7. ALIADOS

Depois que Joseph saiu dirigindo o conversível de Rosalie com Alice no banco de trás provocando Rose por não poder dirigir seu próprio carro — pois ele disse que só sairia com elas se pudesse dirigir —, Edward nos encarou e fez sinal para que descêssemos da árvore.

Eu olhei para Bella e gesticulei para que ela fosse primeiro. Observei seu salto e admirei a graciosidade de seus movimentos antes de também saltar.

A expressão de Edward mostrava sua preocupação e frustração por ter que esconder algo de seu namorado. Ele fez um gesto com a cabeça para a sala e nós o seguimos. Bella se sentou em uma poltrona enquanto Carlisle e Esme ficaram em um sofá, Emmett no tapete, encostado na mesa de centro, e eu me sentei no outro sofá ao lado de Edward.

— Meu pai já me comunicou que teve que contar minha história com o Jos para que você entendesse o que estava acontecendo. Agora você entende que eu faria qualquer coisa para protegê-lo, inclusive manter você longe para que ele continue em segurança até que possa ser transformado.

— Você o manteria em segurança se não tivesse se envolvido com ele, ou pelo menos se mantivesse em segredo a sua natureza, mas entendo o apelo de ficar perto. Apesar de ver Joseph por poucos minutos, é impossível não gostar do seu jeito. Ele tem a petulância dos Swan.

— Você diz isso com certo orgulho — disse Edward. — Atrevo-me a dizer que se viu nele de alguma forma.

— Sim, eu admito isso. Ele se parece comigo, tem uma impetuosidade e coragem que podem gerar problemas. — Ela deu um lindo sorriso. — Acredite em mim, ele é o único humano, além do meu pai, é claro, por quem estou começando a ter algum tipo de respeito.

A atmosfera na sala pareceu mudar com essa declaração. Respeito à vida humana era um tópico sensível para nós, então eu não deveria me surpreender com a resposta de Edward.

— Ah, sim... Por um momento eu me esqueci que você não respeita a vida humana. Mas me diga: por que tanta repulsa pela espécie a que você já pertenceu, e que, aliás, seus únicos parentes vivos ainda pertencem? Por que não ser um pouco empática com eles?

Bella encarou Edward com a boca contorcida para baixo em uma careta e a testa franzida.

— Empática? Foram humanos que me machucaram e me deixaram para morrer em uma poça do meu próprio sangue, querido.

— Psicopatas — ele argumentou. — Nem todos os humanos são assim, tem muita gente boa no mundo, assim como o seu pai e irmão.

Ela deu uma risada debochada e depois ficou tão séria que me surpreendeu.

— Eu conheci o lado obscuro da humanidade. Agora esse é o único lado meu que eles verão.

Todos ficamos em silêncio. Eu entendia seu modo de pensar. Ela havia sofrido muito antes de ser transformada e via humanos como animais que faziam mal uns aos outros.

Sim, eu entendia. Mas Bella parecia gostar da ideia de causar dor a eles, dava para ver pela forma como falava. O problema é que, quando você oferece apenas dor, é isso que o universo te devolve.

Percebendo nosso desconforto, Bella continuou falando:

— Agora que você colocou seu ponto de vista na mesa e eu também, vamos ao que interessa: Victoria e o exército. Eles já chamaram atenção demais. Se os Volturi vierem resolver o problema, irão confrontar vocês a respeito de seu dever não cumprido e descobrirão sobre Joseph e a relação de vocês.

Edward fechou os punhos com força e rosnou:

— Isso não vai acontecer!

— Então sugiro que façam alguma coisa logo.

Edward suspirou, frustrado.

— Jasper tem experiência com recém-criados. Não sabemos quantos são, mas temos que treinar para ir atrás deles. Além disso, mesmo que o Jos não queira que seus irmãos se envolvam, os alfas Sam Uley e Jacob Black já me procuraram para avisar que os lobos não ficarão de fora. É dever deles proteger os humanos, e é claro que Seth e Leah querem proteger o irmão caçula, assim como você, ao que parece.

— Obviamente — ela retrucou. — Não quero perder a chance de conhecer meu irmão quando ele for imortal só porque uma vadia louca resolveu caçá-lo.

— Certo. Hoje, durante a madrugada,  vamos encontrar as alcateias para falar sobre o exército de recém-criados e mostrar como eles lutam. Agora temos que definir como será com você. Os quileutes não aceitam imortais de olhos vermelhos. Já é difícil eles aceitarem trabalhar em parceria conosco, e se virem você...

— É fofo você se preocupando comigo, cunhadinho, mas não precisa. Eu não sou uma imortal que alguém, mesmo um metamorfo, vai querer provocar.

— Você está subestimando seres que não conhece. Eles são nossos inimigos naturais, isso significa que têm as habilidades necessárias para matar os da nossa espécie — avisou Carlisle.

— Não me importa. O Joseph é meu irmão também. Não estou aqui para ajudar vocês a se salvarem, e sim para preservar a vida dele. Se os irmãos quileutes do Joseph não puderem me aceitar, o problema é deles.

Edward suspirou e eu senti que suas emoções estavam conturbadas. Havia preocupação, medo, frustração, ódio, confusão... Imaginei que cada sentimento fosse direcionado a um indivíduo diferente, só não tinha certeza de qual deles era para Bella.

— Está mesmo disposta a se envolver nisso por causa de um irmão que nem conhece? Como pode ter sentimentos por ele em tão pouco tempo?

O escudo de Bella vacilou e eu fui bombardeado por uma série de emoções conflitantes, nem mesmo conseguia identificá-las corretamente,  mas podia dizer que a raiva era dirigida para meu irmão.

— Você acha que por ser namorado do Joseph, tem mais direitos sobre ele do que eu? Deixa eu explicar uma coisa, Edward. Eu lutei muito para me lembrar do meu pai, pois apesar das lembranças serem turvas no começo, havia um sentimento aqui dentro que não me deixava quebrar totalmente os laços com minha antiga vida. Durante as últimas três décadas eu pesquisei sobre ele, e quando finalmente vim até aqui para vê-lo, percebi que o sentimento que sempre me acompanhou foi amor. Um amor que só aumentou quando eu vi o quanto ele ainda me ama.

Bella se levantou e começou a andar pela sala, tentando controlar suas emoções, talvez por saber que eu podia sentir tudo. Ela suspirou, olhando para as árvores lá fora, depois encarou Edward com seriedade antes de continuar:

— Então eu descobri que tem uma parte do meu pai em um jovem que também me ama, mesmo sem me conhecer. Alguém que conhece nosso mundo e que pode me aceitar como eu sou, mesmo que não seja a garota das lembranças do nosso pai. Você não faz ideia do quanto a existência dele abalou as estruturas da minha vida.

Ela voltou a se sentar, respondendo ao questionamento mudo na expressão de Edward.

— Eu sou imortal, fadada a ver todos os meus familiares morrerem, até que, de repente, não precisa mais ser assim. Agora eu tenho alguém do meu próprio sangue com quem posso ter um relacionamento eterno e compartilhar histórias sobre alguém que ambos amamos. Imagina se você estivesse no meu lugar. Como se sentiria? O que seria capaz de fazer para proteger essa pessoa? A resposta é sim, eu tenho sentimentos por ele. Não me importa o que você pensa sobre isso.

Edward me encarou, e eu reconheci a pergunta em seus olhos.

"Bella está sendo honesta, Ed. Há ternura e admiração quando ela fala sobre o Zef", eu respondi em minha mente. "Ela está determinada a protegê-lo".

— Muito bem — ele disse. — Já que você quer mesmo ficar para proteger o Jos, vamos trabalhar juntos. Eu não pretendo deixá-lo a menos de cem quilômetros de distância do exército,  e considerando que Victoria o quer, ela vai procurar por ele enquanto o exército ataca minha família, então temos que pensar sobre o que fazer...

— Sobre isso, eu tenho uma ideia — Bella o interrompeu. — Vamos preparar uma armadilha.

Edward a olhou com interesse.

— Ok... Vamos ver quão criativa você é.

De fato, ficamos impressionados com os planos de contingência que Bella era capaz de criar. Em meia hora já tínhamos quatro planos elaborados para o caso do primeiro dar errado. Emmett definitivamente se tornou fã da cunhada de Edward.

Passamos a tarde conversando com ela, e depois Bella se hospedou em um dos quartos, onde ficou ouvindo nossa interação com Joseph sem nem se mover. Ele ficou até altas horas da noite conosco, e Bella continuou parada em silêncio no quarto enquanto Edward e Carlisle expunham para ele os planos que ela elaborou.

É claro que a própria Bella havia dito que os créditos deveriam ser dados a mim, afinal, ele não poderia saber sobre sua existência enquanto ainda fosse humano, e o fato de eu ter sido um major do exército me daria mais credibilidade como autor daqueles planos.

Depois que o próprio Joseph fez perguntas e deu algumas opiniões de como deixar os planos ainda melhores, Edward o levou para casa. Só nesse momento Bella se moveu e veio ficar conosco na sala, onde Alice a encheu de perguntas pessoais e ela conseguiu a façanha de não responder claramente a nenhuma delas, o que deixou Alice se roendo de curiosidade.

Minha admiração aumentou. Sua mente afiada me causava um estranho orgulho, e eu me perguntava como ela tinha aprendido tantas táticas de batalha e armadilhas quase infalíveis contra imortais em apenas algumas décadas. Afinal de contas, que família era essa tão versada em guerras que a ensinou a lutar?

Mas Bella era astuta demais para deixar escapar informações claras. Sempre que surgia qualquer questionamento sobre sua família imortal, ela dava um jeito de desviar o assunto ou soltava pequenas informações genéricas, tipo quando disse que sua família era composta por vampiros mais antigos que ela, e isso era óbvio,  já que ela foi a última a entrar no clã.

Ela nunca deixou claro quantos eles eram, mas pelo modo como falava, tinha pelo menos meia dúzia de imortais que a ensinavam essas coisas, e outros que se associavam ao clã, mas não dava para saber quantos ou que tipo de associação havia entre eles, e somente quatro conviviam diariamente com ela.

O mistério sobre o tipo de clã a que ela pertencia aumentava, fazendo minha mente trabalhar muito mais que o normal para tentar entender. A verdade é que eu nunca me interessei tanto por alguém a ponto de querer descobrir cada vez mais sobre a pessoa.

Eram três da manhã e estávamos correndo para a campina onde combinamos de nos encontrar com os lobos quileutes para uma aula de como lidar com vampiros recém-criados.

Bella ia atrás, com intuito de se esconder nas árvores,  longe o bastante para não ser vista ou farejada. Alice e Esme corriam à frente dela, Rosalie e Emmett na frente delas, e Carlisle, Edward e eu liderávamos o grupo.

De onde estava, eu tentava ouvir algum som ou sentir alguma emoção que viesse dela, porém Bella havia se fechado completamente. Enquanto conversávamos por sussurros, ela apenas ouvia e observava.

Em dado momento chegamos a uma parte mais densa da floresta antes de sairmos em uma clareira molhada pela neve que derretia tão logo tocava o chão. Ouvimos o barulho mal audível de patas batendo no chão a uma velocidade surpreendente, considerando o tamanho dos lobos quileute.

Ficamos posicionados lado a lado, Bella distante o bastante para não ser descoberta. Em poucos segundos, os lobos diminuíram o ritmo e eu enrijeci meu corpo em alerta quando saíram das árvores dezesseis lobos do tamanho de cavalos, alguns deles com o focinho arreganhado, mostrando os dentes e rosnando.

Carlisle deu um passo à frente e um lobo com pelo castanho-avermelhado, maior do que os outros, uivou, fazendo com que toda a matilha parasse, exceto um lobo negro, quase tão grande quanto o primeiro, que se colocou ao lado do outro e nos encarou.

— Alfa Black, Alfa Uley, sejam bem-vindos com suas alcateias. Pedimos para que nos encontrassem aqui com o intuito de treinar para vencer o exército de recém-criados que está aterrorizando Seattle. Meu filho Jasper tem experiência com esse tipo de vampiros. Para facilitar nossa comunicação,  já que vocês não se sentem seguros para estar em forma humana na nossa presença, meu filho Edward vai traduzir. Ele pode ouvir seus pensamentos.

Alguns rosnados se elevaram da matilha. Eles com certeza não gostaram da informação.

— Obrigado, doutor — Edward traduziu. — Interessante saber que nossas informações sobre o namorado de Joseph Swan estavam corretas. Devemos supor que os outros boatos são verdadeiros?

— Você quer dizer, o fato de eu poder ver o futuro? — Alice questionou. — Sim, mas não vejo vocês, pois nunca conheci metamorfos em minha vida humana.

— E sobre o loiro? — Edward falou de forma impessoal, mas mudou de tom ao responder: — Como vocês sabem sobre o Jasper? — Ele ouviu a resposta de um dos alfas e assentiu com um movimento de cabeça. — Nós chamamos essa habilidade de empatia. Ele pode sentir tudo que nós sentimos e manipular essas emoções para propósitos específicos.

Os rosnados ficaram mais fortes, a ponto de incomodar. Eles definitivamente não estavam gostando de saber sobre nossos dons. Mais uma vez, Edward ouviu os lobos com paciência. Ao terminarem de "falar", ele se virou para mim.

— Jazz, eles querem saber como funciona e como podem perceber se vocês está usando suas habilidades neles ou não.

Eu suspirei e dei de ombros.

— Eu simplesmente sinto. Na maioria das vezes consigo ignorar todos ao meu redor, mas existem momentos em que sentimentos muito fortes me pegam desprevenido. Eu posso excitar uma multidão letárgica ou acalmar ânimos elevados, mas são mudanças de humor causadas por hormônios, então é algo natural que ocorre no corpo humano, por isso não dá pra sentir quando estou mexendo com suas emoções, a menos que você seja um imortal com dons defensivos ou o meu irmão telepata — expliquei, pensando em Bella e sorrindo para Edward.

— Então você poderia mexer com as emoções do exército a nosso favor?

— É muito mais complicado. Recém-criados são mais fortes por ainda estarem cheios de seu próprio sangue depois da transformação. Tudo é ampliado: raiva se torna fúria, alegria vira êxtase, tudo fica fora de controle, principalmente a sede. É por isso que eles estão fazendo um estrago em Seattle. A sede de sangue está descontrolada, eles não se importam com nada, nem mesmo o risco de serem eliminados, pois se sentem mais poderosos que qualquer inimigo que possam enfrentar. Eles não têm emoções constantes para que eu possa alterar a nosso favor. O máximo que eu poderia fazer seria controlar e acalmar cada indivíduo se pudesse chegar perto, ser uma figura de liderança, mas não posso, porque pra eles sou um inimigo.

— Nesse caso, qual a diferença entre vocês e eles na hora de lutar? — Edward continuou traduzindo. — Por que precisamos treinar?

— Como eu disse, tudo para eles é mais ampliado, inclusive a impulsividade. Eles são guiados pelos instintos e confiam muito em sua força, então podemos usar isso a nosso favor. Eles sempre fazem ataques diretos e arrasadores, mas são facilmente distraídos. Vocês não devem atacar diretamente, pois é o que eles e
speram, e vocês irão perder. — Os rosnados de resposta foram tão fortes que o chão trouxe as vibrações até nós, mas eu continuei: — Não deixem que eles coloquem os braços ao redor de vocês, ou serão esmagados...

Nas próximas horas, eu lutei com cada membro da minha família para mostrar aos lobos os modos mais seguros de enfrentar recém-criados. Emmett ficou feliz em imitar o jeito de lutar dos recém-criados, e frustrado por não conseguir me vencer.

Os lobos ficaram surpresos ao verem a velocidade superior do Edward comparada à nossa, e entediados durante a luta dele com Alice, pois os dois sequer conseguiam se tocar, e muito menos derrubar um ao outro, visto que ele lia os pensamentos dela para saber quais movimentos faria, e ela antecipava os movimentos dele e desviava por milímetros de cada um de seus ataques.

Esme não gostava de lutar, mas se engana quem pensa que ela não sabe. Não gostar de fazer algo não é o mesmo que não saber fazer, é ela certamente sabe, tanto que venceu Rosalie e Carlisle mais de uma vez. Rosalie era tão encantadora quanto letal e Alice não perdia para nenhum de nós. Nem mesmo para mim.

O sol não demoraria a despontar no horizonte quando nos despedimos dos lobos, marcando outro treinamento para a noite seguinte.

Estava tudo certo. Os lobos já haviam partido quando voltamos e encontramos Bella a quinhentos metros de distância, empoleirada em uma árvore. Ela estava sorrindo de um jeito preguiçoso, e elogiou a performance de Alice, porém, assim que desceu para ficar ao meu lado, ouvimos o som de patas se aproximando rapidamente.

— É o Alfa Black — disse Edward. — Só veio nos dar uma informação que acabou de receber dos lobos que estavam na patrulha enquanto estávamos reunidos. Merda. Ele captou o cheiro diferente entre nós.

Bella se virou para fugir, mas já era muito tarde, e o lobo castanho chegou até nós, grunhindo, com os dentes à mostra e em posição de ataque.

Olá! Espero que esteja tudo bem com você. Com o último ano conturbado, passei muito tempo sem conseguir escrever, mas agora finalmente consegui, e não será apenas esse capítulo, mas um combo com três capítulos pra você aproveitar a leitura.

São os primeiros do ano, então aproveite, porque não estou de férias,  então não sei quando poderei escrever de novo. Espero que você goste, e se gostar, pinte essa estrelinha, comente na história e compartilhe a leitura com seus amigos.

Beijos no coração e... TCHAU!

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