Capítulo III

William

É tarde, quase 5 horas da manhã quando William finalmente chega a pensão em Dinas Aur. Os dias de testes são sempre muito cansativos, mas visitar as famílias ricas, de alguma forma lhe cansa mais que qualquer outro lugar, ou melhor,  quase qualquer outro lugar. Talvez seja o escândalo que as crianças costumam fazer ao descobrir que não são magicae, na verdade, ao perceber que nem tudo é capaz de ser comprado com as moedas do pai, ele diria.

Ele põe a mão na porta da hospedagem, quando ouve os cascos do cavalo parando atrás de si. William se xinga mentalmente, por estar cansado demais pra não ter percebido o cavalo antes.

— Magicae.

William se vira lentamente, tendo o cuidado de manter seu rosto invisível para o homem.

— Sim cavalheiro.

— Precisam de você no Palácio. O rei morreu.

As palavras chave foram ditas, William não pode negar uma visita de morte, muito menos uma visita de morte ao rei. Aparentemente hoje,  não será uma boa noite de descanso.

— Estou a caminho. — Ele diz simplesmente, e parte em busca de sua carruagem. Seria de extrema utilidade se ele conseguisse se teleportar, mas esse tipo de mágica, só funciona com um único destino, Tir Magicae.

O cocheiro não demora muito até por os cavalos a galope, provavelmente cerca de meia hora até chegar no castelo, nada que seja o suficiente nem mesmo para um cochilo proveitoso.

Chegando ao castelo William vê todos desesperados, um corre corre tumultuado por qualquer lugar que ele olhe, típico de uma cena de morte de nobre, ninguém se desespera quando a morte é de um pobre infeliz. O príncipe mais novo é quem o recepciona na entrada e o leva até os aposentos do pai.

— Obrigada por me acompanhar até aqui, agora preciso ficar sozinho com ele por gentileza. — Diz william antes de fechar a porta na cara do príncipe.

William respira alto, encontrar a causa da morte nem sempre é fácil, muito menos simples, e William sente que a morte do rei dará muito trabalho. Talvez trabalho o suficiente para que seja necessário o transporte do corpo até Tir Magicae. O que pode ser de desagrado dos príncipes, ele torce para que não seja, ao menosde um deles.

Alguns minutos se passam enquanto William se concentra no seu poder, conectando-se com essa parte de si, abraçando a magia que existe nele, e finalmente, expandindo-a para o corpo na sua frente.

Quanto mais tempo passa mais sua cabeça dói, algo que a essa altura acabou se tornando natural de certa forma. Quase 10 minutos se passam até que ele tenha apenas duas respostas, mas ele sabe que nada além disso virá desse corpo, apenas a exaustão.

A visita de morte, é algo difícil de ser explicado, até mesmo para quem é magicae, exige uma concentração e uma conexão com o próprio poder gigantescas.  Pra ele é quase como se ele forçasse o corpo morto a contar uma história, uma história que nem sempre é linear, uma história que nem sempre é util. William precisa receber a história e depois filtrá-la, ver se encontra alguma informação útil, e se não, fazer todo processo mais uma vez.

Mas pelo menos duas informações são melhores que nenhuma, o rei foi envenenado e foi envenenado por alguém que estava no castelo quando ele chegou, alguém de posição alta, mas ele não consegue descobrir quem, mesmo com todo o esforço que ele faz.

Sua cabeça parece prestes a explodir quando desce as escadas, indo atrás dos príncipes. A essa altura o castelo ja segue num ritmo muito mais tranquilo.

William para de frente a porta onde os dois príncipes parecem estar, e bate na madeira de carvalho da qual a porta é feita.

— Entre.

William adentra o recinto, e olha os príncipes que o encaram de cima a baixo, curiosos com sua pessoa, algo normal, qualquer um ficaria curioso de frente a uma figura que não mostra nem um pedaço de sua pele a ninguém que não seja um dos seus.

Ele explica o estado do rei, falando tudo sem rodeios, William não é o tipo de homem que costuma ter papas na língua, ou pensar nas emoções que suas palavras podem causar. Ele simplesmente fala o que precisa falar, e não fala o que sabe que é melhor manter para si.

A briga de poder entre os príncipes por exemplo, é algo nítido, um lado bom, um lado ruim. Nem mesmo ele sabe quem vai vencer essa disputa, mas ele obviamente tem um preferido. Claro que William mantém tudo para si mesmo, fingindo não ver algo que até mesmo um cego notaria. 

Outra coisa que William mantém para si é sobre quem matou o rei, o príncipe herdeiro chega a perguntar se ele sabe quem foi, e ele diz que não,  o que não é uma mentira, mas ele também não diz que sabe que é alguém com certo prestígio digamos assim, ele sabe muito bem que não é sábio colocar fogo numa fogueira tão alta quanto essa.

Por fim William pede para levar o corpo do rei até Tir Magicae, e dessa vez é o príncipe mais novo quem concede seu desejo. Num perfeito equilibrio entre os dois. Ainda que eles próprios não o notem.

William não consegue resistir a uma leve provocação na saída, com um sorriso que eles não podem ver, ele se debruça sobre si mesmo, fazendo reverência a ninguém em específico, talvez seja algo imprudente de se fazer, principalmente se levar em consideração que com sua posição ele não precisa fazer reverências a ninguém que não seja digno. Mas o espirito de William as vezes pede por um pouco de ousadia.

Ele sobe ao quarto do rei. Avisa aos funcionários mais próximos que estará mandando o corpo até Tir Magicae, com a autorização dos príncipes. Ninguém se põe contra ele, sabiamente. Ele leva o corpo nos braços até sua carruagem. Coloca-o no banco e pede ao cocheiro que o leve.

William faz o caminho de volta a pensão onde estava a pé, o sol ainda não brilhou no horizonte o que acaba ajudando na caminhada que por sua vez ajuda com sua dor de cabeça e tudo o que ele precisa é um banho e cair em uma cama. Felizmente hoje é dia dos últimos dois lugares em que ele precisa testar crianças antes de voltar, uma casa e um orfanato, ele sempre deixa Sollis por último, aquele lugar tem uma aura tão terrível que se ele pudesse nunca mais punha os pés ali, o que o deixa intrigado ao mesmo tempo, não é comum um lugar o deixar daquela maneira.

Já passou mais tempo do que deveria quando ele finalmente entra na pensão,  toma seu banho e se deita na deliciosa cama desconfortável do lugar. Seus olhos se fecham quase instantaneamente e ele adormece.

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William acorda mais tarde do que deveria, e precisa correr para conseguir chegar no horário marcado em ambos os lugares de visita.

A primeira casa é limpa e agradável, típico, a criança, um menino, tem tanto poder quanto uma noz, não, uma noz provavelmente tem mais poder que o menino. William informa a família que o pequeno não é um Magicae e se levanta rumo a saída, a criança esperneia, os pais pedem um novo teste, infelizmente sua paciência está no limite, então apenas sai e bate a porta atrás de si, escutando apenas o "ano que vem, filho, ano que vem" que a mãe diz para a criança. Bando de tolos, ele pensa.

William entra novamente em sua carruagem, e segue até Sollis, o último lugar entre ele e Tir Magicae, Sollis sempre tem que ser o último lugar, do contrário William não conseguiria terminar suas obrigações, uma visita a Sollis o obriga a voltar pra casa e repor as energias logo em seguida.

Ele bate a porta, o sino que avisa sua chegada já soou, e ainda assim ninguém o atende. Ele bate novamente, espera, e ninguém atende a maldita porta, ele estende a mão para bater pela última vez, quando a porta se abre e Vivien Strois aparece de frente a ele.

— Desculpe a demora, eu estava ocupada. — Ela diz com um sorriso amarelo, enquanto arruma os cabelos.

— Senhor Magicae.

— Perdão? — Ela fala com uma voz doce demais, forçada demais, não há nada em Vivien Strois que não seja falso ou forçado. O que essa mulher esconde? É a pergunta que ele se faz a quase 12 anos.

— Desculpe a demora senhor Magicae. Até onde eu me lembro, não somos amigos Strois e muito menos estamos em uma classe similar, então me trate com a formalidade necessária, ou eu vou embora daqui. — Isso tudo era desnecessário é claro, mas aquela mulher, aquele lugar, tiravam o pior dele. Nem seus poderes eram os mesmos ali.

— Claro, me desculpe senhor Magicae, as crianças estão esperando.

Ele a segue até o refeitório abarrotado de crianças, a maior parte crianças pequenas. William tira a pequena lâmina do bolso e pede que a primeira criança se aproxime.

— Qual seu nome?

— Lizbete senhor.

— Ok, Lizbete, estenda o braço por gentileza.

A pequena estende e ele faz um corte pequeno em seu pulso. As crianças de outros lugares correm, se desesperam, chegam a puxar o braço quando ele aproxima a lâmina,  ali, as crianças nem piscam. Quão ruins devem ser as coisas nesse lugar, pra que aa crianças cheguem nesse nível?

William diversas vezes pediu investigações sobre Sollis, mas, nenhuma nunca vai pra frente e ele não consegue entender o motivo, William detesta não entender algo.

Lizbete não tem poder algum, nem nenhuma das outras vinte crianças que ele testa. Ele sempre torce pelas crianças em Sollis, mas nem sempre obtém bons resultados, esse é um ciclo particularmente ruim.

William vai se dirigindo a saída, e por um momento ele sente algo estranho, uma energia diferente no ar. Mesmo que a atmosfera daquele lugar corrompa sua magia ele consegue sentir.  E William sabe que o melhor a fazer é sair rápido dali.

Ele nem se despede de Strois, apenas sai, pede ao cocheiro pra por os cavalos em galope, e adentra sua carruagem. Cerca de quarenta minutos se passam, eles chegam em algum ponto das montanhas da perdição quando William pede que o cocheiro pare.

O lugar onde estão é seguro o suficiente pra que ele vá ate o bagageiro e o abra. A cena que vê ali, é aterrorizante. Uma menina, em carne viva deitada, seu peito ainda se move o que o faz pensar que está dormindo e não morta felizmente, a última coisa que William precisa nesse momento é outra visita de morte.

O fedor de carne queimada, sangue e urina o faz querer vomitar. William concentra seu poder, e utiliza tudo o que pode do restante de seu poder armazenado para curar a garota. Não é o suficiente para que ela fique perfeita, mas é o bastante para que não corra risco de vida.

Seus olhos azuis se abrem lentamente e ela olha para ele, realmente olha pra ele, do ângulo em que está ela consegue ver boa parte do seu rosto abaixo do capuz.

— Consegue falar?

— Co-consigo.

— Quem é você?

— Não me manda de volta, por favor, ela vai me matar, não me mande de volta. — O desespero em sua voz parte seu coração. É claro que ele não a mandaria de volta, ainda mais sendo ela a grande oportunidade dele entender Sollis de uma vez por todas.

— Eu perguntei quem é você.

— Agnes. Meu nome é Agnes.

— Eu não conheço você. Quantos ciclos tem Agnes?

— Acabei de completar 18.

— Eu não conheço você, como eu posso não conhecer você?

— Acho que nunca fomos apresentados.

— Agnes. Eu conheço todas as pessoas com quem meu poder já esteve conectado. Eu sou o único Magicae a testar as crianças a cerca 12 ciclos. Era pda termos nos conhecido a 9 ou 10 ciclos atrás. Então,  faço novamente a pergunta, como é que eu não conheço você Agnes?

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