Capítulo X

Leonard

Leonard e Augustus chegam ao acampamento dos soldados, seu coração trovejando dentro do peito enquanto se lembra como foi recebido ali na última vez. Para sua surpresa, no entanto, sua chegada é recebida com festa e comemoração.

Mãos que ele nunca viu antes o comprimentam e dão tapinhas em seus ombros, Leonard não entende o que está acontecendo, apenas deixa que cada um o toque ou comprimente a seu modo. Enquanto segue Augustus até sua cabana.

— O que é tudo isso? Estava esperando por olhares atravessados e no entanto sou recebido com tamanha alegria?

— Entenda meu rapaz. Quando veio aqui pela primeira vez, era um estranho. Um qualquer entrando num local desconhecido. Hoje, entra aqui, como um irmão, como um dos nossos. Alguém por quem meus homens vão arriscar suas vidas e que fará o mesmo por eles.

— Entendo. — Ele diz simplesmente, apesar de não entender realmente.

— Não é somente as honrarias de te ter de volta rapaz. Sente esse cheiro?

E sim ele sentia. Cheiro de carne assando no fogo, cheiro de legumes queimando na brasa, e de algo mais que ele não reconheceu. Sua barriga roncou, depois de tantos dias sem comer, ou comendo os cozidos preparados por Augustus, seu estômago praticamente implorava por um pouco de comida boa.

— Vamos lá, antes que sua baba molhe todo meu chão. — Diz Augustus divertido e o acompanha até uma fogueira do lado de fora, onde todos os que o cumprimentaram antes estavam sentados.

Leonard ainda não reconhecia os rostos ali, mas ele se esforçaria para lembrar o quanto antes. Muitos homens e até algumas mulheres rodeavam a fogueira, cada um com um pote cheio de carne, legumes e uma pasta de algo que Leonard não conhecia, mas que cheirava maravilhosamente. Cada um também estava com um copo, cheio de um liquido que se Leonard pudesse apostar sem ter experimentado diria que é vinho, apesar da cor estranha.

— É vinho das uvas de Eglwys, dizem que as uvas de lá são as melhores de todo o país. Mas não se acostume, na maioria das vezes é apenas vinho barato, ou água. — Diz uma mulher de pele escura e cabelo mais escuro ainda que se senta ao seu lado.

— Nunca bebi vinho de Eglwys antes.

— E depois que beber, se arrependerá por cada dia que não o fez. Comemore as festas por isso.

—  Por falar em festas, não entendo o motivo das comemorações.

— Ora, como não entende se o motivo é você?

— Augustus disse o mesmo, e é justamente isso que não entendo... Vocês mal me conhecem.

— Se um irmão seu nascesse hoje do ventre da sua mãe, não seria motivo de comemoração por acaso?

— Seria, mas... — Ele começa, mas logo é interrompido pela dama.

— Pois bem. Quando entraste por aqueles portões príncipe, foi como se nossa mãe anunciasse uma gravidez, uma gravidez de risco. — A mulher o olha de cima abaixo. — De muito risco eu diria, pois bem, quando voltaste, na companhia de Augustus no entanto... Bem, foi como se nosso pai chegasse na companhia do nosso mais novo irmão.

— Mas, acontece que já estavam comemorando quando eu cheguei.

— Conhecemos os métodos do capitão príncipe,  fique tranquilo. Ninguém aqui é esperto o suficiente para voltar após o terceiro dia. No sexto dia, geralmente já  é esperado que  Augustus retorne junto a um novo irmão.

— Quer dizer que eu não fui o único a passar por tudo isso?

— O único? Príncipe, príncipe... Se acha muito mais especial do que de fato é, todos aqui passaram por isso.

— Isso me deixa realmente aliviado.

— Imagino que sim, a propósito, meu nome é Rhialla Gref. — Diz Rhialla estendendo a mão para ele.

— Leonard.

— Todo mundo aqui sabe teu nome, príncipe.

— Então por que não  me chama pelo meu nome uma única vez?

— Porque, onde estaria a graça dessa maneira?

Ela diz, antes de se levantar. Seus olhos fixam nos olhos de Leonard e ele sente o rubor se espalhar por suas bochechas. Queimando de vergonha. Enquanto a mulher anda rebolando para longe dele.

Leonard acompanhou Rhialla com os olhos, até que a bela negra pegou um instrumento nas mãos e se pôs a dedilhar. Todos no acampamento pareceram se calar, Leonard iria além, diria que até as aves do céu pararam para observar a mulher dedilhar com maestria seu instrumento já envelhecido. Nesse mesmo momento Augustus se senta ao seu lado com olhar intenso e lhe entrega uma tigela com comida e um copo com vinho. Seu olhar diz tudo o que seus lábios não diz, cuidado com minhas guerreiras rapaz, não  por elas e sim por você.

— Hoje, um novo irmão chegou ao acampamento. Como estamos todos muito felizes com sua chegada, iniciarei a noite com algo especial. Uma história antiga, de una guerreira e um príncipe  que se apaixonaram. Mas antes que os homens presentes reclamem com medo de se tornarem eunucos por ouvir uma história de amor, aviso-vos de antemão. Isso não é uma história  de amor, e Leonard, nada pessoal, eu juro.

De alguma forma suas palavras eram sincronizadas com a melodia e ainda que não fosse uma música, soava como se fosse.

"Um dia uma guerreira se apaixonou por um príncipe. Numa noite de lua cheia quando ela salvou sua vida de malfeitores que ameaçavam destruir todo o país.

Nem mesmo os Magicae conseguiram segurar tal criatura, forjada com aço e fogo ao invés de carne e sangue, ele destruia cada alma. Cada criatura e cada lugar por onde passava.

Ainda assim a bela guerreira não se amedrontou, ela vestiu a armadura da força que habitava dentro do seu coração, e lutou, e quase morreu, e morreria com gosto se levasse junto a cabeça do monstro a sua frente, que de pessoa não tinha nada.

Ela estava quase morta quando o chefe dos MAGICAE chegou, ele era o único com poder o suficiente para destruir a magia da criatura, que nesse momento ja havia matado gente demais. Seus objetivos quase concluídos. Só faltava o príncipe, para que o reinado de sofrimento prometido à criatura comecasse.

O MAGICAE lutou ao lado da mulher, que defendeu tudo como pode, e no final, depois que o monstro morreu, como uma recompebsa por salvar sua vida o MAGICAE curou da mulher, cada ferida que comprimia seu coração.

Mas isso não foi o suficiente. Ela implorou, ajoelhada para que o homem salvasse também a vida do homem a quem ela protegia, devolva minhas feridas e cure as dele, ela gritava e seu grito podia ser ouvido por todos, vivos e mortos.

O MAGICAE era rico em sabedoria. E avisou a mulher de todos os males que ela corria perigo, ainda assim ela insistiu e insistiu. Não diga que não lhe foi avisado, ele disse antes de reestabelecer a força do homem que a milher implorou.

Anos se passaram, e a mulher quis rir das ameaças do MAGICAE, sua vida estava boa, o homem que amava estava vivo e eles estavam cada dia mais próximos, a felicidade reinava e a guerreira sorria, sem imaginar a tragédia qie viria.

A guerreira se casou com seu amor, agora naomais guerreira, esposa, rainha. Ela sentia falta de lutar e de proteger os seus, mas seu marido sentia falta de outra coisa, seu marido sentia falta de uma criança.

O homem que ja não se parecia com seu amado, cada vez mais bruto e de mal agrado. Fazia da pobre mulher tudo onque bem quisesse. Até que ela se rebelou e não ela disse, mas esse não foi o fim, esse foi mais o início, o terror ainda estava por vir.

Brigas e mais brigas reinaram o reino a partir dali. O homem não se importava de berrar e gritar, até mesmo de bater na pobre guerreira, que cada dia mais arrependida estava. Até que um dia pra ele ela disse 'devia ter te deixado morrer'.

Aquele foi o fim dos tempos,o homem ja violento, tirou suas roupas e a forçou pra baixo de si, já  que não estou morto, ao menos faça seu trabalho e me dê o filho que me pertence.

Ela gritava e se debatia, mas isso de nada ajudava. Pelo contrario, quanto mais ela reclamava, mais ele gostava.

Nove meses se passaram e nasceu a menina, a mãe morreu no parto, no ato do consagramento da criança ao monstro que quase matou o rei.

Antes de morrer ela disse. 'Ainda que o mundo gire, essa criança não é mais tua. Essa criança é de fogo e aço e vai ser a ruinade todo o reino. Ela vai ser a inimiga,  ela vai ser imparavel, e por suas mãos seu destino será selado'.

O rei abandonou a filha, num orfanato em lugar nenhum. E ainda que isso seja apenas uma história,  dizem que a menina vive e que mais cedo ou mais tarde cobrará o preço do acordo pago com o sangue da mãe."

Quando Rhialla terminou a história ninguém falava nada, as comidas nas tigelas ja estavam frias, as bebidas quentes e todos terrivelmente arrepiados e paralizados diante de tamanha podridão contida nas palavras que ela disse com tanta suavidade acompanhada pelo seu instrumento.

Leonard, não falou nada, nem se moveu. Leonard mal respirava na verdade, ele conhecia essa história. Mas, será que ele acreditava nela?

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top