Capítulo IV
William
William não achava que haveria alguém dessa idade em Izzyath que ele não conhecesse, a surpresa inundou seu peito quando percebeu que seus poderes não reconheciam a garota loira dos olhos azuis deitada no bagageiro da sua carruagem.
— Eu tive um imprevisto no ano que deveria ser testada, e nos outros anos já era tarde demais.
— Nunca é tarde demais. — Ele diz, a voz mais baixa que o normal. — Que tipo de imprevisto alguém pode ter para não conseguir participar dos testes?
— Eu tinha acabado de me tornar uma eterna no orfanato, Strois arrancou meu coro quando fiz uma comida sem sal. Eu nem conseguia me levantar da cama. — Agnes fala, a dor estampada nos seus olhos é algo que ele consegue sentir, agora se ela se referente aos seus machucados ou a lembrança ele não sabe.
— Estenda o braço para mim. — Ele ordena.
— Não sei se é um bom momento.
— Eu não posso deixar que fique nem mais um minuto sem ser testada senhorita... Qual seu sobrenome mesmo?
— Eu sou orfã, não tenho um sobrenome. Nemhum órfão tem, achei que soubesse senhor. — Ela diz calmamente, mal sabe o quanto aquelas palavras mexem com ele.
William apenas olha para ela, ela parece tão forte nesse momento, mesmo ferida, mesmo tendo passado por sabe-se lá quais horrores, ela permanece firme e resiliente. Agnes mal se parece com a garota implorando por sua ajuda, poucos minutos antes. Ela sem dúvida é dona de uma personalidade sem igual. Poucas pessoas que ele já conheceu em seus 28 ciclos de vida fizeram ele ter essa percepção, e ele sempre acha isso incrível.
William já se decidiu por levá-la para Tir Magicae com ele, de forma alguma ele levaria ela de volta a Sollis, isso nunca esteve sequer em cogitação, nem mesmo passou pela cabeça de William levá-lade volta a um lugar onde alguém deixou-a em tal estado, a sua única dúvida é se ela ocupará o cargo de aprendiz ou de governanta na cidade abençoada e ele precisa saber essa resposta, antes mesmo que os cavalos recomecem a se movimentar.
Depois de alguns segundos Agnes estende o braço para que ele faça o teste. William se aproxima ainda mais dela, sua mão vai até o bolso e pega a lâmina que foi tão usada nos últimos dias.
A lâmina faz um pequeno corte em sua pele suave e o sangue começa a escorrer. A falta de poder o obriga a tirar a luva e encostar sua pele no sangue quente da garota, n9 começo da semana ele mal precisava encostar no sangue, mesmo que usando suas luvas, mas, neste momento, seu poder é apenas um grão de areia, e ele precisa de todos os artifícios possíveis para que ele não esgote até as últimas forças, então ele pressiona seu dedo no sangue e canaliza a magia que ainda existe em seu corpo exausto para que faça seu trabalho.
Demora mais que o normal, devido a fadiga que já habita seu corpo, William sabe que levaráumq bronca ao voltar para casa, mas ele sabe que nada o faria mudar de ideia. Claro que umnpouco de poder se regenera dormindo, mas, por mais que dormir o faça recuperar algumas de suas forças, não é o bastante, e não seria o bastante para recuperar forças o suficiente para uma reserva descente, nem mesmo se dormisse durante uma semana inteira. Ele sabe que precisa ir logo pra ilha, mas isso é mais urgente no momento.
Quase 5 minutos de muita concentração se passam até que o sangue embaixo dos dedos de William começe a brilhar, com uma luz muito forte. William sorri, quando o sangue brilha em contato com sua magia, significa que há alguma magia no corpo que o sangue habita, quanto mais forte é o brilho, mais forte é aquele Magicae.
William não imaginava encontrar alguém tão poderoso assim nawuela visita, muito menos em um lugar como Sollis. Não que ele subestime a força que os jovens possam ter, ele apenas sabe quão raro é encontrar uma magia forte assim.
Eleafasta sua pele se do sangue da garota, que a essa altura já está coagulando, ele limpa o dedo sujo num lenço que mantém em um de seus bolsos. William olha pros olhos azuis de Agnes, que tentam parecer fortes mas estão amedrontados a sua frente.
— Parabéns Agnes, você é uma Magicae, e está indo comigo para Tir Magicae. — Ele diz e os olhos dela brilham. Ele não diz quão forte ela é. Nem que ela continua viva graças a essa força. Também não diz que ela estaria indo com ele para a cidade de uma forma ou de outra, William sabe que tem coisas que não devem ser ditas. Não nesse momento pelo menos.
Ele coloca a luva novamente antes de estender a mão na direção da garota, pra ajudá-la a descer do bagageiro. Agnes agarra sua mão prontamente e se força para fora, usando-o como apoio.
Os pés dela não estão firmes quando ela encosta no chão, algo de errado com suas pernas ainda não curadas por completo William imagina, ele chega mais perto de Agnes para ajudá-la a se locomover até a carruagem, no momento em que ela tenta dar um passo.
As pernas dela fraquejam mais do que ela imaginou, e seu corpo cai contra o corpo de William, que a segura contra si. Sua mão livre abraça suas costas e eles olham um para o outro. Uma troca de olhares que a muito ele não recebia.
William força sua respiração, quando se dobra e pega a garota no colo, não pelo peso da garota, mas pelas reações que seu corpo tem ao segurá-la, ele carrega Agnes até a carruagem onde coloca seu corpo sentado no banco em frente ao dele.
Antes de pedir que o cocheiro siga viagem, William se levanta, retira seu manto e o estende até a garota. Ele percebeu a falta de roupas em seu corpo, o vestido estilhaçado mostrando muito mais do que deveria, mas não fala nada pra ela apenas estende a peça de roupa para a garota que aceita sem pensar duas vezes.
— Agnes Urd Thyri. — Ele diz.
— O que é isso?
— Seu nome, não posso deixar que continue sem um sobrenome, esse combina com você.
William observa a garota ruborizar enquanto assente com a cabeça, ela é realmente muito bonita, Urd Thyri significa "destinado a combater o trovão" mas ele não diz isso a ela.
— Preciso dormir, a viagem até a casa é longa, e mais cansativa do que deveria. Você devia fazer o mesmo, sei que está cansada. — É o que ele diz.
— Antes que durma gostaria de fazer uma pergunta, como você soube que eu estava na carruagem senhor?
— William, pode me chamar de William. É a minha carruagem Agnes, eu sabia que estava nela, antes mesmo de sair de Sollis.
Ele diz e fecha seus olhos, apagando instantaneamente.
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William já está em uma cama na ala masculina do centro médico de Tir Magicae quando acorda, sem ideia de quanto tempo se passou. Ele tenta se levantar, mas se sente fraco, a agulha em seu braço ligada a substância de aparência viscosa só mostra a ele que está muito mais fraco do que imaginava.
— Evite se mexer meu lorde. — A voz de Cateline soa em seus ouvidos.
— A garota Cateline...
— Está sendo tratada e medicada, imagino que tenha muito o que explicar a todos meu lorde, mas está muito fraco nesse momento.
— O rei...
— O corpo do rei está sob análise, Lawlieth Dalibor tomou o trono para si como o senhor imaginava.
— Era incerto, mas as chances eram altas. Leonard nunca percebeu ser uma competição, e Lawlieth é esperto demais. Quanto tempo eu dormi?
— 2 dias meu lorde. O senhor chegou aqui com suas reservas terrivelmente baixas. Seu corpo precisava se recuperar ao menos o suficiente para se manter vivo. Não preciso lembrá-lo do quanto é perigoso deixar seus níveis chegarem tão baixo, preciso Meu lorde?
— Não Cateline, não precisa. Mas eu preciso sair daqui, amanhã os novos magicae devem começar a chegar, tudo deve estar acertado para a recepção deles.
— Nicholas está resolvendo tudo meu lorde. Tudo o que você precisa nesse momento é abastecer suas forças.
— Você não me deixará sair de qualquer maneira, estou certo Cateline?
— Sim, está certo meu lorde.
Cateline sempre foi preocupada demais com a saúde e o bem-estar de todos, ele sabe o quanto estar no centro de saúde a satisfaz, ela é boa nisso, mas se preocupa demais com todos.
William fecha os olhos e tenta voltar a descansar, no fundo, ele sabe que Cateline está certa de qualquer forma sobre ele precisar recuperar suas forças, ainda mais se chegou tão perto de usar até a última gota do seu poder, amanhã será um dia cheio. Ele tem certeza que pode deixar algumas coisas para depois.
Um tempo demora até que ele consiga voltar a dormir, sua mente viajando do corpo sem vida do rei, ao corpo da garota que encontrou quase sem vida. Agnes, com seus belos olhos azuis, ele espera que tudo acabe bem pra ela, agora que ela se livrou de Sollis, mas, algo o diz que não é tão simples assim.
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O amanhã demora a chegar, o fato de William ter acordado muito mais cedo do que deveria só faz com que o tempo pareça passar ainda mais devagar. Parece fazer meses que está ali quando finalmente Cateline o libera do incômodo de se manter no centro médico.
Cateline entretanto avisa que Agnes ainda não tem a mesma disposição de William e não está pronta para visitantes, ela explica a ele sobre as diversas lesões encontradas no corpo da pobre garota, e pede gentilmente que William se retire dali sem causar nenhum alvoroço.
Existem muitas coisas que ele precisa fazer no momento, mas uma se sobressai as outras dezenas de tarefas, o que o leva até seu segundo destino mais urgentemente. O necrotério.
— Bem vindo meu lorde, sente-se bem? — diz Lúcius o responsável por essa área de Tir Magicae.
— Ótimo, obrigado Lúcius. O corpo do rei está sendo investigado? Como andam as coisas por aqui?
— É tudo muito estranho meu lorde, mas prefiro que veja por si mesmo, venha comigo por gentileza.
William segue Lúcius até o quarto onde o corpo do rei repousa em cima de uma mesa, 5 magicae estão a sua volta fazendo uma visita de morte conjunta. Unir as forças é muito útil em casos difíceis como esse, mas a essa altura isso não deveria mais ser necessário.
— O que estáacontecendo Lúcius? — Ele pergunta, ainda que já imagine a resposta.
— Já devem estar terminando essa rodada senhor, tenho certeza que Magnus terá prazer em te contar. — Lucius diz e se retira, deixando um pensativo William para trás.
Ele espera, e realmente logo a visita de morte termina, eles parecem exaustos, principalmente Magnus.
— Bom dia Magnus, Lucius me disse que algo estava estranho em relação a essa morte, você pode me explicar o que está havendo?
— Bom dia meu lorde, na verdade tem muita coisa estranha ao redor dessa morte senhor, por mais que tentemos nenhuma informação consegue ser extraída do corpo, a única coisa que conseguimos é o que o senhor já sabe.
Magnus explica, que é como se uma aura negativa rondasse o corpo do rei e o impedisse de ver mais, essa energia, explica ele, parece inclusive interferir na magia contida ali.
É realmente tudo muito estranho, William se lembra imediatamente de Sollis e de como a energia do orfanato parece pertubar sua magia. Será possível os dois estarem ligados de alguma forma? São muito poucas as pessoas que podem fazer algo daquela potência, ainda mais alguém que não é um magicae. Naquele momento, somente 3 nomes vem a cabeça de William.
William tem uma suspeita maior em uma dessas pessoas, ele sente, que há algo mais ali, atrás daquele rosto e da energia maligna que ele sente vindo desse ser, mas, sabiamente ele não diz de quem se trata, nem mesmo aos seus mais íntimos pensamentos.
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