maravilhoso que alguém pode querer. Ambos são assustadores para os de fora, mas para nós que convivemos com eles, são os melhores amigos e protetores que existem. Eles me tratam como uma irmã caçula.

— Então você é mais próxima deles do que de suas esposas.

Ela deu de ombros displicentemente.

— Eles sempre estiveram lá por mim. Tudo que sei, aprendi com eles. Tudo que vivi foi ao lado deles. Os quatro são meus irmãos, os outros são apenas parentes, por assim dizer.

— Entendo. Com os outros você tem uma ligação de clã, por conveniência, mas não um relacionamento significativo. Os quatro são família.

— Sim, acho que você entendeu bem.

O vento soprou uma mecha de cabelo para a frente de seu rosto, e eu peguei a mecha de modo automático para colocar atrás de sua orelha. Bella me encarou, talvez surpresa com o gesto íntimo. Eu mesmo fiquei surpreso com minha atitude, mas naquele contato ínfimo em que pude sentir a maciez de seu cabelo, uma alegria profunda tomou conta de mim. Era como se meus dedos formigassem, ansiosos por mais do que apenas um toque.

Para não tornar o momento constrangedor para ela, eu voltei a falar de seus irmãos imortais.

— Você falou de Jay, Fe e Deme. Acredito que sejam apelidos carinhosos. Mas faltou falar de um.

— Sim. Diferente de mim e da Jay, Al não curte o silêncio, acho que porque é o que fica mais tempo fora, resolvendo problemas sozinho.

— Então ele fala muito quando está em casa para compensar a solidão de quando está longe?

— Não, ele não fica necessariamente falando, mas sempre tem que ter algum som, sabe? Pode ser música ou barulho de luta. Até séries de TV, desde que não fique totalmente silencioso. Essa mania de ter barulho constante enlouquece a Jay e o Deme, mas eu ignoro, porque amo demais aquele bruxinho para me importar com suas manias.

Arqueei uma sobrancelha, intrigado. Bruxinho? Será que ele tinha algum dom que faria os humanos acharem que era um bruxo? Tipo as “bruxas” queimadas em fogueiras de Salém? Apelido interessante. Vez ou outra chamávamos Alice de “diaba” ou “fadinha”, dependia do que ela aprontava.

Querendo saber mais, eu indaguei:

— Quantos membros tem no seu clã além dos seus quatro irmãos e das esposas de dois deles?

Ela me olhou de esguelha e sacudiu a cabeça negativamente.

— Agora você fez uma pergunta que não posso responder. Qual a necessidade de saber quantos nós somos?

— Só estou curioso. Às vezes você dá a impressão de que o seu clã é bem maior que a minha família, e isso é algo incomum para a nossa espécie.

— Vocês não são os únicos vampiros civilizados do mundo, major — ela disse com o sorriso sarcástico de sempre. — Nem todos os clãs lutam contra outros por território de caça. Alguns simplesmente querem viver em paz, e para isso precisam se unir a outros. Pense em uma família que tem os pais, tios, primos, irmãos, cunhados e agregados. Meu clã é assim. Somos muitos, mas cada um tem seu grupo próximo e uma função para manter a ordem.

— Posso saber qual é sua função? Ou isso é segredo absoluto?

Bella respirou fundo e seu olhar se perdeu por um minuto na paisagem antes de se virar para ficar de frente para mim. No galho onde estávamos, a sua mudança de posição fez com que nossas coxas ficassem roçando uma na outra, e ela deu um sorriso pícaro ao notar o volume que crescia entre minhas pernas.

— É segredo, mas posso confiar em você, major?

Eu a encarei com seriedade.

— Desde que eu também possa confiar em você, Bella.

Ela desviou o olhar, mordendo o lábio inferior, o que fez meu desejo por ela aumentar.

— Isso é perigoso, Jasper. Quando nos deixamos confiar demais, sempre ficamos decepcionados no final.

— Mas se nunca puder confiar em alguém, como manter relações duradouras e verdadeiras? Se você tem uma família com quatro irmãos e permanece com eles até hoje, é porque confia neles, certo?

— Sim, mas eles compartilham tudo comigo. Com você é diferente. Somos estranhos nos conhecendo em uma circunstância excepcional. Em outro cenário e outra ocasião, eu jamais ficaria sozinha com um homem de outro clã. Mas é um vampiro gentil, disposto a proteger alguém importante para mim, e só por isso estou aqui.

— Bem... O Zef confia em mim, e eu nunca o desapontei. Isso conta para alguma coisa, não é?

Ela gargalhou baixinho.

— Joseph é humano e facilmente enganado. Não conta como grande vantagem ter a confiança dele.

— Você claramente não o conhece. É difícil encontrar alguém tão desconfiado quanto ele. Na verdade, acho que só encontrei uma pessoa que o supera nesse quesito: você.

Ela ficou com uma expressão surpresa.

— De verdade?

— Sim. Não é à toa que ele fuçou até descobrir nosso segredo. Não confiou no Edward desde o início, e demorou para nos dar o benefício da dúvida também. Eu sou seu melhor amigo, por isso ele não estranha quando desapareço por um tempo. Ele sabe que eu aprecio a solidão, pois assim não sinto nada além das minhas próprias emoções.

Ela me encarou, provavelmente analisando minhas expressões.

— Quer dizer que você costuma vir aqui sozinho para não ser invadido pelos sentimentos dos outros? — Eu balancei a cabeça afirmativamente. — E mesmo assim me trouxe ao seu refúgio pessoal?

Eu dei de ombros.

— Você precisava sair um pouco, e eu queria te conhecer melhor. É raro encontrar alguém com quem me sinto bem para conversar. Meus irmãos já sabem tudo sobre mim.

Ela segurou minha mão e eu fiquei olhando nossos dedos juntos. Uma punção elétrica me dava a sensação de formigamento onde ela tocava. Eu gostava disso.

— Posso saber por que você queria tanto me conhecer? Quer dizer, Alice disse que seríamos amigas e toda a família Cullen está curiosa sobre a irmã desaparecida do Joseph, mas foi você quem tomou a iniciativa de passar um tempo a sós comigo.

Eu observei seus traços finos. O cabelo ondulado e volumoso se movendo com a brisa que passava por entre as folhas da árvore onde estávamos; os lábios bem desenhados, em forma de coração, rosados e apetitosos; o nariz fino e os profundos olhos vermelhos... As feições delicadas que já eram belas quando humana estavam mais destacadas enquanto imortal.

— Eu sempre te achei linda, Bella. Desde que cheguei aqui há quase três anos, fiquei intrigado com a beleza da estátua no cemitério, e nas poucas vezes em que vi suas fotos, guardei seu rosto na memória. Joseph tem uma foto sua na carteira, e desde que te conheci não consigo deixar de pensar no quanto ela não faz jus a você. Eu sempre quis saber o que aconteceu de verdade, e agora que sei, não consigo me impedir de querer saber cada vez mais.

Ela suspirou, se afastando um pouco de mim para mudar de posição.

— Você está tornando as coisas difíceis para mim. O que vai acontecer quando a ameaça ruiva for exterminada e eu tiver que voltar pra casa? Como vou conseguir ficar longe de alguém que faz tão bem ao meu ego?

Eu gargalhei e ela me acompanhou, mas logo voltei à minha expressão séria.

— Você poderia ficar aqui. Com o Joseph nós somos oito, mas não há problema em ter mais um. Além do mais, vocês são irmãos e ele será transformado em um futuro próximo. Por que não viver conosco?

Ela balançou a cabeça.

— Eu não poderia viver como vocês,  Jasper. Não é da minha natureza suprimir os desejos, e a alimentação seria um problema. Além do mais, eu já disse que tenho responsabilidades. Minha função no clã é importante.

— O que você faz, afinal?

— Você não gostaria tanto da minha companhia se soubesse.

— Por que não tenta me contar antes de saber qual seria a minha reação?

Ela me encarou com seriedade.

— Porque eu gosto da forma como você me olha, Jasper. Não gostaria que isso mudasse.

Eu sorri sem humor, tentando fazê-la entender que não me importava com o que ela fazia. Isso não mudaria a admiração que eu sentia por ela.

— Eu era obrigado a matar todos os recém-criados de Maria logo que completavam um ano. Tinha que olhar nos olhos daqueles que eu guiava e ensinava, que confiavam em mim, e matá-los apenas porque já não tinham a mesma força de antes. Acha que eu não sei o que é fazer o trabalho sujo? A diferença é que isso não era para o benefício do clã, e sim capricho de uma psicopata sádica que tinha prazer em torturar psicologicamente os humanos antes de transformá-los em soldados obedientes. Duvido que sua função seja pior do que era a minha.

Bella suspirou e me analisou por alguns segundos antes de dizer:

— Eu sou responsável por manter a linha entre os imortais. Sou caçadora, investigadora e executora daqueles que não cumprem nossas regras. Todos têm medo de mim, inclusive os do meu clã, exceto meus tios e irmãos. Por isso minhas cunhadas e os demais membros se mantém afastados. Eu sou assustadora até para eles.

Eu a observei, tentando descobrir se estava falando sério ou só brincando com a minha cara.

Assustadora?

Quer dizer, eu já tinha visto em sua expressão uma periculosidade disfarçada por indiferença quando ela falava com o tom frio de quem não se importava com nada. Mas imaginar que ela era realmente temida...

Com um sorriso de deboche, eu brinquei:

— Em resumo, você é basicamente uma Volturi.

Ela não sorriu, apenas voltou a encarar a paisagem. Tentei sondar suas emoções, mas Bella tinha se fechado completamente.

Um frio desagradável invadiu meu estômago. Ela realmente seria tão cruel quanto um Volturi?

Não, eu não podia acreditar nisso. Os Volturi se comportavam como a realeza dos vampiros porque eram ambiciosos e inescrupulosos. Matavam todos os que, de alguma forma, ameaçavam seu poder, e eram o que existia de mais cruel entre os imortais.

Se os irmãos de Bella eram como ela descrevia, então era impossível que tivessem qualquer associação com os Volturi. Além do mais, se ela fosse parte da guarda de Aro, Caius e Marcus, teria vindo acompanhada dos outros para eliminar o exército de Victoria, já que essa era a função que ela exercia em seu clã.

Não, Bella definitivamente não era uma Volturi, mas eu sentia que existia muito mais por trás do que ela me contava sobre sua vida.

E aí, gostou?

Foram três capítulos fresquinhos pra você, e agora não sei quando poderei escrever novamente, mas espero que tenha gostado.

Pinte essa estrelinha,  comente e compartilhe a história.

Beijos no coração e... Tchau!

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