Capítulo 6 - Vigilância Oculta

Briana Lopes《
》Maicon Randy 《
》Marina Randy《

O sol da tarde lançava tons dourados sobre a fachada do Bar, onde Briana dedicava-se carinhosamente às suas plantas. O aroma das flores pairava no ar. Ao longe, ela vislumbra Maicon se aproximando com passos rápidos, e sua expressão carregada de preocupação.

Ao encontrarem-se, Briana, com um sorriso radiante, saúda-o com entusiasmo:

— Enfim você chegou!  Marina já acordou. - O informou com satisfação. 

— Onde ela está? - Pergunta com urgência em sua voz. 

— No quarto, fazendo um lanchinho que preparei para ela! - Responde sorrindo e limpando as mãos sujas no avental florido que usava. 

— Ela pode estar correndo perigo! - Alerta, apressado e inquieto abrindo a porta do bar tencionando entrar. A mulher confusa o detém com um tom apreensivo: 

— Ei, espera aí! O que está pegando em?! 

 Com um suspiro tenso, ele começa a explicar:

— Enquanto caminhava na praia, tive algumas lembranças da missão na fábrica. Ela pode estar sendo monitorada! 

O semblante alegre de Briana desvanece, substituído por uma expressão de apreensão genuína:

— Me deixou assustada agora! 

— Venha! - Ele a chama, entrando para o interior do bar. Intrigada e preocupada, Briana segue-o sem hesitar. 

No apartamento aos fundos,  as leves batidas de Maicon na porta ecoam com urgência.

_ Filha, sou eu, Maicon. Pode abrir a porta para mim?! 

Marina percebe a pressa na voz do pai e responde prontamente:

‐ Entre. A porta só está encostada!

O pai entra, fita a filha, e com as mãos nos quadris, varre  o quarto com olhar preocupado. Marina, ao notar a ansiedade dele, questiona apoiada na cabeceira da cama onde um lindo ursinho rosa de pelúcia, repousava ao seu lado:

__ O que está havendo?

Briana entra nesse momento.

__ Recordei de algo do dia do resgate de sua mãe. Eles monitoravam seus passos com câmeras escondidas na nossa antiga casa. Talvez continuam fazendo isso aqui também. 

- Minha nossa! E como saberemos?!
- A mulher indaga. 

— Só há uma maneira de descobrir…
- o homem fala começando a verificar os livros em uma pequena prateleira na parede oposta à cama, folheando-os e jogando-os no chão. Não havia sinal de vigilância ali, então se volta para os objetos da penteadeira, examinando cada detalhe. Sem sucesso, ele arranca a tomada ao lado da porta com brutalidade, deixando expostos os fios de energia. 

-- O que está fazendo?! Maicon! - Briana se alarma  com a força do gesto.

__ As câmeras existiam para um propósito, transmitir informações de Marina para Helena e tranquilizá-la, enquanto ficava em posse deles.  Se encontrarmos câmeras por aqui, é um sinal claro de que ela está viva.

A moça, aprova a ideia. E um fio de esperança brota em seu coração. Briana não se agrada e se mostra indiferente aos dois. 

Determinada a ajudar o pai, Marina verifica o rádio-relógio ao seu lado sobre o criado-mudo.

Maicon explora atrás do espelho e apalpa os portas retratos e os posters dos artistas na parede do quarto, buscando sinais de vigilância.

- Talvez isso seja paranoia de sua cabeça, Maicon. - Briana diz, cruzando os braços à frente do peito.

- Juro que não é. - Maicon afirma com convicção.

— Parece que não há nada aqui. - Marina comenta ao soltar o relógio, levantando-se para arrancar a cobertura do abajur. Com o movimento, o ursinho rosa de pelúcia vai para o chão. 

__ Nada aqui também. - Diz, expressando decepção com as duas partes do objeto em mãos. 

__ Outra paranoica! - Briana comenta resignada com a situação, ao ver o empenho da filha na busca. Maicon toma o abajur das mãos da moça e o joga ao chão, fragmentando-o em mil pedaços.

__ Maicon! Pode parar, por favor?! Olha o estado que está ficando o quarto! - A mulher exclama ao ver o comportamento desvairado do homem. 

__ Deixa ele, Briana. Depois eu arrumo toda a bagunça. Eu prometo! - Marina sai em defesa do pai, agradando-se com a chance de sua mãe biológica estar viva. A tensão no quarto é palpável, refletindo a urgência e incerteza do momento. 

Marina direciona-se até a outra prateleira próxima a janela de vidro do quarto e inicia sua  busca por ali. Examina minuciosamente os objetos. Dentre outras coisas havia ali: caixas decorativas, algumas plantas pequenas, revistas e uma coleção de troféus e medalhas que adornavam a prateleira. 

Maicon observa a empolgação da garota, mas está prestes a desistir. Agora mais calmo, ele para pra refletir:

" Se realmente houvesse as tais câmeras, quem as teria instalado ali?!"  

Apoia uma das mãos nos quadris passando a outra nos cabelos com uma expressão de frustração. Queria muito marcar um ponto com a filha com a confirmação que teimava em se esquivar. 

— Confere o ventilador de teto, pai! - Marina, segurando um dos troféus, aponta com convicção para o objeto acima de sua cama.

— Nada disso! Não vou permitir que destruam nem mais um objeto nesse quarto! Espero que o Maicon Randy não desobedeça minhas ordens! - Briana intervém com autoridade, lançando um olhar firme na direção do homem do outro lado da cama. 

— Mas, Briana, não é apenas uma sinalização de que mamãe está viva. Alguém pode estar nos monitorando. Podemos ser raptadas para o trabalho escravo, assim como ela foi! - argumenta Marina, misturando urgência e medo em suas palavras.

Briana, impassível, decide se retirar, caminhando a passos rápidos em direção à porta. Com a mão na maçaneta, volta-se para eles com seriedade:

— Façam o que bem entenderem, eu tenho mais o que fazer! Quero esse quarto arrumado quando terminarem a brincadeira! - Bate a porta com uma violência desproporcional, deixando o quarto em um silêncio tenso.

Pai e filha trocam olhares cúmplices diante da explosão da mulher. Maicon sabia que, por trás da firmeza dela, havia uma preocupação que transcendia o simples arrumar do quarto. O homem com uma sinceridade tocante, explica os receios dela: 

— Ela teme perder a sua guarda. Ou que seja trocada por Helena se formos agraciados com seu retorno em nossas vidas. Eu entendo perfeitamente o lado dela. - Maicon esclarece com compreensão.

No entanto, a mulher não havia ido embora como imaginavam. Escutava atentamente cada palavra através da porta, absorvendo a sinceridade das emoções reveladas.

— Independente de tudo, eu jamais vou deixar de amá-la. Ela foi a mãe que eu nunca tive! Me ensinou valores que levarei pra vida toda. Você nem faz ideia o quanto eu a amo!

Do outro lado da porta, a resposta emocionada e chorosa ecoa, revelando uma conexão profunda e verdadeira.

— Eu faço ideia sim. Briana também te ama demais! - A felicidade no rosto de Maicon ilumina o ambiente.

— Eu sei. Ela demonstra isso a cada dia! - Sorri genuinamente, trazendo um clima mais leve ao momento tenso.

Briana, ainda emocionada, se afasta para a cozinha com o coração transbordando de alegria pelas palavras ouvidas. 

— E então, vamos continuar a busca? - Marina indaga com empolgação na voz.

— Queria muito, mas não ousarei desobedecer Briana Lopes! - Maicon responde com uma pitada de ironia, arqueando as sobrancelhas.

Marina revira os olhos frustrada e, desanimada, caminha até a cama, com um dos troféus em mãos, soltando o corpo pesado sobre ela.

— Se não encontramos nada até agora, é porque as câmeras não existem. Eu sinto muito. - O pai expressa pesar do outro lado da cama.

— Amanhã farei uma faxina nesse quarto e continuarei as buscas. Enquanto houver um mísero fio de esperança que mamãe está viva, eu me agarrarei a ele. - Marina fala com determinação, fixando o olhar perdido na parede do quarto, como se encontrasse ali o resquício de uma esperança que não se deixaria dissipar facilmente.

 Maicon, observando o objeto nas mãos de sua filha, percebe ali uma oportunidade para uma conversa mais leve.

— Todos esses troféus e medalhas são seus? - Apontou para a prateleira à frente deles, curioso.

— Sim. Eu os conquistei nos torneios de Patins Street, aqui no Rio. - Marina explicou com empolgação, seus olhos brilharam com as lembranças das competições.

— Pela quantidade de prêmios, você deve mandar muito bem! -  Maicon, comentou orgulhoso, contornando a cama para se sentar ao lado dela, buscando estabelecer uma conexão por meio da admiração pelas realizações dela.

— Mando muito bem sim! - Confirmou com um sorriso radiante, apreciando o orgulho nos olhos do pai.

— Este em especial é o mais bonito de todos! - Maicon adimitiu, pegando delicadamente o troféu das mãos dela, admirando-o como se fosse uma peça única.

O extraordinário troféu possui uma base de cristal retangular, conferindo-lhe uma elegância atemporal. Com laterais que alcançam 10 centímetros de altura e dimensões de 25 por 15 centímetros de diâmetro.

A base de cristal exibe uma inscrição em prata que presta homenagem ao mérito do vencedor, adicionando um toque de prestígio ao conjunto. A cor verde claro, sutilmente incorporada, adiciona uma pitada de frescor ao troféu, evocando a energia vibrante do esporte.

No ponto mais alto, um patins dourado, habilmente esculpido, coroa o troféu. Esse detalhe majestoso é acentuado por pequenos tons coloridos de cores frias, proporcionando uma sensação dinâmica e cativante.

— É o meu predileto também. Não só pela linda estética dele, mas também pelo seu significado. Nesse torneio, superei uma competidora marrenta, que se achava invencível. No final ela retirou seus patins e os jogou com fúria no chão, além de recusar receber a medalha de segundo lugar. - Os olhos dela brilhavam ao compartilhar a memória, revivendo as emoções do passado.

— Ela se mostrou muito prepotente. - Maicon comenta, buscando o olhar dela.

— Demais. - Marina, concordou, ainda imersa nas lembranças.

— Tenho muito orgulho de você! - Maicon declara, desviando o olhar para a parede à sua frente, seus sentimentos transpareciam em cada palavra.

Marina, com uma expressão tristonha, mergulha mais fundo em sua história, revelando os desafios emocionais que enfrentou nas competições: 

— Foram algumas vitórias em meio à dor e abandono. Eu procurei mamãe entre os espectadores, mas ela não estava lá. Eu procurei o meu pai e não o encontrei também. Eu sabia que não iria vê-los ali, torcendo por mim, mas mesmo assim eu os procurava em todas as competições! - A garota se emociona com o próprio relato. __ … Então, não consegui segurar uma lágrima que acabou escapando dos meus olhos. Esses detalhes sempre mexeram muito com o meu psicológico e passei a cometer alguns erros que me levaram a pensar em desistir.

Marina olha novamente para a parede, mas desta vez, Maicon nota a emoção palpável em seus olhos.

— Mas aí olhei novamente para a arquibancada e lá estavam, Briana e Max, torcendo fortemente por mim. Eles foram a minha vontade de vencer! Venci por eles! Devo todo o mérito a eles, e principalmente a Briana que sempre esteve presente nos bons e nos maus momentos.

Maicon, normalmente contido em suas emoções, sente seus olhos marejados diante da narrativa tocante da filha. O quarto, agora, era inundado por um silêncio carregado de sentimentos compartilhados.

— Queria poder voltar no tempo. Eu deixaria de cometer tantos erros… mas, agora é tarde. Perdi a chance de te ver crescendo e de aproveitar tantas coisas boas ao seu lado!  Minhas más escolhas me afastaram de você. Eu não mereço que me perdoe, não, eu não mereço… não sou digno do seu amor. Eu refleti bastante sobre tudo e não vou pedir que me perdoe, não porque não quero, mas porque reconheço que você ainda não tem motivos para isso. Deixa eu te encher de razões primeiro, só assim terei seu genuíno perdão. - Maicon pronunciou suas palavras, carregadas de sinceridade, e os olhares de ambos se encontraram simultaneamente. O silêncio pairou, preenchendo o ambiente com uma tensão palpável.

— Vou me esforçar para manter uma boa relação com você, mas não garanto muita coisa. Direta ou indiretamente você foi o responsável por toda a minha desgraça. - A resposta de Marina foi direta, expressando a dor acumulada ao longo do tempo.

— Sim. Eu admito isso. Eu destruí a nossa família! - Maicon declarou com pesar, aceitando a responsabilidade por suas escolhas que repercutiram tão profundamente na vida de sua filha.

O quarto, antes preenchido pelo silêncio, agora abrigava um turbilhão de emoções não expressas. Cada palavra pronunciada era como um fio delicado que tentava reconstruir uma conexão despedaçada, enquanto o peso do arrependimento flutuava entre eles.

— Além da dor e do abandono, eu passei por coisas que você nem imagina! Vim parar numa casa de prostituição onde Rica, o pai de Briana quase me violentou. 13, eu só tinha 13 anos quando ele invadiu o meu quarto, e disse que eu já era uma mocinha e que já estava na hora de ajudar  a bancar a minha despesa na casa. Disse que alguns clientes estavam de olho em mim e que pagariam bem por um programa comigo…

— Velho filho da puta! - Maicon Cerrou os punhos indignado, ante o relato da filha. 

— …Eu recusei. E ele gritou comigo! Então, puxou o meu short e subiu sobre o meu corpo. Disse que depois da primeira vez, as outras seriam mais fáceis. Daí Briana entrou no quarto com o rifle em punho e o ordenou que parasse com o assédio. Ameaçou atirar,  caso ele não a obedecesse…

5 anos atrás. 

O quarto de paredes cor de rosa testemunhava um cenário de horror. 

Briana, com a coragem aflorando, mantinha o pai na mira enquanto Marina buscava refúgio atrás dela, numa tentativa desesperada de escapar do pesadelo que se desenrolava.

— Andou abusando do álcool de novo, pai?! - Questionou, descrente que agia em sua lucidez.

— Terá mesmo coragem de atirar no seu próprio pai? - O velho questionava, incrédulo.

— Não queria, mas você está merecendo! - Briana responde, firme, com sua voz carregada de um tom sombrio. 

Rica ria debochadamente, subestimando a situação. A atmosfera pesada refletia a urgência da decisão que pairava no ar.

— Experimente tentar algo contra ela novamente! Eu estouro os seus miolos! - A ameaça de Briana ecoava no ambiente, carregada de fúria contida.

— A putinha Randy não é sua filha! - Desdenhava Rica, em uma tentativa de minar a resistência da mulher. 

— Prometi ao pai dela que a protegeria e pretendo cumprir minha promessa. - Briana falava séria, mantendo o idoso na mira, enquanto a filha permanecia encolhida atrás de si.

— Randy não dá a mínima pra ela. É um bandido da pior espécie! - O velho disparava suas palavras com dureza.

— Eu não ficarei nem mais um dia nessa casa com minha filha! Hoje mesmo vamos embora!  - Briana anunciava, desafiadora. 

— Acha que deixarei você ir? Terá que me matar primeiro! - Rica retrucava, aumentando a tensão.

— Não pense que não tenho coragem! - Briana respondia, decidida, enquanto o quarto pulsava com a iminência de um confronto inevitável.

— Então atire! Vá em frente! - O idoso a desafiava, segurando o cano da arma e trazendo-o para seu próprio peito, uma cena de desespero e desesperança.

A tensão atingia seu ápice, criando um ambiente sufocante. Então, num gesto súbito, Rica arranca o rifle das mãos dela, ferindo-a no processo e desencadeando uma violência impiedosa.

Ele a esbofeteou com violência com as costas das mãos a fazendo virar o rosto com a força do golpe. 

— Nunca mais aponte uma arma para o seu pai! - Cuspiu as palavras na direção dela não hesitando em a esbofetear novamente. Agora ela cai de joelhos ao chão. Marina se abaixa para socorrê-la. 

— Seu miserável, eu vou matar você! - Briana Gritou, com um dos cantos da boca sangrando, destilando todo seu ódio. 

Rica, impiedoso, avançava, acertando o rosto de Briana com o cabo do rifle, fazendo-a desmaiar. 

— BRIANA! Ai meu Deus! O que você fez!? - Marina leva as mãos à boca testemunhando a brutalidade infligida à pessoa que amava. 

Com a situação aparentemente controlada, Rica descansou o rifle na parede do quarto e segurou firmemente em um dos braços de Marina. 

A adolescente, encurralada, sentiu o frio toque do medo percorrendo sua espinha ao ser arrastada para a cama por Rica. Suas súplicas ecoavam pelo quarto, desesperadas, mas a força cruel do velho parecia insuperável.

— Pare, por favor! - As palavras de Marina saíam em soluços, ecoando pela penumbra do ambiente sufocado pela tensão.

A cama, testemunha silenciosa do horror iminente, recebeu Marina com uma violência que fez seu corpo tremer. Encolhida, próxima à cabeceira, ela buscava refúgio nas dobras dos lençóis, como se pudesse se dissolver no tecido e escapar do pesadelo que se desenrolava.

O idoso, com olhos vorazes e selvagens, encarava a loira como se fosse presa fácil. Sua voz rouca ecoava no quarto como um sinistro anúncio do sofrimento iminente.

— Vamos terminar o que começamos!

Os olhos aterrorizados de Marina registravam cada movimento do velho, enquanto o quarto se enchia de um silêncio ensurdecedor. Rica, impiedoso, retirou a cinta, mergulhando o ambiente na iminência de um pesadelo. Marina, numa angústia palpável, fechou os olhos, preparando-se para o golpe que viria.

Ao dar por conta, suas mãos foram amarradas ao catre da cama. Rica, de pé diante do catre inferior, desabotoou lentamente suas calças, lançando uma sombra ainda mais sombria sobre o quarto.

— Por favor, não! Não faça isso comigo, eu imploro! - As palavras de Marina eram um eco desesperado, prenunciando o sofrimento iminente.

O velho, insensível ao apelo, desabotoava sua camisa com uma calma perturbadora. Contudo, antes que a tragédia se consumasse, o eco de um tiro rompeu o ar. O corpo de Rica estremeceu, seus olhos, agora arregalados pela morte iminente, refletiam o choque.

Uma bala, disparada pelo rifle que antes representava uma ameaça, atravessou o seu corpo. Gotículas de sangue dançaram no ar, pintando um quadro macabro. Seu corpo, como uma marionete sem vida, tombou para trás, revelando a figura decidida de Briana, com a arma em punho.

Agora mesmo.

Marina desvelou a verdade chocante, o peso de suas palavras ecoaram como um segredo guardado por muito tempo. 

— Briana matou o próprio pai para me salvar! - A expressão dela carregava o fardo da revelação, seus olhos encontrando os do pai, buscando compreensão.

Maicon, atingido pela revelação, expressou perplexidade:

— Eu não sabia! Por isso, ela evitava tocar nesse assunto! - O abalo era visível em seu semblante, um eco da dor compartilhada que desconhecia.

Marina, com a voz embargada pela emoção, continuou:

— Por sorte a justiça entendeu como legítima defesa, e ela não foi presa. Meu celular que acabou caindo no chão com toda a confusão, gravou toda a cena.

Maicon, ainda processando a magnitude da história, murmurou um pedido de desculpas:

— Eu não queria que você tivesse passado por isso, e nem que viesse para esse ambiente. Eu sinto muito! É que Briana era a pessoa que eu mais confiava na época. Eu só não queria que ficasse completamente abandonada em um orfanato.

Marina, entrelaçando seus sentimentos, respondeu com gratidão sincera:

— Você não poderia ter escolhido pessoa melhor! - Um sorriso suave iluminou seu rosto, revelando uma conexão profunda com Briana. - Eu sou completamente grata por ter me colocado na vida dela!

Maicon, tomando um respiro, respondeu com um sorriso terno:

— Obrigado por nunca ter julgado o que ela fazia! E estou muito feliz por ter acertado pelo menos dessa vez. - Falou sorrindo com o canto da boca.

— É, dessa vez você acertou! - Marina sorriu para o pai, cuidadosamente colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Em meio às sombras do passado, uma faísca de entendimento e perdão começava a iluminar o presente.

O silêncio tenso envolveu o quarto enquanto pai e filha compartilhavam um olhar que carregava o peso de anos de incertezas. Ela quebrou o contato visual, levantando-se para guardar o troféu com gestos meticulosos.

O homem desviou o olhar para um porta-retratos na parede, capturando a imagem de Helena e Marina na doce idade de seis anos. A saudade refletida na foto despertou a pergunta que pesava em seu coração.

— Desculpa por ter falhado no resgate de sua mãe. Indiretamente eu sou o responsável pela sua morte. - O argumento saiu de sua boca, carregado de culpa e receio.

Marina, com determinação nos olhos, voltou-se para ele e falou enfaticamente:

— Ela está viva!  -  enfatizou com convicção.

— O que está dizendo?! - O espanto no olhar do pai era evidente.

— Sim. Ela está viva e na Alemanha! - Afirmou convicta. - Maicon franziu a testa em confusão.

— Está na Alemanha?! Como você sabe?! - Indagou, buscando entender a conexão.

— Assisti por acaso a uma reportagem na TV, transmitida da Alemanha, quando de repente vi uma mulher passando atrás do repórter, na calçada, do outro lado da rua. Foi tudo muito rápido, mas tenho certeza que era ela. Eles reprissaram a reportagem em um canal do YouTube, quer ver? - Marina explicou, deixando o pai ainda mais intrigado.

— Adoraria!

Marina, com destreza, retirou o telefone de um dos bolsos e iniciou uma rápida pesquisa. Maicon sentou-se ao lado dela, ansioso. 

— Aí está… - entregou o telefone ao pai, que se acomodou no colchão, fixando os olhos na tela.

A mulher que cruzou rapidamente atrás do repórter, com uma sacola de compras, vestia-se elegantemente. O sobretudo preto, jeans claro e salto pontiagudo compunham um retrato de elegância. Marina pausou o vídeo no exato momento em que a mulher virou-se para a câmera.

— É realmente Helena! - O pai exclamou, perplexo. O quarto vibrou com a revelação, um fio de esperança se tecendo entre os dois, unindo passado e presente em um momento de reencontro iminente. Maicon tira um peso de sobre as costas. Ele realmente não havia assassinado a esposa!

— Fiz uma busca no Google sobre o nome do café que aparece na esquina atrás… - Ela puxa o zoom na tela, aproximando a placa do café: "Café Hauptwache." — … Fica na cidade de Frankfurt. Então temos o país, a cidade e o café!

O orgulho preenchia os olhos de Maicon, enquanto observava a determinação e astúcia da filha.

— Menina esperta! - Comenta, deixando transparecer seu orgulho paterno.

— Precisamos voar para a Alemanha o quanto antes! - A garota expressa sua empolgação, olhando para o pai com expectativa.

— Filha… - Ele sorri antes de continuar. — Não é tão simples como parece.

Marina, antecipando o diálogo, interrompe:

— Eles não exigem visto, eu já pesquisei!

Maicon, ponderando sobre os desafios que se apresentam, explica:

— Também tem a questão da grana que…

Marina, conhecendo cada detalhe, adianta-se:

— A passagem fica por menos de 3 mil reais! Eu pesquisei também.

Entretanto, o pai lança a perspectiva da realidade financeira:

— Mas ainda tem a estadia lá, hotel, comida, transporte… não sabemos por quantos dias, a busca se estenderá. Imagino que se você tiver no mínimo uns 100 mil em mãos, poderemos partir amanhã mesmo. - Ele ironiza, aguardando a reação dela.

— É muita grana… - A frustração na voz de Marina é evidente.

Maicon, no entanto, firma uma promessa olhando nos olhos dela:

— Não será amanhã, nem semana que vem… talvez demore um pouco, mas vou encontrar uma maneira de levantar essa grana!

A desconfiança paira quando a filha questiona:

— Vai usar o caminho mais fácil, de novo?!

— Não! Claro que não! - Ele se defende e explica. — Irei viver o mais honestamente possível, pode acreditar!

Antes que o momento se prolongue, a voz de Briana interrompe a cena entrando por debaixo da porta: 

— Maicon! - Ela grita de fora. — Quer parar de procurar pelo em ovo e vir me ajudar com a porta do depósito?! Parece que imperrou!

O sorriso de Maicon, arqueando as sobrancelhas, ressoa como uma piada silenciosa para a filha. Marina, em resposta, sorri genuinamente para o pai. Era um vínculo mais forte se forjando em meio aos desafios que se aproximam.

[...]

No bar escurecido, Maicon se aproximou furtivamente de Briana, que ajustava garrafas no outro lado do balcão. Um abraço surpresa por trás fez com que soltasse um pequeno grito, recebendo dele um sorriso sereno.

— Não chegue quieto assim!
- repreendeu, sarcástica.

— Já lhe agradeci pelos cuidados com minha filha?" Perguntou, sorrindo.

— Sim. Por quê? -  respondeu, curiosa.

— Só quero reforçar minha gratidão a você. - Maicon disse, evitando o assunto delicado da morte de Rica.

— Hum… - ela murmurou, fechando os olhos enquanto ele beijava seu pescoço, arrepiando-a. Uma mão dela acariciou os cabelos dele na nuca. 

— Falou do episódio do boa noite cinderela com Marina? - Maicon perguntou, preocupado se lembrando do ocorrido. 

— Sim. Mas se mostrou irredutível a esse assunto. Não quis entrar em detalhes. - Explicou também preocupada. 

— Ainda vou achar o responsável! - Promete com o olhar perdido nas mesas do salão silencioso. 

— Só não vá arrumar encrenca! Não quero que vá preso novamente! - O alertou franzindo o cenho.

— Não vou. Fique tranquila. - Respondeu calmamente. 

— Estavam até agora destruindo o quarto? - questionou, sarcástica. Ele respondeu com tom de orgulho: 

— Estávamos conversando! Menina esperta! Ela descobriu o paradeiro da mãe. Não disse nada a ela, mas Helena não parecia estar sofrendo. Me pareceu livre, leve e solta, e bem estabelecida.

Briana, cética, rebateu virando enérgica para ele: 

— Aquela não é Helena!  Parece muito, mas não é ela! - O fitou séria. 

— Marina e eu temos certeza que é ela!" afirmou Maicon, ainda com um sorriso divertido.

— Espero que não tenha dado trela para esse devaneio dela! Ela já deu um jeito na bagunça que fizeram?! - Briana rebateu, ainda mais séria.

— Está fazendo isso agora mesmo. 
-  informou, mantendo o olhar de deboche.

No quarto, Marina se dedicava a devolver à prateleira a ordem que a confusão temporária havia perturbado. Seu olhar atento identificou seu ursinho rosa caído ali. Ela o ergueu nas mãos, fitando-o por alguns segundos. Um lampejo de desconfiança cruzou sua mente, imaginando se ali poderiam existir as câmeras escondidas que, horas atrás, eles procuravam freneticamente. No entanto, um suspiro afastou essa possibilidade. Afinal, aquele era um presente carinhoso de Max...

"Não! Não mesmo!" - Determinada, ela balançou a cabeça para dissipar esses pensamentos intrusivos e colocou o ursinho de volta na prateleira, junto aos outros objetos que compunham a tapeçaria de sua história.

Enquanto Marina seguia sua jornada interior, em algum lugar distante, alguém degustava uma xícara de chá fumegante. Os pés repousavam sobre a mesa de centro da sala, e os olhos se fixavam nas imagens em tempo real da garota no quarto, transmitidas por uma enorme tela de plasma. 

O jogo complexo de descobertas e mistérios estava longe de chegar ao fim. 



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