Capítulo VIII
Leonard
Leonard volta para o castelo depois de algum tempo, talvez tenha sido puro rancor de sua parte, se manter longe durante o que ele sabia ser as horas de comemoração de Lawlieth, mas ele não conseguiu simplesmente agir como uma pessoa evoluida, e fingir que ter sido traído por seu próprio irmão não o havia magoado tanto.
Seu plano levaria tempo até ser executado, mas, às vezes coisas importantes requerem um certo tempo de preparação, e isso era definitivamente algo importante. Lawlieth iria cair, ele vai retomar o que é seu por direito, ele fará o necessário para isso, algumas coisas são maiores que qualquer eventual consequência.
Leonard chega ao castelo, quando o dia já começa a dar lugar a noite no horizonte. Ele sobe ao seu quarto, e começa a juntar suas roupas. O primeiro passo, pra tudo é manter a mente focada, a cabeça no lugar, e ele não consegue fazer isso dali. Ele torce silenciosamente pra que consiga sair do castelo sem encontrar o irmão, sem precisar olhar em seus olhos ardis de traidor, mas, claro que as coisas não seriam fáceis pra ele.
Quando a batida soa pela porta, ele sabe que havia chegado o momento derradeiro, onde teria que se ver frente a frente com seu irmão mais novo, o homem que havia tão facilmente pisado em seus planos e ideais. A batida soa novamente, e ele pede para que a pessoa do outro lado entre.
— Senhor, o rei requisita sua presença na sala do trono. — O serviçal magro de olhos fundos, que ele sequer sabe o nome diz, com sua voz pacífica e profunda.
— Estou indo. — Ele responde, e sente como uma flecha lhe perpassando o peito. O rei, não apenas lhe faria olhar em seus olhos, mas o obrigaria a fazer isso sentado no seu trono. Isso é ainda mais baixo do que ele sequer imaginou.
Ele segue a passos lentos até a sala do trono, sem nenhuma pressa e nenhuma força de vontade o obrigando a acelerar o passo. Quando seu pai era rei, ele sempre foi um filho obediente, e um sudito ainda mais exemplar; ele sempre fez questão de se manter na linha e seguir os desígnios do seu rei o fazia sentir-se um homem completo.
Hoje, tudo é diferente. Ele se sente desgostoso em ir até a sala do rei e encarar o homem sentado no trono. No fundo de seu peito ele sabe, que jamais tratará esse homem como rei, e muito menos como o irmão que achava que fosse. Sangue muitas vezes não quer dizer nada.
Ele chega até o rei, e curva sua cabeça em sua direção, lembrando-se do momento em que o Magicae reverenciou-os no dia anterior, ele se pergunta se o homem já sabia, na ocasião, o que se passaria nos dias seguintes, se o homem por baixo do espesso manto negro saberia o que se passava em sua cabeça, e na cabeça de seu irmão apenas de olha-los nos olhos. Ele não tem ideia da dimensão do poder que esses seres possuem, mas espera que esteja errado nas suas suposições.
— Pode levantar-se irmão. — Diz Lawlieth a ele, depois de um tempo que é muito mais longo do que deveria ter sido. — Estive esperando para falar com você durante todo o dia, você demorou a voltar ao castelo depois da cena que fez pela manhã, espero que não esteja ressentido.
A fala não é uma provocação, é muito mais do que isso. Leonard vê tudo o que não é dito em palavras, Lawlieth quer que ele entenda que sabe tudo o que acontece naquele lugar, ainda que seus olhos não o vejam, assim como quer que Leonard tenha a ciência de que independentemente de como ele se sinta em relação ao ocorrido, ele não pode fazer nada a respeito disso.
— Não estou ressentido, você queria tanto o trono ao ponto de passar o próprio irmão para trás? Pois bem, faça bom uso dele enquanto pode.
— Alguns entenderiam essa frase como uma ameaça Leonard, eu tomaria cuidado com o que digo, se fosse você. Achava que era mais esperto que isso.
— Não é uma ameaça, apenas um aviso. Tudo se acaba um dia, seu reinado também acabará. Espero que seja um rei justo, e ao menos o mínimo do que nosso pai foi um dia.
— Eu serei muito mais do que isso, pode ter certeza.
— Não duvido irmão, mas, também não aposto todas minhas fichas em você. Espero que entenda. Espero que entenda também, o motivo pelo qual estou indo embora.
— Você está indo embora? E para onde pretende ir?
— Vou para o acampamento dos soldados, já está na hora de fazer mais para Izzyath que ficar sentado jogando um jogo no qual nunca fui bom.
— Não digo que você não seja bom, você fez alguns movimentos certos afinal, ao longo do tempo. Só espero que se lembre, que eu sempre fui melhor no jogo que você. Não digo isso para que guarde como um rancor, mas sim como um aviso. É necessário mais do que você fez até hoje para ganhar de mim.
— Eu não pretendo ganhar de você.
— Você não precisa mentir pra mim Leonard, eu vejo a verdade nos seus olhos.
Leonard queria não ter desviado o olhar depois do irmão dizer tal coisa, mas ainda assim ele o faz. Ele sempre soube da inteligência do irmão. Ele sabe que é preciso tomar cuidado com alguém como ele, talvez ainda mais cuidado agora, depois de tudo o que se passou e de cada meia palavra jogada entre os dois.
— Estou indo, espero que não se incomode, vossa majestade.
— Não me incomodo Leonard, passar um tempo entre os soldados fará bem a você, tenho certeza. Espero que quando voltar, volte um novo homem.
○•°●°•○•°●°•○••• ♛ •••○•°●°•○•°●°•○
Quase 3 dias se passam, quando Leonard chega ao acampamento dos soldados, o pequeno vilarejo, se é que podemos chamar assim, que é onde vivem os soldados do país. Ele teria demorado menos tempo se tivesse vindo a galope, mas preferiu economizar suas forças e as forças do pobre cavalo que ele montava. Sem falar nas paradas que ele precisou fazer durante o caminho.
Quando ele chega ao seu destino, é logo reconhecido pelos homens ali. Homens que serviram fielmente ao seu pai durante toda a vida, e que agora servem ao seu irmão.
Ele desce do cavalo, e segue seu caminho a passos lentos, atraindo olhares e comentários sussurrados por onde passa. Homens às vezes conseguem ser mais fofoqueiros que mulheres, ele pensa enquanto segue seu caminho, até finalmente chegar ao chefe dos soldados.
Sir. Augustus Nomenor, era um homem já de idade avançada, mas, com o porte físico de um homem muito mais jovem. Seu corpo forte e musculoso só entregava a idade devido aos cabelos brancos e as rugas ao redor dos olhos azuis feito água.
— Olha só o que temps aqui, se não é o príncipe herdeiro.
— Não sou mais o príncipe herdeiro Nomenor, não hoje ao menos.
— E como eu deveria chama-lo então vossa alteza? — Pergunta Nomenor, que mesmo que tenha uma expressão séria no rosto, seus olhos entregam o divertimento que ele sente com a situação diante dele.
— Espero que a partir de hoje me chame de soldado senhor.
— Quer dizer que o príncipezinho que nunca quis saber de uma luta finalmente decidiu abrir mão das mordomias do castelo para se tornar um soldado? Quem diria que tudo o que precisaria acontecer, para tal ato seria seu irmão roubar a coroa para si. Lawlieth é um homem realmente esperto não acha? Eu sem dúvidas o treinei bem.
— Eu finalmente entendi que preciso fazer mais pelo meu país, e que o começo de tudo se resume a aprender as artes da luta, e virar um soldado senhor. — Responde Leonard evitando as provocações do homem.
— E porque eu deveria te aceitar entre meus soldados? Um homenzinho mimado, que sempre olhou mais para o próprio umbigo que para os outros? Que olhou tanto pra si que não viu o próprio irmão tomando o reino bem debaixo do seu próprio nariz?
— Estou disposto a mudar senhor.
— Está? Pois quero que prove. Deixe seu cavalo no estábulo e venha comigo.
Eu faço o que ele manda e o sigo durante horas a pé, por um caminho tortuoso que leva até os Montes Pestais, onde paramos.
— O que faremos aqui senhor?
— Correção, o que você fará aqui. Você vai ficar aqui durante dois dias, e no terceiro te levo de volta ao acampamento se ainda estiver por aqui. Se não aguentar passar dois dias aqui, não aguenta ser soldado menino. Se aguentar, será bem vindo ao acampamento, como soldado, pois terá provado que é mais que um pirralho mimado.
— Sim senhor.
— E moleque, da próxima vez que nos virmos, se ainda estiver aqui, me chame de capitão, certo.
Augustus se vai, sem esperar uma resposta de Leonard, que sente o sol começar a arder acima de sua cabeça. Ele sabe que serão tempos difíceis, mas, desde o momento que saiu do castelo ele já tinha a consciência de que sacrifícios seriam necessários, para o bem maior.
E ele fará o necessário, ainda que o necessário seja ficar por 3 dias embaixo do sol escaldante. Isso é algo ínfimo se comparado a como as coisas podem acontecer caso ele deixe tudo como está, ele fará isso. Pelo seu bem, pelo bem das pessoas que conhece, pelo bem de Izzyath e pelo bem do mundo todo.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top