11. ALGUMAS HORAS ANTES DO CAOS
Naquela noite, a reunião com os lobos foi bem cedo, após o horário do jantar, e Bella não participou, pois Joseph insistiu em assistir o treino, então ela ficou vigiando seu pai e Sue, que estava cuidando dos filhos de Seth e das duas meninas de Leah, junto com Maressa, a esposa de Seth. Jacob nos contou que deixou as crianças lá porque todos os lobos estavam na reunião.
Para que os lobos não confundissem nossos cheiros com os dos recém-criados, nós ficamos parados enquanto eles nos farejavam individualmente. Eram dezoito lobos, mostrando que costumavam intercalar quem estaria no treino, na guarda da família Swan ou vigiando o perímetro da tribo.
Terminados os ajustes dos planos de batalha, nos despedimos dos quileutes. Todos teríamos cerca de trinta e seis horas para descansar e estar com a família, no caso dos metamorfos, e caçar para ficar mais fortes, no nosso caso.
Deveríamos estar na clareira por volta das nove da manhã no dia da batalha. Estaria no fim de uma tempestade, o que era perfeito para disfarçar os barulhos causados pelo impacto de luta entre vampiros, mas isso significava que teríamos que manter madeira seca para fazer uma fogueira inicial que queimasse os restos do exército.
Teríamos pouco menos de meia hora para exterminar a todos antes que a chuva ficasse fraca o suficiente para que qualquer barulho fosse ouvido por quem estivesse na cidade, afinal, corpos de imortais colidindo soam como um imenso deslizamento de terra, e quando há esquartejamento, é como ouvir rochas e minerais quebrando, dá para ouvir de muito longe.
Edward deixou Joseph em casa e foi caçar conosco também, pois apesar de não estar presente na clareira, pois levaria Zef para as montanhas do lado oposto a fim de protegê-lo, ele queria estar forte o bastante para qualquer contratempo.
Bella era um ponto sensível para todos nós. Ela deixou claro que não se envolveria na luta principal, mas que ficaria de tocaia, pois queria pegar Victoria e garantir que a ruiva não escaparia, ou seja, ela era o elemento surpresa fora da batalha.
O problema é que Bella estava conosco há dez dias, e desde que chegou, não saiu para caçar. Seus olhos iam ficando opacos conforme os dias passavam, e naquela noite estavam quase pretos. Mesmo assim, ela se recusava a caçar animais, e isso gerou discussão com Edward por causa do tratado com os quileutes.
Como forma de evitar que ela saísse para caçar em Port’Angeles, Carlisle propôs comprar bolsas de sangue dos hospitais das cidades próximas. Com uma careta de nojo, ela aceitou, apenas para não se distanciar de Forks.
Depois que voltamos para casa, ao amanhecer, Edward preparou tudo para acampar com Joseph, e Jacob convenceu Charlie, com a ajuda de Sue, é claro, a ir para La Push bem cedo no dia seguinte.
Bella estava calada, muito pensativa, mas disse que queria fazer o que sempre fazia conosco antes de ter que beber sangue gelado e ir para onde Victoria pudesse aparecer.
Na parte da manhã, ela passou tempo com Alice, e todos ficamos surpresos quando convidou Rosalie a ficar com elas. A dinâmica delas era estranha, mas todos percebíamos que ali havia se construído uma relação de respeito por baixo da aparente indiferença.
Após o meio-dia, que era quando saíamos para passear, ela me pediu para deixar para o final da tarde, pois queria aproveitar que Carlisle estava em casa aquele dia para seu bate-papo diário, e depois, como Joseph e Edward sairiam para acampar, ela passaria um tempo lutando com Emmett e Rosalie próximo ao rio.
Eram quatro da tarde quando Seth, Jacob e seus dois filhos, Áquila e Atlas, chegaram à mansão em um carro clássico todo reformado. O Alfa Black era conhecido por todas as cidades próximas como o melhor restaurador de carros antigos da Península Olímpica, e seu trabalho fazia jus à sua fama.
Mais tarde naquela noite, Bella me contou que Jacob passava horas na velha oficina de garagem de seu pai, observando o trabalho dele, e dizia que um dia seria o melhor mecânico do mundo. Bom, pelo menos ele conseguiu ser um dos melhores do estado de Washington.
A presença dos lobos não era inesperada, fazia parte do plano. A primeira parte já tinha sido iniciada: Carlisle coletou sangue suficiente do Joseph para que Jacob pingasse nas árvores que delimitavam a clareira e por uma parte da floresta, seguindo para a direção do oceano, por onde os recém-criados viriam.
O motivo para isso era que, se um vampiro fizesse essa parte, seu cheiro também deixaria uma trilha para os recém-criados, enquanto o cheiro dos lobos seria estranho para eles, como de animais fedorentos, então não iria competir com o cheiro do sangue de Joseph.
Também por esse motivo, não era ideal que Edward carregasse Joseph até o local do acampamento, pois o cheiro dos dois combinado seria um chamariz para o exército ou para Victoria, então Joseph iria montado em Seth, que estaria em sua forma de lobo, para que o cheiro dele mascarasse o do seu irmão. Edward pegaria um caminho mais longo e tortuoso, e depois Seth voltaria para junto da matilha.
Jacob encarregou os gêmeos de ficarem no acampamento para ajudar a proteger Joseph, o que não os deixou nem um pouco contentes, pois queriam matar alguns “sanguessugas”. Mesmo assim, seu pai era o Alfa e eles lhe deviam dupla obediência. Além do mais, nunca tinham enfrentado e matado um vampiro, então, apesar de terem técnica e treinamento, eram inexperientes em situações reais, por isso, sua mãe e avó estavam loucas de preocupação.
Assim que os três lobos e Joseph partiram para o acampamento, Jacob foi embora com o sangue e Edward falou algumas coisas conosco antes de também ir. Ele não queria deixar a família lutar sem sua ajuda, mas também não podia se afastar de seu namorado, ficaria louco se algo acontecesse a ele.
Bella desceu assim que Edward se foi, e logo estava lutando com Emmett. Mesmo não tendo a força dele, ela tinha técnicas incríveis que lhe possibilitavam derrubá-lo.
Decorridas duas horas, eu parei de observar e os interrompi.
— Creio que agora é a hora do nosso passeio.
Eu sorri, oferecendo o braço a ela, como sempre. Alice, Rosalie e Emmett trocaram um olhar zombador, embora não dissessem nada, mas Bella apenas revirou os olhos e me seguiu.
Como todos os dias, passeamos pela floresta, conversando, exceto que o caminho de sempre estava diferente por causa da escuridão. Era uma vista linda aos nossos olhos, melhor do que à luz do dia.
Quando chegamos à nossa árvore, Bella suspirou.
— Esse lugar ganha algo especial à noite. E nós somos parte do grupo seleto que pode ver a beleza que se esconde nas sombras. É magnífico.
Eu sorri.
— Sim, é uma vista única, mas creio que tenho uma visão ainda mais espetacular, que ofusca a paisagem.
Bella me encarou e eu não desviei o olhar, mostrando que estava admirando sua beleza desde que nos acomodamos em nosso lugar. Ela sorriu de canto, com seu jeito sarcástico.
— Olha que interessante! Não pensei que veria o major flertar.
— Sempre tem uma primeira vez para tudo. — Dei de ombros. — E antes tarde do que nunca. Mas agora não sei como continuar, já que a rainha do flerte me acompanha.
Ela deu uma risada contagiante.
— Não diria isso se soubesse que só falo assim com você.
— Sério? Se eu fosse arriscar, diria que tem muito mais experiência do que a maioria das imortais que conheci.
— Não mesmo. É fácil elogiar você porque não fica se achando o melhor homem do mundo, apesar de ser um dos melhores que conheço.
— Ah, eu iria chegar nessa parte, só estava esperando mais elogios — brinquei, e ela sorriu ainda mais.
— Que decepção, major.
Ficamos nos encarando, sorrindo, e nenhum de nós queria desviar o olhar, até que vi a tristeza tomar conta de seus olhos.
— Então... — eu pigarreei, sem saber como abordar o assunto. — Amanhã, depois da batalha... Você vai...
— Embora? — Bella suspirou, desviando o olhar. — Meu lugar não é aqui, Jasper. Vim ver meu pai porque me senti segura para me aproximar sem fazer mal a ele, e agora estou aqui há mais tempo do que deveria para ajudar a proteger um irmão que nem sabia que tinha. Não quero que meus irmãos imortais venham atrás de min e descubram sobre Joseph. Não enquanto ele ainda for humano, não vou correr o risco de perder a única conexão viva com meu pai. Pode soar egoísta, mas...
— Se isso é ser egoísta, todos nós somos. Nenhum de nós quer perder o Joseph nem forçá-lo a se tornar imortal antes de estar pronto pra isso.
Ela assentiu com um movimento de cabeça.
— Então você entende que, apesar de estar amando conhecer e passar um tempo com todos vocês, eu preciso voltar para junto do meu clã e retomar minhas funções. Quando meu pai estiver perto do fim, eu volto e me mostro para os dois. Quero que meu pai saiba que sua garota não se foi para sempre, e quero estar perto do Joseph quando a mudança ocorrer.
— Mesmo que depois você vá voltar para o seu clã e ele vá ficar conosco?
Ela deu de ombros.
— Pelo menos vamos ter a eternidade para criar uma relação de irmãos.
Senti um peso desagradável no estômago ao pensar que passaria um tempo indeterminado longe dela.
— Queria poder passar mais tempo com você — ela continuou. — Gosto da nossa amizade, mas realmente preciso ir.
— É isso que temos? Amizade... — Com um longo suspiro, resolvi dizer de uma vez o que estava sentindo. — Eu nunca tive uma amiga. Esme é minha mãe, Alice e Rosalie são minhas irmãs. Eu as amo desse jeito, como família, mas você... Bella, eu não te vejo só como amiga. Sinto atração por você, sinto... Na verdade, não sei definir bem o que sinto, mas sei que um amigo não deveria querer beijar nem fazer outras coisas com uma amiga. Sei que, provavelmente, você não sente o mesmo...
— Acha que não sinto atração por você também? — Ela ergueu uma sobrancelha e sorriu, desacreditada. — Jasper, eu nunca sequer considerei a possibilidade de ficar sozinha por tanto tempo com um homem solteiro do meu clã, nem de qualquer outro, e entre todos os imortais que já conheci, você é o que eu acho mais charmoso, lindo e com uma personalidade maravilhosa. No entanto, as coisas são complicadas.
— Não precisam ser.
— Mas são. Sejamos realistas. Você encontrou seu lugar no mundo, ama os Cullen da mesma forma que eu amo meus irmãos. E por mais que eu goste de vocês, não vou mudar, Jasper. Vocês respeitam a vida humana enquanto eu odeio a maioria deles, caço criminosos para me alimentar e gosto disso. Eu realmente queria que esse sentimento nascendo por você fosse o suficiente para mim.
— Eu também queria — murmurei tristemente. — Acho que se tivéssemos nos conhecido em outro momento, talvez quando você ainda era humana, as coisas seriam diferentes.
— Não vale à pena pensar em como poderia ter sido. Devemos aceitar as coisas como realmente são. Sou uma pessoa quebrada, mais machucada do qualquer um deveria ser. A vida me fez assim. Humanos me deixaram assim. E por mais que eu queira ser superior e deixar meu passado enterrado, não consigo me desconectar totalmente. Você não deveria se deixar desenvolver sentimentos por alguém como eu.
— Não acho que qualquer pessoa tenha o controle sobre como seus próprios sentimentos devem ser, Bella. Se fosse simples assim... Se eu pudesse escolher por quem me apaixonar, teria escolhido Alice, ou até Kate, do clã Denali. Jamais teria me envolvido com Maria.
— Nem comigo.
Eu balancei a cabeça negativamente.
— Não falaria assim se visse em si mesma o que eu consigo ver.
Bella me olhou, parecendo curiosa.
— E o que você vê em mim, Jasper?
— Resiliência, força, coragem, inteligência, dedicação. Você poderia sucumbir diante de tudo que passou, e em vez disso tem coragem de falar e ajudar mulheres que sofrem, mesmo que deteste humanos. Você é audaciosa, calculista, estrategista, teimosa... — Eu sorri e ela ficou encarando minha boca de um jeito que me deixou com vontade de beijá-la. — Você está aqui para garantir a segurança de um irmão que sequer conhece pessoalmente e leva tão a sério seus deveres com seu clã... Se isso não é dedicação, eu não sei o que é.
— Uau. Eu realmente não vejo tudo isso em mim.
— Pois deveria. Você é tudo isso e mais um pouco.
Ela passou a mão no cabelo, depois segurou sua própria nuca.
— E você viu tudo isso em apenas dez dias?
Dei de ombros, sorrindo.
— Observei você atentamente. Nós conversamos e eu vi como se comporta em situações adversas. Às vezes você não precisa de décadas para entender a personalidade de alguém. Basta parar para analisar, e você tem sido o objeto de estudo mais fascinante para mim.
Bella voltou a admirar a paisagem em silêncio. Pela primeira vez eu senti a necessidade de saber o que alguém estava sentindo, mas ela estava aperfeiçoando se fechar para minhas análises ao seu corpo. Não conseguia sequer um vislumbre de suas emoções, e isso me enlouquecia.
De repente, ela sorriu e disse:
— Se eu te convidar para fazer uma loucura, você topa?
— Depende... — Eu sorri, nervoso. — De que tipo de loucura estamos falando?
— Ah, nada demais... Eu só me pergunto se o mar lá embaixo é tão bonito quanto na superfície.
Eu ergui uma sobrancelha, surpreso. Estava chovendo torrencialmente, já estávamos com as roupas e cabelos molhados. Por que descer para nadar?
— Você quer pular no mar? Agora? Sabe que um humano morreria de hipotermia em menos de dez minutos se caísse nessa água, né?
— Então ainda bem que não somos humanos e não sentimos frio nem calor.
Dizendo isso, Bella se jogou do alto da árvore, despencando por sessenta metros até sumir nas águas turvas e turbulentas lá embaixo. Eu sorri e me deixei cair também, sentindo o vento que chicoteava por meu corpo até mergulhar na velocidade de uma bala de canhão.
Abaixo da superfície dava para ver cardumes que nadavam mais para baixo, na esperança de fugir da tempestade que agitava as águas. Bella apareceu em minha linha de visão, vindo do fundo escuro que nossos olhos enxergavam muito bem, cheio das mais diversas criaturas marinhas que enfrentavam as mudanças que a tempestade estava causando.
Bella se aproximou de mim e, em um movimento inesperado, encontrou meus lábios em um beijo suave que contrastava com o caos das ondas que passavam por nós.
Eu agarrei sua cintura e a puxei para mim, levando-a para cima. Quando nossos rostos emergiram, eu retomei o beijo, dessa vez sem o gosto salgado do oceano, intenso e ávido como nunca havia beijado ninguém antes dela.
Não sei por quanto tempo durou. Parecia uma eternidade, e mesmo assim acabou rápido demais. Eu não me cansaria do sabor de sua boca, ficaria ali para sempre se pudesse, mas Bella se afastou, distribuindo beijinhos por todo o meu rosto até encostar a testa na minha.
— Quero que guarde esse momento como um presente meu. Uma lembrança para acessar sempre que pensar no tempo que passamos juntos, mesmo que tenha sido pouco.
Eu a abracei mais forte.
— Nós vamos nos encontrar de novo. Até lá, eu espero te convencer a me dar uma chance de fazer dar certo.
— Ou você pode encontrar alguém especial que vai ofuscar o encanto que tem por mim.
Eu fiz uma careta.
— Sabe que não é tão simples assim. Raramente alguma coisa muda para alguém da nossa espécie, e quando isso acontece, é irreversível. Você mudou algo dentro de mim. Meus sentimentos não são os mesmos. A forma como enxergo a vida desde que você chegou não é a mesma. E você disse que gosta de mim também.
— Não, eu disse que sinto atração por você, major. É diferente.
Eu balancei a cabeça negativamente.
— Você é impossível, Isabella Swan.
— E você adora isso, Jasper Whitlock.
Com um sorriso, roubei mais um beijo longo e delicioso dela. Outra vez, cedo demais, ela se afastou, dessa vez na direção da margem pedregosa. Olhou para trás com uma expressão triste e sussurrou:
— Eu realmente vou sentir falta desse lugar.
Não voltamos para a árvore. Sem dizer nada, subimos a montanha e tomamos o rumo da mansão.
Eu estava confuso e triste por toda essa situação. Sabia que ela havia feito uma piada quando disse que sentia só atração por mim, mas isso me deixava frustrado. O que surgiu entre nós era como quando Edward e Joseph se apaixonaram, e ela sequer considerava a possibilidade de me aceitar.
Mesmo assim, deixei o ressentimento de lado, segurei sua mão e aproveitei nossos últimos momentos juntos.
Nós passeamos um pouco mais, e ela disse que queria me ver caçar. Eu respondi que não tinha nada de atraente nisso e ela insistiu, dizendo que tudo que eu fazia era atraente.
Encontramos uma manada de cervos se protegendo em uma caverna, e mesmo a contragosto, eu ataquei. Sequei dois deles rapidamente e voltei para ela.
— Isso foi rápido. Você nem pareceu aproveitar o momento.
— Não preciso apreciar uma caçada, apenas aplacar minha sede. Meus irmãos e eu saímos vez ou outra para caçar carnívoros de grande porte longe de casa, aí sim nos divertimos. — Dei de ombros. — Caçar aqui é como pegar legumes e verduras na horta do quintal para fazer uma sopa: uma refeição cotidiana básica.
Ela riu.
— Justo. E o que eu vou fazer agora se compara com o quê? Talvez comer um churrasco mal requentado que passou do ponto?
Dessa vez fui eu que gargalhei. Ela estava se referindo a tomar as bolsas de sangue que Carlisle comprou e sugeriu que fosse esquentado um pouco em vez de tomar gelado.
A ideia disso me dava mais nojo do que drenar um herbívoro fedorento, mas ela não quis caçar conosco, então era isso ou ir para a batalha com fome, se sentindo vulnerável.
A madrugada ia alta, e dava para ver a tempestade que acontecia nas montanhas ao leste. Edward escolheu o pior lugar para acampar com um humano: uma montanha nevada no meio de uma tempestade furiosa. Menos mal que os sobrinhos de Joseph estavam lá para fornecer calor a ele.
Quando chegamos em casa, Alice estava com uma careta monumental.
— Bella, você me odeia?
Bella olhou para ela com olhos arregalados.
— Como assim? É claro que não, Alice!
— Então por que vai me abandonar?
Bella olhou para mim, que estava revirando os olhos.
— Alice costuma ser dramática quando contrariada. Ela deve ter visto que você vai partir depois da batalha, mas não se preocupe, isso vai passar — eu expliquei.
Alice me deu seu olhar mais ameaçador.
— Judas traidor! — Depois se virou para Bella. — Como pode fazer isso comigo? Pensei que fôssemos amigas!
— Nós somos amigas — Bella respondeu. — Mas eu preciso voltar para a minha família, Ali. Eles estão preocupados com a minha demora.
Alice contorceu seu rosto em uma cara de choro que deixaria até o vampiro mais insensível com pena. Sem saber o que fazer, Bella abraçou a baixinha meio sem jeito.
— Não precisa ficar assim. Eu vou voltar, não é como se nunca mais fôssemos nos ver. Temos a eternidade fadinha.
Alice se afastou um pouco.
— Já não basta o Zef me chamar assim, agora você também?
Bella deu de ombros.
— Se fadas existissem, tenho certeza que seriam como você.
Alice mostrou a língua para ela como uma criança.
— Promete que vai voltar logo?
— Bom, espero que não tão rápido — Bella franziu o cenho, e Emmett perguntou do andar de cima:
— Por que não? Já está cansada de nós?
Ele correu até a sala, e logo os outros membros da família apareceram.
— Não é isso, grandão. Eu tenho meus afazeres no clã, só vou voltar quando Joseph estiver prestes a ser transformado. — Ela olhou para Carlisle. — Você é o médico do meu pai, gostaria de pedir algo importante.
— É claro, querida. Pode falar — ele respondeu.
— Não importa o que acontecer amanhã, independentemente do que vocês sentirem quando eu partir, quero que me prometa que vai me ligar quando perceber que Charlie pode morrer a qualquer momento. Eu quero ter a chance de vê-lo uma última vez e me despedir dele.
Com a testa franzida, ele aquiesceu.
— Eu jamais esconderia algo assim de você. Pode ficar tranquila, prometo que vou avisar.
— Obrigada, Carlisle. — Ela fez uma careta engraçada. — Agora acho que está na hora do churrasco sebento.
Não consegui evitar a gargalhada quando os outros fizeram caretas confusas.
— Churrasco sebento? — Esme questionou e eu resolvi explicar:
— Eu comparei caçar herbívoros com tomar uma sopa de legumes, e Bella disse que tomar sangue aquecido de uma bolsa devia ser como comer churrasco mal requentado.
— Eca! — Rosalie murmurou.
— Esse é o sentimento, loirinha — disse Bella. — Vamos acabar logo com isso, doutor?
Carlisle pigarreou.
— Certo. Talvez seja melhor vocês...
— É claro. Vamos, meus filhos — Esme chamou calmamente. — Vamos dar privacidade pra Bella.
Nós a acompanhamos para além do rio, virados contra o vento para que o cheiro de sangue humano não nos alcançasse. Depois de alguns minutos, Carlisle chamou e todos voltamos para casa. Havia uma lixeira cheia de bolsas de sangue vazias que Carlisle pegou e colocou para fora. Aquilo seria levado para longe de casa.
Com o corpo cheio com pelo menos vinte litros de sangue, eu podia sentir os fluidos corporais de Bella, o que facilitava a análise e manipulação dos hormônios responsáveis por suas emoções. Não que eu fosse manipular nada, mas era bom conseguir sentir o que ela sentia.
Bella me olhou com os olhos estreitos e fez um som de afronta.
— Você está bisbilhotando minhas emoções, major?
Eu levantei as mãos em sinal de rendição.
— Desculpe, amor. Eu só queria aproveitar um pouco antes da batalha e da nossa despedida.
Rosalie fez um som desagradável com a boca.
— Seria útil se você pudesse ler as emoções daquela psicopata ruiva para saber o que esperar dela enquanto destruímos o exército.
Fiz uma careta de nojo.
— Não, obrigado. Eu senti o suficiente depois daquele jogo de baseball. Até o que Victoria sente é asqueroso, não quero mergulhar naquela mente para prever seus passos, isso me deixaria doente.
Bella fez um som no fundo da garganta e todos olhamos para ela.
— Não precisa ler as emoções dela, só pensar no que uma psicopata vingativa faria para ter o que tanto quer. — Seus olhos se arregalaram e ela olhou para as montanhas a leste. — Merda! Não acredito que não pensei nisso antes!
Bella correu para a porta e eu fui atrás por instinto.
— Espera, do que você está falando? — indaguei.
Ela olhou para cada um de nós antes de responder:
— Qual a maior fraqueza do Edward?
— Sua superproteção? — sugeriu Rosalie.
— Exato. Se vocês estivessem caçando o Joseph, quem pensariam que jamais se afastaria dele?
— O Ed, é claro — respondeu Emmett.
— Isso mesmo. Se Victoria observou vocês quando estava ajudando James a caçar meu irmão, ela sabe que Edward jamais deixaria Joseph chegar perto dos recém-criados e nem se afastaria dele, então...
— Quando ela ver que o Ed não está na batalha conosco, vai deduzir que ele está vigiando o Zef e vai seguir o rastro dele — Alice completou o pensamento de Bella.
Eu pensei por um segundo e tomei uma decisão.
— Vou com você para as montanhas.
— Não, Jasper. Ela conhece o cheiro de todos vocês, eu sou a única que pode chegar até lá sem que ela fique alarmada com a presença de um segundo vampiro.
— Mas você não sabe o caminho e não pode seguir o rastro do Edward, ou vai perder o elemento surpresa — disse Carlisle.
— Eu conheço o cheiro de Seth e dos gêmeos da Leah, posso seguir o rastro deles.
— E se você estiver errada? — Esme estava preocupada, era visível.
— Temos três possibilidades. A primeira e improvável: Victoria se junta à luta com o exército e enfrenta vocês. A segunda e talvez até previsível: vê que vocês não estão sozinhos contra o exército e foge como o inseto que é. Ou terceira e com quase 100% de chance: aproveita que vocês estão distraídos e segue o rastro de Edward, provavelmente acompanhada com o seu cúmplice, pois sabe que essa é a sua melhor chance de matar os dois de uma só vez.
Bella encarou a todos nós, e sua expressão estava decidida.
— Posso não ser uma psicopata louca, mas sei como uma cabeça assim funciona. Esse foi o plano desde o início, tenho certeza. Vão, façam sua parte contra os recém-criados e deixem que eu lido com Victoria. Essa vadia não vai conseguir fugir outra vez.
Dizendo isso, Bella partiu, rapidamente sumindo de vista.
Senti um aperto no peito. Meus instintos me diziam que eu não teria a oportunidade de conversar com ela de novo antes que nos deixasse por tempo indeterminado.
Olá! Tudo bem?
Espero que esteja gostando da história. Para quem estava acompanhando as postagens, eu terminei meus cursos e consegui duas semanas de folga até ter que voltar a trabalhar. Sou professora e o ano letivo começa mais cedo para nós, pois temos que analisar o conteúdo a ser lecionado, fazer o planejamento anual e preparar todos os materiais antes dos alunos começarem a estudar, então, novamente, vou passar algum tempo sem postar capítulos, por isso estou aproveitando para escrever enquanto posso.
Aproveite os capítulos novos, pinte essa estrelinha, comente e compartilhe a história.
Beijos no coração e... TCHAU!
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