Aproveite, pode sentar

VINCENT CAMERON

Eu pensei que ela ia me evitar por mais tempo, mas quando ela sorriu para mim ao caminhar na minha direção quando o sinal do almoço tocou, fiquei tranquilo sabendo que ficaria tudo bem.

As coisas tem estado estranhas entre nós há uns dois dias desde nosso último encontro, momento este que não sai da minha cabeça de jeito nenhum.

Foi... diferente, muito gostoso e, bem, talvez um pouco inapropriado. Não consigo olhar para ela agora sem pensar em seu corpo tão quente contra o meu, nos seus beijos e no seu rebolar. Ela pegou pesado e eu fico inquieto só de imaginar até onde poderíamos ter ido se não fosse por aquela maldita chuva. É incrível a certeza que eu tenho de que poderia ir longe sem nem hesitar, eu nunca tinha cogitado tanto transar com Alice, até porque ela é uma figura bastante intocável na minha mente, mas esse final de semana... ah, eu pude senti-la perfeitamente na ponta dos dedos antes que ela pudesse escapar.

Não falamos nada quando saímos do terraço às pressas, nem depois, um mal conseguindo olhar na direção do outro. Foi um momento intenso que eu não acho que serei capaz de superar tão cedo. Depois que chegamos em nossas respectivas casas, na hora de mandar mensagem eu desisti sem nem saber o que diria, vi que ela também pois os três pontinhos sumiram e não apareceram de novo. Eu sei, eu fiquei olhando. No dia seguinte meio que houve um consenso de que não falaríamos do que aconteceu e nós seguimos com nossas vidas.

Está complicado olhar para ela de um jeito relativamente comum quando meu corpo tem reações diferentes.

Estou sentado com Yasmine e outros amigos artistas dela, conversava com a garota sobre qualquer coisa até meus olhos focarem por cima de seu ombro. Alice Saltzman saía do refeitório com uma bandeja em mãos, os cabelos louros brilharam ao entrar em contato com o sol e ela estava absolutamente linda.

Vestindo um tomara que caia preto e uma saia jeans justa, ela praticamente saltitava na minha direção. Sorri, mais como um reflexo do que qualquer coisa e Yasmine parou de falar, olhando por cima do seu ombro.

— Ah, oi, bom dia, Ali.— cumprimentou ela quando a amiga estava próxima o suficiente. Alice colocou sua bandeja entre nós e sorriu para a cacheada com educação, cravando os olhos em mim.

— Olá, Yasmine. Vince.— ela subitamente se senta no meu colo e eu fico tenso, surpreso, confuso e muito, muito entusiasmado.

Olho ao redor, nós estamos no pátio porque dentro do refeitório está um pouco abafado. Normalmente tomaríamos cuidado com essa posição, mas é muito raro qualquer professor ou inspetor vir ao pátio, fazendo com que muitos casais se sintam livres para se agarrar como se o mundo estivesse acabando.

Volto a encarar Alice tendo alguma dificuldade em disfarçar a surpresa, mas ela fixa os olhos em Yasmine e rouba algumas de minhas batatas.

Eu não esperava tê-la em meu colo de novo nem tão cedo, mas Alice está tão relaxada que é como se estivesse perfeitamente habituados a isso.

Engulo o nó em minha garganta e relaxo sob ela, mas não muito porque se não partes do meu corpo que não devem se erguer, vão despertar com toda sua glória e não é um risco que eu posso correr na hora do almoço.

Solto o ar que nem sabia que estava prendendo e abraço sua cintura enchendo a boca de besteira enquanto sua simples presença enche os meus pensamentos de besteira.

Não pensa merda, não pensa merda, não pensa merda. Não pensa em absolutamente nada. Ah, Deus, isso vai ser impossível.

— Hein, Vince?— os olhos azuis desta maldita encontram os meus e eu pisco rapidamente, eu perdi alguma coisa enquanto lutava bravamente para resistir à tentação do diabo? Parece que sim.

Se ela der qualquer ajeitadinha no meu colo eu não me responsabilizo pelos meus atos! Eu juro por Deus que não!

— O que?— pergunto e ela ri como se pudesse ler meus pensamentos, criatura nefasta.

— Garoto desligado. Eu perguntei sobre o que falavam.— ela esclarece. Como ela pode estar tão normal? Sinto-me ligado no 220, mas não é só por causa da minha busca angustiante pelo autocontrole, é também por causa da contrariedade em meus pensamentos.

Parte de mim acha perfeitamente normal essa afobação e desejo pelo sexo depois do que rolou aquela noite, mas a outra parte só fica gritando: É DA ALICE QUE ESTAMOS FALANDO, SEU TARADO!

É complicado. Nós topamos nos beijar mesmo fora de encenação porque surpreendentemente damos certo juntos, mas o nosso último beijo desencadeou em mim algo um pouco maior do que o esperado. Um tesão maior do que o esperado.

Minha boca fica seca e eu desvio o olhar para Yasmine, em busca de socorro. Meu raciocínio se desligou a partir do momento que Alice virou a bunda para mim.

Não pensa!

— É... bem, nós...— balbucio que nem um idiota. Yasmine cerra os olhos para mim, provavelmente intrigada com meu jeito abobalhado. Eu deveria estar normal porque Alice já deve ter sentado no meu colo milhares de vezes, mas não estou no meu melhor momento para atuar como sempre.

— Música. Falávamos de música.— ela me recorda e eu coço a testa, sorrindo sem jeito, uma mão pendurada no quadril de Alice. É como se eu não fosse capaz de tirá-la dali, fui colado com super cola.

Encaixei a mão em sua cintura e a apertei tentando conter o nervosismo, mas de nada ajudou quando Alice riu gostosamente e se encolheu contra mim.

— Ah, cócegas!— ela arfou, baixando minha mão de volta para seu quadril.

Ela só pode estar me tirando. Escondi a cabeça atrás de seu ombro e continuei comendo minhas batatas nas suas costas, tentando esvaziar a mente a todo custo. Missão impossível.

— Falando em música, Vince toca violão, sabia, Yas?— ela comenta, animada e orgulhosa— Ele toca muito bem.

— Não sabia, ele nunca disse nada a respeito.— Yasmine responde.

— Como teria tempo? Vocês conversam só um pouco aqui na escola, né?— Alice retruca, e se eu não soubesse que ela acompanha tudo da minha vida, nunca desconfiaria do quanto ela está sendo dissimulada aqui.

Ah, acho que estou entendendo...

Ergo o rosto novamente e apoio o queixo em seu ombro. Alice me olha de relance e me lança uma piscadela.

Ela está testando tanto eu quanto Yasmine agora.

— Suco de pêssego?— ela oferece a caixinha com o canudinho apontado para mim. Assinto e Alice o aproxima de minha boca, concentrando-se em Yasmine.

— É...— Yasmine resmunga e ri sem jeito, claramente tentando desconversar— Por que não traz o violão qualquer dia desses? Para tocar durante o intervalo.

Estou um pouco distraído com os mimos de Alice colocando as coisas na minha boca para me dar conta logo de cara que Yasmine está falando comigo. Mastigo o sanduíche mais rápido e umedeço os lábios para responder.

Porque é ridículo e desnecessário, coisa que só gente que precisa muito de atenção faz só para mostrar que é bom em uma coisa, pensei, mas é óbvio que não falei nada disso porque estou em uma mesa cheia de pessoas que claramente curtem esse tipo de rolê.

— Ah, não...— balanço a cabeça, abraçado em Alice como se ela fosse uma enorme pelúcia.

— Por que não? Seria legal, Vince.— a Collins diz.

— É, Vince, seria legal.— Alice emenda deixando escapar um pouco de acidez no tom e no sorriso debochado. Ela me conhece o suficiente para saber o que penso a respeito disso. A fulmino com o olhar por causa da provocação gratuita.

— Porque eu odeio... a atenção.— eu diria as pessoas, mas me corrijo no último minuto. Nem todo mundo tem que saber que eu odeio gente. Tenho crise de pânico só de me imaginar fazendo qualquer coisa para atrair a atenção de uma multidão de propósito.

— Então, pelo visto, as músicas que você toca vão ser só para mim.— Alice sorri maliciosamente e me olha uma outra vez, ela passa o polegar no canto da minha boca recolhendo um pouco de maionese e chupa o dedo com os olhos fixos nos meus.

Ah, Deus.

[...]

— Ei! Ali, espera aí! O que foi aquilo?

— Aquilo o que?— ela me pergunta inocentemente, lançando-me um olhar por cima do ombro. Corri para alcança-la.

— Você sabe do que estou falando.

Percebi que minha constatação anterior estava errada, pensei que Alice e eu estávamos bem de novo, mas no final das aulas, a encontro metros a frente, andando depressa em direção do ginásio para seu treino. Fugindo, é, isso ficou bastante evidente.

Ela sempre me espera, mas não fez isso hoje.

— Eu estava fazendo um teste.— ela dá de ombros como quem não quer nada e olha para os lados para ter certeza de que estamos a sós.

— Eu percebi. Quem você estava testando é o que está me intrigando.

Alice para de andar e se vira para mim com os lábios comprimidos.

— Ela, é claro.— ela resmunga, parece sutilmente menos confiante do que há poucas horas. Hm.

— Você foi bastante... territorialista, não acha?— encolho os ombros e Alice revira os olhos colocando um sorriso azedo no rosto.

— Ah, me desculpe, sinto muito mesmo se atrapalhei seu lance com ela, vou tentar não repetir o erro de atrapalhar os pombinhos.— Alice diz, sarcástica. Franzo o cenho.

— Eu não estou falando isso...

— Vince, eu tenho que ir treinar agora.— ela me interrompeu, foi até a porta do ginásio e a abriu, eu fiquei parado no lugar, só me recordando o que fizemos metros acima e do contraste de momentos que estamos nos encontrando. Ela me olha, segurando a porta.

É, nós estamos estranhos. Tudo parece fora do lugar.

— Você não vai entrar?— ela pergunta.

— Você quer que eu entre?— rebato. Alice baixa a cabeça por um momento e seu semblante muda, ela fica mais apreensiva.

— É claro que quero.— ela olha para o lado aí olha nos meus olhos.

Espero mesmo que isso passe logo. Respiro fundo e entro.

[...]

Nota da autora:

Olá, vadias, eu venho avisar que nesse mês as atualizações serão precárias se não quase nulas porque eu estou viajando e não estou com tempo para escrever nada. Beijos, esperem por mim.

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