5. FAMÍLIA

Eu observei o perfil de Bella Swan, tentando disfarçar meu interesse.

Aquela era a garota que invadia meus pensamentos no último ano. Ela estava ali, viva, e mais do que isso, era imortal.

Em todo o tempo que passei pensando sobre o que tinha acontecido com ela, nunca imaginei que Bella fosse uma imortal habilidosa em combate corpo-a-corpo, e ainda mais linda do que sua foto na carteira de Joseph. As feições delicadas se destacaram mais com a transformação e ela tinha um sorriso encantador.

Ao seu lado, Alice estava em polvorosa, tão empolgada que mal podia se conter. Ela sentia um grande apreço pela recém-chegada, o que só me deixava curioso sobre qual exatamente foi a visão que ela teve a respeito de Bella.

Enquanto corríamos pela floresta escura em direção à mansão Cullen, observei como o longo cabelo castanho avermelhado esvoaçava graciosamente, e o corpo esbelto estava moldado pelo conjunto de calças pretas e jaqueta de couro, uma blusa de algodão azul escura e botas caras impermeáveis.

Bella era realmente linda. Seu corpo me atraía tanto que eu estava com dificuldade de manter minhas próprias emoções sob controle. Meu membro apertava em minhas calças, querendo sair, o que me deixou desconsertado, pois não sentia algo assim desde que achei que Maria fosse minha companheira.

Um olhar travesso de Alice me deixou ainda mais curioso sobre o que ela teria visto na clareira minutos atrás.

O cheiro familiar de madeira de lei, concreto e produtos para vidro chegou até mim, e percebi que estávamos perto de casa. Alice diminuiu o passo, ainda segurando a mão de Bella, e disse:

— Emmett falou de você para ao nossos pais. Esme está curiosa, especialmente depois de ver a Rosalie chegar chateada em casa.

— Eu deveria pedir desculpas, mas não vou — Bella falou em um tom frio que não combinava com seu rosto sereno. — Assim como eu não devia supor coisas sobre todos vocês, ela não deveria me julgar sem me conhecer.

— Eu não esperaria outra coisa de alguém tão arrogante. — Ouvimos a voz de Rosalie na varanda superior. — Gosto do Zef, e só por causa dele vou tentar te aturar, Bella. Porque ele será parte permanente da família um dia, e te ama tanto que não vai querer ficar longe depois de saber que você é como nós. Mas não me provoque.

— Rose, vem conhecer a Bella oficialmente — Esme falou da porta.

— Eu já a conheci o suficiente, Esme. — Então Rosalie virou as costas e foi para o seu quarto.

Quando ouvimos o suspiro de Carlisle, Alice falou:

— Não se preocupem. Pessoas muito parecidas tendem a se estranhar no início. As coisas serão diferentes quando elas se conhecerem de verdade.

Bella bufou.

— Outra previsão?

— Não. — Ali sorriu. — Dessa vez é só um palpite.

Bella não teve tempo de responder. Ao se aproximar da porta, observou o casal mais adorável que qualquer um de nós já tinha visto. Esme tinha um rosto em formato de coração, olhos amáveis e lindos cabelos ondulados cor-de-caramelo. Estava segurando a mão de Carlisle, que era alto, loiro e deixava qualquer mulher admirada. Olhar para ele era como encarar o sol, se o sol pudesse sorrir daquele jeito tão acolhedor.

Ele deu um passo à frente e apertou a mão de Bella.

— Eu sou Carlisle. Seja bem-vinda, Bella. — E fez um gesto para a mulher ao seu lado. — Essa é minha esposa, Esme.

Em vez de apertar a mão de Bella, Esme a puxou para um abraço aconchegante. Todos ouvimos o suspiro de Bella nos braços de Esme. Eu sondei suas emoções e, apesar de ser mais difícil de analisar do que as dos outros naquela casa, encontrei um fio de sentimento que me pegou de surpresa.

Ela estava... emocionada. Esme a pegou despreparada porque agia como uma mãe...

Pigarreando, Bella se afastou, constrangida por aquele momento de descontrole emocional, então percebi que suas emoções se fecharam, tornando mais difícil para mim a sua análise.

— Eu sou Bella, mas vocês já sabem disso.

Esme sorriu sem jeito.

— Sim, nosso filho Emmett nos contou sobre você. Então a irmã de quem o Joseph tanto fala está viva, afinal.

— É... Pelo visto essa família tem um fofoqueiro oficial — retrucou Bella, olhando para o topo da escada, onde Emmett sorria para ela.

— Bem... — Ele deu de ombros, descendo até nós. — Essa seria a Ali, na verdade, pois é ela que vê tudo antes que aconteça.

— Nem tudo — corrigiu Alice. — Só posso ver o que vai acontecer quando as pessoas tomam decisões que irão afetar nossa família de alguma forma. Eu seleciono minhas visões assim, pois se ficasse monitorando o futuro de qualquer um, ficaria louca.

— Pelo menos, mais louca do que você já é — eu zombei e ela me mostrou a língua.

— Interessante...

Bella encarou Alice enquanto mordia o lábio inferior. Esse gesto me deixou inesperadamente excitado e Emmett me olhou com um sorriso debochado ao me ver tomar assento no sofá discretamente e cruzar as pernas.

Droga. Desde o momento em que coloquei os olhos em Isabella Swan, meu corpo começou a agir por conta própria. Era assustador o efeito que ela me causava.

Como se o meu gesto fosse uma deixa, todos resolverem se sentar nos sofás e poltronas da sala.

Bella suspirou, sem deixar de encarar os olhos de Alice.

— Isso me faz pensar... Quando você me viu chegar?

Alice desviou o olhar e pigarreou. Não era um sinal de vergonha, ela não sabia o que era isso. Eu sondei as emoções dela e encontrei cautela, até preocupação.

— Bem... — Ela passou os dedos em seu cabelo espetado. — Olha, eu não quero que você fique chateada, mas eu vi o que aconteceu em Port’Angeles.

Bella se enrijeceu, estreitando os olhos. Sua voz soou tão gélida que causaria arrepios em um humano.

— Qual parte?

Alice passou as mãos em volta do pescoço e cruzou os dedos em sua própria nuca, apoiando os cotovelos nos joelhos e olhando para baixo.

— O passeio na chuva... O tédio, a busca por algum sentido na sua existência... — Ela ergueu os olhos para encarar Bella. — Eu pude ver o conflito nos teus olhos, Bella. A escuridão que cobre a tua alma... Eu vi o que você fez com aquela família.

Bella se levantou, a fúria deixando o vermelho de seus olhos mais intenso.

— Família? Um homem que espanca a esposa e o filho, rouba deles e ainda foge com uma amante não pode ser considerado família.

Alice se levantou e rapidamente abraçou Bella, que permaneceu rígida, sem se mover.

— Não, não... Não me entenda mal, eu não estou julgando o que você fez com o homem e a amante. A família a que me refiro é a mãe e o filho. Você se importou com eles, cuidou deles a sua própria maneira. — Alice se afastou, e pude ver o olhar conflituoso da garota mais alta. — Você mostrou mais compaixão por eles em um dia do que os vizinhos que estavam perto deles durante anos.

Bella desviou o olhar e voltou a se sentar, sua expressão ficando indiferente.

— Eu só estava caçando, Alice. Você não deveria analisar as pessoas e buscar o bem nelas. Eu sou uma vampira, preciso de sangue para acabar com a minha sede, é simples assim.

Alice franziu a testa, sacudindo negativamente a cabeça.

— Você não é má como quer parecer, Bella. Por que não deixa as pessoas verem o teu lado bom?

— Porque quem vê o bem, espera o bem, e eu não quero ter que satisfazer as expectativas de ninguém.

Um silêncio opressor se instalou em nosso meio. Bella estava desconfortável, e suas emoções ficaram conflitantes. Era como se ela quisesse partir, mas ao mesmo tempo havia algo que a prendia ali. Seu humor ficava oscilando, então lhe enviei uma dose mínima de calma, esperando que não notasse, porém ela olhou diretamente para mim.

— Ora, ora... Parece que o dom do irmão mais bonito não se resume a paralisar o corpo de alguém, mas também manipular as emoções. Você é um empata.

Eu assenti.

— Sim, embora deva dizer que a maioria das pessoas nunca percebe quando uso meu dom.

Ela tocou na têmpora direita com o indicador.

— Sou um escudo. O que me faz querer saber como alguém com um dom mental consegue passar pelas minhas defesas.

Eu sorri, relaxando no sofá.

— Meu dom não é mental. Quando mexo com as emoções de alguém, é algo físico. Eu sinto cada músculo, enzimas, hormônios, sinapses, tudo que faz as pessoas sentirem e se moverem. Posso causar alvoroço em um grupo ou deixar uma multidão letárgica. É claro que usar meu dom em imortais é bem mais difícil.

— Mas como você conseguiu me paralisar? Vampiros não têm sangue, nosso corpo é denso como diamante. Não temos...

— Aí é que você se engana. Sim, nós somos como rochas, mas nosso corpo tem veneno líquido percorrendo nossas veias. Quando bebemos sangue, esse veneno fica menos espesso e nosso corpo produz hormônios e outras substâncias responsáveis pelos nossos desejos. Quanto mais alimentados estamos, mais as emoções florescem e mais fácil fica trabalhar nelas. Acontece que você está tão cheia de sangue que ficou mais fácil interferir nas sinapses do seu sistema nervoso e paralisar seus músculos.

— Uau. Acho que preciso tomar cuidado com você, loirinho. Homem perigoso para a sanidade. — Ela me olhou de um jeito avaliativo, como se estivesse mesmo me considerando perigoso. Após um momento de reflexão, ela se virou para Alice. — E quanto a você? Como consegue ver meu futuro?

Alice deu de ombros.

— Como eu disse, posso ver as possibilidades de futuro baseadas nas decisões das pessoas. Quando você decidiu vir para a Península Olímpica, eu vi seu rosto, mas estava embaçado. Eu só sabia que alguém viria parar aqui, e que essa visita mudaria nossas vidas, especialmente... — Ela parou de falar e olhou para mim, depois desviou o olhar para Bella de novo. — Bom, eu vi quando você estava em Port’Angeles, pensando em voltar a Forks, e quando você veio com a ideia fixa de ver Charlie, o teu rosto ficou nítido e eu te reconheci por causa das fotos que o teu pai e o Joseph têm.

— Então você me viu na casa do meu pai?

— Sim. Na verdade, as tuas decisões mudam muito, e eu vejo pelo menos cinco possibilidades, mas todas elas afetam a todos nós de alguma maneira.

— O que isso quer dizer?

— Quer dizer que, a partir do momento que nós te conhecemos, nossa vida não vai continuar a mesma. Se você ficar por causa da nossa relação com a tua família humana, ou se partir por qualquer que seja o motivo, não tem mais jeito, nossas vidas estão entrelaçadas.

Bella soltou o ar e ergueu as sobrancelhas.

— Parece uma responsabilidade e tanto para mim. A ideia de ficar... Eu não sei se me adequaria aqui. Tenho uma vida em outro lugar, com outras pessoas. E nem conheço vocês, eu só vim ver meu pai.

— Sobre isso... — Carlisle falou depois de ficar apenas observando nossa interação. — Não estamos te pedindo para deixar sua vida e ficar conosco, mas dada a sua relação com alguém que já faz parte da minha família, gostaríamos de conhecer você melhor, quem sabe entender sua história e como você se tornou uma imortal.

Bella passou a mão no cabelo, pensativa. Ficamos observando, apenas respeitando o seu silêncio. Depois de um pesado suspiro, ela disse:

— Vocês já desconfiam o que aconteceu comigo. — Ninguém falou, mas Esme assentiu com a cabeça. — Não vou me ater a detalhes, não importa. Eu fui agredida de todas as formas possíveis e deixada para morrer, me afogando em uma poça do meu próprio sangue.

Eu engoli em seco, sentindo um gosto amargo que vinha da minha fúria misturada à tristeza dela. Minhas mãos se fecharam com força e eu senti vontade de poder estar lá, décadas atrás, para torturar e matar a cada um dos seus agressores.

Controlando meu temperamento repentinamente cruel, prestei atenção ao resto da sua história, observando bem as suas mudanças de expressão, pois ela havia fechado seus sentimentos, deixando-os muito difíceis de acessar.

— Eu flutuava entre a inconsciência e a dor, quando um casal de imortais me encontrou. Eles sentiram o cheiro forte do meu sangue, estavam caçando... Mas quando me viram, acharam que eu valia mais como uma vampira do que como um cadáver todo quebrado.

Ela olhou para os rostos de cada um de nós, esperando que tivéssemos perguntas. Como ninguém se  manifestou, ela continuou:

— Eles me transformaram e se tornaram minha família desde então. Somos como irmãos. Diferente de vocês, nós nos alimentamos de humanos, porém eu só me alimento de homens perversos... Em sua maioria estupradores e homens violentos que espancam mulheres.

— Então você é júri e executora... — Emmett comentou. — Gostei.

— Emmett! — Carlisle o repreendeu, depois se  dirigiu a Bella. — Por que não entregar esses homens para serem punidos segundo a lei humana, já que eles são humanos?

Bella deu de ombros.

— A justiça humana frequentemente falha e deixa esses bandidos impunes. Além do mais, eu preciso me alimentar, e que maneira melhor de fazer isso do que livrando o mundo deles?

— Você nunca pensou que um dia pode perder o controle e matar um inocente? — questionou Esme.

— Não. Eu caço assim desde que completei a transformação. Posso observar uma presa durante semanas para ter certeza de que ela seja mesmo horrível. Não tenho a ilusão de ser melhor do que ninguém, afinal, sou uma assassina, mas pelo menos sou um monstro que caça outros monstros.

O que ela disse me incomodou, então falei:

— Você não é um monstro.

Ela me encarou por alguns segundos, o que foi suficiente para me deixar fascinado. Existia alguma coisa nela que me atraía de um jeito que não dava para entender.

— Você pode não querer ser um monstro, mas no fim das contas, somos predadores que precisam da vida de outros seres para sobreviver. Pode não ser politicamente correto matar humanos, mas eu sei por que faço isso e não vou mudar, por mais que me julguem.

— Não estamos te julgando, querida — Carlisle falou com ternura. — Só tentando entender. Nos desculpe se somos muito curiosos, a verdade é que raramente nos encontramos com outros imortais tão civilizados. Os nômades costumam ser mais... selvagens, por assim dizer.

— É... Bem, meus irmãos imortais e eu costumamos frequentar a alta sociedade e conviver com humanos vez ou outra, apesar de preferir nossa própria companhia.

— Fale mais sobre essa família, talvez nós conheçamos seus irmãos — pediu Esme.

— Eu duvido. Somos muito discretos e reservados. Costumamos passar mais tempo em lugares desertos da Europa e raramente saímos durante o dia, apesar de admitir que sinto falta do sol. A vida noturna pode se tornar tediosa.

Bella deu uma pausa e olhou para as portas de vidro. Acompanhei seu olhar e notei que estava amanhecendo. O sol surgia por entre as árvores com seus tons alaranjados e amarelos que refletiam no rio que dividia nossa propriedade. Ela se levantou e foi para a varanda central sem tirar os olhos do céu. Todos a acompanhamos, admirando o mesmo fenômeno que raramente víamos.

— Eu fiquei tão empolgada com a chegada da Bella que esqueci de avisar que essa manhã tem sol — comentou Alice. — Até as onze horas. Depois uma frente fria vai trazer chuva de novo.

— Além de vidente, você é a garota do tempo dos Cullen — Bella falou em tom de brincadeira.

— Algo assim. — Alice riu. — Também faço consultoria sobre a bolsa de valores.

Bella riu e balançou a cabeça negativamente.

— É claro que faz. Gostaria de dizer que minha família imortal também ganha dinheiro dessa forma, mas eu estaria mentindo.

A luz foi ficando mais forte. Um feixe de luz solar penetrou por entre as árvores na frente da mansão e se concentrou na parte da varanda onde Bella estava, refletindo em sua pele e fazendo com que brilhasse como milhares de minúsculos diamantes. Linda.

— Acho que entendo o fascínio de vocês por viver em um lugar quase constantemente nublado para poder sair durante o dia. Apesar de não poderem aparecer em público em dia de sol, vocês podem ter momentos como esse vez ou outra. Eu gostaria de ver meu pai durante o dia, como quando ele me levava para LaPush em dia ensolarado para brincar na praia enquanto ele passava o dia pescando com o Harry...

Ela ficou com o olhar perdido por alguns momentos, como se lembrasse de coisas agradáveis, até que sua expressão ficou confusa e sua testa franziu.

— Isso me lembra... — Bella se virou para nos encarar e cruzou os braços como se estivesse se preparando para ouvir uma explicação. — Edward achou que eu tinha sido enviada por uma tal de Victoria. Alguém pode me dizer quem diabos é essa mulher e por que ela enviaria vampiros novatos para a casa do meu pai?

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