Capítulo 7
Permaneci no meu quarto, em silêncio, como se tivesse adormecido. Talvez assim o guarda abandonasse seu posto e fosse fazer algo realmente útil. Não entendia que tanto trabalho Ária teria para não poder falar comigo em momento algum.
Não entendia os motivos para me deixar sob vigilância, sendo que as duas pessoas que fugiam sempre comigo estavam presas em seus quartos.
Bem... talvez tenha em mente que faria tudo para saber como estão. Principalmente depois de descobrir que Ethan está machucado por algum motivo.
Minha tática não deu exatamente certo. Assim que abri a porta, o guarda ficou alerta e me perguntou se queria alguma coisa. Disse que não, mas fiquei pensando se dissesse que sim. O que ele faria? Não poderia sair dali... como chamaria alguém, se estavam todos em seus quartos ou ocupados demais? Deveria ter pedido algo....
Voltei para a cama e fiquei encarando o teto, pensando em uma maneira de fugir. Havia notado que não teria como sair pela janela, já que não tinha árvore alguma perto o suficiente e estava no terceiro andar. Não havia nenhuma estratégia coerente.
"Está com algum problema"? Ouvi aquela vozinha conhecida falar em minha mente.
— Sombras?
"Somos nós. Fale baixo. O que houve?"
— Ária me mantém sob vigilância e não sei como estão Ethan e seu antigo mestre.
"Por que não foge?"
— Não posso. Não tem nenhuma rota de fuga e um dos guardas está na minha porta.
"Nós podemos ajudá-la."
— Podem mesmo? — Sentei na cama, olhando para o escuro.
"Sim, mas só se confiar em nós."
— Eu confio. Claro que confio, mas como pretendem me ajudar?
"Lembra-se do pássaro no qual nos transformamos?"
— Lembro.
"Você pode voar conosco e fugir pela janela."
— Estão falando sério? Sem perigo de despencar do nada?
"Sim, se você confiar em nós. Essas coisas podem ser feitas à base de confiança e confiamos em você."
— Obrigada. — Sorri contente. — Mas tem como voarmos sem que ninguém nos veja?
"Infelizmente, não. Quando estamos materializadas por completo não podemos desaparecer."
— Tudo bem. Precisamos tomar muito cuidado. — Levantei da cama em silêncio. — Só me digam uma coisa. Vocês me reconhecem quando estão na forma de pássaro?
"Sim e também obedecemos suas ordens. Não gostamos de nos materializar por completo porque nos tornamos completamente submissas à nossos mestres".
— Se não quiserem, tudo bem....
"Nós queremos. Queremos ajudá-la. É importante".
— Nem sei como agradecê-las.
"Não precisa. Você já faz isso quando tenta resgatar nosso antigo mestre de nossas irmãs Trevas."
— Acabei de me lembrar de uma coisa. Ele alimentava vocês... não sentem fome?
"Ainda estamos ligadas a ele, quando se alimenta, sua energia vem em partes para nós. Não é tanto quanto recebíamos antes, mas serve para nos satisfazer."
— Isso é estranho. A energia dele vem do sangue que bebe, não é?
"Sim."
— E se fosse eu que tivesse que alimentar vocês? Não sou vampira.
"Teríamos que beber de você. Você iria nos alimentar com seu próprio sangue".
— Ah. E isso iria doer? — Juntei coragem suficiente para perguntar, após engolir em seco.
"Um pouco."
— É melhor irmos logo.
"Muito bem. Faça como antes". Fechei os olhos por causa da energia emitida quando se transformavam. Ao abri-los novamente, ali estava o mesmo pássaro que vi da outra vez.
— Posso subir? — Aproximei-me devagar.
A ave fez que não e seguiu até a janela, parou em frente à mesma e fez sinal para que a abrisse, depois pulou para o beiral e fez sinal para que subisse.
Foi um pouco difícil subir na ave em cima do beiral, mas com a ajuda de uma cadeira ficou mais fácil. As penas eram tão macias quanto algodão e ao contrário de quando eram aquela espécie de fumaça, agora conseguiam aquecer um pouco, embora a sensação ainda fosse gélida.
As Sombras em forma de pássaro sobrevoaram todo o jardim, sempre tomando cuidado para que os guardas da ronda não nos vissem. Tínhamos um número bem reduzido de guardas, por isso eles atuavam em turnos e faziam a ronda.
Não sabia onde era o quarto de Ária, mas as Sombras, sim. Chegamos perto da janela e antes de bater, pois estava trancada, pensei que seria melhor se batesse na porta. Afinal, estava montada num pássaro, que era a forma física das sombras que eu controlava, e Ária não tinha a menor ideia desse meu poder.
Acabei desistindo de entrar direto no quarto e procurei por alguma janela aberta. Entrei no palácio e as Sombras ficaram me esperando do lado de fora. Caminhei até onde imaginei ser o quarto de Ária e bati na porta. Ninguém atendeu. Não havia qualquer som lá dentro, provavelmente não estava ali.
Onde estaria a essa hora? Voltei a me encontrar com as Sombras, que me guiaram até as janelas do salão de reuniões, mas lá também não havia ninguém. Pelo jeito teria que encontrar Ária de outra maneira e num outro dia.
Quando já estava quase no meu quarto, lembrei que não havia visto Zein ainda e precisava saber como estava. Pedi às Sombras que me levassem ao quarto dele e me obedeceram, mesmo que relutantes, por causa das Trevas que ainda o rodeavam. A janela estava aberta e entrei sem avisar, mesmo sabendo que isso era falta de educação.
— Zein? — O quarto estava escuro, nem a lua estava presente no céu para iluminar alguma coisa. As poucas luminárias a gás dos jardins pareciam pequenas estrelas no céu noturno sem lua.
— Alessia? O que está fazendo aqui? — Ouvi sua voz de algum lugar, mas tinha um tom diferente.
— Vim ver como você está. Ethan não parece bem, acho que o machucaram. Como você está?
— Estou bem. Já pode ir.
— Qual o problema? Você não parece bem. Onde está? — Tentei acostumar minha vista à escuridão.
— Saia daqui, Alessia. — Sua voz agora parecia estar angustiada.
— Por que quer que eu saia?
— As Trevas querem que você me alimente. Saia daqui antes que me controlem.
— Você não pode deixar que o controlem! Você prometeu para mim que iria lutar!
— Não é uma opção no momento. Também estou machucado.
— Quem te machucou? Você sabe onde está a Ária?
— Não importa e não sei onde ela está.
— Por favor..., Ethan também não quis me dizer. Disse apenas que foi um castigo por me ajudarem a fugir e não me protegerem. Ária permitiu que os machucassem por isso?
— Ethan está certo. Agora saia daqui, Alessia! — Sua voz se elevou de uma maneira tão imponente, que achei melhor não contrariar a ordem.
— É melhor se alimentar na cozinha, então. — E saí, montando no pássaro de sombras, retornando ao meu quarto novamente. Agradeci as Sombras, que se instalaram nos cantos do meu quarto, enquanto deitava e acalmava a mente para dormir.
Nos dias que se seguiram, resolvi fazer uma espécie de greve e não sair do quarto para nada. Ficava o tempo todo lá dentro, treinando os poucos feitiços que aprendi em Fantasy e tentando me comunicar mais com as Sombras, já que estavam me ajudando bastante ultimamente.
Fiquei o primeiro dia todo sem comer, não abri a porta para ninguém e mal falei com o guarda, com Ivan ou com Cameron, que foram convocados a tentar me tirar do dormitório. Na metade do segundo dia, não aguentava mais de dor de cabeça por ter ficado tanto tempo sem comer. Já começava a me sentir tonta, quando alguém bateu na porta e me chamou. Era Daniel.
— Alessia, por favor, saia daí! O que você tem? — Estava visivelmente preocupado.
— Nada.
— Por favor, saia. Venha comer alguma coisa. Disseram que você não come há um dia e meio.
— Não vou sair. Sinto muito.
— Tudo bem, mas pelo menos coma o que te trouxer está bem? Para não acabar morrendo de fome. — E depois que insistiu mais algumas vezes, acabei aceitando a oferta.
Abri a porta e peguei a comida, mas não o deixei entrar e não ficou insistindo nisso. Daniel me conhecia e sabia que era teimosa. Não valeria a pena discutir, se já tinha cedido uma vez.
Mal havia reparado como estava com fome até devorar tudo em menos de cinco minutos. Não sabia muito bem quem estava cozinhando, mas essa pessoa merecia ser reconhecida. Estava tudo muito saboroso. A carne macia, a salada bem temperada, o purê estava com uma textura maravilhosa, o suco era natural e nada estava salgado ou doce demais.
Quatro dias se passaram e continuava trancada no quarto. Daniel me levava comida no mesmo horário todos os dias e embora me sentisse mal por praticamente fazê-lo de empregado, meu plano era fazer com que Ária viesse até mim para saber o que estava acontecendo e assim pudesse falar com ela.
Estava perto do horário de Daniel vir me entregar comida, por volta das duas da tarde, que passou a ser meu horário de almoço. Alguém bateu na porta e não esperei que se identificasse, pensei que fosse Daniel.
Quando abri, lá estava o guarda que passava seus dias em frente à porta do meu quarto para me impedir de fugir ou de ir atrás de Ethan e Zein, muito embora não estivesse tentando fazer nada disso nos últimos dias.
— Alessia, nós não temos muito tempo. Quando sair daqui, ele vai desmaiar por uns cinco minutos. Precisamos fazer o encantamento e sair pela janela antes disso. — A voz que falava não era a do guarda, mas era conhecida. Pensei por uns instantes e ao identificar quem era, meu queixo caiu.
— Lewis? O que está fazendo? Sair daqui para onde? — Não sabia ao certo o que fazer.
— Vamos dar uma volta pelo antigo porto de Magic. Pedi a Ivan, que permitiu, mas Ária não pode saber e ninguém mais pode. Vamos apenas nós dois e temos que voltar antes de escurecer.
— E como vou sair daqui sem ser vista?
— Não precisa esconder de mim o seu poder. Sei que as Sombras te obedecem e te encobrem quando precisa.
— Tudo bem. Não aguento mais ficar aqui trancada. Acho que sou claustrofóbica.
Voltei para dentro e calcei as mesmas botas que usei ao chegar aqui. Vesti uma roupa própria para conseguir correr, uma legging e uma regata, ambas as peças pretas, as botas marrons. Amarrei o cabelo e peguei uma jaqueta.
— O que temos que fazer?
— Pode parecer bobo, mas funciona. Arrume os travesseiros na cama como se fosse você dormindo.
Obedeci, mesmo estranhando a ordem. Quando terminei, se aproximou da cama, colocou uma espécie de pulseira feita de palha na ponta do travesseiro e me entregou uma pulseira igual.
A pulseira que estava no travesseiro possuía um pingente dourado com o formato de uma bonequinha e a que me deu tinha um pingente pontiagudo, parecendo uma estaca ou agulha.
— Muito bem, chame as Sombras. Vou fechar a porta por um momento. — Enquanto fechava a porta, me concentrei e tentei chamar as Sombras. Pensei que não quereriam me atender, por causa da presença de um "estranho", mas responderam ao meu chamado e apareceram.
"O que deseja, Alessia"?
"Preciso da sua ajuda. Podem se transformar em pássaro novamente e me ajudar a fugir"?
"Por que quer fugir"?
"Não aguento mais ficar trancada".
"Tudo bem. Ajudaremos". As Sombras se transformaram em pássaro fora do cômodo e me esperaram na janela, pairando com as asas abertas, mesmo que isso parecesse fisicamente impossível com seu tamanho.
— Muito bem. É incrível como te obedecem. — Lewis entrou no quarto em sua forma física.
— O guarda apagou?
— Sim. Não temos muito tempo. Feche os olhos e fique ao lado da cama, se imaginando dormir. Repita o que eu disser. Concordei e me posicionei.
"Duo separationi
Unum imperium
Aliud autem est dispensata
Nam ultimum septem horis
Posquam illa esse quo erat
Ante incantatores procedere"
Repeti as palavras como pediu e quando abri os olhos novamente, no lugar dos travesseiros estava uma "eu" deitada na cama, mas havia algo diferente. Parecia uma boneca de cera. Real, até respirava como eu, mas parecia uma boneca de cera.
Não tive tempo de perguntar o que Lewis havia feito, fiquei embasbacada demais e teve que me puxar até a janela rapidamente. Entregou o medalhão dele para mim e disse que iria na forma fantasma para poder voar e se esconder. Montei no pássaro de sombras e subi aos céus, com Lewis voando ao nosso lado como se tudo aquilo fosse um sonho.
Não era sonho e tinha certeza disso. Precisava tomar cuidado para não ser vista e não pude deixar de me sentir em um conto de fadas. Uma princesa fugindo de seu castelo, onde estava trancafiada em seu quarto.
A única diferença era que meu cavalo branco era na verdade um pássaro preto e meu suposto Príncipe Encantado era apenas um amigo tentando me libertar do confinamento que eu mesma me estipulei.
— Lewis, que tipo de feitiço foi aquele? — Finalmente resolvi tirar minha dúvida, após sairmos dos limites da vila e pousarmos em um ponto da floresta.
— Era uma mistura de feitiços. Você não teve tempo de aprender.
— E que feitiços nós misturamos?
— Transformação e Ilusão. São feitiços muito eficientes, mas o primeiro é realmente difícil de dominar. Você criou uma espécie de boneca vodu de si mesma.
— Como é? — Arregalei os olhos enquanto caminhávamos.
— Calma. Não se preocupe. Você não vai sentir nada que fizerem com aquela boneca. É apenas maneira de dizer. Os travesseiros se transformaram numa boneca de vodu e todos que a observam têm a ilusão de que você está respirando de verdade e se mexendo no sono.
— Nossa! Isso é que é eficiência. — Esforçava-me para acompanhar seus passos.
— Fico muito surpreso por você controlar as Sombras a ponto de fazê-las se transformarem para você. Isso é magia de controle bem avançada.
— Me disseram que fazem isso porque querem ajudar. Não as controlo.
— Elas falam com você? Falam de verdade? Com palavras?
— Sim.
— Uau! Isso sim é incrível. Geralmente os Poderes não se comunicam com seus mestres.
— Por que não?
— Os Poderes não gostam de seus mestres. Você também não gostaria de
alguém que pode te controlar para fazer o que bem quiser.
— E você acha que as Sombras não gostam de mim?
Nós chegávamos à praia nesse momento e o sol começou a nos iluminar, após a escuridão da floresta. A areia estava quente, mas não a ponto de queimar nossos pés, havia tirado as botas para sentir a areia em meus pés e ele se ofereceu para carregá-las para mim. Já havia devolvido o medalhão.
— Elas gostam. Isso que é incrível, são suas amigas. Os Poderes geralmente não são amigos de seus mestres.
— Você tem o poder da água, não é? A Água não gosta de você? — Achava realmente difícil alguém ou alguma coisa não gostar dele.
— Ela me obedece, mas não exatamente gosta de mim. — E sorriu timidamente.
— Não pode fazê-la se transformar?
— Já consegui isso, mas exigiu muito poder e energia e fiquei muito fraco. - E observou meus pés de descalços com ar de curiosidade. — Como é sentir a areia?
— Ahn? Do que está falando?
— Como é poder sentir a areia em seus pés?
— Por que não tira os sapatos e experimenta?
— Não adiantaria.
— Por que não?
— Não posso sentir nada.
— Mas você está materializado.
— Posso pegar os objetos e tocar neles, mas não os sinto. É uma espécie de maldição lançada nos fantasmas. Acho que é o que nos faz ser o que somos.
— Não consegue mesmo sentir? — Comecei a me sentir mal por ele.
— Não.
— E não tem nenhum jeito de fazê-lo sentir?
— Há uma maneira. Lembra quando entrei no seu corpo? Podia sentir tudo através de você. Isso é perigoso e já houve guerras por causa dessa rota de fuga à nossa insensibilidade.
— Guerras?
— Meus irmãos fantasmas lutaram para conseguir possuir corpos físicos de outras criaturas e assim ganhar uma segunda chance de viver de verdade e sentir tudo a sua volta. As criaturas não queriam que seus corpos fossem possuídos. Criaturas que não têm o poder da Alma como você e Julie têm, acabam tendo suas almas subjugadas e passam a não ter mais controle algum sobre seu corpo, vivendo enclausuradas na mente que antes as pertencia.
— Todos os fantasmas queriam corpos? — Não consegui disfarçar que estava assustada com a informação anterior.
— Não, mas isso não impediu a Rainha Antonieta de prender todos no Vale da Morte para que não incomodassem mais ninguém.
— Prenderam você também?
— Vivi lá por algum tempo, mas consegui fugir. Descobri que os fantasmas que possuíam sua alma limpa conseguiam passar pela barreira mística que construiu para nos prender. Os fantasmas que não lutaram para conseguir corpos reais conseguiam sair de lá.
— Sinto muito. Deve ter sido difícil para você ver todos ficando para trás. Sua família estava lá?
— Não nasci fantasma, Alessia. Antes de morrer, era um feiticeiro e vivia com minha família. Quando morri, tentei falar com eles novamente, mas há uma regra. Você não pode falar com sua família quando se transforma em fantasma. Não conseguem te ver ou ouvir, só por intermédio de alguma criatura com poder da Alma e não conhecia nenhuma.
— E o que aconteceu?
— Também morreram depois de alguns anos.
— E você pôde encontrá-los novamente?
— Não. Eles não morreram por causas nobres como eu. Suas almas viraram pó estelar. — Quando falou isso pude sentir a tristeza que ainda guardava em si, embora tentasse de todas as maneiras escondê-la. — Estavam ajudando a Rainha Antonieta a capturar alguns humanos, mas foram pegos numa armadilha e queimados na fogueira.
— Ah, eu sinto muito, de verdade. — Senti sua tristeza me invadir de tal forma, que até chegou a doer. Aproximei-me e o abracei forte, para tentar de alguma maneira consolá-lo. Quando fiz isso, pareceu se paralisar por alguns segundos e logo em seguida me afastou, assustado.
— Isso não deveria acontecer. — Imaginei que seu rosto estava mais pálido que o habitual, seus olhos azuis emitiam um brilho diferente e bonito, nada mágico, mas ainda assim bonito.
— Isso o que? Desculpe, se não quiser que te abrace, prometo não....
— Não é isso! Alessia, eu senti! Senti quando me abraçou! — E segurou meus ombros sorrindo, mesmo que seu olhar ainda demonstrasse espanto.
— Ah. Isso não deveria acontecer... — repeti suas palavras como uma idiota. — Você tem certeza? Não foi apenas impressão?
— Não! Eu tenho certeza! Faça de novo!
— Tudo bem. — E embora achasse tudo isso muito estranho, o abracei como havia feito antes e senti que dessa vez retribuiu o abraço.
— Alessia! Isso é fantástico! Como você fez isso? — Seu olhar demonstrava o quanto estava feliz e maravilhado com a situação.
— Eu não sei... queria te consolar de alguma maneira e achei que um abraço pudesse fazer isso melhor que qualquer palavra.
— E você conseguiu! Alessia, pode me dar sua mão?
— Como é?
— Segure minha mão! — E pegou uma de minhas mãos com a mão que estava livre, depois chutou os sapatos para longe de seus pés e começou a caminhar, pisando firme no chão e esfregando os dedos na areia molhada, perto da água.
— Lewis? Você está bem?
— Alessia, posso sentir a areia! Consigo senti-la de verdade! — Sorria de uma forma tão sincera que não pude deixar de sorrir também.
— Não sei como isso está acontecendo, mas fico feliz por você. — Retribui o sorriso, enquanto o observava.
Depois de algum tempo caminhando juntos na beira da água, de mãos dadas para que conseguisse sentir as coisas em que tocava, encontramos o antigo porto de Magic. A plataforma do porto foi feita com grossas toras de madeira e estava ainda bem firme, apesar de estar cheia de uma espécie de musgo verde e bem descascada por causa da ação da água e do vento.
Tinha um barco atracado no final da plataforma, onde o mar já estava mais fundo. Toda aquela água me deixava com um frio na barriga por não saber nadar, mas tudo parecia bem fixo no lugar em que estava e isso servia para me tranquilizar.
— Acha que devemos entrar no barco? — Sabia que tinha a resposta, mas também queria saber se eu queria entrar ali.
— Não sei. Acho melhor não, parece bem acabado e velho.
— Mas pode ter alguma coisa lá dentro.
— Quer entrar e eu fico aqui esperando?
— Pode ser. — E seguiu para o barco, enquanto me sentava na beira da plataforma e observava as águas logo abaixo de meus pés.
O sol havia se escondido atrás de algumas nuvens, porém ainda emitia uma luz clara no céu. Passei a observar o movimento das nuvens, até que ouvi um barulho na água e baixei o olhar.
— Lewis? — Chamei, puxando os pés devagar, de volta para a plataforma.
Não fui rápida o suficiente e antes que conseguisse afastar meus pés da água, senti dedos frios agarrando meus tornozelos e me puxando para baixo, para o fundo do oceano.
Consegui gritar antes de mergulhar completamente, mas fui obrigada a prender a respiração. Fechei os olhos por causa do sal da água, mas senti que os dedos em meus pés foram substituídos por alguma outra coisa. Lutava e me debatia para voltar à superfície, mas meus esforços eram em vão.
Quando já não aguentava mais segurar a respiração e pensei que morreria afogada, lembrei que ainda estava usando os brincos que Sarina me deu, os quais me permitiam respirar embaixo d'água. Peguei um deles e coloquei na boca, deixando-o embaixo da língua como havia me instruído. Apesar de ter engolido um pouco de água salgada, logo consegui abrir os olhos sem que ardessem e pude respirar como se houvesse ar.
A criatura que estava na minha frente pareceria até humana, se sua pele não fosse azul e seus cabelos não parecessem os tentáculos de uma água-viva, tentando se enroscar em tudo ao seu alcance.
O rosto da criatura era um rosto humano e delicado, de uma garota como eu, ou pelo menos parecia. Seria algum tipo de sereia? Como respirava embaixo da água? Nesse momento, percebi que em seu pescoço possuía guelras como as dos peixes, seus olhos eram humanos e assumiam um tom de verde água como seus cabelos.
Usava uma espécie de vestido que parecia ser feito de algas, deixava aberta boa parte da barriga e voltava a se fechar nos quadris. Seus movimentos acompanhavam o das águas e faziam com que parecesse que estava voando embaixo do mar. Seus pés estavam descalços e pude perceber que entre os dedos havia barbatanas semelhantes às dos peixes, o que a ajudava a nadar com facilidade.
Não pude admirar a criatura por muito mais tempo, começava a afundar cada vez mais e a pressão ficava maior ao redor do meu corpo. Senti uma forte corrente me empurrar e quando a água voltou ao normal, vi Lewis tentando nadar em minha direção, com uma expressão de terror no rosto.
Não conseguiu me alcançar, porque os cabelos da criatura se enroscaram nele e o empurraram para cima e para fora da água. A criatura então nadou até mim e me puxou para cima, sem deixar que me aproximasse da superfície.
"O que é você"? Tentei usar a mesma telepatia que usava com as Sombras.
"Sou Undine, uma das guardiãs dos oceanos de Magic". A criatura falou e o som da voz dela tinha uma leve semelhança com o barulho que faziam as baleias para se comunicar. Aquela espécie de canção que emitem.
"O que fez com meu amigo? Por que me puxou para cá"?
"É meu trabalho proteger o oceano. Pensei que estivessem tentando mover o barco de seu lugar. É ali que algumas colônias de peixes botam seus ovos, logo abaixo do casco, onde se formaram corais".
"Não vamos mover o barco. Só estávamos procurando qualquer coisa incomum que pudesse representar perigo. Sentimos muito".
"Eu sei que não vão fazer mal. Posso ver na sua aura". A criatura sorriu, mostrando uma fileira de dentes pequenos e pontiagudos. Não pude disfarçar o medo ao ver aqueles dentes. "Não se preocupe. Também não vou machucá-los".
"Obrigada".
A criatura passou a nadar comigo até a praia e quando meus pés tocaram o chão, corri até a areia seca na beirada, onde Lewis estava deitado inconsciente. A criatura veio atrás de mim, caminhando sem demonstrar qualquer sacrifício. Era uma criatura anfíbia.
— Ele vai acordar. — E ajoelhou ao lado dele.
Abaixou a cabeça suavemente e encostou os lábios nos dele, em seguida, soprou forte como se lhe desse um sopro de vida. Lewis tossiu algumas vezes e abriu os olhos devagar.
— Alessia! Você está bem? Como chegou até aqui? Quem é ela? — Falou tudo de uma vez, enquanto se esforçava para sentar.
— Sua amiga está bem, eu a trouxe até aqui. Sou uma guardiã dos oceanos, meu nome é Undine. — A criatura se apresentou com calma. Fora das águas seus cabelos ficavam normais e suas guelras eram quase imperceptíveis.
— Você é uma espécie de sereia? — Lewis levantou devagar, encarando-a.
— Pode-se dizer que sou uma prima das sereias, embora sereias só vivam em água doce. Como vocês se chamam?
— Eu sou Alessia e ele se chama Lewis.
— Prazer em conhecê-los. Faz muito tempo que não vejo outras criaturas andando pela ilha. O que fazem aqui?
— Fugimos de Fantasy, já ouviu falar desse lugar? — Cruzei os braços em frente ao corpo como se sentisse frio, mas não sentia.
— É claro que sim. Foi para lá que as criaturas daqui fugiram após os ataques dos humanos. — Undine sorriu de leve, novamente mostrando aqueles dentes assustadores.
— Ataques dos humanos? – Perguntamos juntos.
— Antigamente, antes mesmo da existência de vocês dois, as criaturas mágicas fugiram do mundo humano e construíram essa ilha para se refugiar. Colocaram uma série de feitiços, monstros e encantamentos ao redor da ilha para protegê-la, mas, certo dia, um dos navios humanos conseguiu passar e atracar no porto da ilha. Ninguém jamais pensou que humanos conseguiriam entrar na ilha, mas tinham uma coisa. Um objeto que foi capaz de quebrar todos os feitiços daqui.
— Que objeto seria esse? — Não conseguia parar de prestar atenção em suas palavras.
— Já ouviu falar de gênios e lâmpadas mágicas? Não existem apenas em histórias para crianças. Assim como nós existimos, eles também. Toda lenda tem sempre uma verdade escondida por trás dela.
— E esses humanos tinham uma lâmpada e um gênio? — Lewis não parecia muito crédulo, mas ouvia pacientemente.
— Exatamente. Tinham e utilizaram isso para fugir das tempestades que rodeiam a ilha por causa dos encantamentos. E utilizaram essa fonte mágica para ganhar poder e conseguir lutar contra as criaturas que viviam aqui. A Batalha da Ilha, foi como ficou conhecida, mas nunca foi devidamente registrada ou contada.
— Você sabe por que viu tudo isso acontecer? Por que não fez nada? — Sentia completamente confusa.
— Eu não podia. — Undine pareceu realmente triste.
— Por que não?
— Já se apaixonou por alguém antes? Eu sim, mesmo sabendo que não podia. O gênio da lâmpada me encantou, embora nunca tenha descoberto o meu amor por ele. E não podia contar a ninguém. Destruiriam a lâmpada e o matariam, pois os gênios só são imortais por causa de suas lâmpadas. Tive que assistir tudo, lutando pelos dois lados. Contava ao gênio as estratégias das criaturas e contava aos fundadores quando e onde os humanos atacariam.
— Como você pôde? Como pôde trair as criaturas que deveria proteger? Você conhece a raça humana! Sabe que são ambiciosos e cruéis! — Lewis a encarava horrorizado.
— Você já amou, Fantasma? Sabe o que é amar alguém? Acho que não. Você morreu antes de poder fazer isso, não é? — Retrucou de forma calma.
— Não. Nunca amei, mas jamais trairia meus amigos ou minha família!
— Você não sabe o que é amar. A menina humana sabe.
— Como sabe que sou humana?
— Já disse que li sua aura. Sei que não é apenas humana, está abandonando seu antigo eu e se transformando em algo novo e nunca antes visto.
— Do que está falando?
— Você abandonou seu antigo mundo para viver com essas criaturas e passou a vê-las como sua família. Passou a tentar ser uma delas, aceitou a magia e tudo que viria com ela, mas ainda é humana e possui o amor e a compaixão de uma forma diferente de todos os outros. Por isso, está se transformando em uma Humana Híbrida.
— Mas me disseram que já existiram Humanos Híbridos antes.
— Nenhum deles conseguiu se transformar por completo. Todos perderam completamente sua parte humana e se tornaram uma espécie de zumbi.
— Como é? — Lewis finalmente entrou na conversa.
— Esses humanos, ao perderem sua humanidade, perderam completamente a compaixão e o amor que tinham e por isso se tornaram uma espécie de animal amaldiçoado.
— Animal amaldiçoado? — Sentia-me perdida, mas queria muito entender o que estava dizendo.
— Outro motivo pelo qual as criaturas fugiram daqui. Os poucos humanos que conseguiram se tornar híbridos, viraram espécies de quimeras. Uma mistura de coração e olhos humanos, rosto e dentes de lobo, corpo de leão, asas de cavalos alados e rabo de dragão.
— Viraram monstros. — Arregalei os olhos com a imagem formada em minha mente.
— Bem.... Sim. E com a ajuda do gênio, os humanos que ficaram aqui, antigos amigos dessas feras, conseguiram controlar essas bestas e usá-las para atacar as criaturas mágicas.
— Então todos correm perigo aqui! Esses humanos... onde estão? O que houve com a lâmpada e o gênio?
— Os humanos não podiam desejar a imortalidade. Morreram com o passar do tempo. Mas suas criaturas ainda estão soltas por aí. Se dentro ou fora da ilha, já não sei.
— Será que são as criaturas por trás dos ataques na floresta? — Lewis estava pensativo e agora parecia acreditar no que a criatura dizia.
— Essas criaturas são noturnas?
— Não eram quando foram criadas, mas podem ter se adaptado. — Já caminhava de volta para o mar.
— Espere! E a lâmpada e o gênio? — Lewis se adiantou um pouco, mas não a seguiu para dentro d'água.
— Estão perdidos em algum lugar. — E deu de ombros, com um sorriso triste, depois por mágica se dissolveu em água e desapareceu.
...
Caminhávamos rápido pela floresta, tentando voltar para o castelo antes de anoitecer, mas seria praticamente impossível e sabíamos disso. Estávamos numa enrascada das grandes e passei a temer mais o castigo que dariam ao Lewis do que os ataques dos bichos. Estávamos em um silêncio terrível desde a praia, ambos pensando em tudo que Undine nos disse e tudo que estava sendo escondido de todos.
Provavelmente ele também pensava no motivo de tudo isso ter sido mantido em segredo, mas eu apenas pensava se havia qualquer possibilidade de me transformar em uma daquelas criaturas amaldiçoadas.
— Alessia, não precisa se preocupar. Você jamais viraria uma daquelas criaturas. Você ouviu o que Undine disse. — Já estava começando a entrar em desespero com a ideia, quando disse isso de repente.
— Está lendo minha mente?
— Não importa. Escute o que estou dizendo, você não será como os outros. — E mesmo correndo, conseguiu segurar uma de minhas mãos para me passar confiança.
Infelizmente, esqueceu que dessa forma se materializaria novamente e acabou batendo com a cabeça num galho grosso de árvore. Eu estava com seu medalhão e usava um dos feitiços de fuga que me ensinou de última hora para conseguir correr mais rápido. Ele "corria", na verdade flutuava, em sua forma fantasma ao meu lado, mas ao tocar minha mão foi pego pelo poder do medalhão e se materializou.
— Você está bem? — Ajoelhei ao seu lado.
— Estou. De repente, nem é tão bom sentir de verdade... — e tentou rir, mas percebi que estava tonto. — Fazia tempo que não sentia dor.
— Imagino. Consegue levantar?
— É claro! — Mas ao tentar fazer isso, caiu sentado novamente. — Droga!
— Consegue entrar em mim? — E tirei o medalhão do pescoço.
— E deixar você correr sozinha à noite? Nem pensar!
— Não vou estar sozinha, você estará comigo, só não fisicamente. Anda! Precisamos nos apressar!
Resolveu concordar depois de um tempo, ao perceber que estava realmente tonto e fraco por ter me ajudado com o feitiço e tentado controlar a água quando foi me salvar de Undine.
Quando abri os olhos novamente já era noite e sabia que teria que correr muito mais rápido do que antes, o que seria difícil, já que o feitiço havia passado. Peguei o medalhão ao meu lado e o pendurei de novo no pescoço, levantei e comecei a correr.
"Lewis? Está aí?"
"Estou. Não se importe comigo, apenas corra."
"Vou tentar pedir a ajuda das Sombras. Talvez aceitem nos encobrir quando chegarmos ao castelo."
"Tudo bem. Quer que tente cortar a conexão telepática entre nós para ajudar?"
"Dá para fazer isso?"
"Não precisa. Estamos aqui". Era a voz das Sombras e senti quando se enroscaram em mim e me ajudaram a correr ainda mais rápido. "Logo nos transformaremos em pássaro e teremos que voar ao castelo. Seu amigo confia em nós?"
"Lewis?"
"Confio em você, Alessia. E você confia nas Sombras, confio nelas também".
"Ótimo. Quando encontrarmos a fronteira com a vila, iremos nos transformar".
Tivemos sorte que deu tudo certo. As Sombras se transformaram e foram capazes de erguer meu corpo, mesmo com duas almas o habitando. Nossa sorte não durou muito, entrei no quarto e me despedi das delas.
O feitiço havia passado e meus travesseiros eram apenas travesseiros, haviam sido revirados e a porta do quarto estava aberta, mas não tinha ninguém ali.
"Lewis, não saia ainda. Não quero que te culpem por me ajudar a fugir".
"Você não vai assumir a culpa sozinha, Alessia".
"Ninguém vai me machucar. Não sei porquê, mas não vão. Agora não posso dizer o mesmo quanto a você".
"Alessia...."
"Está decidido. Não discuta comigo, não conseguirá sair, estou com seu medalhão e apenas eu posso retirá-lo."
— ALESSIA! Onde você estava? — Era Luzia, a Sacerdotisa Anciã e também juíza de Magic.
— Luzia, precisava sair um pouco.
— Mas é perigoso você sair sozinha! Principalmente voltando à noite!
— Não pretendia voltar de noite, mas aconteceram algumas coisas e preciso falar com a Ária.
— Você falará com Ivan pela manhã, mas antes me explique como conseguiu fugir pela janela. — Não teria alternativa, saberia se mentisse sobre tudo. Precisava contar alguma verdade, qualquer uma. Era a hora de contar sobre meus poderes, mas... e se arrumassem uma maneira de ferir as Sombras?
"Ninguém irá nos ferir. Não podem fazer isso, não podem nos machucar."
— Luzia, tenho controle sobre as Sombras. Elas me ajudaram a fugir daqui.
— Você o quê? — Seu tom era calmo, embora sua expressão a traísse. Nunca pensei que conseguisse ficar ainda mais branca.
— Tenho controle sobre as Sombras, que se materializaram em forma de pássaro para me ajudar a fugir.
— Vamos ter que contar isso aos outros, Alessia. Não é normal um humano ser tão poderoso, mesmo que seja híbrido. Amanhã convocaremos uma nova reunião e você contará isso aos demais fundadores e membros do conselho.
— Todos estarão presentes?
— Sim. Todos deverão comparecer. — E saiu do quarto. Ouvi quando trancou a porta pelo lado de fora. Presa novamente.
"Alessia, não precisava ter contado isso para me proteger." Lewis disse em minha mente.
"Não vou deixar que machuquem você. Principalmente agora que você pode sentir algumas coisas."
"Apenas quando toco em você consigo sentir as outras coisas, Alessia. Não têm como saber disso."
"Eu sei, mas... poderiam arrumar outras maneiras. Machucaram o Ethan e o Zein. Não poderia permitir que..."
"Zein? O garoto das sombras está aqui?"
"Ah. Bem... sim e ele é um dos candidatos a futuro príncipe de Magic. Sinto muito Lewis, era a única maneira de protegê-lo da morte e nem sei se adiantou alguma coisa. Ária mandou castigá-lo por me ajudar a fugir. Ethan também foi castigado e ambos estavam machucados quando os visitei, mesmo sem permissão."
"Acalme-se, Alessia. Não o odeio como os outros. Confiei em você e no seu julgamento e ainda confio. Vaguei brevemente por seus pensamentos e sei que ele está tentando mudar. Já havia lido os pensamentos de Ethan também, mas não acreditei muito nele...."
"Obrigada por confiar em mim tão cegamente."
"Não é cegamente. Posso ler sua mente, esqueceu?" Pensei tê-lo ouvido rir, mas poderia ser coisa da minha imaginação.
"É verdade. Havia esquecido desse detalhe."
"Desculpe pela invasão. Foi minha maneira de me manter calado enquanto você conversava com Luzia."
"Está tudo bem."
"Sei também que ambos te expulsaram quando você os visitou. Sabe por quê?"
"Com Ethan foi porque o guarda acabou me pegando e com Zein foi porque disse que as Trevas queriam que o alimentasse e me pediu para sair dali."
"Nenhum deles te disse como foi machucado?"
"Não."
"Isso é estranho... vou tentar investigar para você."
"Não está me devendo nada."
"É um favor, como os que me fez hoje."
"Obrigada." Não pude deixar de sorrir.
"É o que um amigo de verdade faz pelo outro. Agora, por favor, me deixe sair."
"Claro! Desculpe!"
Retirei o medalhão e me pediu para ficar com ele até o dia seguinte, quando viria buscá-lo. No momento, precisava estar na forma fantasma para poder sair dali sem ser visto e não fazer todo o meu sacrifício em mentir ser em vão.
Despedi-me e lhe desejei boa noite, agradecendo novamente pela ajuda. Ele me agradeceu por ter lhe proporcionado novamente a alegria de sentir as coisas em que tocava e por ter lhe protegido de algum castigo terrível.
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