Filhinha de papai
ALICE SALTZMAN
Bato fortemente contra a porta da garagem dos Smith com a certeza de que ele estaria ali. Ele sempre fica aqui depois da aula, seu carro está parado na frente da casa e as luzes dos postes já estão acesas prontas para iluminar a noite que está chegando.
— Eu sei que está aí, Lorenzo!— eu grito com raiva, porém me contenho, respirando fundo e cerrando os punhos. Apesar dos pais dele estarem praticamente sempre ausentes já que trabalham com viagens internacionais, eu não posso prever quando eles estarão em casa e a última coisa que eu preciso agora é de atenção. Quando estou prestes a esmurrar a garagem de novo, a porta começa a subir com o barulho elétrico cortando o silêncio. Deparo-me com Lorenzo bem na minha frente, segurando o controle do portão com um sorriso arrogante no rosto, como se estivéssemos em meio a uma partida muito interessante de xadrez e ele estivesse ganhando. Ele veste uma camiseta branca e calças jeans claras com rasgos nos joelhos. Está descalça e o forte cheiro de narguilé penetra minhas narinas, doce demais.
— Olá, Alice!— a voz de Trevor atraiu minha atenção para trás de Lorenzo. A garagem era uma bagunça, uma cama de solteiro em uma parede e do outro lado um sofá verde muito velho que merece ser queimado como oferenda aos deuses. Olhei para o rosto de cada um dos seus amigos que sorriam e acenavam para mim como se não tivessem dado em cima de mim pelas costas de Lorenzo, ansiosos para me oferecer um consolo. Se eu fosse um vagabunda muito mais vingativa e destemida, provavelmente teria transado com cada um deles, um para cada dia da semana, mas o problema é que eu prezo pela minha saúde como uma boa filha de médico. Não é atoa que esses idiotas andam com Lorenzo, pegam todas as garotas que quiserem quando quiserem porque eles são muito bonitos e não se importam com nada — o que é como um enorme imã para boceta nesse lugar.
Não me surpreenderia se um deles aparecesse com AIDS qualquer dia.
— Onde está minha bicicleta, Lorenzo?— perguntei ignorando os rapazes que riram maliciosamente. Lorenzo me encara de um jeito perverso como se fosse tirar minha roupa sem ter que me tocar.
— Do que é que está falando, querida?— ele se faz de desentendido.
— Devolva a porra da minha bicicleta.— sibilo e ele ri olhando para os amigos por cima do ombro como se mostrasse algo muito divertido ao apontar para mim.
— Ela não é adorável, a minha garota?— ele diz e volta a me encarar.
— Eu não sou sua garota, Lorenzo.— eu estou me cansando de repetir isso— Você é um idiota e poderia ter machucado Vincent feio hoje!— eu o empurro sem conseguir conter minha raiva pela imprudência que cometeram, se Vince tivesse batido a cabeça no meio fio poderia até morrer!— Você tem algum retardo? Poderia tê-lo matado com aquela brincadeirinha!— elevo o tom de voz com o sangue fervendo.
— Não é minha culpa se você me troca por uma garotinha feita de vidro.— ele se inclina na minha direção com audácia e sussurra— Já parou para pensar que ele que é fraco demais? Não tem o menor reflexo...
Eu dou um tapa forte na cara de Lorenzo, fazendo-o virar o rosto e sua bochecha ficou vermelha quase que instantaneamente. Ele passou a língua na bochecha olhando para o lado enquanto seus amiguinhos riam excitados como se eu estivesse o provocando. Lorenzo volta a me olhar, os olhos verdes escuros cintilando.
— Ah, isso que eu chamo de reflexo.— digo secamente.
— Se fizer isso de novo...— ele sussurra e eu dou outro tapa na sua outra face porque ele definitivamente a estava oferecendo.
— Perdão, eu te interrompi?— minha voz pesa de sarcasmo e o olhar de Lorenzo se torna mais aniquilador. Seus amigos riem mais alto ainda, chapados, porém se interrompem e começam a tossir com o narguilé. Lorenzo ergue o olhar por cima da minha cabeça e logo torna a baixá-lo, tomando logo uma posa mais submissa. Olho para trás me deparando com meu pai. Pedi para que ele esperasse no carro e buzinasse quando quisesse me chamar, mas deve ter previsto que os ânimos subiram muito rápido.
Eles acharam mesmo que eu viria sozinha? Meu pai amarra a cara e cruza os braços tomando uma pose autoritária, com um olhar seu, é possível de se imaginar que ele poderia matar todos os garotos ali antes de começar a suar. Ele nunca concordaria em atazanar rapazes por causa de uma bicicleta, até mesmo sugeriu comprar uma nova para mim, no entanto, quando ouviu que eles atacaram Vincent, abriu uma exceção. Sorri convencida e me voltei novamente para Lorenzo que recuou dois passos para longe de mim.
— Onde estávamos?— pergunto cinicamente. Lorenzo umedece os lábios e estala os dedos fazendo com que Josh se levantasse e puxasse minha bicicleta de trás do sofá, tirando a manta de cima dela e a trazendo até mim. Sorri para o loiro que é péssimo em história e que por um acaso logo no começo desta história me disse na minha dm que eu poderia contar com ele se quisesse desabafar com alguém após o vacilo do seu amigo. Josh nem olha na minha cara agora, eu me sinto ofendida!— Ah, muitíssimo obrigada.— digo com ironia examinando minha bike para ter certeza que ela não está com defeito algum então a entrego para meu pai e ele a leva para o seu carro, indo enfiá-la no porta malas. Enfio a mão debaixo da blusa tirando de minha cintura Robert, meu canivete, e o abro distraidamente— O que aconteceu hoje não é algo que deve se repetir, você não acha, querido?— comento colocando o indicador contra a ponta da lâmina afiada— Vince agora está em casa sentindo uma dor de cabeça terrível e isso não é nada justo, não acha?
— O que eu não acho nada justo é você trazer seu papai com você.— Lorenzo retruca acidamente, é bom vê-lo de mãos atadas porque ele não é idiota de fazer qualquer coisa contra mim sabendo que eu estou contando tudo para meu pai. Eu sorrio.
— Pelo menos o meu se importa com o que eu faço, né?— jogo a bola de volta com muita alegria e ele sorri com amargura, eu sei que toquei na sua ferida aberta com a mão melada de pimenta e sal grosso. Seus amigos nem reagiram, de tão sensível que esse assunto é para Lorenzo. Se um olhar matasse, eu morreria agora mesmo. Acho que Lorenzo não acha tão divertido brincar comigo quando eu também baixo de nível.
— Você...— ele se interrompe quando meu pai retorna com a sua bola — aquela mesma que cortou a boca de Vincent, o fazendo sangrar hoje mais cedo — e a coloca em minhas mãos.
— Você não foi gentil com alguém com quem eu me importo muito mesmo.— falo colocando o canivete contra a bola com certa força por causa de sua rigidez. Apenas quando consegui perfurar a bola e enfiar a lâmina até o fundo, foi quando eu a estendi na direção de Lorenzo. Ele cerra os dentes marcando sua mandíbula tão sexy e segura a bola com firmeza— Não devia ficar jogando essas coisas por aí.— recomendei colocando minha mão sobre a sua para ter apoio na hora de tirar meu canivete. Seus dedos estão quentes como sempre foram.
Fechei o canivete e recuei primeiro já que meu pai não iria na frente nem fodendo sem mim. Ele ficou muito zangado por terem machucado Vincent, nós dois somos extremamente protetores quando se trata dele.
— Estamos quites, não estamos?— gritei para Lorenzo à certa distância, mas não esperei ele responder e lhe dei as costas, indo embora dali com meu pai bufando de estresse e passando a mão na minha cabeça.
Eu não ouso nem por um segundo ficar mais tranquila agora que me vinguei por Vincent, muito pelo contrário, sei que cutuquei uma colmeia de vespas e não vai demorar até uma delas me picar.
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