CAPÍTULO 4


É claro que Magrí havia retirado o celular do bolso da técnica de enfermagem, enquanto ela colocava o suco na mesa de canto que ali havia. E sua satisfação podia ser maior porque se tratava do mesmo aparelho pelo qual ela ligara o gravador de voz, deixando em segundo plano. Rapidamente o verificou e se satisfez mais ao perceber que a técnica não mexera no mesmo.

Sabia que seria arriscado sair naquele instante, afinal aquela técnica poderia estar por ali, mas agora poderia esperar mais alguns minutos.

Parou o gravador e abriu a gravação. Deixou em um volume sussurrado, colocou junto ao ouvido esquerdo e se pôs a escutar. Quem sabe conseguiria alguma pista por meio daquela gravação?

***

Magrí estava em pé ainda e não estava cansada. Sua visão estava menos ofuscada e a claridade do ambiente já não lhe incomodava tanto. Ouviu 23 minutos de gravação até chegar ao ponto importante da conversa. Aquela profissional estava, junto com a médica, conversando com outra pessoa. Magrí conhecia aquela outra voz. Era... sua tia! Então, ela estava ali, mas não entrara para vê-la. Apertou mais o ouvido ao aparelho a fim de se atentar a conversa:

- Ela está estável. Aparentemente sofreu um choque emocional. Os reflexos estão bons, os exames se mostram aceitáveis, assim como os sinais vitais. Porém, ela não consegue falar e parece não ter forças para caminhar... ­– dizia a voz da médica, Magrí tinha certeza.

­- Eu não quero notícias dela... – a voz de sua tia saía extremamente chorosa. Por quê? – Eu sei o que ela teve e sei que se recuperará, diferentemente do meu filho...

Filho??? Magrí queria escutar o restante, mas a técnica se afastou após ser chamada por um alto falante, deixando apenas o som ao longe dos lamentos da... Sua tia! Magrí preocupara-se mais e era de extrema importância que saísse dali a fim de adquirir respostas.

Por certo havia algo de errado. Não! De muito errado e Magrí já podia fazer suas suposições. Ainda não se lembrava do segundo dia, mas sabia que algo muito grande acontecera para que o choque, como fora definido pela médica, tivesse tomado conta dela.

Prestando atenção em cada passo, Magrí chegou a porta, girou a maçaneta lentamente, até adquirir firmeza e puxar a porta forçadamente quase que fazendo com que ela desse outro passo para trás. Suas reações de equilíbrio estavam melhorando, assim como a coordenação. Saiu do quarto, finalmente, não observando ninguém no grande corredor. Precisou apenas olhar para a direita, pois estava no último quarto do hospital que parecia não ter outros andares. Não observou elevadores e escadas enquanto percorria, ah não ser algumas saídas de emergências.

Foram catorze passos. Exatamente catorze passos foram necessários para conseguir ouvir um lamurio, ainda distante. Seria sua tia? Não, era de uma outra mulher. Tratava de um hospital afinal, haviam outros ali e por mais que surgisse profissionais próximos de Magrí, eles não a notavam devido a correria para atender a todos, principalmente os mais graves...

- Meu filho! – Magrí ouvia o lamurio cada vez mais nitidamente. – Por que você tinha que brincar com aquelas crianças...

Um lampejo repentino tomou conta dos olhos de Magrí e sentiu como se um relâmpago a atravessasse...

- Meu filho! .. Por que você tinha que deixar seu dever à toa...

Magrí estacara e como um flash via as imagens em sua cabeça se tornando cada vez mais nítidas, enquanto a mulher falava em meio aos soluços...

- Por que você tinha que brincar com gasolina e...?

Magrí se prostrou arfando e tudo ficou enegrecido.

***

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