Capítulo II
Leonard
São pouco mais de 5 horas da manhã, e Leonard está sentado em sua cadeira bebericando um copo de whisky, enquanto a insônia toma conta de seu corpo, justificadamente, afinal, como dormir quando o corpo de seu pai repousa num quarto ao lado do seu?
O castelo está em polvoroso criados sobem e descem as escadas, vozes e ruídos por toda a parte. Enquanto apenas angustia percorre o corpo de Leonard, ele não consegue estar perto das pessoas nesse momento.
Quando anunciaram a morte do rei e os sinos tocaram, não teve uma única pessoa em todo o castelo que tenha continuado a dormir. Pessoas e mais pessoas aparecem no quarto do rei para verificar a informação, para chamar os Magicae, para passar a fofoca adiante. A gritaria logo tomou o ambiente e tudo se tornou caótico.
Como futuro rei, talvez fosse sua obrigação fazer algo para ajudar, mas Leonard não o faz, continua ali afogando seus sentimentos no copo com o líquido amadeirado, aguardando a chegada do Magicae. Nada parece fazer suas pernas se moverem dali, não até a chegada dele, não até a confirmação.
Ele sabe que talvez demorem horas até que alguém consiga avisar os Magicae, e mais horas ainda até que ele chegue, mas, a verdade é que Leonard não se importa. Ele não conseguiria dormir ainda que quisesse e também não consegue obrigar suas pernas a levantarem, então que saída ele poderia ter de qualquer forma?
Pensamentos invadem a sua cabeça e ele os afoga com um poderoso gole de whisky, o peso da responsabilidade já começando a pesar sobre si.
Seu copo já está pela metade quando alguém bate na porta da sala em que ele se encontra, até que demorou para que alguém viesse finalmente a descobrir que ele estava ali, Leonard pensa.
— Entre. — Ele diz simplesmente, com a voz grossa. Faltam-lhe palavras melhores nesse momento de pura angústia sofrega.
Seu irmão mais novo abre a porta e se mantém ali enquanto fala com uma voz sem vida. Lawlieth está impecável como sempre, trajando sua veste negra. O rosto sombrio como de costume.
— O Magicae chegou, está no quarto com o nosso pai. — Sua voz não mostra emoção alguma, se algum dia Lawlieth foi capaz de demonstrar sentimentos por meio de sua voz, não o fez para Leonard.
— Com o corpo do nosso pai, você quis dizer. — Diz o mais príncipe mais velho friamente, remexendo sua bebida no copo.
— Você me entendeu. — Responde ele e adentra a sala, mesmo sem ter recebido o devido convite. — De qualquer forma, ele está lá verificando a causa da morte de nosso pai.
— Entendo. — Leonard olha para o lado, como futuro rei de Izzyath, ele não pode se permitir demonstrar fraqueza, nem mesmo de frente ao seu único irmão.
Lawlieth respira fundo e segue até as bebidas, enchendo posteriormente um copo de whisky para si.
Ele toma um grande gole do copo que acabara de encher e se senta de fronte ao irmão. Arrumando as peças no tabuleiro de xadrez.
— Qual a sua teoria? — Ele pergunta, enquanto move sua primeira pedra no tabuleiro, sem notar o evidente desconforto do irmão.
— Não pensei sobre isso, estava ocupado em luto pela morte do meu pai. — Diz Leonard, apesar de ainda assim mexer uma pedra também.
— Pelo amor dos deuses Leonard, eu também estou de luto. Não haja como se fosse o único a sofrer pela morte do nosso pai. — Lawlieth diz enquanto revira os olhos e move outra pedra no tabuleiro.
— Sei que também sofre Lawlieth, mas temos jeitos diferentes de lidar com isso. Apenas me incomoda que o seu seja equivalente ao de uma velha mexeriqueira.
— Só estou curioso sobre isso, papai era velho, mas era saudável. Até onde sei ele não sofria de nenhum tipo de doença e também não conheço uma doença que mate rápido assim. — Lawlieth tem o cenho franzido enquanto ele encara Leonard nos olhos.
— Existem diversas doenças que matam rapidamente irmão, mas, da forma que fala, parece até que considera a possibilidade de isso ter sido um assassinato. — Leonard encara o irmão que o encara de volta com olhos duros. — Não é possível que você esteja considerando seriamente possibilidade de ser um assassinato? Quem mataria o rei? Papai sempre foi justo Lawlieth.
— Sei disso, só é tudo muito estranho. Parece para mim que alguma peça, simplesmente não se encaixa. Sei que existe algo a mais nessa história irmão.
— As peças não se encaixam, pois ainda lhe faltam peças, não é possível solucionar um quebra-cabeça se não tem todas as peças irmãozinho. — Leonard diz e faz uma pausa antes de continuar. — De qualquer forma, logo teremos a peça mais importante. Por falar nisso, como o magicae chegou tão rápido ao castelo?
— É o período de teste das crianças, ele estava em Dinas Aur para visitar alguns lugares, o cavaleiro o avistou na entrada da pensão onde ele passará a noite, demos sorte acredito eu. — Ele responde em seguida abre um sorriso mivendo uma peça no tabuleiro de xadrez. — Xeque-mate.
— Não sei como você sempre consegue me vencer se passo muito mais tempo jogando que você. — Diz Leonard irritado.
— Não é questão de tempo jogando, irmão, eu vejo suas jogadas. Sei dos seus planos. Conheço você. Xadrez não é sobre tempo, é sobre ver o inimigo.
— Eu não sou seu inimigo Lawlieth.
— No xadrez você é Leonard.
Leonard encara Lawlieth tentando decifrar a expressão do irmão, mas o mesmo sempre pareceu insondável para ele. Quase como se Lawlieth não passasse de uma grande interrogação. Seus olhos escuros não lhe entregam nada, enquanto seu rosto parece sempre o mesmo, é quase impossível ler Lawlieth, quem dirá prever seus movimentos. Ele abre a boca para responder ao irmão, mas alguém bate à porta no mesmo momento.
— Entre. — Ambos os princípes dizem ao mesmo tempo.
A figura encapuzada adentra a sala. Nenhuma pele é vista por baixo da roupa de magicae, nem mesmo o rosto. A única coisa que o faz detectar ser um homem é a compleição física. E claro a voz grave e levemente rouca que soa em seguida. Tirando isso, nada é possível saber do homem por baixo do capuz, nem idade, nem aparência, nem mesmo o tom de pele é revelado. Afinal, as botas e as luvas que complementam o visual, cobrem as últimas partes possíveis de alguma visão.
— Seu pai foi envenenado. — diz ele sem mais preâmbulos.
— Você sabe dizer por quem? — Leonard questiona, surpreso com o silêncio de Lawlieth.
— Minha magia não tem o poder de ir tão longe, apenas posso dizer que quem quer que tenha assassinado o rei, ainda estava no castelo quando cheguei aqui.
— A pessoa continua aqui? — Questiona Leonard aflito.
— Não posso determinar isso. Mas quero levar o corpo até Tir Magicae, para ser analisado por outros, existem pessoas mais capazes de solucionar corpos mortos que eu.
— Claro. — Lawlieth fala pela primeira vez, ele não perde tempo questionando se o irmão gostaria disso
— Obrigado majestade, entrarei em contato assim que descobrirmos alguma coisa. Peço apenas que tenha paciência, como estamos em tempo de visita, o retorno pode demorar mais que o normal para um caso como esse.
— Nós entendemos. — Diz Lawlieth com a mesma voz inexpressiva.
O Magicae faz uma reverência que não se entende para qual dos dois seria e se retira da sala. O silêncio paira no local, pesado. Lawlieth se levanta, quebrando o silêncio deixado pelo Magicae.
— A coroação será às 8 horas de amanhã, não se atrase. — Ele fala enquanto se retira.
Leonard nada diz, apenas continua ali, perdido em pensamentos, até que o sono o faz ir até seu quarto, dormir as poucas horas de sono que ainda pode.
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Ao sétimo badalar do relógio, Leonard acorda, temendo ter perdido o horário e se levanta. Toma um banho demorado e se veste com suas roupas de luto. É chegada a hora da coroação, é chegada a hora de se tornar rei.
É triste que tamanha tragédia tenha que acontecer para que Leonard possa subir ao trono, mas ele não pode negar estar animado com o que o destino lhe reserva. Vai ser uma honra para ele tornar-se rei e governar os milhares de habitantes de Izzyath.
Seu coração bate descompassado conforme ele caminha com passos suaves e segue até o salão do trono, nenhuma viva alma é vista pelo caminho.
Vozes são audíveis vindas do salão. Convidados da coroação, imagina ele. Leonard não consegue distinguir o que é dito, tamanhaa confusãode vozes que ecoa, até chegar ao salão e no momento em que as portas se abrem, tudo se torna claro feito água.
Lawlieth está lá sentado no trono que deveria ser seu, enquanto todos a sua volta o saúdam de joelhos com as testas coladas ao chão.
— Salve Lawlieth Dalibor, o rei de Izzyath. — A multidão diz.
Leonard nem chega a se sentir confuso, apenas traído. Uma traição inesperada, mas isso não seria o princípio de qualquer traição? Afinal, elas sempre vem de onde menos se espera, de quem menos se imagina. Mas Leonard devia ter imaginado, angústia pesa em seu peito, junto da dor profunda de ver seu irmão pisar em cima dele para poder ascender.
Olhares são trocados, Leonard com sua profunda decepção e angústia marcando seus olhos verdes, enquanto Lawlieth por sua vez apenas o encara com a mesma expressão indecifrável de sempre. Xeque-mate Leonard diz mentalmente, Lawlieth realmente sempre foi melhor em jogos do que ele.
Frustrado, Leonard se retira do salão sem dizer uma palavra, sai do castelo em busca de ar puro, mas apenas sair do castelo não é o bastante. Assim que se vê livre das paredes opressoras do castelo, ele se põe a correr, Leonard corre e corre o mais longe que seu corpo aguenta.
Como Lawlieth pode o trair desta forma, ele pensa, a menos que ele não tenha traído apenas a ele. Ele sabe quem matou o rei.
Leonard continua correndo até chegar em Montes Pestais, a descoberta feita por ele destrói o pouco de sanidade e de orgulho que ainda restam nele, e é ali que ele se permite derramar toda frustração, toda a raiva e todos os maus pensamentos que permeiam a sua cabeça.
Ele se ajoelha na areia com as mãos apoiadas na frente do corpo enquanto ele chora, cada lágrima que estava segurando, como um menino de 8 ciclos ao descobrir não ser um Magicae. A raiva chacoalha seu corpo, ele não pode se permitir deixar as coisas dessa forma, ele reconquistará o que é seu por direito.
Leonard implora aos céus, que o ajudem a recuperar o que lhe foi tomado. O que lhe foi tirado com tamanha injustiça. E é aí que uma ideia surge em sua mente.
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