Capítulo 16
Três dias depois da conversa com Ethan, estávamos menos evasivos um com o outro e não nos importávamos muito se outras pessoas nos viam juntos, em situações que nos faziam parecer um casal de namorados. Na verdade, não éramos nem um casal, apenas sabíamos que um amava o outro. Ou eu sabia que ele me amava e estava tentando decidir se escolhia aceitar que o amava também....
Indecisão é uma coisa terrível para lidar e com certeza faz parte de mim. Estávamos apenas sendo agradáveis um com o outro, sem nos importar com o que as pessoas diziam. Saímos para almoçar juntos nos dois dias que se seguiram a conversa e combinamos de sempre contar a verdade um ao outro, sobre tudo o que acontecesse.
Tínhamos que basear nossa amizade primeiramente em confiança. Amizade? Sim, talvez não tenhamos aceitado ainda a ideia de amar. Ele, porque sempre fingia amar outras garotas apenas para cumprir os serviços que a antiga Rainha dos Vampiros propunha quando trabalhava para ela, coisa que acabou me contando mais detalhadamente quando prometemos ser sinceros. E eu, porque achava que não estava preparada para amar alguém.
Embora tenha lhe prometido que sempre contaria a verdade e seria sincera, não contei sobre os sonhos que tinha quase todas as noites com Zein. Eram sonhos estranhos demais... vívidos demais.... E não queria que ficasse se preocupando à toa, achando que ainda me importava com o Mestre das Sombras. Eu mesma estava me esforçando para acreditar que não me importava e tentava manter o foco naquele falso ódio que senti quando o apresentaram como traidor.
Era impossível. Simplesmente não conseguia odiá-lo como fiz antes. Não agora que sabia que havia morrido e me entregado seu coração para me salvar. Não depois de todas as tentativas que fez para se livrar do controle das Trevas e tentar seguir um caminho diferente. Será que a culpa de não ter conseguido era apenas dele?
— Ei! Alessia! Ethan te mostrou as minhas anotações? — Camilla me encontrou no corredor, enquanto trazia consigo uma pequena pilha de livros.
— Sim. Confesso que não entendemos muita coisa e.... não vejo como pode nos ajudar.
— É exatamente disso que vou falar na nossa reunião de hoje à noite. Cameron está convocando nosso pequeno grupo para a biblioteca, enquanto preparo as explicações. — E se despediu, seguindo pelo corredor. — É às dez horas! Não se atrase!
— Não vou me atrasar! — Segui pelo corredor até o escritório de Ivan, esperando encontrá-lo por lá. O lugar estava vazio. Continuei até a torre onde estavam mantendo Ária confinada e subi os degraus até a última curva da escada em espiral, onde os guardas não poderiam me ver.
Chamei as sombras e pedi que me encobrissem. Subi os últimos degraus e peguei as chaves da porta sem que o guarda percebesse. Um deles estava dormindo e o outro parecia estar concentrado demais em arrumar o cabelo no reflexo do escudo que estava pendurado na parede. Se Leon e Arak vissem esses dois....
Entrei no quarto de Ária e fechei a porta com cuidado, enroscando a chave no cinto do vestido que usava. As sombras deixaram que aparecesse novamente. Ela estava sentada em uma mesa e rabiscava algumas folhas de... o que era aquilo? Pergaminho? Não existia papel? Ivan estava usando papel....
— Ária? — Assim que ouviu o som da minha voz, deu um pulo de susto e derrubou tudo o que estava em cima da mesa ao se levantar. Meu sangue gelou ao lembrar dos guardas ali fora e por um momento nenhuma das duas se moveu. Nenhum barulho do lado de fora. Tudo tranquilo.
— O que faz aqui? — Sua voz estava diferente, parecia estar rouca, embora não estivesse com a aparência de alguém que está doente. A única marca que havia eram as olheiras bem marcadas debaixo dos olhos.
— Vim conversar com você. — E caminhei devagar até a cama. Seguia meus movimentos com o olhar, como se fosse atacá-la a qualquer momento. Céus! Estava mesmo enlouquecendo!
— Não tenho nada para dizer. Todos acham que estou louca. — Mesmo com a luz fraca das poucas velas que havia no quarto, pude ver os olhos dela marejarem.
— Eu... não acho. Estava até tentando negociar para tirarem você daqui.
— Mentirosa! — Sua voz soou mais alto que o normal e senti meu corpo estremecer. Tive um mau pressentimento, mas me recusei a fugir dali. Tentei me aproximar devagar, quem sabe até abraçá-la...?
— Não estou mentindo, mas se continuar agindo dessa maneira não vão deixa-la sair!
— Ninguém quer me deixar sair! Não sei porque me deixam presa aqui! Não sei porque pensam que estou louca! Nunca fiz mal a ninguém!
— Ária, você chicoteou dois amigos meus só porque permitiram que saísse do castelo e me acompanharam! Sim, fiquei sabendo! E você fez aquilo por conta própria!
— Porque mereceram! E você merecia também! Por desrespeitar as regras!
— O quê? Ária, o que houve com você? Onde está a pessoa que salvou minha vida, quando eu e meus amigos chegamos, perdidos, em Fantasy? A pessoa que ajudou Ônix, Carmen, Lewis e Jim a se esconder? A pessoa que ajudou todos a fugir?
— Está aqui! Mas agora as coisas são diferentes, Alessia! — E andou tão rápido que não consegui me afastar a tempo. Segurou meus ombros com força e olhou fixamente em meus olhos. Pude perceber um brilho vermelho em seu olhar, mas foi apenas por um instante.
— Mudaram de que forma? Não estamos exatamente bem e precisamos nos preparar para possíveis ataques da Leslie!
— Há uma guerra a caminho e não vou perdê-la! Você não vai me fazer perder! — Sua voz estava irreconhecível e seu olhar também. Não parecia ela, apesar de ser. Correu até a mesa e pegou alguns papéis do chão, desajeitadamente.
— Do que está falando? Estou do seu lado! Jamais faria você perder!
— Cale a boca! Sua mentirosa! Sua Meio-Termo nojenta! — Ária parecia ainda mais louca e finalmente encontrou o que estava procurando.
Um sorriso maldoso passou por seu rosto e se virou para mim, berrando algo como um feitiço em uma língua que desconhecia. Uma língua que não era nem um pouco parecida com as que havia aprendido recentemente.
— O que vai fazer, Ária?
— Te matar!
— O quê?
Estávamos gritando e antes que pudesse completar o feitiço, os guardas entraram armados e foram atingidos pela explosão de poder que ela havia acumulado, mas não utilizou da maneira correta. Os dois voaram para fora da sala e rolaram pelas escadas. Isso me deu tempo de pedir a proteção das Sombras novamente. Quando conjurou o feitiço, apenas fui arremessada para longe e bati as costas na parede.
"Podemos proteger seu coração, mas não seu corpo. Você sentirá dor."
"O que ela está tentando fazer?"
"Vai torturá-la com os Poderes até matá-la."
"O quê?!?"
"Algo como usar o Fogo para queimá-la e depois a Água para enregelar o que estava queimado. É agonizante, por ser energia tão pura."
"E ela pode controlar os Poderes assim?"
"Pode, se der algo em troca."
"E o que seria?"
"Você vai descobrir. Camilla contará hoje à noite. Sentimos muito."
— Ária! Pare, por favor! Não sei o que te fiz para que passasse a me odiar tanto, mas, por favor não faça isso!
— Você não sabe? — E gargalhava como louca. — Você virou uma Meio-Termo e está ameaçando meu Poder!
Ária lançou outro feitiço com o pergaminho na mão e este se dissolveu no mesmo instante, para se tornar uma imensa bola de fogo que voou em minha direção. A varinha de Ária havia sido confiscada, mas pelo jeito o pergaminho também era algum tipo de item que conferia poder mágico elevado a um feiticeiro ou bruxo.
Não senti as queimaduras como deveria ter sentido por causa da proteção das sombras, mas meu corpo foi aquecido ligeiramente e vi marcas vermelhas na pele, que se expunha conforme o vestido chamuscava e se queimava.
— Ária! Por favor, me escute! Eu não sei o que é ser um Meio-Termo! — Tentei usar minhas forçar para gritar com ela, e não gritar de dor.
— Cale a boca! — E pegou outro pergaminho, que se transformou numa espécie de onda estática.
Junto a essa onda, uniu um redemoinho de água feito com outro pergaminho e se preparou para atirá-los em mim. Gritei, antes mesmo de lançar o ataque, e fechei os olhos com força, mas não cheguei a sentir a potência ou a dor do ataque.
Quando abri os olhos novamente, vi uma cena se desenrolando. Ivan, Ethan, Arak e Dahlie estavam no quarto e Ivan travava uma espécie de luta mágica contra Ária. Arak e Dahlie estavam correndo para recolher os pergaminhos restantes, que ficaram espalhados, e Ethan envolvia a luta de Ivan e Ária com uma espécie de domo composto pelo próprio ar.
Meus joelhos estavam no chão, mas as Sombras ainda estavam comigo e me envolviam. Abraçava meu corpo, que estava tremendo consideravelmente, e observava a cena com olhos perplexos. Finalmente conseguiram terminar de recolher os pergaminhos e Arak os transformou em cinzas, fazendo uma chama surgir em suas mãos. Ivan estava sendo vencido, mas os outros dois fundadores se juntaram a ele e, juntos, conseguiram derrubar Ária e fazê-la perder a consciência.
Dahlie e Arak desabaram no chão de joelhos, cansados demais com toda a energia que usaram no contrafeitiço, mas Ivan ainda conseguiu cambalear até Ária e arrastá-la até a cama, para que não repousasse no chão.
— Dahlie, vá chamar algum feiticeiro ou bruxo poderoso para reforçar a proteção nessa torre. — Ivan ordenou.
— Está bem. — Levantou imediatamente e saiu pela porta, mancando um pouco.
— Arak! Verifique o estado dos guardas ali fora e leve-os até a enfermaria.
— Certo. — Obedeceu à ordem e Ethan correu até mim antes que Ivan lhe ordenasse qualquer outra coisa.
— Alessia! Alessia! — Ethan estava me chacoalhando, mas estava assustada demais com o que havia acabado de acontecer. Ária havia tentado me matar! — Alessia, responda, por favor! Alessia!
— Estou viva. — E o abracei forte quando me puxou para junto de si.
— Vou levá-la à enfermaria também, Ivan. — Falou, me segurando nos braços enquanto Ivan assentia e observava Ária com uma expressão de sofrimento e tristeza.
Encolhi-me em seus braços e deixei que me levasse para a enfermaria, mas não foi o que fez. Ao invés disso, começou a entrar em diversos corredores estranhos e quando finalmente me localizei, vi que estávamos no corredor dos dormitórios. Ethan deu um chute na porta e invadiu um dos quartos sem a menor cerimônia.
— Fantasma! Lewis! Está aqui? — Gritou para o quarto vazio.
— O que houve? Alessia? — Lewis se materializou e fiquei me perguntando porque não o vi como espírito se tinha poderes com a Alma. Talvez estivesse abalada demais, ou desatenta.
— Ária a atacou. — Ethan me colocou sentada na cama, recostada nos travesseiros ajeitados na cabeceira.
— Ária? Mas como? Por quê? O que Alessia estava fazendo na torre? — Parecia tão assustado quanto eu.
— Depois conversamos. Preciso que cure suas queimaduras antes que as Sombras não consigam mais amenizar a dor.
— Como vai me curar? — Olhei de um para o outro.
— Não estou reclamando de nada, mas porque não lhe doa seu sangue? O sangue de vampiro não cura ferimentos também?
— Sim, mas não tão de depressa e precisa ser curada psicologicamente também. Veja! Observe-a! Está em choque! — Ethan apontava em minha direção.
— Está bem. Vou tentar. — Lewis pegou o medalhão que estava escondido atrás de um quadro na parede, por magia. — Alessia, preste atenção. — Falava seriamente. Ethan havia se afastado. — Segure o medalhão e não tire os olhos dele em nenhum momento, está entendendo?
— Sim, mas por quê?
— Vou entrar no seu corpo como sempre faço, mas vou precisar de espaço para reparar os ferimentos e enquanto curo seu corpo, sua alma será curada pelo medalhão.
— Como assim?
— Você vai ser "sugada" para dentro do medalhão e este vai curá-la como faz comigo. Mas se você desviar o olhar ficará presa nele para sempre. — Senti um arrepio correr a coluna, mas não sentia mais nada direito. Apenas o choque de ver Ária tentando me matar.
— Tudo bem.
— Ethan, saia do quarto. Você pode atrapalhar. — Nunca vi Ethan obedecer alguém tão rápido. — Alessia, você ficará inconsciente e será como se flutuasse em nuvens e não quisesse sair desse estado, mas lute para voltar quando me ouvir chamar seu nome está bem?
— Sim.
— Está realmente entendendo? Você precisa voltar! — E olhou fixamente em meus olhos.
— Vou voltar. — Disse da maneira mais firme que consegui.
Ele se afastou e começou a flutuar sobre a minha cabeça. Depois disso, tudo que via era o brilho da pedra do medalhão e tudo que sentia era a maravilhosa sensação de voar entre as nuvens, sem qualquer problema rondando a mente. Era uma sensação boa demais para simplesmente abandonar quando alguém chamasse meu nome. E por que alguém chamaria? Estava começando a sentir um leve incômodo e queria ter um jeito de me livrar dele, mas não sabia como fazê-lo. Não queria nada perturbando a minha paz.
No entanto, o incômodo foi crescendo e crescendo, se transformou em vozes.... Em uma voz, na verdade, que chamava alguém.... Que me chamava! Mas não queria abandonar meu refúgio e algo me dizia que se respondesse àquela voz, nunca mais poderia voltar ali. Ao mesmo tempo, alguma outra coisa me dizia que se não respondesse àquela sensação não duraria mais que um segundo até que fosse preenchida por um completo vazio, como se estivesse despencando para dentro de um abismo sem fim.
Comecei um pequeno conflito interno, baseado em uma discussão mental, mas era difícil pensar ali. Era como se você não tivesse o direito de pensar por si só. Teria dois caminhos e só podia escolher um deles. Os dois caminhos apareceram na minha frente e cada um me levava para uma direção diferente. Eram apenas imaginários, mas sabia que mesmo sendo invenção do meu subconsciente, a escolha que faria teria um efeito real.
No caminho da direita, estava indicada a paz eterna. Sem desafios, sem problemas, apenas alegria e paz para sempre. No caminho da esquerda, estava o completo oposto disso, mas havia três indicações a mais. Amor. Amizades. Destino. Essas três palavras tiveram algum efeito sobre mim e no último instante, escolhi o caminho da esquerda e abandonei a chance de viver em paz para sempre. Dei ainda uma última olhada para o caminho da direita, já pisando na estrada que levava ao da esquerda, e li mais duas indicações na placa da paz eterna. Morte. Abismo infinito.
Então, aquilo era uma espécie de teste. Se tivesse escolhido o outro lado, teria morrido e sido jogada num abismo eterno, mas como escolhi o caminho que parecia ser o mais difícil, pude continuar a viver. E mesmo com problemas, desafios e conflitos, poderia também ter o amor e meus amigos de volta, cumprindo assim o destino que me aguardava, seja ele qual fosse. Algo me dizia que esse era o único caminho real para a paz e a felicidade.
— Alessia! Alessia! — A voz de Lewis já estava gritando meu nome quando acordei. A luz de um medalhão brilhava nos meus olhos, mas assim que os abri, se apagou.
— O que aconteceu? — Sentia-me confusa. Lewis não chegou a responder. Ethan correu até a cama e me abraçou forte, quase me sufocando. Lewis pegou o medalhão e desabou numa poltrona que havia no quarto. Parecia exausto.
— Ainda bem que você voltou. Jamais a perdoaria se tivesse me abandonado. Digo, se tivesse abandonado a todos nós assim. — Havia soltado o abraço e agora me encarava. Seus olhos estavam úmidos e seu rosto, marcado pelas lágrimas.
— O que aconteceu? — Repeti, agora assustada.
— Você quase ficou presa para sempre dentro do medalhão. Isso significaria a morte da sua alma e seu corpo poderia ser ocupado por qualquer outro espírito que o encontrasse. — Lewis explicou com a voz cansada.
— Quer dizer, então, que quase morri de novo?
— Da primeira vez você de fato morreu, mas dessa vez foi quase. — Ethan estava me abraçando de novo, até que Lewis começou a rir de leve e ele se afastou rápido, irritado com sua risada.
— A quem devo agradecer dessa vez? Ninguém se matou, não é? — Os dois riram um pouco, mas depois o peso das palavras caiu sobre nós e ficamos em silêncio.
— É melhor voltarmos aos nossos afazeres e o Fantasma precisa descansar. — Ethan segurou minha mão e me obrigou a levantar.
— Está bem. Você vai ficar bem, Lewis?
— Sim. Não se preocupe. Só preciso recuperar a energia que perdi com uma noite de sono.
— Não sabia que fantasmas dormiam.
— Dormimos, mas só quando necessário. Gostamos de fazer isso para recarregar a nossa energia vital, mas não precisamos fazer todos os dias. — E se dirigiu para a cama, devagar.
— Entendi. Até mais! Boa noite! E obrigada! — Fechei a porta atrás de mim.
Nos dirigimos para nossos quartos, mas antes demos uma passada na cozinha, porque estava com muita fome. Pedi que ele ficasse comigo aqueça noite. Estava com medo de ter pesadelos depois de tudo que passei. Ele contou que Ivan também pediu para que passasse a noite no meu quarto por esse mesmo motivo.
Tive sonhos. E pesadelos. Mas nenhum deles com Ária, muito menos com o que passei quando o medalhão do Lewis quase me aprisionou. Sonhei novamente com Zein e parecia que desde que soube que ele morreu, nenhum outro sonho me vinha à cabeça, apenas sonhos em que estava presente. Talvez fosse a saudade que lutava tanto em reprimir e estivesse tentando de alguma maneira reencontrá-lo, para que pudesse ser amenizada e não reprimida.
O primeiro sonho da noite foi quando me beijou na peça que encenávamos para o professor Tom e toda a classe de teatro. O segundo sonho foi quando eu e Cameron estávamos tratando dos seus machucados. Depois, quando me atacou com as Sombras/Trevas e foi atrás de mim para me curar. A diferença foi que dessa vez parecia sentir tudo como ele sentiu.
O beijo da peça fez acender nele algo que há muito tempo não sentia e que não queria mais admitir que fosse capaz de sentir. Amor. Esse mesmo amor, sentiu novamente quando estava tratando de seus machucados.
Então, chegaram os pesadelos. O primeiro me fez enxergar uma floresta sombria, as trevas reinavam ali. Estava sentindo uma dor muito forte. Uma dor que me fazia gritar, mas os gritos que ouvia não eram meus, eram de Zein. As trevas estavam se alimentando dele. Estava apenas sentindo o que sentia e era horrível. Não havia palavras para descrever a agonia que aquilo causava, mas rapidamente passou e outro pesadelo estava presente para me assombrar.
Dessa vez estávamos em Magic e pude ver o poço, local em que morreu para me salvar. Havia uma tensão estranha correndo em minhas veias, e uma confusão em minha mente fazia tudo parecer diferente. Então, os guardas de Leon apareceram e.... A cena ficou confusa e quando consegui ver tudo novamente, os guardas estavam caídos sem vida no chão. Em seguida, Leon apareceu e tentou atacar Zein.
Gritei, mesmo sabendo ser inútil, mas o ataque não surtiu qualquer efeito. Achei que Zein mataria Leon também, mas quando a visão começou a se turvar como antes, senti uma dor forte na cabeça e minha mente ficou confusa.
Fuja! Rápido! Não sei se vou conseguir controlá-las por muito tempo! Era a voz de Zein e estava parecendo estrangulada, saía com esforço. Leon estava com a expressão completamente perplexa, hesitou por alguns instantes, mas obedeceu e fugiu.
As próximas figuras que apareceram foram Ethan, Lewis e eu. Era estranho ver a mim mesma com os olhos dele, mas não pude ter essa visão por muito tempo. Uma dor aguda percorreu meu corpo e minha cabeça parecia querer explodir, quando minha visão se turvou novamente, a confusão se apoderou da minha mente e acordei com um grito entalado na garganta.
— O que você sonhou? — Ethan falou o mais delicadamente que pôde, depois de me acalmar. — Foi com a Ária?
— Não. — Balancei a cabeça devagar. — Zein.
— Sonhou com ele de novo?
— Sim. Foi como das outras vezes, mas dessa vez tive sonhos bons e ruins. Não apenas os ruins.
— Consegue me contar o que sonhou? — E encarou meus olhos. Balancei a cabeça negativamente. — É mais fácil de aceitar e não temer quando compartilhamos com outra pessoa.
— Beba. — Disse, com a voz fraca. — Beba e veja o que vi. Sinta o que senti.
— Não sei se....
— Beba! Vamos logo! Não vou conseguir falar nada!
— Está bem. — Fez com que me deitasse no amontoado de travesseiros e se ajeitou de uma maneira que não me machucasse, mas que também lhe permitisse beber facilmente. Fechei os olhos e deixei que tivesse acesso as minhas memórias.
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