13. A GUARDA VOLTURI

Os recém-criados avançaram como touros furiosos, adentrando a clareira exatamente como eu esperava que fizessem.

Como Bella disse que fariam, eles se dividiram, esperando nos cercar. No entanto, não podiam imaginar que um segundo grupo, composto por feras gigantes, estava pronto para interceptar a outra metade do exército.

Do nosso lado, eram onze recém-criados contra seis vampiros experientes. A luta não foi tão fácil quanto a dos quileutes, que tinham dezesseis lobos contra doze inimigos, mas nós lutamos juntos, com estratégia, e conseguimos matar um a um.

Quando terminamos, Emmett e Rosalie acenderam a fogueira enquanto Alice e eu fazíamos o pente fino na clareira, catando todos os pedaços de vampiros espalhados.

Havia uma garota do exército que tentou fugir, e Carlisle ofereceu a ela rendição. Por tudo que ouvi sobre os Volturi, isso não era uma opção, mas pelo menos ele estava tentando não desperdiçar outra vida imortal.

Os lobos estavam trazendo os pedaços de sua parte do exército para jogar na fogueira quando Alice os viu chegando.

— Alfa Black, Alfa Uley, vocês precisam partir agora!

O lobo castanho-avermelhado se transformou para perguntar:

— O que aconteceu?

— Os governantes dos vampiros mandaram uma equipe de guardas para exterminar o exército e investigar a causa por trás da sua criação. Eles chegarão em menos de dez minutos e não têm conhecimento sobre vocês. Não honrarão a nossa trégua. Vão!

Ele assentiu e voltou à sua forma lupina, então as duas matilhas partiram. Nós terminamos de limpar as trilhas em que eles lutaram e jogamos tudo na fogueira, depois nos unimos para esperar.

No momento em que Edward chegou ao meu lado, a guarda Volturi chegou pelo lado norte da clareira.

Olhei para trás e vi Bella parada nas sombras das árvores segurando pelos cabelos metade da cabeça de Victoria. Os olhos negros arregalados se movendo num rosto partido ao meio, sem nariz e sem orelhas, escorrendo veneno espesso que se acumulava em uma poça no chão, era digno de um filme de terror.

Bella não me olhou, apenas encarou um ponto fixo, e eu segui seu olhar para uma garota muito pequena no meio do grupo que havia chegado.

Eles pararam ao lado da fogueira. A garota loira no centro tinha um rosto angelical e o garoto ao seu lado era muito parecido com ela, apesar de ter cabelos castanhos. Ambos trajavam mantos cinza-escuro, quase pretos.

O homem esguio de cabelo loiro-escuro ao lado do rapaz, e o mais alto, de expressão feroz, vestiam mantos cinzas mais claros. Me perguntei se isso tinha a ver com alguma noção de hierarquia. Algum deles usaria um manto preto?

— Hummm... — Ouvi uma voz monótona.

Ao meu lado, Alice arfou, e vi seu olhar vidrado por um instante. Foi tão rápido que quase passou despercebido, mas então seus olhos voltaram ao normal e ela ficou oscilando seu olhar inquieto entre os dois Volturi de mantos mais escuros.

Edward enrijeceu, acompanhando sua visão, mas permaneceu quieto. Carlisle deu um passo à frente, acenando com a cabeça em reconhecimento à presença deles.

— Bem-vinda, Jane.

A garota fitou Carlisle.

— Olá, Carlisle. Aro esperava que viéssemos mais a oeste para ver você. Ele manda seus cumprimentos e diz que sente saudade de seu amigo.

— Ficaria grato se transmitisse meus cumprimentos a ele também.

— É claro. — Ela sorriu e olhou ao redor, seu olhar se fixando na fogueira, talvez avaliando quantos oponentes nós enfrentamos. — Impressionante. Eu nunca vi um clã escapar intacto de um ataque dessa magnitude.

— Tivemos ajuda — respondeu Edward, me deixando em alerta. — Nossos “primos” de Denali atenderam ao pedido de socorro de Carlisle, mas partiram antes de vocês chegarem. Sabe, Tânia...

— Oh, sim... As irmãs russas e nós não temos uma boa história desde que sua mãe... Bom, nós só estávamos cumprindo nosso dever, vocês devem entender.

Admirei meu irmão pelo raciocínio rápido para explicar nossa vitória esmagadora e proteger os quileutes ao mesmo tempo. Não entendi o que tinha acontecido entre as irmãs Denali e os Volturi, e pelo visto, Alice também ficou confusa, pois Edward explicou em um murmúrio rápido:

— Os Volturi mataram a mãe delas por criar um bebê imortal.

Olhei para Jane e percebi que seu olhar estava fixado em nós, assim como o do garoto mais baixo, que desviou para Carlisle e disse:

— Parece que perdemos uma luta interessante. Não é sempre que nos tornamos... desnecessários.

— Se tivessem chegado meia hora atrás, teriam cumprido seu propósito — Edward falou com uma pontada de... amargura?

Por que ele estava com tanta raiva? Fiquei tão preocupado com a presença dos Volturi que não percebi que as emoções de Edward irradiavam, descontroladas.

Ele olhou para mim ao ouvir os questionamentos em minha mente, mas permaneceu calado e dirigiu sua atenção à guarda.

— É mesmo uma pena. — Jane dirigiu seu olhar para onde estava a garota que Carlisle poupou na luta. — Vocês esqueceram uma.

— Oferecemos asilo a ela em troca de rendição — explicou Carlisle.

— Não cabe a você fazer isso. Creio que se lembra como funciona, Carlisle. — Jane rebateu de forma cortante, olhando em seguida para a garota. — Por que você veio?

Um grito penetrante reverberou na clareira quando a recém-criada caiu no chão, seu corpo arqueado rigidamente em uma posição distorcida e nada natural.

— Quem criou você?

Os gritos dela eram estridentes, e seus sentimentos... Foi difícil observar a tortura que sofria.

— Não precisa fazer isso, ela vai te contar tudo que quiser saber — disse Esme.

— Ah, eu sei. — O sorrisinho que Jane deu foi diabólico.

Eu me lembrei do que Carlisle nos contou décadas atrás sobre a fama dela e de seu irmão. Os gêmeos bruxos. Alec e Jane. Então os outros eram Demetri e Félix.

A menina parou de se contorcer e falou, ofegante:

— Eu não sei. Riley não quis contar. Ele disse que nossos pensamentos não estavam seguros.

Jane arqueou uma sobrancelha, confusa.

— Eu posso ler mentes e Victoria sabia disso. — Edward falou. — Esse era o nome dela, talvez vocês a conhecessem.

— Se os Volturi tivessem conhecimento sobre Victória, certamente a teriam impedido. — Carlisle se pronunciou. — Não é mesmo, Jane?

— É claro! — Jane parecia irritada por não ter essa informação antes. Ou talvez pela forma desafiadora como Edward falou. — Só por curiosidade profissional, quantos eles eram? Deixaram um belo rastro de destruição em Seattle.

— Vinte e três — eu respondi por reflexo. — Todos novos e ineptos.

— Todos? — Alec indagou surpreso. — Mas se essa tal Victoria os criou e não estava na luta, quem lidou com ela?

— Fui eu. — Bella saiu das sombras e andou até perto de nós. Os outros, que não tinham visto a meia cabeça de Victoria na mão dela antes, arfaram incrédulos com a naturalidade com que conduzia a situação. — Ela estava com outro que devia ter pouco menos de um ano. Tentaram fugir quando viram que o exército estava perdendo.

— E você lidou com eles sozinha? — O loiro alto arqueou uma sobrancelha, estudando Bella de cima a baixo. — Não parece grande coisa. Baixinha... Sem ofensas.

Ele tinha um mínimo sorriso no canto dos lábios, parecia estar provocando Bella, que por sua vez revirou os olhos como se dissesse: “Idiota!”

Sondei as emoções dela e fiquei confuso. Bella estava se divertindo. Havia uma mistura de carinho e saudade em seus sentimentos.

Ela me olhou por sobre o ombro direito, estreitando os olhos, sentindo que eu estava lhe estudando de novo. Com a testa franzida, voltou sua atenção para o guarda loiro, acho que era Demetri, porque o vampiro mais forte do mundo devia ser o outro musculoso. Mas eu podia estar errado.

— Eu tenho muitas habilidades — ela disse, e lançou a cabeça de Victoria nas chamas. — Você ficaria surpreso com o que uma baixinha pode fazer com alguém como você.

Edward soltou um resmungo irritado e eu o olhei, curioso, mas ele apenas balançou a cabeça negativamente.

Jane estreitou os olhos, ignorando seu parceiro de clã e encarando Bella.

— Vocês todos parecem seguir um estilo de vida pacífico aqui, então qual seria o motivo de tal atitude extrema por parte dessa Victoria? Quer dizer, vinte e cinco vampiros contra uma dúzia... Isso é surpreendente até para mim.

Bella deu de ombros.

— Eu só estava visitando e ela teve o azar de me encontrar pelo caminho.

— O companheiro de Victória teve um desentendimento com Edward e tentou matá-lo — Alice falou dessa vez. Alec parecia não conseguir desviar o olhar dela, e Jane também a fitava atentamente. — Eles lutaram, porém Edward foi mais rápido. Ela fez tudo por vingança.

— Ainda assim, conseguiu encontrar a morte pelas mãos de uma simples visitante. — Alec deu um sorrisinho para Bella que me incomodou. Era íntimo demais.

Com uma expressão apática, Jane voltou o olhar para Carlisle.

— Mais uma vez admito que estou impressionada. Achei que Aro estava exagerando, mas você reuniu um clã muito interessante. Não é sempre que fazem todo o nosso trabalho por nós. Bem, quase todo. — Jane olhou para a recém-criada e depois para o grandalhão atrás dela e disse, em tom de ordem: — Félix.

— Ela não sabia o que estava fazendo! — Rosalie exclamou, penalizada. — Nós vamos cuidar dela, ensinar como as coisas funcionam.

— Por favor, dê uma chance — pediu Emmett.

— Ela infringiu a nossa maior lei, Emmett — Bella falou, sua voz fria se parecia muito à forma como Jane falava. Isso foi desconcertante. — Não importa que não foi ensinada, ela é culpada por seu comportamento expositivo.

— Mas...

— Meus filhos — Carlisle interrompeu —, essa é a lei, Jane só está cumprindo seu dever.

— E os Volturi nunca dão uma segunda chance. Tenham isso em mente. — A voz da Jane soou firme, embora entediada. — Dê um jeito nisso, Félix. Quero ir para casa.

O mais alto caminhou pelo espaço entre Bella e Carlisle, até chegar à jovem selvagem. Eu não quis assisti-lo quebrar o corpo dela e jogar na fogueira, então apenas observei o rosto impassível de Bella, ouvindo os sons da execução. Ela devia estar acostumada com aquilo, já que fazia esse mesmo trabalho no seu clã. Devia ser pesado demais em alguns momentos.

Terminado o serviço, Félix voltou para perto da pequena Volturi e, como se tivessem ensaiado, os quatro vampiros levantaram seus capuzes e se viraram para partir.

Antes, porém, de darem um passo, Jane olhou para trás.

— Bella, Caius espera seu relatório.

Os murmúrios encheram a clareira. Todos ficamos surpresos. Elas se conheciam?

A realidade caiu como um soco no estômago quando Alec falou:

— Vamos te esperar ao norte da costa, maninha.

— É claro, Al. Só preciso de um minuto.

Seus olhos encontraram os meus, e ali eu entendi.

Lembrei-me de uma de nossas conversas, quando perguntei qual era a sua função no clã.

Sou caçadora, investigadora e executora daqueles que não cumprem nossas regras. Todos têm medo de mim, exceto meus irmãos...”

Aquele tempo todo, ela não veio para Forks para ver seu pai. Veio para nos investigar, para saber qual a nossa relação com os recém-criados.

Ela veio nos espionar.

Bella mentiu para nós. Para mim.

Ela era uma Volturi.


Ver a decepção nos olhos dele foi mais do que eu poderia aguentar.

Desviei o olhar. Não podia mostrar fraqueza, não podia deixá-lo sondar minhas emoções. Era doloroso demais e eu não podia me permitir chorar na frente deles.

— Bella... — A voz de Alice soou tão dolorida que precisei fechar os olhos por um instante para me recompor. — O que...

— Sinto muito que vocês tenham descoberto assim. Eu pretendia contar quando a batalha acabasse, mas Jane não me deu tempo.

Ela soltou um som ofegante e começou a soluçar naquele choro seco dos vampiros. Eu queria abraçá-la, dizer que estava tudo bem, que nada tinha mudado, mas seria mentira. Eu voltaria para Volterra e ela ficaria ali, se sentindo traída por mim.

Edward a abraçou enquanto me olhava com raiva. Eu não poderia culpá-lo por isso.

De repente, fui lançada no ar, e apesar de cair em pé, a força desse golpe me arrastou muitos metros para trás, tive que fincar uma mão no chão para parar de deslizar na neve. Olhei para onde Emmett segurava uma Rosalie transtornada, possessa de raiva.

— Você está louca?! — rosnei, ficando em posição de ataque por reflexo.

— Você mentiu pra nós esse tempo todo! — ela gritou. — Eu sabia que não devia confiar em você, sua cobra traiçoeira!

Por um segundo pensei em revidar, mas a dor nos olhos dela refletia o que todos ali estavam sentido, então apenas suspirei e voltei a ficar ereta.

— Vou pegar minhas coisas na mansão e deixar vocês em paz. Não se preocupem pelo Joseph, não vou contar sobre ele aos meus irmãos e Aro não consegue ver meus pensamentos, então ele tem o tempo que quiser para prosseguir com seus planos de vida. — Olhei para Edward. — Pelo menos agora vocês poderão ser felizes sem a ameaça da ruiva psicopata.

Andei para o rumo da mansão com o coração pesado. Esme também tinha começado a chorar, e isso me corroída. Parei por um instante antes de adentrar a floresta e olhei para Carlisle.

— Doutor, por favor, não esqueça da promessa que me fez.

Ele assentiu, com expressão triste, e Edward rosnou, provavelmente ouvindo a promessa nos pensamentos de seu pai.

— Não!

— Ela ainda é filha do Charlie e irmã do Joseph, meu filho!

— Não importa!

Eu ri sem humor, encarando meu cunhado de forma fria.

— Não importa o que você sente por mim, não ouse interferir em minha relação com meu irmão. Apenas aceite que eu farei parte da sua vida se pretende estar com ele para sempre. E não se esqueça do que falei na montanha.

Corri para a mansão e pulei direto para a janela aberta do quarto que ocupei temporariamente. Não queria passar pelos cômodos da casa onde estava impregnado o aroma de cada um deles, seria insuportável.

Minha bolsa e mala de mão já estavam arrumadas, então apenas peguei e fui para a janela. Parei por um momento, pensando, então abri a mala e tirei meu medalhão e meu manto. Joguei o manto por cima dos ombros, abotoando o topo e colocando o medalhão por cima. Isso não deixaria dúvidas sobre quem eu era.

Antes de pular, ouvi alguém saltar na árvore em frente com um suave farfalhar.

— Um manto preto... — disse com desdém. — Por que não estou surpreso?

Levantei os olhos para encarar o loiro que invadia meus pensamentos desde que nos conhecemos. Meu peito apertava dolorosamente.

Ergui uma sobrancelha, um pedido mudo para que ele explicasse sua observação sobre minhas vestes, mas seu rosto apenas se contorceu em uma expressão de dor e tristeza.

— Foi tudo mentira?

Eu balancei a cabeça negativamente.

— Você sabe que não.

Pulei a janela e corri para a trilha que me levaria aos meus irmãos.

Parei brevemente e falei em um tom que sabia que ele ouviria:

— Você mudou tudo para mim, Jasper Whitlock. Espero que um dia possa me perdoar.

E assim, eu parti de volta para minha família imortal, mas deixei um pedaço de mim com cada membro da família Cullen.

E aí, como vai? Espero que tudo bem.

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Estou preparando surpresinhas para você. Aguarde!

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