Prólogo
Camila
Dois anos atrás
Acho que ninguém nunca consegue entender ou superar uma perda, quando se perde alguém que ama é como perder um pedaço de si mesmo. É assim que me sinto desde que meu pai morreu, aconteceu há seis meses, mas a dor continua fresca e me sufoca como se tivesse acabado de acontecer.
Eu e minha mãe temos sofrido em silêncio desde então, mas de formas diferentes. Tenho mantido meu foco nos estudos mais do que nunca e leio a maior quantidade de livros possível, na esperança de fugir da realidade. Já ela vem se afundando no trabalho desde que nos mudamos, minha mãe é neurocirurgiã no maior hospital de Toronto, ela recebeu a proposta de emprego um mês antes da morte do meu pai e ele a apoiou quando ela decidiu recusar, só que a morte dele mudou drasticamente os planos, nós não conseguimos continuar na casa onde cada cômodo nos lembrava de que nunca o veríamos de novo.
— Ei! Terra chamando Camila- o garoto diz estralando os dedos em frente aos meus olhos. Dou um tapa em sua mão.
— Terminou?- pergunto balançando a cabeça na tentativa de dissipar meus pensamentos.- Não quero passar mais tempo do que o suficiente aqui com você, não hoje.
Estamos no pátio do colégio, sentados em uma das mesas que tem ao redor. Para a minha infelicidade fui praticamente obrigada a ajudá-lo lhe dando aulas de reforço, caso contrário, o mesmo seria reprovado em matemática.
— Você deveria era se sentir honrada.
Reviro os olhos e puxo o caderno de suas mãos.
— Não me diga- analiso as questões, mas ele puxa o caderno das minhas mãos antes que eu consiga ver se estão corretas.
— Já está sabendo dos boatos?- pergunta. O ignoro e tento pegar o caderno novamente, ele o esconde atrás de suas costas e segura meu pulso.- Estão dizendo pelos corredores que estamos fazendo um tipo diferente de estudos, sabe, aqueles sobre o corpo humano.
Senti a raiva subir por cada parte do meu corpo.
— FODA-SE - grito puxando meu braço de seu toque.- Eu não me importo com o que estão dizendo, eu nem sequer deveria estar aqui com você, Shawn.
O encaro ofegante, ele me observa surpreso com minha súbita explosão.
— Está tudo bem com você?- ele pergunta. Seu tom de voz mais calmo, sem qualquer sinal de ironia ou algo do tipo.
Encarei seus olhos castanhos claros que de repente refletiam certa preocupação, o que me fez repetir sua pergunta pra mim mesma: Eu estou bem? Sinto meus olhos se encherem de lágrimas, não, definitivamente não estou bem.
— Eu preciso ir- sussurro pegando minha bolsa e indo em direção a saída. Não quero que ele e nem ninguém me veja chorar.
— Ei, espera!- Shawn pede me alcançando e parando em minha frente, permaneci de cabeça baixa.- Não precisa ir embora, não ligue para o que eu disse, sou um completo idiota as vezes.
— Na maioria das vezes- concordo virando o rosto tentando disfarçar as lágrimas.
— Tem razão- Shawn ri baixo, para a minha surpresa ele segura meu queixo e me faz encara-lo.- Por que está chorando?
Rapidamente seco as lágrimas dos cantos dos olhos.
— Como sabia?
Shawn sorri de um jeito divertido.
— Infelizmente tenho experiência no assunto, já vi garotas demais chorarem na minha frente.
Imediatamente reviro os olhos. Típico, não espero nada diferente dele, Shawn Mendes, um idiota que por algum motivo faz com que as garotas se apaixonem por ele só para depois magoa-las.
— Não vai me contar o por que estava chorando?- pergunta colocando as mãos nos bolsos da calça e encolhendo os ombros.
— Na verdade, não- nego balançando a cabeça.- Isso não é da sua conta.
— Aí! Essa doeu- coloca a mão no coração fingindo estar com dor. Shawn então abre um sorriso largo. Por que diabos ele sorri o tempo todo?- Posso te fazer uma proposta?
— Acho melhor não- respondo dando um passo para trás.
— Não é esse tipo de proposta-emenda revirando os olhos.- Quer ir na lanchonete comigo? Só para você se distrair um pouco de seja lá qual for o motivo que te fez chorar, e também para agradecer a ajuda que você tem me dado.
O encaro desconfiada, não é possível que ele tenha se tornado tão legal de uma hora para outra.
— Se for para tentar me agradecer como da última vez não precisa.
Ele sorri maliciosamente, o que me faz querer lhe dar um soco.
— Juro que irei me comportar dessa vez.- Shawn percebe que não acredito em sua promessa, pois, a reforça.- Estou realmente falando sério, nada de tentar beijar a novata nervosinha hoje.
Cruzo os braços e passo por ele.
— Vamos, estou com fome.
○●○●○●○●○●○
— É agora que você finalmente me conta a sua história?- Shawn pergunta mergulhando uma porção de batata frita no molho, em seguida ele as leva a boca.
Estamos em uma pequena lnchonete com estilo tradicional que fica apenas a algumas quadras do colégio. Na mesa uma enorme porção de batata frita e um bandeja com muffins.
— E por que não me conta a sua primeiro?- rebato apoiando os cotovelos sobre a mesa e o encaro com atenção.- Vamos lá, tenho certeza de que deve ter algo mais do que você deixa aparentar.
— E o que deixo aparentar?
— Que é um babaca. Do tipo que só pensa em festas, garotas e futebol.
— O que te faz pensar que posso ser mais que isso que acabou de descrever?- ele imita meus movimentos, parecendo realmente interessado no que tenho a dizer.
— Você me trouxe aqui, se importou comigo mesmo que não tenhamos nenhum tipo de vínculo, isso já me parece algo a se considerar- respondo.
Shawn concorda. De repente seu celular vibra em cima da mesa, alguém está ligando, mas ele ignora a ligação.
— Pode atender se quiser, e se precisar ir tudo bem, eu vou embora- digo, Shawn apenas encara a tela do celular que novamente está tocando, mais uma vez ele recusa a chamada.
— Eu não preciso atender, e você não precisa ir embora, estamos no lugar certo- assegura. Logo Shawn muda de assunto.- Por que estava chorando?
Suspiro.
— Não vai desistir dessa conversa?
— Não mesmo.
— Eu...- tomo coragem para dizer as palavras, é a primeira vez que conto isso para uma pessoa totalmente desconhecida, apenas meus familiares e amigos próximos sabem sobre o acidente.- Eu perdi meu pai há seis meses.
Shawn arregala os olhos visivelmente surpreso.
— Nossa, sinto muito- sussurra e eu apenas aceno.- O que aconteceu com ele?
— Acidente de carro, ele estava indo para o trabalho- respondo. Sinto um nó na garganta.- Me lembro perfeitamente dele se despedindo de mim, disse que eu ainda conquistaria o mundo e que me amava, então me deu um beijo na testa e se foi.
Shawn se inclina sobre a mesa, ele seca uma lágrima em minha bochecha, eu nem sequer percebi que estava chorando de novo.
— Como ele se chamava?- Shawn pergunta com o tom de voz calmo.
— Alejandro, Alejandro Cabello.- respondo olhando para cima na intenção de conter as lágrimas.
— Sabe, acho que ele tem razão, um dia você vai conquistar o mundo.- Shawn então empurra a porção de batata frita em minha direção, mais uma vez ele enche a mão de batatas e as leva a boca, de boca cheia ele diz:- Mas por enquanto você pode me ajudar a devorar essas fritas.
Não pude evitar de rir.
— Obrigada- agradeço.
— Não me agradeça, eu não daria conta de comer tudo isso sozinho.
Nego com um aceno.
— Não estou falando disso.
— De que então?- pergunta confuso.
Dou de ombros.
— Por me fazer rir, tinha esquecido da sensação.
Shawn abre um enorme sorriso.
— Conte sempre comigo.
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