Namoradinho de step
Meu lábio latejava e eu praticamente arranquei o gelo da mão de Vince quando ele voltou da cozinha. O Cameron se jogou no sofá do meu lado e eu esperneei como uma criança mimada.
- Meu Deus, isso está ardendo para um caralho!- resmunguei colocando o gelo contra meu corte que parou de sangrar ainda agora.
- Quer um beijo para sarar?- Vince sugere com o braço sobre o meu ombro, dou um tapa na sua coxa.
- Não me faça rir, Vincent!
- Engraçado que eu não estava fazendo uma piada...- ele faz bico e eu o lanço um olhar torto, no entanto, me repreendo porque se ficar encarando Vince demais eu vou querer rir. Ele tem esse efeito sobre mim.
- Como foi explicar isso para o meu pai?!- questiono, indignada, não tem como esconder um lábio cortado e inchado com maquiagem.
- Você não quer contar que Lorenzo te bateu? Porque olha, vai ser um grande prazer para mim. Eu adoraria ver seu pai encarnando Liam Neeson e mostrando suas habilidades específicas de cirurgião no Lorenzo.
- Vince, shh!- eu cubro sua boca porque ele não pode vir com suas gracinhas que me arrancam muitas risadas agora. Vince passa a língua na palma da minha mão fazendo com que meu corpo se agite de jeitos desnecessários e eu o estapeio, secando minha mão na sua blusa-Que nojo, garoto! E eu estou falando sério! Que desculpa eu dou para o meu pai? Ele não pode saber disso, vai matar Lorenzo!
- Eu realmente não vejo os contras...
- Se meu pai matar Lorenzo, ele vai preso e adivinhe só? Sem mais sanduíches para você.
- Ah, não, não foi isso que eu pedi.- Vince balança a cabeça, contrariado- Está bem, diga que... diga que está se adiantando para o Halloween!
- Santo Deus, garoto, você é péssimo nisso.- resmungo, irritadiça com a dor na boca. Meus dentes parecem moles, mas pelo que vimos nenhum foi quebrado o que já é uma vitória para mim.
- Não acho que importe a desculpa que você der, Ali, Oliver vai querer arrancar as bolas do Lorenzo por ele ter te batido.
- Ele não me bateu de propósito- revirei os olhos- Falando assim parece que ele queria me espancar, para com isso! Não estava nos planos dele.
- Não defende esse otário.- Vincent se afasta de mim e nós nos olhamos. Vince voltou a sua mascara séria de mais cedo- Ele podia ter te machucado feio, Alice, por isso eu apoio o que quer que seu pai faça com ele porque ele certamente vai poder botar medo naquele imbecil de um jeito que eu não posso. Foi uma briga totalmente desnecessária. Lorenzo é um babaca totalmente desnecessário.
- Eu não estou o defendendo, só estou admitindo que a culpa foi minha, eu que me meti sem pensar nas consequências.
- E quando é que você pensa, Alice?- Vincent retruca e nós nos afundamos no silêncio, nos encarando. O jeito que ele falou me magoou e eu sei que nem preciso admitir em voz alta, ele me conhece bem o suficiente para ler nas entrelinhas. O moreno baixa o olhar e coça o queixo- Desculpa- ele resmunga a contragosto e coça a garganta, endireitando a postura- só estou chateado. Não gosto de te ver machucada, não estamos acostumados com essa troca de papeis, estamos?
Não gosto de lembrar desses outros tempos.
- Não fala assim de novo.- peço sem tirar os olhos do seu rosto ao passo que ele não consegue me encarar de volta.
- Desculpa.- Vince repete.
- Eu...- respiro fundo- Eu vou falar que alguém abriu a porta de uma vez quando eu ia entrar na aula atrasada. A porta pode ter algum truquezinho que obrigou o outro aluno aleatório a abri-la com força, não importa, mas eu não vou falar do Lorenzo e espero que você não fale também.- o cutuquei e ele revirou os olhos.
- Você quem sabe, se faz tanta questão.- resmungou com aspereza e os latidos de Kisha ecoaram a campainha que foi tocada no instante seguinte. Vincent se levantou e foi em direção da porta, não fiz questão de ir junto já que ele conhece quem pode entrar aqui em casa quando meu pai não está, ou seja, ninguém fora ele mesmo. Vincent sempre se fez a exceção.
Não ouvi as vozes graças aos latidos de Kisha, mas não gritei para que ela se calasse para não deixar meu lábio mais dolorido. Afastei o pano com gelo da boca para ver se estava sangrando e ao me dar conta de que a ferida estava seca, voltei a apertar o gelo contra meu lábio pulsante. Poucos minutos depois, Vince estava de volta com uns papeis amassados em mãos. Franzi a testa.
- Quem era?- perguntei. Vincent jogou os papeis na mesa de centro e eu me inclinei vendo as marcas de sapatos no mesmo, identificando o teste de mais cedo.
- Seu namoradinho de step, o japinha. Só veio deixar isso para você e pedir desculpas porque pelo menos tem o senso de identificar que provocou a briga.
- Ele é coreano.- corrijo voltando a me acomodar contra as confortáveis almofadas do sofá.
- Sabe que eu estou cagando pra isso.
- E ele não é meu namoradinho de step.- eu o olho torto e Vince sacode os ombros.
- Acho que você esqueceu de falar isso para ele.- Vince umedece os lábios e fica encarando os papeis amassados. Ele parece de péssimo humor- Ele ficou mesmo frustrado quando eu atendi a porta.- Vince olha para mim com a cabeça tombada, os cachos caídos para só um lado e um olhar afiado, um sorriso debochado.
- O que há de errado, Vincent?- afasto o pano do rosto e deixo as mãos caírem no meu colo.
Ele pisca inocentemente.
- Do que está falando?- e o clima entre nós ficou desconfortável quando eu não soube responder o que estava sentindo. Comprimi os lábios e baixei o olhar.
Não foi apenas desconfortável como estranho. Vince e eu nunca ficamos assim.
[...]
Quando meu pai chegou em casa, eu agi como se nada tivesse acontecido. Estava na cozinha e Vincent acabara de sair, alegando ter que terminar a maldita redação de inglês que eu mesma já o havia obrigado a estudar várias vezes.
- Boa noite, pai.- cumprimento, jogando o molho de tomate no macarrão.
- Boa noite, lobinha.- meu pai entrou na cozinha exalando cansaço, ainda com a blusa azul do hospital, ele largou a mochila preta na banqueta e me olhou brevemente antes de se virar para a geladeira.
Mas aí ele parou e olhou de novo para mim.
- Ei? O que aconteceu aí?- ele franze a testa e eu forço um sorriso amarelo.
- Algum ser abençoado bateu com a porta na minha cara.- arregalo os olhos falando com a maior calma que posso. Ele me mede e abre a geladeira.
- Não vai precisar de ponto. Esse ser pelo menos pediu desculpas?- ele apanha um suco de laranja industrializado da porta da geladeira e bebe direto da garrafa embora eu viva o censurando por isso. O lanço um olhar torto e meu pai balança a cabeça cortando minha onda. As vezes ele não está com energias para fingir que eu tenho poder sobre o que ele faz ou deixa de fazer.
- Sim. Ele pediu.- confirmo soltando um suspiro longo e jogando a embalagem do molho de tomate na lixeira.
- E isso é?- ele cutuca o meu teste detonado no balcão e eu sorrio novamente, com mais naturalidade ao me lembrar de Dean.
- O teste surpresa de hoje. Mandei bem.
- Mandou mesmo.- meu pai me olha e sorri orgulhoso- Mas por que está parecendo que você o tirou do lixo?- ele ergue a folha que um dia foi branca.
- Deixei cair quando levei a portada na cara, levou um tempinho até que outro ser abençoado me desse uma mão e não um pé.- faço careta e ele sopra uma risada devolvendo o teste para a bancada. Papai se aproximou de mim, beijo o topo da minha cabeça e eu ignorei a culpa por estar mentindo na cara dura para ele, mas pela revisada que eu dei na prova de Dean enquanto ele fazia a minha, eu poderia ter me dado bem no teste de qualquer jeito. Eu vou sim fingir que foi um A+ merecido e nada imoral.
- Vou pegar um cicatrizante para você.- ele fala, saindo da cozinha com o suco de laranja e eu solto um longo suspiro, apoiando as duas mãos na bancada.
Minha mente volta para minha conversa com Vincent de mais cedo, nossa quase primeira discussão. Não tenho certeza do que aconteceu, mas sei que vou perder o sono tentando entender o que se passou. Ele agiu tão estranho...
Meu celular vibra em meu bolso, desviando minha atenção para o momento real. Pego o aparelho e vejo que é uma mensagem de um número desconhecido. "Ei, tudo bem com você?" ela dizia. Franzi a testa e desbloqueei o celular.
Saltzman: sim...
Saltzman: quem é?
Número desconhecido: aqui é o Dean, Dean Seok
Mordo o lábio e me arrependo no instante seguinte. Au. Bem, eu só posso apostar em como isso vai ficar interessante.
[...]
Nota da autora:
E aí, vadia, está achando o que? Já leu alguma outra história minha? Se não, está esperando o que?
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