10. A CALMARIA ANTES DA TEMPESTADE
Existem momentos em que os sentimentos nos dão a sensação de sufocamento e desesperança, por isso eu costumava suprimi-los a todo custo nas últimas quatro décadas. Também por isso eu era vista como uma imortal cruel, insensível e sádica.
Mas isso não me importava, desde que eu tivesse meus irmãos para me apoiar quando os sentimentos viessem de uma vez, desmoronando dentro de mim como uma avalanche arrasadora. Eram raras as vezes em que isso acontecia, mas sempre era ruim e me deixava extremamente desestabilizada.
Na primeira vez em que matei um clã inteiro que quebrou as leis, passei dias me questionando se aquilo era certo, se todos os membros do clã eram realmente culpados ou se alguns apenas tiveram que pagar pelos crimes de um e outro.
Jane me disse para esquecer, que era difícil mesmo e que com o tempo eu iria me acostumar com meu dever.
Quando tive que exterminar um exército de doze imortais com apenas meses desde a transformação, me perguntei se eles realmente eram culpados, pois foram criados para fazer o trabalho sujo, não tinham ideia das leis que regiam o mundo sobrenatural e não foram ensinados a viver como deveriam.
Por que não matar apenas os líderes responsáveis pelo exército e ensinar aos recém-criados como viver da forma certa? Todos nós tivemos que passar pelo primeiro ano de loucura, então por que não dar uma chance a eles?
Mas nossas leis são absolutas. O imortal cujas ações ameaçam expor a existência dos vampiros é culpado de traição e deve morrer. Recém-criados descontrolados são responsáveis por expor nossa existência, logo, todos os membros de um exército de recém-criados que causam caos no mundo humano estão condenados à morte, e é meu dever executar a sentença.
Com o tempo, assim com Jane disse que aconteceria, eu me acostumei e até passei a gostar do meu trabalho. Não me sentia culpada por fazer cumprir a lei, e me desliguei de qualquer associação que pudesse fazer entre um transgressor e um ser pensante, com sentimentos e necessidades. Para mim, eles eram apenas corpos esperando para se tornarem cinzas.
Por isso eu não pensava na batalha próxima como a destruição de imortais com um potencial ou que pudessem ter dons incríveis. Eram apenas corpos antes do fogo. E apesar de não poder estar com os Cullen queimando os infratores, eu poderia dançar em volta da fogueira, afinal, seriam uma ameaça a menos para a vida do meu irmão.
Depois de passar a madrugada observando os Cullen treinarem e ao fim me lembrar de Jacob Black e conhecer os outros irmãos de Joseph, eu precisava me reportar ao Caius.
No pouco tempo que tive entre deixar os lobos para trás e os outros chegarem em casa, mandei mensagem para Caius com minhas considerações a respeito da inocência dos Cullen.
Contei sobre Victoria e o fato do companheiro dela ter tentado matar um membro do clã e por isso ter sido morto por eles, e que ela queria vingança, mas teríamos que esperar para pegá-la em flagrante, pois não havia provas contra ela devido ao fato de se manter longe da ação e deixar outro tomar a frente do exército.
Logicamente, não comentei sobre Joseph nem sobre os lobos, apenas falei que os Cullen estavam se preparando para atrair o exército para as montanhas desertas a fim de destruí-lo.
Perguntei se poderia ajudá-los e Caius disse que não. Eu deveria ficar com eles apenas para pegar a tal Victoria em flagrante, e aí sim eu teria permissão de interrogá-la e executar a sentença de morte dela. Quanto ao exército, que os Cullen lidassem com eles, afinal, era no território deles que os recém-criados estavam fazendo bagunça.
Mesmo frustrada e irritada com a decisão de Caius, eu aceitei, afinal, devia obediência a ele e não queria ser deixada trancada durante um século no castelo por ter me rebelado contra o meu criador.
Sim, essa parte da história eu não contei aos Cullen. Alec e Jane me encontraram e viram potencial em mim, mas não tinham permissão dos mestres para transformar ninguém, por isso me levaram para o castelo, para Aro decidir o que fazer comigo. Ele queria me transformar, porém estava faminto e o cheiro do meu sangue o atordoava, então, por não querer arriscar me perder, ele deixou que seus irmãos decidissem quem seria meu criador.
Caius fez questão, pois viu em mim e na minha história de quase morte uma oportunidade de me moldar para ser como ele. Bem, ele conseguiu o que queria, embora não tivesse considerado que eu teria um gênio difícil e que meu dom não permitiria que Chelsea usasse suas habilidades para me fazer sentir devoção aos três irmãos como todos os outros membros da guarda.
Estava mandando mensagem para Demetri, pois fiquei preocupada com o fato dele ter estado no território dos quileutes e visto os lobos gigantes. Não queria que ele soubesse da associação entre os Cullen e os lobos, pois se falasse disso para os mestres, Caius poderia pensar que eram crianças da lua, também conhecidos como lobisomens, e ver a aliança deles como traição dos Cullen, talvez por quererem tomar o lugar dos Volturi.
Eu gostava de ser da guarda por causa de Jane, Alec, Demetri e Felix, e até gostava de passar tempo discutindo história e política com Aro e Marcus, e aprendendo estratégias militares com Caius, mas às vezes, o mais novo entre os mestres ultrapassava os limites da paranoia.
Digitei: “O que você pensa que está fazendo? Um membro dos Cullen estava caçando e rastreou teu cheiro. Por que estava no território deles, Deme?”
A resposta não demorou:
“Estava preocupado com você. Não me deu notícias por mais de vinte e quatro horas”.
“Você não é minha babá. Já me reportei ao Caius e recebi ordens para continuar aqui até que o exército venha. Tenho que exterminar o líder, mas só dá para saber quem é quando o exército chegar.”
“Não me aproximei da cidade, apenas de uma praia onde vi uma possível presa, mas dois lobos gigantes me perseguiram, e eles não eram normais. Os Cullen sabem que tem lobisomens no território deles?”
Eu suspirei. Droga, eu tinha que explicar alguma coisa, mas podia ver os Cullen atravessando o rio, e Jasper vinha na minha direção.
“Não são lobisomens, são metamorfos protetores da região. Te explico depois, tem alguém vindo”.
Travei o celular quando Jasper chegou perto de mim e me convidou para um passeio.
Nós passamos horas conversando em um lugar de vista espetacular, e chegamos a alguns assuntos mais sérios. Eu não era uma pessoa que confiava facilmente, bastava ver o meu histórico com homens, mas existia alguma coisa em Jasper que me atraía, que me fazia confiar nele. E o jeito como ele olhava para mim...
Em meus trinta e oito anos como vampira, nunca conheci um homem que me despertasse as coisas que aquele quase desconhecido despertava. Eu me vi contando sobre minha família, ainda que mantendo ocultas as identidades deles, e sobre mim mesma como não costumava falar para ninguém.
Em alguns momentos parecia que Jasper conseguia ver minha alma através dos meus olhos, era desconcertante. Era como se ele me entendesse como nem meus irmãos conseguiam fazer. A necessidade de solidão, a dificuldade de confiar e se deixar vulnerável, nem que fosse um pouco... Eu podia ver refletido nos seus olhos meu próprio jeito de lidar com o mundo, mesmo quando o peso do mundo me esmagava.
E então, depois da conversa mais íntima que já consegui ter com alguém, depois de ser sincera sobre o meu papel no clã, ele desdenhou da ideia de eu ser uma Volturi. Isso não foi engraçado, nem de longe, e me incomodou muito, afinal, fazia trinta e oito anos que eu respondia pelo nome Bella Volturi.
O fato de Jasper não conseguir conceber a ideia de que eu era parte da guarda Volturi me desanimava. Como ele reagiria quando eu me revelasse após a batalha? Ficaria com raiva? Talvez enojado? Ou quem sabe me odiaria? Aquela cumplicidade e admiração entre nós desapareceria?
Eu sabia que o mundo sobrenatural não via os Volturi de forma favorável. Muitos nos odiavam, principalmente aqueles cujos clãs foram parcialmente dissolvidos por causa de crimes ou os antigos que perderam imortais para Aro, Caius e Marcus durante a ascensão deles.
Aqueles que não nos conheciam, facilmente acreditavam em qualquer rumor sobre nós. Não posso dizer que eram totalmente infundados, mas muita coisa era mentira.
Quer dizer, nosso trabalho era punir os transgressores das leis vampíricas, e um carrasco nunca será bem visto, mas achar que somos cruéis com inocentes, perseguidores de clãs com mais de cinco membros que “ameacem” o poder dos três antigos, e totalmente vazios de sentimentos... Tudo isso era exagero.
Somos imortais, não robôs. Imaginar que Jasper me veria como uma mentirosa nojenta me deixava enjoada. E era ainda pior pensar em como seu olhar de admiração mudaria quando soubesse quem eu realmente era.
Após um tempo calados, apenas observando a paisagem, eu suspirei alto.
— O mundo não é preto e branco, Jasper. Os Volturi sempre serão odiados por serem os governantes que a nossa espécie não pediu, mas que necessitava. — Encarei seu rosto com seriedade. — E eu sempre serei odiada por fazer cumprir as leis do meu clã. Leis que muitos não querem seguir, pois seria mais fácil para eles se o mundo virasse um caos maior do que já é.
— Não sei se entendi bem o seu ponto.
Eu balancei a cabeça, ainda séria.
— Para quem é caçado por mim, eu sou as trevas. Sou a parte sem esperança, mergulhada na escuridão. Para as pessoas que eu salvei da morte e da tortura, sou a luz, um anjo ou quaisquer que sejam as crenças delas. Mas o mundo não se limita às cores neutras. Todos temos vários tons de cinza, vermelho, azul e de todas as cores que existem. Não somos representantes exclusivos do bem ou do mal.
Ele me observou por um momento, então levou a mão ao meu rosto, o que me causou uma sensação agradável, mesmo que eu não fosse acostumada a ser tocada dessa forma.
— Me desculpe, Bella. Não tive a intenção de te ofender. Você tem razão, é claro. Assim como você é uma pessoa incrível, mesmo tendo uma função tão mal vista, acho que deve haver bons imortais em todo lugar. — Ele deu de ombros. — Ou pelo menos depende da concepção que cada um tem sobre o que é ser bom.
Eu sorri. Apesar de tudo, era fácil conversar com Jasper.
Nós passamos o dia todo ali, conversando sobre o que gostávamos de fazer nas horas vagas, nossos gostos musicais, debates sobre como os vampiros impactaram a história e a política humana através dos milênios, e tudo que pudemos pensar.
Já era noite quando voltamos para a mansão e madrugada quando fomos encontrar os lobos. Dessa vez, eu me apresentei ao Alfa Uley, pois Jacob e Leah estavam cuidando de sua filha de dois aninhos, que pegou um resfriado.
Pensei que o lobo negro iria ficar bravo com minha presença, mas quando expliquei que era filha de Charlie Swan e irmã do Joseph, e que estava ali para proteger meu irmão, ele falou em sua mente, e Edward traduziu:
— Estamos unidos por uma causa: proteger. Se você não é inimiga, então é uma aliada.
Naquela noite, eu treinei com eles, e fui a única a derrubar Alice.
Nos dias seguintes nós criamos uma espécie de rotina. Durante a manhã eu passava um tempo com Alice, conversando, passeando, fazendo compras ou assistindo filmes. À tarde, era a vez de Jasper me fazer companhia, e não importava onde fôssemos, sempre acabávamos na árvore gigantesca observando as falésias nevadas e o oceano de águas turvas. Eu sentiria falta desse lugar quando fosse embora.
À noite, Emmett me encontrava depois do rio para lutar um pouco, e eu o ensinava técnicas milenares que aprendi com Demetri e Félix. Ele era ávido por combate físico e muito forte, mas Félix era o mais forte do mundo, e eu aprendi a derrubá-lo, então... Até Rosalie vinha lutar comigo, e apesar de nosso começo conturbado, aprendemos a ler as expressões uma da outra e passamos a nos respeitar, embora não houvesse conversas entre nós.
Depois das lutas, eu aproveitava a companhia de Esme e Carlisle durante uma ou duas horas falando de arte, arquitetura, literatura e quaisquer outros assuntos que viessem à tona, sempre escondidos no escritório de Carlisle.
Tudo isso era feito longe da vista de Joseph, que costumava passar muito tempo na mansão, praticamente o dia todo, e à noite ia para La Push visitar seus irmãos e sobrinhos, e às vezes participar das reuniões na fogueira, seja lá o que isso fosse. A única imagem que me vinha à mente era a de fogueiras de acampamento que vi em filmes, com as pessoas em volta comendo marshmallow assado e contando histórias assustadoras.
Antes que Edward levasse Joseph para casa, eu passava algumas horas observando meu pai e sua esposa. Às vezes, Seth levava seus filhos e sua esposa para jantarem com Sue e Charlie. Ele tinha uma linda família, com dois garotos sapecas de onze e nove anos, e uma garotinha de seis que era a humana mais fofa que eu já tinha visto.
Vez ou outra, Joseph e Edward também participavam das refeições. Bem, pelo menos Joseph comia com gosto enquanto Edward fingia comer e cuspia tudo em lenços de papel que ele jogava fora da casa depois. Ou ele simplesmente fingia que ia jantar com sua própria família para deixar Joseph à vontade com os pais.
Uma noite, vi três dos quatro filhos de Jacob, que foram visitar os avós e o tio. Eram rapazes gêmeos de vinte anos, tão altos e fortes quanto o pai, e uma menina de treze que parecia uma versão mais nova da Pocahontas. Os gêmeos perceberam minha presença, pois me farejaram, e eu deduzi que eles estavam entre os lobos que nos encontravam na clareira, por isso me conheciam e não tentaram me atacar. Mais tarde eu soube que Joseph cresceu com eles, por ser apenas um ano mais velho, por isso se tratavam como irmãos, não como tio e sobrinhos.
Eu observava meu pai até uma hora antes do encontro com os lobos, e então partia para encontrar os Cullen.
Aprendi que sempre tinha alguém tomando conta da minha família humana. Quando não era um dos Cullen, era um dos lobos, ou eu, que ficava um tempo ali, dando folga para todos os outros. Quando um lobo chegava para vigiar, Edward saía do quarto do meu irmão e eu o acompanhava de volta para a mansão. Esse era o único tempo que tínhamos para conversar e nos conhecer.
Edward tinha um senso de humor melancólico. Era divertido, às vezes, porém dramático demais para o meu gosto. Se ele tivesse me conhecido quando humana e se aproximado de mim, teríamos ficado apenas na amizade, pois apesar de lindo, muito inteligente e talentoso, eu não tinha paciência para seu excesso de proteção e modos teatrais.
Ele me ensinou noções mais atuais sobre sexualidade. Meu irmão era pansexual, não se importava com gêneros, apenas com pessoas, tanto que teve uma namorada cis e outra transsexual antes de conhecer Edward.
Meu cunhado, por sua vez, se considerava demissexual, ou seja, sentia desejo sexual apenas depois de desenvolver um forte vínculo emocional com a pessoa. Era assim em sua vida humana também, ele só não sabia que descobriria um nome para isso um século depois de se tornar imortal.
A primeira vez que se sentiu atraído sexualmente foi aos dezesseis anos, por uma vizinha com quem tinha amizade desde a infância. Depois da transformação, somente Joseph abalou suas estruturas. Ele se encantou com a personalidade forte, a mente misteriosa e o jeito muito direto do meu irmão no início.
Quando Joseph descobriu seu segredo e não se afastou, Edward ficou fascinado porque um humano não rejeitou a companhia de um monstro como ele. Os dois se tornaram amigos e passaram a se conhecer melhor para só depois Edward sentir atração sexual e deixar Joseph avançar, coisa que ele queria desde que conheceu o vampiro ruivo.
Essa parte Edward teve o bom senso de não me contar, o que me deixou aliviada. Já bastava ter ouvido os dois fazendo coisas na noite em que vi Joseph pela primeira vez. Isso me deixava desconfortável, para dizer o mínimo.
Uma semana se passou. As festas de fim de ano se aproximavam e todos estávamos ansiosos para acabar logo com a ameaça que pairava sobre nós. Apesar de saber que não devia aparecer para Joseph, ficava cada vez mais difícil não me aproximar dele. Queria conhecê-lo, ter uma relação com ele antes de partir, e doía não poder fazer isso.
Era uma quinta-feira quando eu estava passeando com Alice, ela tentando me convencer a caçar veados e falhando miseravelmente, até que seus olhos perderam o foco e ela ficou como uma estátua de pedra na minha frente.
Quando saiu de seu transe, me encarou com os olhos arregalados e me puxou pela mão para voltar à mansão. Ao chegarmos, eu fui direto pela parte de trás para o meu quarto temporário, de onde podia ouvir tudo que falavam, pois Joseph estava lá conversando sobre a estratégia que eu tracei para ele estar longe da batalha. Ele insistia que precisava ajudar mais, estar ali com os Cullen, o que estava absolutamente fora de cogitação.
Fiquei atenta ao ouvir Alice interromper a conversa:
— A decisão foi tomada. Eu vi um grupo de vinte e três recém-criados passando entre si uma camisa azul listrada. Eles estavam farejando e virão para Forks atrás desse cheiro.
— Listrada com tons de azul e branco, com gola polo? — perguntou Joseph.
— Sim, é tua, não é? Foi a que Leah te deu no teu aniversário de vinte e um anos?
— Essa mesma. Eu esqueci no meu quarto da república quando tranquei a faculdade. Esses filhos da puta roubaram minha camisa!
— Temos problemas mais sérios que uma camisa roubada, amor — Edward o repreendeu.
— Desculpa. Continua, Ali.
— Certo. Eles chegarão em dois dias, durante uma tempestade. Virão pelo oceano e vão subir pelo meio das montanhas.
— Precisamos atraí-los para a clareira e interceptar seu caminho — disse Jasper. — Vamos avisar aos lobos hoje e ficar prontos para o primeiro plano: nos dividir para surpreender os recém-criados. Uma parte fica para nós eliminarmos e a outra fica a cargo dos lobos.
— E como nós vamos fazer isso? — questionou Joseph. — Tem certeza que só de eu andar pelas árvores perto da clareira e tocar nas folhas é o suficiente para deixar meu cheiro, mesmo com a chuva constante?
Houve uma pausa e eu me assustei quando ouvi um rosnado feroz vindo de Edward.
— Nem pensar! Você enlouqueceu?
Me esgueirei pela janela e pulei numa árvore de onde dava para ver tudo que acontecia na sala. Todos estavam sentados ao redor da mesa de centro, e Edward encarava Jasper em posição de ataque enquanto o loiro apenas dava de ombros.
— Foi só um pensamento, Ed. Relaxa.
— O que você pensou, Jazz? — perguntou Rosalie.
— Eu só estava analisando de forma estratégica. Uma armadilha para predadores é mais eficaz quando tem isca viva. A presença do Joseph na clareira iria garantir que os recém-criados fossem para onde queremos. Mas é óbvio que eu não ia sugerir isso.
— E por que não? — indagou Joseph. — Se dessa forma eu fosse útil...
— Já falamos sobre isso, Jos. Você não vai ficar a menos de cem quilômetros daquela clareira! — exclamou Edward, furioso.
Joseph se levantou e eles começaram a ter uma discussão acalorada. Eu sorri. O rapaz tinha mesmo o gênio dos Swan.
Enquanto brigavam e Carlisle tentava apaziguar, eu peguei o celular e mandei uma mensagem para Alice.
“Diz pra ele que não precisa de sua presença na clareira, basta um pouco de sangue pingado aqui e ali. O sangue penetra nos troncos e folhas, então o cheiro é mais potente e dura mais tempo.”
Ela verificou a mensagem e respondeu:
“Você tá louca? O Edward vai me matar se eu sugerir que tem que machucar o Zef pra tirar sangue!”
Eu revirei os olhos, suspirando.
“Pelo amor de... Alice, vocês têm um médico na família, porra! Carlisle pode tirar um pouco de sangue do Joseph e espalhar pela trilha e pela clareira, já que ele é o mais controlado de vocês.”
“Ah, tá... Não precisa ser grossa! Eu juro que não sou lerda assim, só estou atordoada.”
“Tudo bem. Fala logo!”
Antes, porém, que ela pudesse falar, Edward se virou para ela e disse:
— Na verdade, essa ideia é genial, Bel... Alice!
Eu balancei a cabeça em sinal positivo. Pelo menos o dom dele foi útil, pois leu minhas mensagens pelos pensamentos de Alice e agiu como se ela tivesse mesmo pensado nisso.
— O que foi dessa vez, fadinha? — Joseph encarou Alice.
— O que realmente enlouquece os vampiros é sangue, e nós temos um médico na família que pode tirar um pouco do teu sangue para pingar nas árvores e pelo caminho até a clareira. Você não precisa estar lá, Zef.
Meu irmão fez uma careta de desagrado.
— Merda, eu sou uma bolsa de sangue ambulante, por acaso? Quero ajudar, mas como posso fazer isso se estou preocupado com a segurança de vocês?
Dessa vez foi Emmett quem revirou os olhos e gargalhou.
— Se toca, maninho. Nós somos centenas de vezes mais fortes que você e não vai ajudar em nada se estiver na clareira. Vai nos distrair da luta porque vamos ficar preocupados em te proteger. Usar teu sangue é a melhor opção, e assim você não vai enlouquecer o Ed.
— Além disso — Jasper completou, antes que Joseph pudesse protestar —, você está se esquecendo dos Volturi. Não podemos arriscar ter você lá e eles aparecerem de repente para checar o que aconteceu com o exército.
— Vocês nem sabem se eles vêm pra cá! Se viessem, já teriam eliminado o exército, não acham? — Joseph insistiu. — Não é esse o trabalho deles?
— É trabalho deles apenas quando não tem um clã por perto para resolver — explicou Carlisle. — A Península Olímpica é, para o mundo sobrenatural, o nosso território. Somos sete vampiros, um grupo maior que a maioria. Pelo que conheço de Aro, ele já mandou a Guarda de Elite para lidar com o criador do exército, ou vai mandar em breve, mas eles não vão interferir na luta a menos que nós não possamos eliminar a todos. É nosso dever nos proteger da exposição em nosso próprio território.
A discussão durou algum tempo. Enquanto eu observava, só conseguia pensar que, em apenas dois dias, deixaria para trás minha família humana e essa família imortal que me acolheu, e teria que ver em seus rostos a decepção quando descobrissem quem eu era de verdade, e qual o motivo inicial para ter me aproximado.
Eu teria que ver a tristeza nos olhos de Alice, talvez até o ódio nos olhos de Jasper, e pensar nisso me causava o pior sentimento que alguma vez experimentei.
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