Capítulo 17
Já havia passado cinco semanas desde que Ária me atacou daquela maneira enlouquecida, quando fui visitá-la. O tempo estava passando bem lentamente nos últimos dois dias e os ataques das criaturas voltaram a assombrar os moradores de Magic, principalmente os que viviam na vila e próximos à floresta.
Leon estava mais irritado do que nunca e qualquer um que passasse em seu caminho seria alvo de seu mau humor. Arak também estava bem alterado nesses últimos dias, por causa do último ataque no qual machucaram três crianças e dois jovens.
Os sonhos continuavam e estavam cada vez mais vívidos e extensos, como se fossem cenas de algum tipo de filme. Tentava manter os outros longe das informações sobre os sonhos, mas Ethan sempre conseguia um jeito de descobrir e quando não contava, arrumava uma maneira de beber meu sangue para ficar sabendo.
As Sombras ainda me faziam visitas diárias para um diálogo, embora nos últimos tempos não tenham tido que me socorrer de nenhum apuro. Contavam sobre os Mestres que tiveram em toda a sua existência e sobre as histórias vividas por cada um deles, porém sempre que falavam no nome de Zein sem querer, mudavam de assunto ou desapareciam. Talvez ainda sentissem muito a falta da sua presença. Pelo que fiquei sabendo delas, foi o Mestre ao qual estiveram por mais tempo obedecendo.
Havia visitado Ária uma vez após o ataque, mas só fiz isso por insistência de Luzia, que me dizia constantemente que o comportamento de Ária havia mudado muito nas últimas duas semanas. Aconteceu que tivemos uma conversa curta, em que se desculpou por ter me atacado e perguntou como estava me sentindo em relação a tudo o que estava acontecendo. Principalmente, em relação à morte do Mestre das Sombras.
Não sabia o que responder de imediato, então simplesmente dei uma resposta evasiva e mudei de assunto, mas isso não a contentou e me perguntou quem escolheria como príncipe agora. Respondi, antes mesmo de parar para pensar. No entanto, refletindo sozinha mais tarde, reparei que era a escolha certa a ser feita.
Ária respondeu que faria uma enorme festa de comemoração para honrar a minha escolha. É claro que seria um grande baile, mas levaria tempo para prepará-lo e me pediu para que mantivesse o segredo sobre a escolha, enquanto os preparativos eram feitos. Fui obrigada a reprimir o riso, parecia até que estava preparando uma festa de casamento! Era uma pena que com toda essa loucura, ela e Ivan não tivessem conseguido sua cerimônia de casamento oficial.
Dahlie e Cristian estavam me procurando todos os dias para que voltasse ao poço e tentasse novamente fazê-lo funcionar. Lewis também estava ansioso, mas respeitava minha escolha de me manter afastada. Por isso, só veio me procurar duas vezes para pedir que continuasse a tentar.
Consegui enrolar os três pelas cinco semanas após o ataque de Ária, mas agora não havia mais desculpa para dar e continuavam atrás de mim, tomando sempre o cuidado de verificar se Ethan não estaria por perto, pois já havia discutido feio com os dois fundadores sobre essa ideia de me arrastar de volta ao poço.
Finalmente cedi aos seus pedidos e combinei que os ajudaria no domingo, pois a lua estaria cheia no céu e teríamos uma proteção contra as feras noturnas, já que só apareciam em noites de lua nova ou de céu nublado.
Durante essas cinco semanas fui visitar Ruy, o híbrido, duas vezes, quando seus amigos não estavam lá. Sempre me mandava uma mensagem avisando quando poderia ir até a caverna e sempre ia sozinha, porque se algo desse errado, seria mais fácil me esconder nas sombras ou deixar que Ruy me protegesse dos demais híbridos.
Quando queria me avisar que poderia visitá-lo, não sei como, mas vagalumes vinham na noite anterior e pairavam na minha janela do castelo, formando a imagem de uma quimera no céu noturno. Era quase como ver uma constelação, só que feita de vagalumes e não de estrelas. Disse que um dia talvez aprendesse a falar com os vagalumes como fazia. Provavelmente era por telepatia.
Ruy também sabia dos meus sonhos, mas só perguntou sobre eles uma única vez e foi completamente sem intenção, já que dividíamos a mente através da conexão telepática. Ele apenas pensou no que significariam os tais sonhos, fazendo com que pudesse ouvir a pergunta por acidente.
Nenhum dos dois sabia a resposta para essa questão, por isso trocamos o assunto e perguntou como estava a vida lá na vila e no castelo. Ruy se ofereceu uma vez para tentar afugentar as feras noturnas, mas não podia ser visto pelas outras criaturas, que pensavam que também era um monstro. Decidimos que era melhor não se envolver.
Amanhã teria que voltar ao poço e tentar fazê-lo funcionar novamente. Minha cabeça estava cheia de pensamentos contraditórios sobre tudo o que aconteceu e ainda estava acontecendo, por isso saí novamente sem avisar ninguém, sabendo que receberia várias broncas ao voltar.
Já devia ser umas duas ou três da tarde quando alcancei a praia e comecei a andar em direção ao velho barco, que eu e Lewis encontramos num outro dia. Embora quisesse ficar sozinha, sabia que logo mais Undine apareceria para conversar comigo e perguntar por que não havia ido visitá-la nas últimas duas semanas.
Estava pensando em uma resposta para dar, porque a verdade é que a estava evitando por saber que as conversas com ela eram sempre sinceras e seus conselhos eram quase sempre certos. Não sabia se queria ouvir uma boa dose de verdades ainda.
— Não precisa se dar ao trabalho de pensar em alguma desculpa, está bem? — A voz de Undine surgiu de repente e logo pude ver sua cabeça emergindo. — Agora, quanto às verdades... sinto muito, mas você terá que ouvi-las.
— Eu sei que sim... sinto muito por não ter vindo visitá-la. Sei que muitas vezes sou covarde....
— Primeiramente, não repita isso nunca mais. Quantas pessoas enfrentariam tudo que está enfrentando tão facilmente assim?
— Não é fácil!
— Exatamente, mas você faz parecer fácil. Isso é uma qualidade incrível. Não tem nada a ver com covardia.
— Obrigada. — Forcei um sorriso para a criatura que estava claramente tentando me animar. — Já pode começar a parte menos elogiosa da questão.
— Oh! Graças aos mares! Estava difícil tentar ser delicada. — Dessa vez, me fez sorrir de verdade. — O fato é que você está mentindo para si mesma. Você não quer se permitir acreditar em algumas coisinhas que estão óbvias demais e que te dão medo.
— Do que está falando?
— Primeiro, estou me referindo ao seu coração, depois aos seus poderes e por fim, à pessoa que está por trás das feras.
— Você sabe quem está controlando as feras? — Ignorei todo o resto da frase.
— Não exatamente, mas tenho minhas suspeitas. Infelizmente, não posso contar nada a você porque não passam de suspeitas.
— Entendi. Todos adoram ter seus segredinhos, não é? Sabe como isso está me irritando ultimamente?
— Imagino o quanto, mas acho que não tanto quanto seus sentimentos. Você está começando a se decidir, mas se quer mesmo fazer isso sem errar, admita primeiro que amava o outro. Será mais fácil aceitar que ele se foi e que agora seu destino é ao lado do rapaz que ainda está com você.
— Você tem razão novamente. É só que... não consigo, sabe? Não consigo acreditar que depois de tudo que fiz para salvá-lo, cedeu para as Trevas e que... — as lágrimas estavam escorrendo antes que percebesse e tentasse impedir.
— Tudo bem. Chorar faz bem. Ajuda a expressar o que você está sentindo. — Enquanto esfregava meus olhos e tentava parar de chorar, sentou-se ao meu lado em sua forma terrestre. — Não reprima o que está sentindo. Apenas eu estou aqui agora e não vou contar isso para ninguém.
— Obrigada. — Voltei a falar, sem me importar mais com as lágrimas. — Não consigo aceitar que ele se foi e que não consegui ajudá-lo de verdade.... É como aconteceu com minha amiga Carla. Não pude fazer simplesmente nada!
— Entendo como se sente. Pode parecer que não, mas entendo. — E segurou uma de minhas mãos entre as dela, que eram frias e escamosas.
— Ele morreu para me salvar. Tudo bem que antes disso havia me matado, mas mesmo assim, perdeu a vida por causa de mim.
— Não. Ele perdeu a vida por você. — Seu comentário não ajudou muito, só me fez chorar ainda mais.
— Eu sei! Mas não devia ter feito isso! Se tivesse mesmo conseguido ajudar, as Trevas jamais o teriam controlado! Ele nunca teria me matado! Ele não teria morrido! — Falei depressa, sentindo cada vez mais lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
— Você precisa superar isso, Alessia. Não pode continuar pensando dessa forma. Não pode parar de viver, muita gente ainda depende de você.
— E como posso esquecer se sonho com ele todas as noites? Se toda vez que fecho meus olhos, é como se estivesse novamente ao meu lado? Se suas lembranças ficam se misturando com as minhas e se tornando cada vez mais reais?
— Isso pode ser estranho... e difícil. Mas acredito que seja normal, porque te deu seu coração e provavelmente é por isso que estão acontecendo essas coisas. Diferentemente dos humanos comuns, nas criaturas mágicas, o coração também é capaz de armazenar lembranças, assim como o cérebro. Não me pergunte a utilidade disso! Não sei muita coisa sobre esse assunto!
— Agora me responda como posso esquecê-lo, se seu coração bate no meu peito?
— Outra pergunta que não tenho como responder, mas você precisa tentar. Acredite em si mesma, você consegue. Seus poderes estão crescendo, sua responsabilidade também. Muita gente precisa de você, para que se perca dentro de si mesma. Você precisa voltar a agir. Um bom começo é namorar o rapaz que ainda está ao seu lado, mesmo depois de tudo. Mesmo sabendo que você ainda ama o outro.
— Ah, Undine.... Eu sou um monstro! Como não pensei nisso? Como pude...?
— Você não é um monstro. Não fique se culpando pelo que já passou. Tome o agir e vá em frente! — E se despediu, pulando novamente nas águas e desaparecendo.
Tudo o que me disse ficou pairando na mente e cada vez que tentava ignorar o pensamento, voltava e parecia ficar me rondando. Decidi que deveria seguir seus conselhos e não iria mais ficar me escondendo com pena de mim mesma. Não iria mais fugir de meus sentimentos. Iria agir.
...
Acordei com mais sono do que quando fui dormir, se é que isso é possível. Levantei da cama com muito custo e me dirigi ao banheiro. Talvez um bom banho ajudasse a acordar. O banho surtiu o efeito esperado e desci para tomar o café da manhã no salão. Esse seria um longo dia....
Descobri que o meu café da manhã na verdade seria o almoço, já que havia perdido os três horários do desjejum por ter dormido demais. Ethan, Cameron e Lewis tentaram me acordar, cada um num horário diferente, mas me disseram que parecia mais uma pedra e me deixaram dormindo.
Agora entendia o motivo de estar com tanta preguiça e sonolência. Detesto dormir demais.
Almocei e fui para a vila junto com Ethan e Cameron, pois ambos passariam de casa em casa perguntando se as criaturas que ali viviam estavam bem e se precisavam de algo. Leon ainda não havia voltado de sua ronda e nenhum de seus guerreiros estava acordado no momento, já que haviam passado a noite e a madrugada fora, fazendo a vigília.
No meio da tarde, paramos no restaurante onde Julie trabalhava e nos informou que não houve nenhum ataque nas últimas três noites e isso era de se esperar, já que hoje seria noite de lua cheia e as últimas noites estavam límpidas e bem iluminadas pelo luar. Não sei porque Leon fez seus guerreiros se esgotarem tanto, se todos sabemos que as feras noturnas não saem em noites claras.
Voltamos para o castelo perto do entardecer e segui direto para o meu quarto, pois precisava me preparar para a missão dessa noite. Iríamos ao poço novamente e precisaria fazê-lo funcionar direito e ainda trazer o tal livro do Lewis de volta. Arrumei uma pequena mochila e a enchi com tudo que imaginei ser útil para a nossa missão, inclusive uma varinha mágica que encontrei perdida em um dos cômodos vazios do castelo, quando estava fazendo uma expedição particular.
Depois desci para jantar com os outros e me surpreendi ao ver que Ária estava na mesa conosco. Mais tarde, Ethan me explicou que Ivan conversou com Luzia e as outras três criaturas que cuidavam de Ária e todas afirmaram que seu quadro havia melhorado e que era melhor começar a interagir com outras pessoas novamente.
Às dez horas, estávamos prontos para desobedecer ao toque de recolher de Leon e Arak e fugir exatamente para o local que estava proibido a todos após o crepúsculo. Estávamos indo para a floresta, mais especificamente, para o poço/portal mágico. E dessa vez Ônix não estava conosco. Éramos apenas Dahlie, Cristian, Ethan, Lewis e eu. Cristian ia à frente seguido por Lewis, eu, Ethan e Dahlie, respectivamente.
— Está pronta, Alessia? — Dahlie retirava uma seringa com agulha da bolsa.
— Sim. — Dessa vez não estava nem um pouco nervosa, além do que, sabia que as feras noturnas não apareceriam essa noite, já que a lua cheia brilhava no céu e iluminava tudo o que sua luz conseguia alcançar.
— Estaremos com você. — Ethan sussurrou no meu ouvido, enquanto Dahlie retirava meu sangue.
— Eu sei. Não há perigo algum. Não precisa se preocupar. — Sorri de leve.
— O livro está na gaveta da cômoda que tem no quarto que dividia com Jim, está à direita da cama que ficava à esquerda do quarto. Primeira gaveta. Sim, me lembrei. — Lewis explicou, sorrindo orgulhoso de sua memória. Assenti com a cabeça e me afastei de todos para encarar o poço sozinha.
— Agora. — Ouvi a voz de Cristian falar mais alto, poucos metros atrás de mim.
Despejei o sangue da seringa com cuidado e esperei a água enevoada subir até a borda do poço. Minha visão ficou presa ao lugar que estava sendo mostrado pela água: os corredores do castelo de Fantasy. Minha visão estava tão focada que poderia imaginar estar ficando vesga, mas sabia que era o efeito da fumaça do poço.
Os corredores do castelo estavam ainda mais bonitos e luxuosos do que antes. Com certeza Leslie estava investindo muito em decoração, mas como será que estavam os moradores lá da vila? Aqueles que não tivemos como trazer conosco e que ficaram nas garras dela?
O poço parecia estar lendo minha mente e no mesmo instante a imagem transmitida pela água se alterou. Agora, estava em uma das ruazinhas da vila e tudo parecia estar tão deserto.... Era noite lá em Fantasy também e não havia criatura nenhuma nas ruas. As casas estavam escuras e não havia qualquer sinal de movimento.
Senti uma forte tontura, que me obrigou a apoiar as mãos na beirada do poço. Assim que minhas mãos tocaram a pedra fria, pareceu que a água, a névoa e o poço me sugaram para dentro de si e da imagem que me revelavam. Assim que a tontura passou e consegui me equilibrar novamente, tomei um verdadeiro susto ao constatar que agora não apenas via a imagem, como também participava dela.
Estando presente na imagem, conseguia ouvir alguns sons que antes não era possível escutar. Pessoas dormiam. O vento uivava por entre as paredes das casas. Havia o som de água corrente, provavelmente na fonte da praça e... o som de passos. Não era apenas uma criatura, pareciam ser três ou quatro e pareciam estar marchando. Havia também o som de ferro estalando. Estariam usando armaduras?
Precisava me esconder depressa. Estavam se aproximado, mas não havia onde me esconder e meu corpo não me obedecia. Quando o primeiro guarda apareceu, prendi a respiração e não ousei mover nenhum músculo. Fiquei esperando que me parassem e falassem qualquer coisa comigo, mas passaram por mim como se não estivessem me vendo. E se realmente não estivessem...?
Experimentei correr até eles novamente e balancei os braços para tentar chamar-lhes a atenção, mas nem olharam na minha direção. Ao meu lado havia um pequeno monte de madeira cortada para servir de lenha. Peguei uma das toras e arremessei o mais longe que consegui.
Assim que o objeto atingiu o chão e o som foi captado pelos guardas, se viraram todos ao mesmo tempo naquela direção, com as armas em punho. Pude reparar que todos os quatro estavam trajando armaduras douradas, escudos de prata e os mais variados tipos de armas.
O guarda mais baixo estava com um arco e flecha de ouro, ao que parecia pelo brilho. Estava escuro e só era possível distinguir as coisas por causa de seu brilho na luz do luar e dos poucos lampiões a gás que foram colocados em alguns pontos das paredes das casas. O mais alto dos guardas estava com algo que parecia uma clava e os dois que tinham quase a mesma altura estavam com uma lança e uma espada.
Dois guardas correram até o local onde a madeira havia pousado e começaram a procurar por sinais de alguma criatura. Nesse momento, lembrei o que havia vindo fazer e decidi que precisava me dirigir ao castelo para pegar o livro de Lewis.
Dessa vez não fui transportada imediatamente para o lugar que pensei, mas fui guiada a ele. Flutuei através dos caminhos até chegar ao castelo, mas quando parei em frente a porta de entrada e comecei a raciocinar como faria para entrar, uma espécie de força invisível me empurrou na direção da parede. Fechei os olhos e esperei o impacto, mas tudo que senti foi um calafrio correr todo o meu corpo.
Ao abrir meus olhos, vi o interior do hall de entrada do castelo e as duas escadarias (agora de prata) levando aos andares superiores. O castelo também estava em silêncio como a vila, mas este não apresentava qualquer ruído. Era estranho que não houvesse o som de pessoas conversando em algum lugar. O que Leslie havia feito por aqui? Será que ainda soltavam os humanos a noite para serem caçados? Acho que não.... Do contrário, haveria algum som por aqui. Será que esse era o efeito de alguma espécie de toque de recolher? Mas por que faria um toque de recolher?
Achei melhor continuar com o que vim fazer e algo dentro de mim dizia para que me apressasse. Subi a escadaria que levava aos dormitórios e notei que havia guardas parados de dois em dois, em alguns pontos dos corredores. Passei por todos sem que me notassem e segui até o quarto que antes pertencia ao Lewis e ao Jim.
Entrei, passando através da porta, e me veio à cabeça que deveria estar presente ali apenas no plano astral, ou seja, apenas minha alma estava realmente lá. Não havia ninguém ali e o quarto parecia ter sido revirado por bichos selvagens, as gavetas e os objetos deixados para trás estavam todos jogados pelos cantos. Será que o livro ainda estava ali? E se estivesse, como iria encontrá-lo?
Não podia perder tempo. Então, comecei a revirar a bagunça e após um tempo, como por milagre, encontrei o livro jogado com as páginas abertas, embaixo de uma pilha de lençóis rasgados.
Por que deixariam para trás um livro que continha informações tão importantes? Leslie era bem mais inteligente que a antiga Rainha dos Vampiros, então por que subestimou assim o poder do que continha neste livro? Será que estava enfeitiçado ou era alguma espécie de armadilha?
Comecei a me sentir tonta novamente e cheguei até a pensar que fosse por causa do livro, mas quando a vertigem passou e consegui me concentrar em outra coisa que não fosse manter o equilíbrio, percebi que havia voltado a Magic e que o livro ainda estava em minhas mãos. Assim que tive consciência sobre esses dois fatos, o poço pareceu me repelir e caí sentada no chão com o livro no colo.
— Ela conseguiu! — Eram as vozes de Lewis e Cristian, gritando simultaneamente.
— Ela voltou! — Esta era Dahlie.
— Ela está bem? — E este era Ethan. — Alessia?
— Já pode se aproximar. — Dahlie avisou.
Ethan correu até mim e ajoelhou ao meu lado, me puxando para um abraço, sem se importar com o público.
— Por que demorou tanto?
— Você encontrou o livro! — Lewis havia se aproximado também.
— Estava enfeitiçado, não é?
— Sim. Nas mãos de qualquer um que estivesse obedecendo às ordens de Leslie o livro pareceria apenas o diário de um adolescente com uma vida chata e monótona. — Explicou sorrindo.
— Genial! — Cristian deu tapinhas no ombro dele.
— Por que demorou tanto? — Dahlie repetiu a pergunta de Ethan, que ainda não havia me soltado.
— Eu me perdi. Não sabia que teria que vagar por lá pessoalmente. Achei que pensaria no lugar e já estaria nele, mas minha alma acabou....
— Se teleportando para Fantasy. — Cristian completou a frase por mim. — Você via, ouvia e sentia tudo, mas as criaturas de lá não podiam vê-la ou ouvi-la.
— Exatamente. — Falei ao perceber que esperava alguma espécie de confirmação, embora não tivesse perguntado nada.
— Por quê? — Ethan finalmente me soltou para encarar Cristian.
— O poço só transportou a alma dela para lá. — Explicou. — Mas deixou o corpo aqui. No entanto, se alguma das criaturas de lá tivesse tocado nela, poderia vê-la e ouvi-la enquanto mantivessem contato.
— Mais ou menos como um fantasma. — Disse Lewis.
— Exato. — O fundador sorriu, orgulhoso.
— Acho melhor voltarmos para o castelo. Logo irá amanhecer e talvez Leon deixe os vampiros fazerem a ronda. — Dahlie lançou-nos um olhar significativo.
Ethan me ajudou a levantar, mas se recusava a se afastar. Abraçou minha cintura e caminhou ao meu lado até chegarmos ao castelo. Nessa noite, os sonhos com Zein não vieram me assombrar, mas talvez fosse pelo fato de que só tive quatro horas de sonho e isso não foi suficiente para completar o ciclo do sono e chegar à etapa dos sonhos.
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