12. A VERDADEIRA BATALHA
Encontrei o rastro de Seth e dos gêmeos. O plano inicial deu certo, o odor dos lobos encobria o perfume delicioso de Joseph. Café torrado e mel, dois dos meus cheiros favoritos quando humana.
Segui a trilha fedorenta até uma montanha nevada coberta de pinheiros enormes, da base até o topo. Ouvi os rosnados dos gêmeos de dentro da barraca quando me aproximei, e falei em um tom que sabia que eles ouviriam, mas Joseph não.
— Relaxem, sou eu, Bella.
Os barulhos cessaram, porém Edward estava ao meu lado em dois segundos.
— O que faz aqui, Bella?
— Mudança de planos, cunhadinho. Eu tenho certeza de que o plano da vadia ruiva desde o início é usar o exército para distrair, e com sorte destruir tua família, mas nunca planejou se unir a eles, até pela possibilidade dos Volturi virem checar e punir o exército. Ela sabe que você não deixaria o Joseph perto dos recém-criados nem se afastaria dele, então...
— Ela vai seguir meu cheiro até aqui.
— E provavelmente vem com o vampiro que está comandando o exército, só para garantir a morte de vocês dois. Temos que considerar que ela fez com o novato o que Maria fez com Jasper: manipulou para ele pensar que são companheiros.
— Por isso ele aceitou ficar à frente do exército — ponderou ele. — Ela o enganou para ele pensar que somos nós que a estamos perseguindo, e com certeza não contou a ele sobre os Volturi, porque espera que os Volturi o executem como o criador do exército.
— Ou ela quer que ele seja a tua distração enquanto ela mata o Joseph, e depois foge e te deixa matar ele. A vingança dela estaria completa, você viveria sem o teu companheiro e ela ainda ficaria livre dele.
— Isso não vai acontecer — ele sibilou. — Tenho que levar o Jos para um lugar seguro antes que ela venha.
— Nenhum lugar é seguro, ela vai te seguir. Eu sou o elemento surpresa, estou aqui para garantir que ela não fuja de novo. Se ela tem um parceiro, você também tem.
— Mas o Joseph vai ficar em perigo sem ninguém para protegê-lo!
— E nós somos o quê? — um dos gêmeos questionou de dentro da barraca, obviamente com raiva. — Bosta?
Eu revirei os olhos, tentada a dizer que sim, mas decidi não provocar.
— Se alguma coisa acontecer com vocês, Leah e Jacob vão querer nossas cabeças — Edward declarou. — Tudo bem, não tem jeito... Quando Victoria chegar, vocês vão fugir com o Joseph enquanto Bella e eu lidamos com ela. De qualquer jeito, não quero que ele veja a Bella.
Eu não consegui evitar um rosnado irritado, e ele levantou as mãos em sinal de rendição.
— Desculpe-me, Bella. Você sabe por que não seria bom ele te conhecer agora.
— Porque você não confia em mim perto dele. Que estupidez!
— Pode até ser, mas o problema é que ele fica obcecado quando se fixa em alguma coisa. Você vai voltar para o seu clã na Europa. Se ele te visse, não ia querer se afastar, e você sabe disso. Nós temos um plano para o futuro. Um plano que ele mesmo traçou. Não quero que tudo vá por água abaixo porque você não consegue ter paciência para esperar ele ser transformado.
Eu suspirei. Ele estava certo, é claro. Joseph já tinha que lidar com nosso pai doente, prestes a morrer, e eu não queria lhe dar mais motivos para sofrer de ansiedade. Mesmo assim, eu não daria o braço a torcer.
— Que seja. Mas que fique claro: se ele correr perigo e eu precisar intervir, não vou me importar de aparecer. Joseph já é adulto e também precisa ter paciência.
Edward fez uma careta de desagrado, mas concordou com um aceno de cabeça. Eu suspirei, observando os primeiros sinais de que a tempestade iria passar. Em uma ou duas horas, no máximo.
— Alice disse que teríamos meia hora de tempestade para exterminar o exército sem chamar a atenção dos humanos da cidade por causa do barulho, o que significa que não vai demorar. Vou me esconder, mas preciso de um dos gêmeos para mascarar meu cheiro.
Os gêmeos resmungaram entre si, e um deles se levantou, abriu o zíper da barraca e saiu. Eu nunca iria me acostumar com quão grandes eram os metamorfos, mesmo quando em forma humana. Ainda que a barraca fosse para uma família de oito pessoas, eu imaginava que o espaço ficava pequeno com aqueles dois ali.
— Pelo visto, vocês não vão mesmo calar a boca pra gente voltar a dormir — ele resmungou, com a testa franzida.
— Se queria dormir, deveria ter ficado em casa, garoto — eu disse com rispidez.
— Garoto? Até onde eu sei, temos a mesma idade, tampinha.
Eu gargalhei com deboche e provoquei:
— Não temos não! Eu sou mais velha que o teu pai. Fazíamos torta de lama quando crianças e eu sou irmã do tio de vocês, então deveriam me chamar de tia Bella.
— Mas olha que sanguessuga abusada! — o outro exclamou de dentro da barraca.
— A mãe de vocês também acha isso. Agora vamos logo, antes que aquela psicopata apareça.
— Você nem precisava estar aqui, nós damos conta dos dois — o gêmeo ao meu lado falou, antes de tirar a bermuda e se transformar em um lobo gigante.
— Exibicionista igual a mãe. Quando você matar um vampiro de verdade, aí pode abrir a boca pra falar que dá conta. Garoto.
Edward riu.
— Ele está dizendo que poderia te matar agora mesmo, Bella.
Eu revirei os olhos e encarei o lobão.
— Você poderia tentar. Conseguir é bem mais complicado.
Eu sorri, evidenciando meus dentes fortes, e ele estremeceu.
Edward olhou para o lobo e balançou a cabeça afirmativamente.
— Concordo com você, Áquila. Ela consegue ser sinistra quando quer. Me pergunto quem a ensinou a ser assim.
Olhei para ele, que observava meu rosto sem demonstrar qualquer emoção, e arqueei uma sobrancelha.
— Eu tive que aprender para sobreviver no meu clã.
— Estou curioso sobre esse clã desde que você chegou. Afinal, que clã é esse onde você precisa aprender estratégias de batalha, combate físico e não pode demonstrar fraqueza? Parece a formação de soldados, mas exércitos de vampiros usam recém-criados, enquanto no teu clã, todos são mais velhos e experientes que você. Eu só consigo pensar em um clã com fama de criar soldados. Mas talvez eu esteja errado. Talvez haja outros nas sombras.
Eu o fitei nos olhos, impassível.
— Você pode criar teorias, se quiser. Não importa. Amanhã eu voltarei para onde me esperam, e você pode conhecer meus irmãos ou não. Isso vai depender de quão curiosos eles estão sobre vocês.
— Eles simplesmente invadiriam o território de sete vampiros por curiosidade?
Eu dei de ombros displicentemente.
— Não foi assim que vocês conheceram Victoria? Porque ela e seus parceiros estavam curiosos? Eu estou com vocês há dez dias, nunca passei tanto tempo longe dos meus irmãos, e eles não têm problema algum em invadir qualquer território atrás de mim.
Sem dizer mais nada, eu adentrei a floresta de pinheiros com Áquila atrás de mim. Andei por quinhentos metros em velocidade humana, não estava com pressa. Passei por um caminho cujo cheiro estava limpo, e me empoleirei em um pinheiro aglomerado com outros dois.
Áquila me seguiu, e percebi que ele passava a cauda peluda de um lado para o outro na neve, para apagar meus passos e os dele, então ficou em pé, encostado no tronco do pinheiro onde eu estava, e um forte odor de lobo preencheu o lugar. Com uma careta de nojo, percebi que ele tinha acabado de marcar o tronco com sua urina. Eca!
Ele latiu o que parecia uma risada, depois tomou outra direção, vez ou outra marcando troncos para garantir que seu odor afastasse o cúmplice de Victoria, que com certeza iria dar a volta por entre as árvores para pegar Edward por trás.
Observei o rapaz sair das árvores já em sua forma humana, vestido, e entrar na tenda. Dava para ver a silhueta de Edward, sentado no canto da barraca enquanto duas montanhas de músculos desenhavam uma elevação curiosa. A figura de Joseph estava misturada à dos gêmeos.
Fiquei ali parada durante horas. A tempestade se afastou das montanhas nevadas, descendo para a direção onde os Cullen e os lobos deviam estar agrupados. O sol despontou, refletindo na neve, e a temperatura aumentou.
O som de um bocejo me chamou a atenção, e vi a sombra de Joseph se levantar, trôpega, e se lançar nos braços de Edward enquanto os roncos dos gêmeos parecia o som de britadeiras em uma construção.
Eles conversaram baixinho por um tempo, até que Edward se levantou, e eu ouvi, disfarçado pelo barulho da chuva e dos raios no vale, o som de pedras colidindo.
A batalha estava começando.
Edward pediu para Atlas se transformar, a fim de ouvir e ver a luta pela conexão mental dos lobos, enquanto Áquila ficava com Joseph na barraca.
Meu irmão protestou, mas Edward foi firme. Eu sabia que, no momento em que Victoria aparecesse, Áquila fugiria com Joseph.
Edward ouviu os pensamentos de Atlas e narrou a luta para os outros dois, até que, de repente, eu ouvi o som de passos rápidos e enrijeci, pronta para intervir. Meu cunhado também ouviu, pois sussurrou:
— Ela está aqui. Se esconda!
Atlas sumiu entre as árvores e Áquila ficou tenso dentro da barraca, com uma mão no peito de Joseph, mantendo-o atrás de si e mandando ele ficar em silêncio.
Em alguns segundos, vi sair lentamente das árvores opostas a onde eu estava, um casal de vampiros.
O rapaz loiro, alto e musculoso não devia ter mais do que dezoito anos de idade e menos de um ano como imortal. Seus olhos carmim brilhantes se moviam inquietos, avaliando a situação. Ao seu lado, alguns metros atrás, uma ruiva de cachos rebeldes e olhos pretos famintos, com o rosto em uma careta furiosa, olhava entre Edward e os homens na barraca.
Eu sorri. Ali estava a psicopata, exatamente como previ.
— Riley... — Edward falou em tom persuasivo. — Ela está mentindo pra você. Ela não te ama, você é só uma peça para ela chegar até o meu companheiro, porque eu matei o companheiro dela: James.
À menção de James, os lábios de Victoria se arreganharam, mostrando seus dentes, e ela rosnou.
— Não o escute, Riley. Eu te falei sobre os truques da mente. — Sua voz aguda, quase infantil, não condizia com sua aparência selvagem.
— Ela sabe que vou te matar, Riley — Edward continuou, e eu desci para circular a clareira, ainda ouvindo atentamente enquanto eles estavam distraídos. — Na verdade, ela vai ficar aliviada de não ter mais que lidar com você. Cada beijo, cada toque, foi uma mentira.
— Eu te amo, Riley.
— Ela te despreza, Riley. Ainda dá tempo de ir embora. Você não precisa morrer pelas mentiras dela assim como o exército que está morrendo na clareira agora. Há outras formas de viver, sem sangue e violência o tempo todo. Você pode ser livre.
O olhar do rapaz oscilava, confuso, entre Victoria e Edward.
— Não deixe ele mexer com sua cabeça, meu amor. Só existe você, sabe disso.
No momento em que Victoria falou, eu vi a resolução nos olhos de Riley.
Ele atacou, mas antes que pudesse se aproximar de Edward, uma massa de pelos castanho-claros saltou dentre as árvores, pegando o vampiro no ar.
— Não! — Victoria gritou em descrença enquanto encarava o lobo gigantesco rasgar o braço do loiro abaixo dele.
Os gritos de dor de Riley reverberaram na montanha, mas ela não lhe lançou um segundo olhar, apenas avançou para a barraca, tentando alcançar Joseph, porém Edward bloqueou seu caminho.
Apesar do braço arrancado, Riley ainda conseguiu dar um chute cruel no ombro de Atlas, e todos ouvimos o osso quebrar. Atlas cambaleou e Áquila simplesmente rasgou a barraca em farrapos, encarando o vampiro loiro com ódio.
A alguns metros deles, Edward e Victoria dançavam. Uma dança mortal, em que se ouviam pequenos pedaços sendo arrancados e resmungos de dor.
— Não! Áquila, tira o Joseph daqui! — Edward gritou quando lançou Victoria em cima de Riley para impedi-lo de machucar Atlas de novo.
Esperei Áquila se transformar para que Joseph não conseguisse me ver, então corri para Victoria, que já se levantava, olhando entre Edward e o lobo na frente do meu irmão. Agarrei seu pescoço, derrubando-a no chão enquanto Edward atacava Riley.
Surpresa com minha presença, talvez me reconhecendo das pesquisas que fez sobre meu pai e Joseph quando ajudou James na caçada, Victoria lutou comigo, tentando se distanciar para fugir, mas eu não a deixaria escapar.
— Você não vai conseguir dessa vez, ruivinha. Tanto trabalho, tanto planejamento para nada! — Eu ficava bloqueando seu caminho, arrancando pedaços de seu corpo enquanto ela chorava de frustração. — Não deveria ter tentado matar meu irmão. Agora é você que vai morrer. Tão perto de sua presa, mas tão distante!
Nós circulávamos uma à outra em velocidade tão alta que eu sabia que Joseph não conseguia nos distinguir, via apenas vultos borrados.
De repente, os gritos de Riley ficaram mais altos, e eu vislumbrei os gêmeos arrancando os pedaços do loiro até que os gritos silenciassem abruptamente. Edward pegou Joseph e o carregou para perto de um paredão de rochas. Em um segundo deixou meu irmão lá e veio para perto de nós.
Eu lancei Victoria no ar, sem as duas mãos e desfigurada pela falta de seu nariz e orelhas, e ele a pegou pelos cabelos, batendo a cara dela no chão com tanta força que seu pescoço rachou.
— Você nunca mais vai ameaçar o meu amor de novo — ele sussurrou e se preparou para arrancar a cabeça dela, mas eu o impedi.
— É meu dever matá-la, Edward. Por favor, não interfira.
Ele me olhou sem entender, mas segurou os braços dela enquanto eu me aproximava, de costas para Joseph. Segurei os cachos ígnios com uma mão e usei os dedos da outra para apertar suas duas bochechas, sentindo a cavidade que separava o maxilar da mandíbula.
— Pelo crime de criar um exército e deixá-lo sem orientação, ameaçando nos expor aos humanos, eu a sentencio à destruição, com efeito imediato.
Edward me encarou, sabendo o que aquelas palavras significavam. Eu não era simplesmente uma irmã se vingando pelo irmão. Eu era uma executora enviada pelos governantes do mundo sobrenatural.
Num minuto Victoria me encarava com os olhos arregalados de horror, e no instante seguinte, eu havia partido seu rosto em dois, segurando a parte de seu cabelo, testa e olhos enquanto Edward esquartejava seu corpo, ainda me encarando.
Um dos gêmeos já acendia uma fogueira enquanto o outro, ainda em forma de lobo, carregava os restos de Riley com os dentes para jogar no fogo. Edward havia corrido para Joseph tão logo Victoria estava despedaçada, e eu me mantive de costas para que ele não visse meu rosto.
Lancei alguns pedaços de Victoria na fogueira, mas os gêmeos já estavam terminando o trabalho, então apenas andei para o meio das árvores com a metade da cabeça de Victoria em minha mão. Aquela era a prova que eu precisaria apresentar para meus irmãos.
Um uivo foi ouvido na clareira ao longe, onde a tempestade cessava. Os gêmeos ficaram em alerta e eu soube que tinha acontecido alguma coisa.
Ao mesmo tempo, ouvi a voz de Joseph se aproximando de mim.
— Espera, quem é você?
Eu virei meu rosto um pouco para o lado, encoberto pelo meu cabelo.
— Sou uma amiga que veio ajudar. Você me conhecerá em breve, mas agora preciso ir.
— Mas...
— Joseph, nós precisamos ir. Alice teve uma visão, a guarda Volturi chegará em alguns minutos. Vá com os teus sobrinhos para La Push, por favor. Eu te encontro quando tudo acabar.
— Toma cuidado, tá? E volta pra mim — Joseph disse e o som de beijos preencheu o ambiente.
Essa era a minha deixa. Fui para o meio das árvores e corri para junto dos Cullen sem olhar para trás. Pouco tempo depois, Edward me alcançou, mas antes que pudesse me tocar, eu o lancei contra uma árvore.
— O que pensa que está fazendo, Edward?
Ele rosnou e se levantou.
— Você vai contar sobre Joseph para eles?
— Se esse fosse o meu objetivo, já teria feito. Por que acha que fiquei tão furiosa quando descobri que ele sabia sobre nós? Eu sou uma executora, Edward! Só de deixar meu irmão vivo, estou infringindo as leis que é meu trabalho fazer serem cumpridas!
— Você mentiu para nós!
— Não, eu só omiti detalhes sobre quem eu sou e com quem eu vivo! Não tenho permissão para falar sobre meu clã. Você, melhor do que ninguém, sabe o quanto ser discreto é importante para proteger quem se ama.
— O que Alice vai sentir... Esme, Jasper...
— Eles ficarão magoados, e com razão, mas eu vim para cá com um objetivo, e apesar de vocês mudarem tudo na minha jornada, eu ainda preciso concluir minha missão. Não fique no meu caminho e não ouse desafiar meus irmãos. Você não vai querer sentir o que Jane e Alec podem fazer.
— Eles não podem ser piores do que você.
Eu fitei seus olhos e pude ver a dor da traição. Ele estava magoado, com raiva e frustrado. Isso era só um prelúdio do que os outros sentiriam.
— Você tem razão. Entre todos nós, eu sou a única que consegue se infiltrar na vida de outros imortais e fingir que me importo. Mas lembre-se de uma coisa antes de me odiar, Edward: o que começou como uma farsa, virou algo verdadeiro. Nossos momentos juntos foram tão reais para mim quanto foram para vocês.
— Como eu poderia acreditar nisso?
— Você não vai conseguir agora, mas quando a decepção emocional esfriar, você vai ver pela razão que estou falando a verdade.
Virei as costas e corri para a clareira. Quando chegamos, ele passou por mim e se colocou ao lado de Jasper enquanto eu fiquei nas sombras das árvores, observando a guarda chegar lentamente, com seus mantos escuros e capuzes cobrindo suas feições.
Jane parou, ladeada por Alec e Demetri, e Félix um pouco atrás. Ela foi a primeira a baixar o capuz, e seus olhos encontraram os meus, com um mínimo sorriso como cumprimento.
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