Capítulo 21
Passei um longo tempo observando a lua antes de dormir, naquela noite. Ária estava tomada pelas Trevas também? Primeiro Zein, agora ela.... Por que esse Poder tinha uma fixação tão grande em usar pessoas para me matar? Por que essa coisa me queria morta? Será que alguém conseguiria responder a essa questão?
Tive uma longa noite de pesadelos, novamente com Zein, em um lugar frio e cinzento. Será que era para esse lugar que as pessoas iam ao morrer? Sempre pensei em algo como o paraíso ou o inferno. Nunca como um lugar frio e cinzento, que se assemelhava a uma espécie de ruína. A visão estava embaçada, mas o ouvi gritar alguma coisa, sem conseguir compreender o que era exatamente.
Será que estaria sofrendo pelas maldades que praticou em nome das trevas que o controlavam? Meu coração doeu quando pensei que poderia estar sofrendo, mas o que sentia ou não sentia era irrelevante no sonho. O que predominava eram as sensações e emoções que sabia, de algum jeito, que estava sentindo. Ao acordar no dia seguinte, mal pude acreditar ao abrir os olhos e avistar a pessoa que havia vindo me visitar.
— Ivy! — Estava completamente surpresa. — O que está fazendo aqui?
— Olá, Alessia. Como está se sentindo? — Sorriu de leve e caminhou até minha cama, ignorando um Ethan adormecido na poltrona ao lado.
— Estou bem melhor hoje. Obrigada.
— Estou aqui por causa do que aconteceu com Ária... — me pareceu realmente triste, mas não surpresa.
— Sinto muito, Ivy. Não pude evitar que....
— Não sinta. A culpa não foi sua e nem dos demais residentes de Magic. — Afirmou, não permitindo que terminasse minha sentença.
— Mas...!
— Eu já sabia que isso ia acontecer. — E sentou na beirada da cama.
— Sabia?
— Acho que contei a você que posso ver o futuro, não contei? — E sorriu melancólica.
— Mas por que não tentou impedir sua irmã? Ou não nos alertou? Ivy, ela quase me matou! — Notei a maçaneta da porta girando, era uma das enfermeiras de Magic.
— Talvez você não entenda, mas apesar de saber o futuro, as criaturas que têm esse dom assinam um juramento que as impede de interferirem diretamente nos acontecimentos. Em outras palavras, é como se assistíssemos o desenrolar de uma peça de teatro sem poder interrompê-la, aplaudi-la ou demonstrar qualquer reação ao trabalho dos atores.
— Como você está, princesa Alessia? — A enfermeira disse com um sorriso.
— Bem, obrigada.
— O que a Senhorita faz aqui? — Se dirigiu a Ivy.
— Desculpe, já estou de saída. — E se afastou. — Até mais tarde, nos vemos na reunião de hoje à noite.
A enfermeira acordou Ethan, não muito delicadamente, e o mandou buscar comida para mim enquanto fazia alguns exames para descobrir se estava realmente bem ou se havia sofrido algum ferimento interno. Descobri que a enfermeira era uma ninfa e que, enquanto conversava comigo sobre noite passada, ia também analisando minha alma e verificando se houve algum impacto muito grande pelos choques sofridos desde o dia em que cheguei ao mundo mágico de Fantasy e, posteriormente, de Magic.
Como Ivy havia me informado, durante a noite Ivan convocou uma reunião para discutir o futuro de Ária e, consequentemente, do reino todo. As pessoas comentavam o evento e estavam assustadas demais até para sair de suas casas. Desconfiavam uns dos outros e tinham medo até mesmo dos próprios familiares.
— Estão em pânico porque sua rainha novamente se mostrou insana. — Comentou Leon, não muito sensível a toda a situação, porém fazendo uma afirmação bem racional.
— É claro que estão. Primeiro Antonieta e agora Ária. Fora que Leslie também era completamente maluca e estava em cargo alto no antigo governo de Fantasy. — Luzia se pronunciou ao notar a atmosfera tensa entre Ivan e Leon.
— É. Parece que para governar um reino, você precisa ser maluco e/ou se aliar com o lado ruim da escuridão. — Leon brincava com uma miniatura de flecha entre os dedos.
— Precisamos de uma solução sensata e não ficar apenas afirmando o óbvio ou inventando motivos. — Ivan se levantou encarando a todos, mas detendo o olhar em Leon.
— Estou de acordo. — Arak anunciou e alguns outros participantes da reunião confirmaram com a cabeça.
— Com licença, Senhoras e Senhores, mas gostaria de compartilhar com vocês um resumo da história de Ária, Leslie e, bem... minha. — Ivy falou, confiante.
— Tem a palavra, Ivy. — Ivan tentava conter um sorriso melancólico.
— Obrigada. — Levantou-se e começou a rodear todos em volta da mesa. — Peço que prestem atenção e façam as perguntas no final.
"Leslie e Ária são filhas de Jeremy Valley com a minha mãe, Lucília Hayley. No entanto, sou o que Jeremy chamaria de bastarda, uma filha fora do casamento. Tomei conhecimento de que vocês leram a história que minha mãe escreveu sobre os Meios Termos, o que, na verdade, virou uma história sobre a vida dela, já que era uma Meio Termo muito poderosa."
Enquanto Ivy falava não pude deixar de encará-la, surpresa, o tempo todo, e percebi que os demais, com exceção dos fundadores, faziam o mesmo.
"Como vocês devem saber, meu pai aprisionou minha mãe no calabouço de seu castelo e foi lá onde morreu. Mas a história não termina aí. Eu e minhas irmãs ainda estávamos soltas pelo mundo e éramos um ícone que salvaria o mundo mágico da guerra. Como? Simples, o Rei Jeremy resgatou três dos reinos mágicos destruídos durante a guerra com os humanos: Fantasy, Magic e Enchantment. E também nomeou três herdeiras para esses reinos, Leslie, Ária e eu. Sim, como podem ver, decidiu me adotar como sua filha apenas por interesse. Vejam bem, se colocasse três Meios Termos no poder dos principais reinos mágicos, os poucos rebeldes que sobraram não iriam mais se rebelar. Funcionou muito bem o plano dele. Só que esqueceu que os Meios Termos não eram criaturas híbridas apenas fisicamente, mas também aquelas que tinham uma alma dividida entre bem e mal. Ou seja, havia muito mais Meios Termos do que pensou e suas próprias filhas estavam vulneráveis a ceder ao mal, o que era muito comum."
Nesse momento parou e nos encarou.
"Leslie era a mais velha e ficou com o Reino de Fantasy, mas era muito nova para governar e precisava aprender a controlar seus poderes. Então, o pai delas criou escolas dentro dos castelos dos três reinos e nos colocou lá, junto com alguns outros estudantes, para aprendermos a nos controlar. Nesse momento, surgiu a questão: quem governaria enquanto estávamos estudando?"
Suspirou e deu outra volta pela mesa, talvez para deixar certo suspense pairar ou simplesmente para conseguir controlar suas emoções com a história que contava.
"Jeremy havia se casado novamente após seu regresso, dessa vez com Antonieta, que habitava a corte de Napoleão desde a guerra contra os humanos, mas que de alguma forma descobriu que as garotas que raptou se tornariam rainhas e, por isso, voltou para o reino mágico o mais rápido que pôde. É claro que Antonieta conseguiu planejar uma desculpa incrivelmente boa para ter raptado as meninas e convencido Jeremy a casar-se com ela. Não fiquei sabendo a desculpa que deu, mas posso até imaginar. Leslie era a favorita de Antonieta, porque, acredito eu, percebeu a inclinação de Leslie para o lado sombrio, o qual vampiros como ela pertenciam. Leslie não tinha inclinação apenas para o lado sombrio, mas também para a parte má escuridão, as Trevas. E foi assim que Leslie matou Antonieta, usando Alessia e armando uma teia incrível de acontecimentos que culminaram no suposto sucesso de seu plano para tomar Fantasy. Sim, eu sabia que isso aconteceria, já disse para Alessia que posso ver o futuro, nasci com este poder. Só que não posso interferir no curso dos acontecimentos."
Ivy olhava fixamente para Ivan, como se pedisse desculpas.
"Ária era a irmã do meio e creio que quando mais nova foi muito parecida com Alessia, não no físico, mas no psicológico. Infelizmente, não poderia mudar o que o destino planejou para ela. Ária possuía o bem e o mal, a luz e as trevas, em seu coração, mas o mal e as trevas prevaleceram e por isso tentou matar Alessia a qualquer custo."
— Alessia, talvez você não saiba, mas Ária começou a ter inveja de você e isso despertou o mal adormecido dentro dela. — Ivy parou sua história para explicar isso.
— Inveja de mim? — Não pude deixar de me pronunciar dessa vez.
— Inveja da sua parte boa. Você tem perfeito controle entre o bem e o mal, a luz e as trevas, que habitam dentro de você. Isso é raro com o tamanho do poder que você detém, por ser uma humana híbrida. — Ivy sorriu de leve, depois voltou a contar a história.
"A inveja tomou conta de Ária, tudo parte do plano de Leslie, que quer dominar os três reinos e uni-los em um só, por meio de um feitiço ancestral e poderoso. Vamos discutir sobre isso depois, por favor, deixem-me terminar a história."
Pediu quando percebeu que Leon iria interrompê-la.
"Naquela época, Ária foi mandada para Magic, mas nesse meio tempo, o Rei Jeremy morreu e Ivan foi incumbido de acompanhá-la e de governar o reino, enquanto não pudesse. Assim, Ivan tornou-se um dos fundadores dos três reinos, ao assumir o lugar do Rei Jeremy como o Líder dos Bruxos e Feiticeiros. E eu fui mandada para Enchantment. Sozinha."
Ivy não parecia estar com raiva ou magoada.
"Cresci e me tornei rainha, meus súditos me adoravam, mas sabia que meu destino era sair de Enchantment e encontrar minhas duas irmãs. Deixei o reino no controle de minha melhor amiga, Undine, e parti para a jornada que seria encontrar os reinos escondidos. Descobri que os portais usados para conectar os reinos só poderiam ser ativados por algumas criaturas em especial. E eu não era uma delas."
— Espera! Undine era sua melhor amiga? — Não conseguia assimilar as informações.
— Sim. — E concordou com a cabeça.
— Mas... disse que era a guardiã das águas de Magic ou algo do tipo. Undine é uma espécie de sereia, não é?
— Sim, Alessia. Você conheceu minha amiga. Acontece que... bem... o Reino de Enchantment acabou sendo deslocado de seu antigo lugar para o fundo do oceano, próximo a esta ilha. — Todos os fundadores pareciam surpresos agora.
— Enchantment ainda existe? — Luzia a encarava séria.
— Sim, Luzia. Existe, mas está debaixo da água e... digamos que não muda mais de lugar com o passar dos séculos. Apenas Fantasy continua mudando. Alessia, talvez você conheça o triângulo das bermudas, certo?
— Sim. Fazia parte do mundo humano. Mas o que tem...?
— Magic é uma ilha localizada nesse lugar. Enchantment cobre a área abaixo do oceano. — Meu queixo caiu. Percebi que Daniel também estava surpreso.
— Isso é sério?
— Sim. Por que acha que essa região é um mistério? — E sorriu.
— Então... Enchantment é como Atlantis? A cidade abaixo d'água das lendas humanas?
— Pode ter sido uma lenda originada de meu reino sim, mas não sei dizer ao certo.
— Fantástico! — Daniel tinha uma expressão maravilhada.
— Agora vocês sabem parcialmente a nossa história. — Ivy completou e sentou-se na cadeira novamente.
— Obrigado por compartilhar conosco, Ivy. — Ivan tomou a palavra novamente.
— Ivy, mas se Undine está cuidando do seu reino, por que a encontro com frequência ao redor de Magic?
— Há muitos acontecimentos sobre o meu reino, Alessia. Passaria séculos contando todos a você. Meu povo foi todo transformado em criaturas aquáticas e nadam por todo o oceano agora. Apenas Undine e algumas poucas criaturas continuam vivendo por lá, mas os últimos resquícios de uma sociedade de aparência humana foram apagados. É como uma cidade fantasma.
— Mas quem fez isso? Que horror!
— Foi um gênio da lâmpada trazido pelos humanos.
— Como os humanos encontraram seu reino?
— Na época em que minha mãe era viva eles encontraram Magic. Acho que estavam em busca de alguma coisa. E foi com a ajuda do gênio.
— Espera! Foram os híbridos amigos da sua mãe! Gerard Ruy e alguns outros transformados. Devem ter usado esse gênio para chegar em Magic. Na história da sua mãe, estavam vindo para cá, acho. Queriam uma cura para a transformação. — Falei um pouco rápido demais.
— Acha que foram eles? — Ivy me encarou com olhar de dúvida.
— Creio que sim, mas não se lembra de nada. Conheci esse híbrido e ele também lutou contra Ária para me salvar.
— Certo, então não foram exatamente humanos. Mas o responsável pela transformação foi o gênio, com certeza. — Ivy suspirou, parecia cansada.
— Undine me contou uma versão um pouco distorcida da história. — Ainda a encarava, mas havia desviado o olhar. Os outros continuavam em silêncio.
— Sim, é o que ela pensa que aconteceu. Estava viva na época que minha mãe viveu e que esse Ruy veio para cá. O rei Jeremy, Antonieta e os fundadores chegaram a ficar por aqui um tempo e deve ter sido quando esse tal de Ruy e seus amigos chegaram. Houve a guerra entre ambos, mas não sei qual seria o motivo pelo qual as criaturas se recordam de humanos as atacando e não de híbridos. — Ivy disse, pensativa.
— Talvez a cura que queriam estivesse com o gênio e enquanto o possuíam, pareciam humanos comuns. Depois acabaram se transformando de novo, quando o gênio voltou para a lâmpada e se perdeu. — Não sabia de que parte da minha mente vinha uma ideia tão estranha.
— Pode ser.... — cruzou os braços e se ajeitou na cadeira.
— Muito bem. Depois desvendamos esse mistério, agora precisamos arrumar um jeito de ajudar Ária a se controlar para poder ser libertada da prisão de âmbar. — Ivan falou alto e em bom som, encerrando nossa discussão.
— Há apenas uma joia capaz de ajudar a pessoa a controlar o bem e o mal, e ela está com Leslie. É o que usa para impedir as trevas de a controlarem por completo e é com ela que Leslie controla o poder das trevas, não apenas em si mesma, mas em outras pessoas também... — nesse ponto, Ivy olhou para mim de maneira significativa.
— Você acha que... — senti meu coração pesar ao entender o que queria dizer.
— Sim. Acredito que esteja manipulando as trevas que controlam Ária... e que manipulou as trevas que controlaram seu amigo.
— Você está querendo dizer que teremos que voltar para Fantasy e tirar essa joia de Leslie? — Ivan arqueou a sobrancelha.
— Não. Apenas alguns de nós poderão ir. Apenas os Meios Termos que, com a ajuda de Alessia, serão tele transportados de volta à Magic pelo portal do poço. — Ivy explicou calmamente.
— Vou ter que voltar para lá? — Senti o sangue fugir do meu rosto.
— Não apenas voltar, mas provavelmente lutar também.
— Não. Deve haver outra maneira. — Ethan se pronunciou, parecia preocupado.
— Não há. — Ivy parecia confiante demais.
— Não podemos usar o tal feitiço que nos trouxe para cá? — Ethan falou em tom de desafio.
— Não. Você acha mesmo que Leslie é ingênua ao ponto de deixar Fantasy desprotegida? Com certeza já enfeitiçou o lugar para impedir que cheguemos lá através de algum feitiço. — Ivy o fitou com o olhar sério.
— E como você vai saber quem é Meio Termo ou não? — Lewis disse antes que Ethan respondesse, para evitar uma discussão.
— Eu poderia dizer que há feitiços e poções que ajudam a descobrir quem é, mas perderíamos tempo. Já sei quem terá de ir nessa missão, previ que isso aconteceria. — E suspirou, exausta.
— E por que deveríamos confiar em você? — Ethan estava visivelmente irritado.
— Acreditem. Sei que podemos confiar nela. — Ivan olhou-a fixamente e assentiu com a cabeça.
— Também sinto que não está mentindo. — Luzia acrescentou em seu tom calmo.
— Também posso sentir que diz a verdade. — Lewis deu de ombros ao receber o olhar irado de Ethan.
— Igualmente. — Cristian encarou a todos ao falar.
— Ethan. Ela está sendo sincera. Posso sentir como eles. Tenho aquele poder da Alma, lembra? — Tentei segurar sua mão.
— Está bem. — Falou, depois de me encarar por um bom tempo.
— Quem serão os convocados, Ivy? — Ivan questionou.
— Alessia, Julie, Noah, Daniel, Lewis, Ethan, Ruy, Undine e eu.
— Como assim? Você está mandando apenas crianças! — Leon bateu com força na mesa, irritado. — Precisa mandar alguém experiente!
— Gostaria de se voluntariar, Leon? — Ivy o encarou com o olhar frio.
— Sim.
— Tudo bem. Talvez dessa vez o destino tenha se enganado na previsão.... Mais alguém acha que conseguiria ir? Mais alguém se intitula Meio Termo?
— Dahlie e eu gostaríamos de saber o motivo pelo qual não poderemos ir. — Cristian fitou-a, um pouco sem graça.
— Vocês até poderiam, por serem fundadores. Li que os fundadores também podem ser transportados pelo portal do poço. — Cameron entrou na conversa.
— Muito bem. Podem tentar. — Ivy suspirou novamente. — Creio que agora já chega. O grupo já está grande demais.
— Concordo. — Leon estava emburrado.
— Acho que deveríamos perguntar para essas pessoas se gostariam de ir. — Ouvi minha própria voz.
— Como assim, Alessia? — Ivan passou a me encarar.
— Vamos fazer as pessoas que foram escolhidas ou que se ofereceram, assinarem um papel assumindo que realmente querem ir e que conhecem os riscos dessa missão.
— É uma boa ideia. — Pela primeira vez me senti agradecida por Leon estar ali e ouvir a voz da razão.
— Muito bem. Ivy, termine de definir a lista de Meios Termos e amanhã convocaremos uma última reunião para escolher de vez as criaturas que realmente querem ir nessa missão. — Ivan ordenou.
— Certo. Faça como quiser. — Deu de ombros. — Só peço que informem que essa missão não é apenas para salvar Ária, mas também para impedir Leslie de unir os três reinos em seu poder.
— Está bem. Reunião encerrada. — Ivan preparou-se para levantar.
— Não! Espere! — Ethan levantou primeiro. — Pelo que entendi, Alessia não tem escolha nenhuma! Isso é injusto!
— Fique quieto, Ethan. Eu vou! Ária me ajudou quando cheguei com meus amigos em Fantasy e nos ajudou muito depois disso também. Não vou deixar que as trevas a controlem. — Minha voz soou firme, embora estivesse preocupada de verdade com o que enfrentaríamos lá.
Ethan saiu da sala batendo os pés e a porta, e todos o observaram sair. Suspirei. Ivy tocou meu ombro e me disse para não me preocupar, logo iria entender que eu tinha razão. Ivan mandou Leon seguir até a vila e avisar Daniel e Julie. Também pediu para que Daniel avisasse Ruy sobre a convocação que recebeu, mas disse que eu mesma faria isso. Afinal, teria que ir até a floresta hoje de qualquer jeito, ainda havia uma parte do livro que não havia lido e só tinha mais essa noite para lê-lo. Era a última noite de lua cheia e talvez minha última noite em Magic antes do retorno à Fantasy.
...
Quando contei a Ruy, praticamente implorei para que não fosse. Não queria que meus amigos se ferissem e sabia que, se por acaso fossem, acabariam se ferindo. No entanto, nada que dissesse conseguia fazer Ruy mudar de ideia. Dizia que se foi convocado, não iria fugir da missão, e que até seria bom ir junto para poder ajudar a me proteger.
Agradeci sua preocupação e também sua intenção em me proteger, mas não consegui demonstrar felicidade por ter decidido ir junto. Expliquei sobre a reunião de amanhã e depois me acompanhou até a praia, para que pudesse ler o livro e descobrir o que as últimas páginas dele revelavam.
Enquanto seguíamos para a praia, fui desabafando sobre tudo o que estava me preocupando nos últimos dias e Ruy ouviu tudo pacientemente. Acabei chorando em alguns momentos e me ofereceu palavras de consolo, conselhos e um ombro para chorar. Contei absolutamente tudo que fiquei sabendo desde que cheguei em Fantasy, também acabei recordando sobre as tais Lembranças da qual Luzia me contou em um tempo que parecia tão distante.
Será que quando precisasse lutar em Fantasy novamente minha Lembrança Guerreira iria tomar conta de mim para me ajudar? Ruy ouvia meus pensamentos e o que mais gostava era que não tentava ser otimista com tudo. Era sincero e ponderava sobre as possibilidades de os fatos ocorrerem ou não. Disse que era bem provável que minhas Lembranças me ajudassem de novo e que provavelmente me ajudavam em várias situações pelas quais passava com frequência, como quando Ária me atacou.
Sentei-me na areia gelada, por causa do cair da noite, e consegui sentir-me mais leve depois de nossa conversa. Parecia que havia tirado um grande peso das costas. Ruy saiu da floresta para me acompanhar e deitou ao meu lado na areia da praia, observando o mar. Abri o livro na página que havia parado e deixei a mágica acontecer para que pudesse ler o que faltava.
"Os Meios Termos são criaturas realmente poderosas, ainda mais se forem Humanos Híbridos. Por isso, devem tomar extremo cuidado. Muitos dos que se aproximam deles é com o desejo de matá-los para tomar posse de seu imenso poder. Durante o tempo que viajei com Ruy, encontrei uma espécie de profecia que dizia que os Humanos Híbridos eram os escolhidos para combater o extremo ruim da escuridão, ou seja, o mal. Esses seres sempre são criados com o propósito de combater a parte má das trevas e por isso vivem em constante perigo. São escolhidos para essa função apenas aqueles que, além de terem completado a transformação, ou seja, terem provado que possuem o bem em suas almas, também precisam ter poderes com a escuridão. Mas apenas com a parte boa dela.
Isso os torna limitados, mas as criaturas de extremo mal também são limitadas e a maioria é apenas usada e depois descartada. É rara a criatura que realmente consegue controlar a parte má da escuridão, por isso, quando essa pessoa é encontrada, deve ser exterminada."
Nesse momento senti um arrepio correr meu corpo e, de certa forma, tinha ideia do que viria a acontecer em meu futuro.
"A profecia também citava algo como As Três Irmãs das Trevas, mas o resto estava tão desgastado que não consegui definir qual a relação disso com o restante do texto. Nós, os Humanos Híbridos, geralmente temos receio em matar e é nesse ponto que as Lembranças são ativadas, com a ajuda da Alma, um dos poderes comuns à esse tipo de criaturas. Elas geralmente nos ajudam em situações de medo, quando nos sentimos acuados e desesperados, sem saber como agir."
Parei um pouco a leitura e lembrei de quando Luzia me contou sobre as tais Lembranças e não sabia que tinham relação com o poder da Alma.
"Os Meios Termos não são apenas as criaturas híbridas. Na verdade, é possível um híbrido não ser um Meio Termo. Por exemplo, quando a criatura nasce filha de um elfo e de uma fada. Esse fenômeno só ocorre quando há a mistura entre as classes da Luz e as classes da Escuridão, ou quando há numa mesma criatura a junção do Bem e do Mal, em medidas quase iguais, que podem ou não ser alteradas (o que alteraria sua condição de Meio Termo). Também podem ocorrer os dois fatos em uma mesma criatura, como é o caso de alguns Humanos Híbridos."
Havia no livro uma lista citando as classes da luz e as classes da escuridão, mas me recordava da divisão dos quartos em Fantasy, por isso pulei essa parte. Havia também mais alguns exemplos do que eram ou não os Meios Termos, mas não achei necessário anotá-los, já que havia compreendido isso. Observei o céu noturno e logo iria amanhecer, entretanto, não me preocupei, faltava pouco para terminar.
"Seus poderes devem ser utilizados com sabedoria e sua confiança plena deve ser dada apenas a poucos. Não quero tornar as criaturas paranoicas, mas no mundo mágico é perigoso ser tão poderoso.
Poder cria inveja e a inveja nutre o ódio, que pode levar uma criatura a fazer coisas terríveis para prejudicar o fruto do seu ódio e inveja. Caso confie plenamente em alguém, experimente seguir seus instintos e se ainda assim confiar nessa pessoa, pode chamá-la de amigo. É importante ter amigos confiáveis ao seu lado e durante sua jornada para encontrar o seu destino, você perceberá isso.
Um último lembrete: não pense que sendo você um Humano Híbrido escolhido para extinguir o extremo mal, estará imune à morte. Você pode sim ser morto durante essa jornada e isso fará o equilíbrio entre Bem e Mal se desestabilizar.
Também não pense que está imune à influência do Mal. Você não está, e precisa estar consciente disso, é necessário manter o equilíbrio e nesse momento os amigos são muito importantes. Desejo sorte em sua vida e em sua missão. Use seu poder com sabedoria.
Lucília Hayley."
Terminei de ler o livro e senti meu coração batendo forte contra o peito. Minhas mãos tremiam um pouco e Ruy estava me encarando.
— Você está bem? — Perguntou, assim que fechei o livro.
— Estou.
Sabia que conhecia a verdade. Só não queria ter que conversar agora sobre o que havia lido, precisava de um tempo para refletir. Tudo indicava que tinha esse grande poder que Lucília descreveu e, de acordo com o que as criaturas vêm me dizendo, também tenho o perfeito equilíbrio entre o bem e o mal, por causa do meu poder com as Sombras e do Amor em minha alma.
Seria uma dessas escolhidas para combater o extremo mal? O que exatamente seria esse extremo mal? E qual a relação da profecia com essas Três Irmãs das Trevas? Já havia escutado isso antes..., mas quando?
— Sei que está mentindo. Tem certeza que não quer conversar? — E me ofereceu carona pelos ares até a vila.
— Tenho. — Aceitei a carona, mas ao invés de me levar para a vila, me deixou no meu quarto, no castelo.
Isso me poupou de ouvir qualquer tipo de sermão ou inquérito dos guardas de Ivan, Leon ou quem quer que estivesse de guarda, esperando meu retorno. Para minha surpresa, Ethan não estava no meu quarto essa noite e isso me fez pensar se realmente iria conosco na tal missão de retorno ao Reino de Fantasy. Talvez devesse me desculpar.... Não! Chega de pedir desculpas por tudo. Ele precisa aprender a ser contrariado também. Nem sempre as pessoas farão tudo o que deseja.
No dia seguinte, Ivy foi ao meu quarto me acordar e levou também um café da manhã. Agradeci a gentileza e começamos a conversar sobre Magic, a missão, Ethan e, finalmente, sobre meus poderes. Parecia que era exatamente nisso que queria chegar. Lembrei-me de que podia ver o futuro e talvez soubesse que li o livro escondida ontem.
Confessei o que havia lido no livro e não pareceu surpresa quando mencionei as Três Irmãs das Trevas, mas também não prolongou o assunto. Foi então que me lembrei de uma dúvida que tive durante a história que ela contou ontem.
— Ivy, se foi o rei Jeremy quem restaurou os três reinos, por que Ivan e os outros é que são chamados de fundadores?
Ela sorriu e começou a explicar.
— O Rei Jeremy, apesar de parecer egoísta, deu a própria vida para salvar o mundo Mágico, durante o período da guerra entre humanos e criaturas mágicas. A Rainha Antonieta fugiu com Leslie e Ária para o mundo humano e se misturou com os nobres da corte de Napoleão Bonaparte, aquele líder francês do seu mundo, mas acho que até aqui você sabia.... Napoleão caçava secretamente criaturas mágicas, mas não sabia que dentro de sua corte havia uma espiã, contando às criaturas quando e onde atacaria. Com isso, conseguimos vencer, mas o Rei Jeremy tomou uma medida desesperada para nos proteger de humanos de uma vez por todas. Usou a essência de sua vida para fazer dois feitiços poderosos: um deles espalhou as criaturas mágicas restantes pelos três reinos sobreviventes e o outro transferiu Enchantment para as águas abaixo de Magic, o que foi considerado um lugar mais seguro. Apenas Fantasy permaneceu no continente e, por isso, sua localização se altera de século em século. O Rei também deixou algumas recomendações, uma delas dizendo que passou a guarda de suas três filhas para a Rainha Antonieta e que fundou uma espécie de Assembleia para substituir a monarquia nos três reinos. Assim, foram criados os títulos dos fundadores e a ideia de que fundaram Fantasy, mas na verdade tudo começou em Magic. Após um tempo Antonieta conseguiu levar Leslie e Ária para estudar em Fantasy e conseguiu convencer os doze fundadores a acompanhá-la para ajudar a proteger e expandir o reino. A maioria das criaturas foi transportada para lá, exceto as que ficaram em Enchantment e que foram posteriormente transformadas em seres aquáticos. Ou seja, Antonieta, os fundadores, Ária e Leslie chegaram a viver aqui em Magic por algum tempo, mas depois se mudaram para Fantasy, porque achavam lá melhor do que aqui para ficarem de olho nos seres humanos. Foi Antonieta quem executou o feitiço de proteção com o poder da magia que o Rei Jeremy deixou com essa finalidade, mas protegeu apenas Fantasy. A nossa sorte foi que o triângulo das bermudas é um lugar de magia ancestral que se protege por conta própria dos humanos.
— Isso é uma história realmente incrível. — Consegui falar quando ela parou.
— Sim. É uma pena que contem de maneiras tão distorcidas. — E torceu o nariz numa expressão de descontentamento.
— Já ouvi muitas versões dessa história, ou de partes dela.
— Imagino que sim. Você deve estar tentando descobrir em qual acreditar, não é? — E sorriu.
— Não. Na verdade, acredito na sua versão. É a mais louca, porém também parece ser a mais próxima da realidade, de acordo com tudo que ouvi até agora. De certa forma, une um pouco de tudo. — Dei de ombros.
— Fico feliz de não a ter deixado ainda mais confusa.
— Mais uma pergunta: por que deram o nome de Fantasy, Magic e Enchantment?
— É uma pergunta um pouco subjetiva. Ouvi dizer que Enchantment foi chamado assim por causa do encantamento que impedia os humanos de encontrá-lo com facilidade na época em que se localizava no continente. Magic foi criado com base na ideia da magia ancestral que protege o território onde se localiza a ilha, e Fantasy ficou conhecida assim por causa da ignorância dos humanos em dizer que as criaturas mágicas são coisas do reino da fantasia. Como quem diz que é coisa de criança. Foi como uma provocação aos humanos, já que conheciam e acreditavam bem mais na existência desses reinos antigamente.
— Que criatividade!
Não pude deixar de rir da escolha do nome Fantasy. Fiquei pensando por um tempo nas respostas que Ivy me deu e também na recusa sobre prolongar o assunto do livro. Resolvi deixar por isso mesmo, já que teria bem mais coisas com que me preocupar hoje. Levantei da cama após terminar de tomar o café com Ivy e fui para o banheiro me arrumar. Disse que me esperaria no salão de reunião, para conversarmos com os outros antes da reunião final. Resolvi fazer mais uma pergunta que estava me rodeando.
— Ivy?
— Sim? — Já estava na porta do quarto.
— Como foi que Fantasy passou a ser governada por uma rainha? E por que Ária não ficou no castelo?
— Logo mais você saberá a história completa, mas o resumo é que Antonieta se tornou obcecada por poder com o passar do tempo e por isso começou a caçar os outros fundadores. Não poderia matá-los por causa do feitiço de proteção, mas poderia prendê-los. Felizmente, conseguiram fugir e se refugiaram naquela caverna que você conheceu. Então ela desistiu de caçá-los. Inventou uma história para os habitantes de Fantasy e anunciou o retorno da monarquia, nomeando a si mesma como rainha. Ária foi expulsa do castelo quando os primeiros humanos começaram a chegar em Fantasy e Leslie convenceu a rainha a usá-los como doadores dos vampiros, ou então executá-los em praça pública. Ária não concordava com isso, além de estar sendo tratada de maneira inferior. Antonieta sempre preferiu Leslie. Ária fugiu para a fronteira e passou a viver por lá, ajudando os humanos que conseguia encontrar. Teve a ajuda de seu afilhado, Cameron, pois quando mandava os humanos para o castelo a fim de ensiná-los um pouco de magia, o rapaz ajudava a escondê-los e afastá-los de problemas.
— Entendi... — voltei a entrar no banheiro. — Nos vemos na reunião! Obrigada por tudo.
— Disponha! Nos vemos lá. — Falou saindo e se dirigindo ao salão, provavelmente.
Terminei de me arrumar e desci as escadas que levavam ao piso do salão, onde seria feita a reunião. Estava atrasada e podia ouvir o barulho das minhas botas contra o chão. Entrei junto ao som das portas batendo contra a parede e todos os rostos se voltaram para mim.
— Sinto muito pelo atraso. — Encolhi os ombros, sem graça.
— Gostaria de saber o motivo do atraso. — Comentou Leon e tenho certeza que falou apenas para me provocar.
— Isso não importa. Ela está aqui agora. — Ivan retrucou.
Estava com uma aparência abalada e parecia exausto. Confesso que estava com pena, embora não deixasse de pensar que um rei deveria parecer forte e imponente, o completo contrário de como Ivan estava no momento. Leon respondeu alguma coisa e Ivan lançou lhe um olhar irritado.
— Vamos começar logo. — Luzia se intrometeu.
Enquanto discutiam quais criaturas deveriam ir, os riscos e o que deveríamos fazer e saber, fiquei observando quem estava presente. Ivan, Leon, Luzia, Ivy, Ruy, Cameron, Lewis, Camilla, Lisarin, Linus, Havena, Ônix e Stella. Onde estavam Dahlie e Cristian? E os outros fundadores? Onde estavam Julie, Daniel e Undine? Por que Ethan não estava ali também? Os outros não sei, mas Ethan com certeza ainda estava com frescura porque o contrariei.
Ao mesmo tempo em que quero que me acompanhe, também não quero que se arrisque nessa missão praticamente suicida. Estamos voltando para o território de Leslie e lá ela tem pleno poder, o que me fez pensar: será que teremos poderes lá ou serão bloqueados por algum tipo de feitiço?
Leslie provavelmente terá um exército para nos deter caso nos descubra, mas, e nós, o que teremos? Um grupo pequeno e talvez desprovido de magia. Não teremos como atacar ou nos defender. Não quero que meus amigos se machuquem, mas também não me vejo no direito de impedi-los de me acompanhar.
— Alessia? O que você acha? — Ivy estalava os dedos em frente aos meus olhos e percebi todos olhando para mim, esperando uma resposta.
— Perdão. O que me perguntaram? — Senti-me, novamente, sem graça.
— Perguntamos se você concorda em deixar as criaturas escolherem se vão ou não na missão e se você aceita liderar. — Ivy tentava não rir.
— Ah, eu.... Bem, é claro que aceito que escolham. Afinal, é a vida deles que irão arriscar. Agora, sobre eu liderar... não tenho certeza se consigo comandar uma missão.
— Confie mais em si mesma, Alessia. — Luzia sorriu para mim. — E em suas Lembranças.
— Além do mais, um dia você irá liderar esse reino. Será rainha. — Ivan me encarou, sério.
— E você também tem poderes incríveis. — Ivy me lançou um sorriso compreensivo.
— Ah. Está bem, então. Se vocês acreditam tanto em mim, por que eu não acreditaria? — A verdade é que ainda não acreditava, mas estava sob pressão e foi a melhor alternativa que encontrei no momento.
— Está decidido. Na reunião de hoje à noite iremos pedir aos interessados para assinarem seus nomes em uma lista e veremos quem poderá seguir na viagem, já que apenas os Meios Termos podem viajar em portais. — Luzia decretou, todos concordaram e começaram a se retirar.
Fiquei conversando um longo tempo com Stella, Havena e Ônix, pois fazia tempo que não falava com os três. Eu os via na vila, mas raramente tinham tempo para conversar. Estavam organizando uma espécie de escola, para ensinar o que sabiam para as crianças que vieram conosco e também para as que viessem a nascer.
Depois, fomos para a cozinha e preparamos lanches, conversamos por mais algum tempo e por fim, subi direto para meu quarto. Precisava ficar um pouco sozinha até a reunião e pensar, enquanto o momento não chegava. Por que confiavam tanto em mim? Será que também deveria confiar? Por que Ethan estava tão irritado comigo a ponto de não comparecer à reunião? Divagando sobre as respostas para minhas perguntas, não percebi quando caí no sono... e os sonhos voltaram a me assombrar.
Esse sonho, apesar de ter sido curto, foi pior que os outros. Flutuava novamente por aquele mesmo lugar dos sonhos anteriores, mas havia algo de estranho no ar. Meu coração estava batendo mais rápido que o normal e conseguia atravessar as paredes que apareciam do nada em frente aos meus olhos.
Cheguei ao cômodo em que vi Zein da outra vez. Estava deitado na cama e observava o céu estrelado. Notei que o cômodo estava mais bem decorado e não vestia mais trapos, mas não consegui pensar num significado imediato para isso. No exato momento em que entrei no cômodo, vi seu corpo estremecer e se sentar na cama, olhando para todos os lados, alarmado.
Pude ouvir sua voz dessa vez, e isso fez meu sangue gelar por um segundo, depois esquentando-se e corando minhas faces.
"Sei que você está aqui. Não sei como, mas sei que está."
Tentei controlar meu espanto, mas foi inevitável perguntar como sabia disso e porque não conseguia me ver. No entanto, minha voz não saía, embora movesse meus lábios. Olhei ao redor do quarto e notei um espelho pendurado na parede, com uma moldura quadrada e dourada. Resolvi tentar uma coisa.
Assoprei o vidro e notei que embaçou. Sorri e comecei a escrever ao contrário.
"Olá."
Assim que olhou na direção do espelho, imagino que por instinto, sua expressão mudou e pareceu surpreso. Imaginei que ficaria amedrontado e não que sorrisse e viesse até onde eu estava. Olhei para seus pés quando levantou da cama e reparei que pareciam flutuar. Será que era por que estava sonhando? Por que as pessoas flutuavam em meus sonhos?
"Você não consegue falar comigo?" Perguntou, perto demais de onde estava e resolvi me afastar um pouco mais.
Assoprei o espelho novamente e escrevi outra mensagem.
"Não."
Ele suspirou e passou as mãos pelos cabelos, que haviam crescido um pouco e agora cobriam uma parte de suas orelhas.
"Foi você quem me salvou no outro dia, não foi? Com as velas e o ritual que fizeram."
Senti minhas lágrimas se formando, mas não tive que reprimi-las. Como posso tê-lo salvo se foi ele quem se matou para me salvar? Mas não posso negar que estive aqui quando fizeram aquelas coisas com as velas. Será que era disso que falava? Escrevi no espelho novamente.
"Que ritual?"
"Com as velas. Eles iam me exorcizar".
"Talvez eu tenha".
Estava indecisa sobre o que dizer. Não sabia que estava morto? Será que quando as criaturas morriam, iam para uma espécie de purgatório e posteriormente para algo como o céu ou o inferno?
"Devo te agradecer, então." Disse sorrindo e, dessa vez, virou exatamente na direção em que estava. Senti como se meu coração parasse de bater por um segundo e logo depois dobrasse o ritmo normal. "Depois daquilo, me tratam como alguém da elite espiritual. Acreditam que os espíritos bons não querem que seja exorcizado."
Escrevi devagar, tomando cuidado com as palavras que queria gritar. Você está morto! Não podia agir dessa forma, como se fosse apenas um espírito vagando por algum lugar na terra.
"Disponha."
"Queria saber seu nome."
Ainda olhava na minha direção. Senti meu coração apertar e engoli em seco. Soprei o vidro novamente, ainda insegura sobre dizer ou não.
"Alessia."
Escrevi com cuidado e, depois disso, o sonho nublou e desapareceu. Voltei a simplesmente dormir e após um tempo indefinido, acordei.
A tarde já havia caído e tinha pouco tempo para me arrumar e seguir para a reunião que definiria quem iria me acompanhar. Estava tentando não pensar muito nisso, embora devesse mesmo era bolar uma estratégia para a nova missão e uma maneira de proteger a todos. Terminei de me arrumar, abri a porta de supetão e acabei trombando com alguém.
— Alessia!
— Ethan? — Respirava rápido pela correria.
— Entre. Precisamos conversar. — E me empurrou para dentro.
— Não. Eu preciso... — tentei me manter firme e dizer que nos atrasaríamos, mas me lançou um olhar sério e sua expressão não o desmentia.
— Você teve outro sonho. — Ele não fez uma pergunta. Como ele sabia?
— Como você...?
— Eu... vim atrás de você para conversarmos sobre a missão e o que conversei com Dahlie e Cristian, mas vi que você estava dormindo. Não fui embora e fiquei te observando, mas em certo momento percebi que você estava inquieta e se agitava muito. Não a acordei, porque poderia fazer mal, levando em conta que não sabemos se seus sonhos são apenas sonhos. Então resolvi ficar ao seu lado até você se acalmar. Quando se acalmou, fui embora e voltei agora. — Parecia haver certo receio em sua voz.
— Certo. Sim, eu sonhei de novo. Nada importante. O que você conversou com Dahlie e Cristian?
— Agora não. É hora de seguirmos para a reunião. — Puxou-me para fora do quarto e notei que as palmas de suas mãos estavam úmidas. Estava nervoso.
— Você prometeu me contar. — Sentia-me irritada com seu jeito autoritário.
— Depois vou te dizer. — Falou, enquanto adentrávamos o enorme salão de baile, repleto de todas as criaturas que viviam em Magic, com exceção dos amigos híbridos do Ruy.
Durante toda a reunião, Ethan se manteve afastado de mim. Tentei não me importar com isso e fui ficar ao lado de Cameron e Camilla, mas desisti ao notar que estavam de mãos dadas e bem próximos um ao outro. Quando será que isso aconteceu? Talvez tenha acontecido durante todas as horas juntos, pesquisando sobre os mais diversos assuntos na biblioteca do castelo.
Acabei sentando-me junto a Julie, Daniel e Noah. Fazia um bom tempo que não conversava com esses três e foi necessário muito tempo para botar a conversa em dia. Quando finalmente Ivan chegou ao salão, todos ficaram em silêncio e ele fez seu discurso. Contou sobre toda a situação que estava ocorrendo, sobre Ária, o poço e os Meios-Termos, explicou a presença de Ruy e Undine, discorreu sobre a missão e seus enormes riscos e, por fim, anunciou a lista que estaria disponível para os interessados em se arriscar pelo bem de toda a população dali e talvez até de Fantasy, já que a única maneira de conseguir o que queríamos era matando Leslie.
Aos poucos o salão foi se esvaziando e percebi que a lista não ficou muito longa. Trinta nomes. Reunimo-nos quando todas as criaturas saíram e ficaram apenas as que assinaram seus nomes. Ivy se encarregou de indicar quem eram os Meios-Termos ao analisar suas auras, seus corações e seus corpos. De trinta, ficaram vinte. Sem contar comigo, é claro.
Os fundadores se reuniram com Ivy e começaram a discutir quem deveria ir e quem deveria ficar, até que chegaram a uma decisão e definiram que dez pessoas iriam comigo. Um grupo muito grande seria prejudicial, já que o objetivo era se infiltrar e não atacar diretamente. Ivan tomou o centro do salão e começou a anunciar quem iria, após avisar que eu seria a líder. Os escolhidos foram: Julie, Noah, Daniel, Ivy, Lewis, Ruy, Undine, Stella, Leon e Ethan.
Não queria absorver a realidade. Praticamente todos os meus amigos iriam arriscar suas vidas comigo nessa missão. Quantos do grupo voltariam? Meu coração estava apertado no peito e sentia vontade de chorar, de gritar, dizendo que não poderiam me acompanhar, mas não fiz nenhuma das duas coisas.
Aceitei as escolhas, sabendo que não haveria como argumentar para que fossem mudadas. Arak começou a apresentar para os escolhidos todas as armas que disponibilizariam, enquanto os guardas acompanharam os não escolhidos para fora do salão. Depois, Cristian e Dahlie nos apresentaram os amuletos de defesa que construíram, Ivan me entregou o papel com um feitiço que deveria recitar antes de tentar mandar todos pelo portal e, por fim, Linus, o líder dos alquimistas, nos mostrou o comunicador que inventou para que conseguíssemos nos falar quando estivéssemos lá e eles aqui.
Fomos dispensados e os escolhidos dormiram no castelo. Não consegui conversar com nenhum de meus amigos, partiríamos amanhã cedo e, com sorte, chegaríamos a Fantasy. Fiquei trancada no quarto até pegar no sono. Demorei a dormir e talvez por isso não tenha tido nenhum sonho naquela noite.
Na manhã seguinte, após terminar de me arrumar, tive uma surpresa ao abrir a porta para ir tomar o café. Dei alguns passos para trás e deixei-os entrarem em meu quarto. Não tinha ideia do que Ethan e Lewis estariam fazendo aqui, mas imaginei que fosse importante.
— Bom dia, Alessia! — Lewis me cumprimentou sorrindo.
— Bom dia. — Retribuí com um sorriso mais contido.
— Alessia, estamos aqui porque preciso do seu sangue e Lewis quer analisar sua alma. — Explicou Ethan, sem rodeios e sem nem mesmo me dizer um "oi". Lewis repreendeu-o, mas fiz um sinal com a mão para que não se incomodasse com isso.
— O que te fez pensar que chegando aqui assim e falando comigo dessa maneira o deixaria beber meu sangue? — Encarei-o com uma expressão séria.
Acho que meu humor não estava dos melhores hoje. Passou as mãos pelo cabelo como quem demonstra frustração, depois suspirou pesadamente e trincou os dentes, fechando os olhos também, em seguida, voltou a sua postura normal.
— Tudo bem. Desculpe. — E me encarou de volta com uma expressão triste, que não compreendi.
— Desculpo você, mas, por favor, tente ser mais delicado da próxima vez. Vai beber primeiro, ou Lewis vai analisar minha alma antes?
— Deixe-o primeiro analisar sua alma. Depois que bebo você geralmente fica fraca e isso não é bom para analisar você. — Ethan aparentava cansaço. O que será que o estava deixando assim?
Deitei na cama para que Lewis pudesse compartilhar a alma comigo e observei-o enquanto retirava o amuleto e se preparava. Enquanto contava até três, fechei os olhos e aguardei. Não foi tão ruim quanto esperava, Lewis mal conversou comigo dessa vez. Quando acordei novamente, após a saída dele, já não estava mais no quarto. Ethan estava sentado na cama, me observando.
— Onde está o Lewis? Qual o diagnóstico? — Olhei para todo o lado, menos para ele.
— Lewis está me esperando lá fora. Quis nos dar mais privacidade. — Ainda me olhava fixamente.
— Quanto tempo faz que você não bebe sangue?
— Bebi antes de ontem, mas sangue humano já faz muito tempo que não bebo.
— Ah. — Não sabia o que mais poderia dizer.
— Posso? — E se aproximou um pouco mais. Já tinha feito isso antes e não entendia o meu nervosismo. Simplesmente não conseguia olhar diretamente para ele. Apenas assenti com a cabeça, incapaz de responder. — Não precisa ficar nervosa, você sabe que não vou te machucar.
— Eu sei. — Minha voz saiu mais como um sussurro rouco.
Suspirou e continuou a fitar meus olhos, tirou o cabelo do meu pescoço distraidamente e isso me deixou ainda mais nervosa. Será que sabia o que estava fazendo? Não pude deixar de tentar me afastar um pouco. O que estava havendo comigo?
— Alessia... não precisa se preocupar. — E se ajeitou ao meu lado.
Não respondi nada, mas podia sentir meu coração acelerado e meus pensamentos pareciam estar em uma pista de corrida. O que estava me deixando nervosa? Forcei minha mente a pensar enquanto se aproximava cada vez mais. Não que estivesse vendo, mas podia sentir. Meus olhos estavam bem fechados.
Senti suas presas como picadas de agulhas logo depois que sussurrou alguma coisa em meu ouvido. Senti como se tudo ao meu redor estivesse no meio de um terremoto, mas sabia que era só a tontura pela perda de sangue. No estado de tontura foi que minha mente funcionou melhor, sabia porque estava nervosa e o real motivo por querer beber meu sangue. Queria ler minhas memórias para saber o que andava sonhando, mas por que isso interessava tanto? Será que estava com ciúmes? Ciúmes de um sonho!?! Isso era definitivamente ridículo!
Quando se afastou de mim, minha tontura estava pior e mal conseguia formular uma frase direito, conseguia apenas ouvir o que se passava ao meu redor. Ouvi Lewis e ele dizendo que precisavam ir imediatamente atrás de Cristian e Dahlie, mas que era para manter segredo sobre isso para mim. O que estavam escondendo? Não consegui mais pensar em nada e acabei desmaiando, seguindo logo após para um sono forçado, já que passei a noite praticamente em claro.
...
Chegou a hora de partirmos e todos estavam reunidos no salão, menos Ivy, que estava comigo no quarto enquanto terminava de me arrumar outra vez. Estava me explicando como iríamos nos posicionar ao redor do poço e como deveria pronunciar o encantamento para levar todos comigo.
Também me informou que seguiriam para o poço apenas as criaturas que iriam à missão, para não atrapalhar o feitiço. Estava insegura sobre conseguir realizar o encantamento, mas se todos confiavam em mim, não tinha escolha a não ser tentar.
Peguei minha mochila e admito que era bem pesada, vesti minhas botas marrons e minha jaqueta preta, estava com uma calça legging da mesma cor e uma regata cinza, porque me disseram que roupas escuras ajudariam a camuflar. Enquanto eu e Ivy saíamos do quarto me lembrei de uma coisa que queria perguntar.
— Ivy.
— Sim?
— Se duas das pessoas que ajudaram no feitiço de proteção da ilha, digamos... não estão mais aqui, sendo que uma dessas pessoas morreu, como o feitiço ainda está ativo?
— Está falando do seu amigo, não está?
— Sim.
— O coração e sua essência mágica ainda estão presentes em você, Alessia. Fora que o feitiço realizado envolveu toda a população e não interferiria se um ou outro morresse. Só se morressem todos os principais líderes do feitiço é que seria quebrado.
— Ah. Faz sentido.
— Sim, por isso pedimos para todos os habitantes da ilha compartilharem sua magia.
— Entendi.
Seguimos para o salão e depois de alguns pronunciamentos de Ivan, pudemos finalmente seguir para a floresta e para o poço. Todos estavam com roupas quase nos mesmos padrões de cores e estavam com as mesmas mochilas padrão nas costas.
O caminho era longo e pretendíamos chegar ao poço ainda de dia. Enquanto passávamos pela vila, muitas criaturas apareciam para nos ver passar, acenavam e gritavam votos de boa sorte. Fiquei feliz com o apoio, mas triste ao pensar que talvez jamais voltássemos para cá. Não sei como nem porque, mas Cameron e Camilla estavam nos acompanhando.
Ninguém comentou o fato de não terem sido escolhidos para nos seguirem na missão. Estavam todos muito silenciosos, a tensão pairava no ar e isso era compreensível, já que ninguém sabia se voltaria ou não. Apenas Ivy sabia, pois via o futuro, mas ela mesma já havia dito que o futuro pode se alterar num piscar de olhos.
Estávamos todos ao redor do poço, um ao lado do outro, formando um círculo. Peguei o papel com o feitiço no meu bolso e notei que minhas mãos tremiam. Havia decorado o que tinha que dizer, mas mesmo assim, não me sentia segura para confiar em minha mente.
Respirei fundo algumas vezes, todos estavam me observando atentamente e senti um tremor correr minha coluna. Passei a observar os rostos de cada uma das criaturas que estavam ali e só então reparei que Cameron e Camilla faziam parte do círculo.
— Cameron, Camilla, o que estão fazendo aqui?
— Eles também são Meios-Termos. — Ivy falou.
— Por quê?
— São bruxos e tendem a ceder ao mal, no entanto, o bem em sua alma é mais forte. — Explicou.
Suspirei, frustrada por todos os meus melhores amigos estarem se arriscando tanto dessa maneira e por não poder impedi-los. Refleti sobre o fato do portal só funcionar a noite, mas acho que nos enganamos sobre isso. Anunciei que iríamos começar e passei a recitar o encantamento.
"Magicae egilabit..."
— Espera! Alessia! Tem uma coisa que você precisa saber! — Ouvi a voz de Dahlie gritar e abri os olhos para ver ela e Cristian aparecendo à minha direita.
— Fiquem quietos! Estão atrapalhando! — Leon berrou, irritado.
— Saíam daqui! Não tem nada que precise saber! — Ethan também gritou com eles e isso me surpreendeu.
— Não! Esperem! Quero saber o que têm a dizer. — E saí do círculo, em direção aos dois.
— Alessia... os sonhos que você está tendo... — Dahlie estava ofegante, parecia ter corrido uma maratona.
— Eles não são apenas sonhos. São uma espécie de comunicação de almas. — Cristian completou por ela.
— Como é? O que estão dizendo? — Sentia-me completamente confusa.
— Alessia! Não dê ouvidos a eles. — Ethan protestou e isso só me fez querer ainda mais saber o que tinham a dizer.
— Você pode conversar com as criaturas que aparecem nos seus sonhos através de suas almas. — Dahlie me encarava com o olhar sério.
— Isso não...
Mas Cristian me interrompeu.
— Alguns de seus sonhos foram apenas memórias do ser a quem seu coração pertencia. Não estou dizendo a quem você amava, mas o coração que está batendo no seu peito não é seu, e você está tendo acesso à memória da criatura a quem pertencia.
— Ah. Então... o que sonhei realmente já aconteceu? — Tentei processar o que estavam me dizendo, mas estava difícil.
— Sim e o que você andou sonhando atualmente ainda está acontecendo. — Cristian completou.
— Vocês não... não estão dizendo que... — não conseguia completar a frase.
— Esqueça isso, Alessia! Vamos! — Ethan gritou.
— Seu amigo ainda está vivo e está no Vale da Morte. É o lugar para onde as almas das criaturas que morrem vão. Lá, viram fantasmas e dependendo do que fizeram em vida, tem outra chance de viver, mas como fantasmas. — Dahlie agora sorria.
— Mas vampiros não têm...!
— Alma? É claro que eles têm! Mas a maioria está corrompida pelo mal. Creio que seu amigo não estivesse. — Dahlie sorria cada vez mais.
— Por favor, não brinquem assim comigo... — senti meu coração acelerar e meus olhos ficarem úmidos.
— Jamais brincaríamos com algo assim. — E segurou minhas mãos entre as dela.
— Eu... estava falando com ele? De verdade? — Não consegui me conter. Já havia acreditado nas palavras deles, mas tentava obrigar meu coração a não acreditar plenamente.
— Sim. — Disseram os dois juntos.
— Alessia! — Lewis me chamou e finalmente me virei, soltando as mãos de Dahlie. — O Vale da Morte fica em Fantasy, lembra?
— Mas... — não estava conseguindo raciocinar direito por causa do choque em saber que Zein ainda estava vivo. Não conseguia processar a mensagem de Lewis direito. O Vale da Morte fica em Fantasy. Estamos indo para Fantasy.
— Ande logo, menina! — Leon continuava me apressando. — Não pense que iremos nos afastar de nosso verdadeiro objetivo por causa desse seu amiguinho.
— Não fale assim, Leon! Você já fez até pior! — Cristian falou alto o bastante para ele ouvir. Leon fechou a cara, mas ficou quieto.
— Obrigada. De verdade. — E abracei Dahlie e Cristian. — Agora, temos que ir.
Despediram-se e se afastaram de nós. Voltei ao círculo e pedi para todos se acalmarem novamente e manterem seus pensamentos fixos na floresta de Fantasy, perto de onde ficava a Caverna de Cristal. Todos assentiram e fecharam os olhos.
Tentei de verdade acalmar meus pensamentos, mas foi quase impossível. Não parava de pensar nesse tal Vale da Morte e que Zein estava lá, em algum lugar. Não podia me distanciar da missão, mas queria poder resgatá-lo. Meu cérebro sempre voltava para essa informação e tentava desconfiar ao máximo das palavras deles, para conseguir me concentrar na Caverna de Cristal, mas meus pensamentos não me obedeciam.
Então... Zein não estava morto. Como Cristian e Dahlie pareciam ter tanta certeza sobre isso? Por que diziam isso? Queriam por acaso me iludir? Isso era crueldade! Mas... os sonhos que estava tendo.... Eles tinham razão! Os sonhos eram tão reais que ficava difícil distingui-los da realidade. Por qual outro motivo ainda sonharia com ele? Por qual outro motivo os sonhos eram tão vívidos?
Cristian e Dahlie tinham a resposta: era porque Zein estava vivo e estava vivendo como um espírito, como um fantasma, assim como Lewis. Tinha ganhado uma segunda chance de viver, mas não mais como vampiro.
Estava em Fantasy.
Possuía trevas em sua alma, mas também o bem, por isso não havia simplesmente virado poeira estelar. Já que estávamos indo para Fantasy para curar Ária, será que não poderíamos também tentar encontrá-lo para libertá-lo do lugar onde estava? Poderia reencontrá-lo novamente...! Meu coração estava acelerado de expectativa. Minha mente estava confusa e indecisa, mas precisava me decidir. Afinal, eu era a líder.
E iria atrás dele no Vale da Morte, o lar de todos os fantasmas condenados. Estava voltando à Fantasy com mais de uma missão. Todos estavam de mãos dadas formando uma corrente. Fiz todos se aproximarem do poço e manterem seus olhos fechados. Apenas eu olharia para a água e executaria o feitiço.
"Magicae egilabit
Potesta mae use
Ad nos portare!
Omnes illi pacci sequi,
Omnis volunt parcipadam
Eius Magicae ut excitent cimur!
Les Dimida-Mensuris ducam.
Et ut non daremus punam.
Nos iuvare ad locum.
Oportet vincis,
Utemur omnem virtutem
Insunt ente!
Est oculis clausís,
Cordã verô tacent,
Speramus traici est!"
FIM
A história continua em Enchantment, terceiro e último livro da Trilogia. Agradeço imensamente por estarem acompanhando a história e, se não for pedir demais, comentem o que acharam!
E nunca se esqueçam que a magia está dentro de cada um de nós.
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