Não desse jeito
— O que é isso?— pergunto para Dean conforme ele distribui os panfletos na nossa mesa. Vince olha o meu por cima de meu ombro, já que eu estou sentada no seu colo outra vez. Ele apoia o queixo no meu ombro e balança as pernas de um lado para o outro, quase como se fosse me ninar.
— Não sei, só meteram eles na minha mão e me falaram para espalhar.— Dean sorri, balançando a cabeça e indo na próxima mesa para distribuir mais. Leio o panfleto, está anunciando um show musical na escola no halloween.
— Quer apostar quanto que vai ter Thriller do Michel Jackson?— Vince pergunta e eu o olho de rabo de olho, nós dois damos risadinha. Depois de termos matado a segunda aula, voltamos ao que era antes como se nunca tivéssemos discutido.
— Não tem como superar o rei do pop.— levanto a sobrancelha e coloco o panfleto na mesa.
— Vocês vão vir?— Yasmine pergunta, sentada do outro lado da mesa redonda. É uma pergunta geral, imaginei, mas quando a olhei, ela estava olhando diretamente para mim.
— Hã... não sei, temos o que?— espio o panfleto outra vez— Uns dez dias ainda para comprar o ingresso. Vou ver se crio coragem até lá.
— Ah, vamos vir.— Vince comenta, tirando a mão da minha cintura para pegar o seu refrigerante de laranja.— Quero ver o povo da nossa escola passando vergonha.— ele provoca.
— Ah, isso é uma ótima ideia!— admito, balançando a cabeça— Nós podemos até vir com fantasias combinando.— zombo, Vince faz careta.
— Eca.
— Tipo o que, Barbie e as três mosqueteiras?— Yasmine pergunta por cima da crítica que eu tenho certeza que Vince faria.— Eu quero ser a Barbie— ela ergue a mão, sorrindo. Por que é que ela acha que quando eu falo "nós" é um convite aberto? Franzo a testa para a cacheada.
E pensar que eu já tive muita consideração por ela, ultimamente até sua respiração está tirando minha paciência.
— Não, eu não estava falando com você, Yasmine.— sorrio, como que para amenizar o corte seco que lhe dei. Ela arregala os olhos, sem conseguir disfarçar o choque. Nossos colegas de mesa pararam um pouco para espiar e Vince me beliscou discretamente em censura.
— Oh... ok, foi mal.— ela baixa o olhar e vira a cara para conversar com sua amiga sentada do seu lado que me lançava um olhar fulminante como se eu fosse a errada. A ignorei e me voltei para Vince que parecia tão chocado como se a patada tivesse sido nele.
— E você, quer vestir o que?
— Vamos pensar nisso depois.— ele recomenda em um resmungo e nós voltamos a comer, mas foi difícil para os outros superarem minha grosseria, eu podia sentir. Ótimo, fiz merda ao colocar Yasmine no lugar dela na frente de todos, agora eles vão pensar que eu sou uma vagabunda chata porque a proposta dela foi tão inocente e eu não precisava ter feito isso. Vai se foder.
É que tem uma coisa chamada "senso" e ele deve ser usado quando um casal está conversando entre si e dá pra perceber que seus planos são exclusivos. Mas é uma pena que nem todo mundo tenha um que funcione.
[...]
— Foi dureza— Vince começa de repente, quando estamos chegando perto de minha casa.— o que você falou para Yasmine.
— É, claro.— reviro os olhos, eu sei que fui grossa, entendi, coitadinha dela.— Mas eu te ajudei, não ajudei? Agora você pode ir lá pedir desculpas para ela por mim.— sacudo a mão como que para dispensar uma mosca irritante.
— Não fala assim.— Vince balança a cabeça do meu lado. Caminhamos de braços dados. Fomos para o colégio separados e voltamos juntos, nós somos assim.
— Eu sei que fui escrota, mas ela se meteu onde não foi chamada.
— Sim, ela foi um pouco intrometida ali.— ele sopra uma risada— Meu Deus. Eu tive que me segurar muito para não rir naquela hora.
Uno as sobrancelhas e o olho, confusa.
— Não está chateado por eu ter sido rude com sua namoradinha?— pergunto. Vince faz careta.
— Ela não é minha namorada.
— Mas você quer que seja, não quer?
— Não. Nunca quis.— ele admite. Cerro os olhos para o moreno dos cabelos rebeldes.
— Ah...— fico um pouco surpresa— pensei que gostasse dela.
— E eu gosto, sei lá, mais ou menos, mas não... desse jeito. Não sou apaixonado por ela.
— Então por quem mais você é apaixonado, Vincent?— sorrio, apertando seu braço e me colando mais um pouco nele, divertida.— Vai me dizer que esse coração é só meu, amor?
Ele ri.
— Pode ter certeza que uma partezinha dele é.
— Uma partezinha?— faço bico, fazendo-me de ofendida pelo diminutivo.— Não todo ele?
— Nah, eu até que gosto um pouco de você, mas também não é desse jeito.— ele diz e meu queixo cai.
— Se não é devoto à mim, a quem mais seria?
— Jennifer Aniston, querida— ele coloca a mão livre no peito depois a aponta para o céu— Minha musa Jennifer Aniston.— ele sacode a mão como se estivesse falando de um deus. Tá, eu já falei algo parecido sobre o Robert Pattinson, mas isso a gente ignora. Reviro os olhos.
— A gente é quase a mesma pessoa. Eu também sou loira de olhos azuis.— me gabo e pisco angelicalmente colocando a mão livre no queixo como se ele fosse tirar uma foto minha. Vince revira os olhos, mas está sorrindo. Chegamos na cerca de minha casa e Kisha já começou a latir.
— Podem até se parecer um pouco nesse branco do olho— ele debocha e nem se abala quando eu lhe dou um tapa no ombro, rindo.— mas eu não posso te chamar de sugar mommy.
— Ah, meu Deus! Você quer se casar com a MILF!
— E com o dinheiro dela.— ele admite sem nenhum remorso por estar bancando o aproveitador, coisa esta que nós dois sabemos que ele não é. Eu fico o julgando com o olhar enquanto entramos no meu jardim e minha pastor alemão nos recebe dando altos pulos. Agora eu só quero me atirar na minha cama e ficar por lá, a senhora Montgomery pegou leve no treino hoje, mas eu estou muito cansada por algum motivo.— Ah, nem me venha com essa, se Robert aparecesse aqui neste instante, você o recusaria?
— Depende da proposta que ele faria.— faço-me de difícil. Ah tá que eu precisaria sequer pensar, ah tá!
— Hmm, vejamos— eu e Vince nos soltamos para que eu possa tirar a mochila das costas para pegar a chave e abrir a porta.— E se ele estivesse em apuros e, sei lá, pedisse para você fingir que está namorando com ele?— ele provoca e quando o olho torto, ele dá um sorrisinho de canto, bastante desaforado.
— Então eu recusaria, é óbvio, que coisa mais problemática.— finjo seriedade, mas é só pisarmos no hall que começamos a rir.
— Eu vou pegar alguma coisa para comer.— ele larga a mochila ao pé da escada e saltita na direção da cozinha, sorrio e balanço a cabeça. Eu não tenho que falar para ele que ele pode se sentir em casa.
— Então...— eu largo minha mochila ao lado da sua e o sigo com Kisha pulando na minha perna.— Eu estava pensando em irmos nessa festa do colégio, aí podemos tomar umas vestidos como os homens de preto.— comento, dando um pulo para me sentar na ilha de um jeito que meu pai jamais permitiria se visse.
— Uhh, dessa ideia eu gosto!— Vince aprova, fuxicando minha geladeira.
— Eu sou o agente J!— nós falamos ao mesmo tempo— Ah, não, Vince! Eu tenho que ser o Will Smith, ele é muito mais legal, você combina com o ranzinza.
— Não, não, você não ter o carisma necessário para ser o Will Smith, minha castor.— ele se volta para mim com uma garrafa de licor doce na mão. Franzo a testa, unindo as sobrancelhas.
— O que você está tramando?— pergunto, me referindo ao licor.
Vincent dá de ombros.
— Não tinha mais nada interessante na geladeira, então vamos beber.... ou você vai arregar?— ele provoca me lançando um olhar debochado, reviro os olhos e o sigo para fora da cozinha, nós nos jogamos no sofá logo em seguida.
— Deve estar muito entediado para beber no começo da semana.
— Digamos que é uma comemoração por termos voltado a nos falar.— ele diz e eu deito a cabeça no seu colo, jogando os pés para o apoio de braço do sofá.
— Nós ficamos o que? Pouco mais que um dia e algumas horas sem nos falarmos.
— Pareceu uma eternidade, não é?
— Jura? Eu nem vi o tempo passando...— sacudo os ombros como se não me importasse e faço bico, Vince revira os olhos, mas eu que não vou contar para ele que durante essa noite que passamos brigados, eu fiquei encarando o Pato até cair no sono sem parar de pensar no nosso primeiro encontro, onde ele ganhou a pelúcia para mim.
Ele abre o licor, joga a tampa na mesa de centro e vira a garrafa para dar um gole grande. Vince não gosta de beber, alega ele, mas sempre que tem uma garrafa nas mãos, pode tomar a mais forte das bebidas sem fazer careta. Ele solta um "ah" como se estivesse tomando água e umedece os lábios.
— Perfeito, não acha?— ele me olha de cima com os olhos amendoados brilhantes e cerrados de um jeito muito sexy.
— É.— eu sorrio.
— Eu estou falando da bebida.— ele levanta as sobrancelhas e eu me sento, ajeitando-me do seu lado.
— Eu também, seu idiota, passa para cá.
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