Capítulo 1

Senti um arrepio correr meu corpo. Depois, foi como se a gravidade tivesse parado de existir apenas para minha alma e quisesse se desgrudar do corpo para se ver livre. Senti-me ainda mais tonta e me deu um pouco de falta de ar. Acho que perdi a consciência por um tempo. Lembro apenas de ouvir alguém dizendo que já poderia abrir os olhos.

Queria abrir, mas não conseguia. Sentia em minha pele folhas e terra úmida, o cheiro da terra molhada, o perfume de flores e de outras plantas, ouvia o barulho de animais e de gente conversando. E sentia também que alguém estava me chacoalhando para me fazer acordar.

Finalmente abri os olhos, calma e lentamente, vi Cameron, Julie, Camilla, Daniel e todos os meus amigos em um círculo à minha volta. Cameron me segurava e todos me perguntavam se me sentia bem, mas não conseguia encontrar a voz para responder.

Estava deitada no chão e ao olhar além de meus amigos, vi árvores altas e um céu completamente azul. Era tão lindo! Sei que sorri para o céu e de repente tudo ficou escuro novamente e perdi a consciência.

Quando abri os olhos novamente, estava deitada em uma cama de dossel dourada e prata, em um quarto que parecia ter sido esculpido em mármore branco. Havia uma penteadeira com um banquinho, uma escrivaninha com livros velhos e empoeirados, um criado-mudo de cada um dos lados da cama com alguns objetos diversos sobre eles, e quase todos empoeirados. Menos um jarro e uma taça dourada, que estavam cheios de água.

Continuei observando tudo e notei que a janela, na verdade uma porta balcão, estava entreaberta e deixava o sol entrar. De cada lado estava uma das partes da cortina branca e dourada que a cobria. Parecia uma coisa de filme.... Como foi que vim parar aqui? Só me lembro de ouvir o feitiço de Ária e depois de ter desmaiado e dormido por um longo tempo....

Onde estão meus amigos? Daniel? Cameron? Julie? Camilla? Lewis? Noah? Ária...? O que aconteceu enquanto estava desacordada? Ethan! Onde estava Ethan? Haviam tratado do ferimento dele? E Zein?! Será que descobriram sua identidade? O que haviam feito com ele? Precisava sair dali e procurar os outros!

Levantei-me da cama com cuidado e reparei nas roupas que ainda vestia; uma roupa típica de espiã secreta, coberta por um vestido todo esfarrapado. Ainda havia espadas e adagas. Levantei da cama e tudo foi voltando à minha mente, como uma avalanche. Precisava encontrar alguém imediatamente! Segui até a porta e girei a maçaneta, saindo no corredor imenso de um castelo.

...

— Não descobriram sobre você, então? — Disse aflita. Demorei a achar o Mestre das Sombras, mas quando finalmente o encontrei, pude ficar mais aliviada quando me explicou algumas coisas que estavam acontecendo.

— Não me descobriram ainda. Até me chamaram para realizar o feitiço de proteção da ilha. Estão tentando fazer uma faxina no local. Você não acreditaria o quão sujo poderia ficar um castelo após tantos anos de desuso. Fora a vila lá embaixo, descendo as colinas....

— Que ótimo! Assim que acordei fiquei preocupada ao me lembrar de você e do Ethan.

— Imaginei que ficaria preocupada, mas não podia ficar lá com você. Estranhariam alguém que você "acaba de conhecer", querendo ficar ao seu lado enquanto estava inconsciente.

— Entendo. Não se preocupe com isso. — Sorri. — Para onde levaram o Ethan?

— Para algum dos quartos do primeiro andar. Se quiser, te levo até lá.

— Tudo bem, consigo encontrar. É melhor você ficar aqui por enquanto. — Falei já em direção à porta do quarto.

— Como achar melhor. — E baixou a cabeça de um jeito estranho. Estaria triste? Era só o que me faltava! Será que agora ficaria se culpando e achando que deveria se rebaixar para compensar? Esperava de verdade e que não!

Saí novamente pelo corredor e enquanto descia as escadas, encontrei com Ária e Ivan.

— Olha! Vejam só! Você acordou! — Ária sorria.

— Está se sentindo melhor? — Foi a vez de Ivan.

— Sim, estou. Obrigada por perguntar. Na verdade... estou atrás do Ethan. Ele está bem? Para onde vocês o levaram?

— Ei! Calma! O garoto está bem! — Ivan agora sorria também.

— Sim, está no segundo quarto do primeiro andar, à esquerda. — Ária apontou as escadas.

— Obrigada! — E saí correndo pelas escadarias em espiral.

As pedras desse castelo eram brancas, e não pretas como a do outro. Por quê? Ou melhor, as pedras deveriam ser brancas, mas estavam sujas de poeira e um pouco desgastadas por causa do tempo, mas mesmo assim a construção era esplendorosa.

Cheguei ao primeiro andar, diretamente no hall de entrada, onde havia um tapete grande e velho, que tinha bordados dourados em um fundo azul claro, porém estava realmente sujo e não dava para decifrar as figuras.

As portas do castelo pareciam ser feitas de ouro e prata e embora tivesse alguns vidros quebrados, era perceptível que foram o orgulho do arquiteto que as projetou. O castelo era muito semelhante ao de Fantasy, com um corredor que levava à direita e outro que levava à esquerda. Ainda havia outra porta grande que levava para o que seria em Fantasy "A Ala da Rainha e de sua corte".

Não sabia quantos andares tinha, mas imaginei que fosse a mesma quantidade do outro também. Nos dois cantos do hall principal, dos dois lados da porta que levava à "Ala da Rainha", estavam duas escadas em espiral, com corrimão de ferro trabalhado, levando aos andares superiores.

Finalmente cheguei ao quarto onde ele estava. Antes de entrar, respirei fundo e contei até... acho que até cem...! Ficava bem nervosa toda vez que falava com ele. Correção: fico nervosa toda vez que falo com vampiros. Isso! Com vampiros! Não com ele. Decidi entrar, por fim, e encarar logo seus jogos de ironia e sarcasmo. Adorava me irritar com isso. Se fazia de esperto para me deixar confusa.

— Ethan? — Disse ao entrar. — Está aqui?

— Não. É só uma ilusão. Coisa da sua cabeça. Você está maluca. — Falou com seu sorrisinho metido, deitado na cama com um lençol cobrindo até sua cintura. Havia uma faixa enrolada de atravessado em seu peito, dando a volta pelo pescoço e cobrindo a região do ombro que foi ferido.

— Idiota. — Sorri ainda um pouco nervosa. — Como está o machucado?

— Ah... está bem. Mandou lembranças.

— Pare de brincadeiras! Estou falando sério!

— Tudo bem. O machucado está melhorando e, de qualquer forma, não iria me matar... — Seu olhar era de indiferença.

— Você iria sangrar até morrer. Admita logo que salvei sua vida!

Você?! De maneira nenhuma! Me virei muito bem sozinho! — Levantou um pouco e sentou na cama. Aproximei-me um pouco mais.

— Mal-agradecido....

— E você não me salvou sozinha! Teve ajuda! — E lá estava seu sorriso metido outra vez.

— É.... Tive ajuda. Então você deveria agradecer a ele também! — Me permiti dar um meio sorriso.

— Diga que mandei um obrigado. — Retribuiu com outro sorriso irônico.

— Eu direi.

— Agora me diga.... — Sussurrou se ajeitando na cama e se inclinando para se aproximar de mim. — Ele está bem? Não o descobriram, não é?

— Não. — Não consegui conter um sorriso sincero. — Ele está bem e ninguém o descobriu ainda. Até querem que ajude no feitiço de proteção da ilha.

— Ótimo. — E se ajeitou de novo na cama.

— É impressão minha ou você está se preocupando com mais alguém além de você?

— Só não queria ter que aguentar você chorando e implorando para que fôssemos salvar o seu Príncipe das Sombras.... — Outro de seus sorrisos metidos ganhou seu rosto e o encarei irritada. Estávamos perto demais e ao invés de brigar, fiquei apenas encarando seus olhos cor de esmeralda.

Então, uma senhora entrou no quarto e limpou a garganta. Afastei-me rapidamente e me virei para a mulher, sorrindo sem graça. Ela retribuiu o sorriso e percebi que apesar de aparentar ser uma senhora, estava em muito boa forma e saúde. Acho que por isso conseguiu acompanhar a corrida pela vida que fizemos em Fantasy.

— Não se preocupe querida. Vou cuidar bem do seu namorado. Está na hora de trocar o curativo. — A mulher sorriu, complacente.

— Namorado? — Arregalei os olhos e sorri nervosa. — Ele não é meu namorado.

— Ah! Desculpe, mas acho que um dia ainda serão. Talvez seja cedo demais.

— Não acho! — Dissemos juntos. A mulher riu e se aproximou da cama para trocar o curativo. Achei melhor sair do quarto, não ajudaria em nada se ficasse ali. Era melhor deixar uma profissional cuidar disso.

— Vou dar uma volta por aí! Mais tarde volto aqui para te ver. — Segui em direção à porta.

— Tudo bem. Vou precisar de sangue mesmo. — Ethan sentou para a mulher retirar o antigo curativo. Engoli em seco e a mulher pareceu estremecer, mas não comentou nada. Ao invés disso, se virou para mim e disse que seu nome era Inês. Saí depressa pelo corredor, depois de também me apresentar a ela.

Queria dar uma volta pelo lugar em que viemos parar e por isso, ao invés de ir para o quarto, saí do castelo e fui para a vila que disseram ter ali. Cumprimentei algumas pessoas que passavam pelas ruas, limpando e arrumando tudo. O que mais havia ali era sujeira e plantas que tinham crescido demais e estavam invadindo as construções.

As pessoas estavam agitadas com suas tarefas, todos muito concentrados. Até as crianças que vieram conosco estavam ajudando, mesmo que às vezes acabassem molhando a si mesmas com a água dos baldes. Baldes? Achei que aqui teria encanamento como em Fantasy....

— E tem. — A voz de Lewis me tirou de meus devaneios.

— Oh, minha nossa! Que susto! — Coloquei a mão sobre o coração e me virei para a direção de onde veio a voz.

— Desculpe! Não queria assustá-la.

— Tudo bem, mas por que estava lendo minha mente?

— Não estava. Você é quem estava pensando alto demais. — E deu de ombros.

— Ah... normal eu falar comigo mesma.

— Está tudo bem. — Disse rindo de leve. — Você gosta de falar com pessoas inteligentes, não é?

— Sim. — Acabei rindo também. — Mas acho que também sou meio maluca.

— Ah, claro. Todos somos.

Caminhou por um tempo comigo, enquanto observávamos as casinhas da vila, que eram muito semelhantes às de Fantasy. O céu estava azul e completamente limpo, sem qualquer sinal de chuva ou tempo ruim. O sol que brilhava era agradável, não forte e sufocante.

Ajudamos algumas pessoas a limpar as casas que escolheram para si, limpamos algumas plantas que haviam se apoderado da entrada da vila, que consistia em um enorme arco de ferro, todo trabalhado com figuras e arabescos. Era uma pena não conseguirmos decifrar as figuras, o ferro estava enferrujado e desgastado demais por causa do tempo.

— Preciso te explicar uma coisa. — Lewis disse, enquanto voltávamos para o castelo. Prometeu me mostrar as praias no entorno da ilha no dia seguinte.

— Diga.

— Você se lembra do dia em que fugimos de Fantasy, certo?

— Sim.

— Pois, então... acha que fui eu quem matou todos aqueles guardas, não é?

— Sim. — Não entendia onde queria chegar.

— Sei que vai ser difícil para você, mas... não fui eu quem os matou. — Falou rápido, como se sentisse medo das palavras.

— Está brincando, não é? — Era óbvio que estava brincando! Jamais conseguiria fazer aquilo!

— Não estou brincando. Nunca falei tão sério em toda a minha... ahn... vida pós-morte.

— Quer dizer que.... — parei de caminhar e o olhei assustada. — Que fui eu quem fez aquilo?

— Sim. — Sua expressão demonstrava preocupação.

— Eu... eu matei? Eu matei pessoas inocentes? — Minha voz saiu esganiçada e como se falasse mais para mim mesma.

— Sim, mas não eram exatamente inocentes e acredite, você os salvou da Rainha e de Leslie. — E se aproximou de mim, passando o braço em volta do meu ombro e me obrigando a continuar andando.

— Eu não posso ter feito isso. Nem tenho mira boa! Não sei nem me defender, quanto mais atacar! — Não conseguia acreditar no que dizia.

— Acho melhor você conversar com Ária... ou com Luzia.... Conseguirão te explicar melhor como você fez tudo aquilo.

— Tudo bem. — minha voz não passava de um sussurro e estava sem a mínima vontade de falar com mais ninguém.

Seguimos todo o caminho de volta para o castelo em silêncio. Não sei se estava com medo de dizer mais alguma coisa e acabar me deixando num estado pior, mas só tentou ajudar e dizer algo quando passamos pela entrada do castelo e nos dirigimos para a sala que Ária estava tentando organizar.

— Quando você me pediu ajuda, não consegui tomar conta do seu corpo. Não consegui controlá-lo como tinha feito antes. — Lewis parecia estar calmo agora. — Era como se você não permitisse.

— Isso é ridículo! Tudo que queria era que você agisse naquele momento por mim.

— Eu sei, mas foi o que senti. Como um bloqueio invisível que não me permitia agir.

— E por que não me avisou?

— Porque quando finalmente desisti de tentar, você já havia... bem... já havia passado pelos primeiros guardas e sem a minha ajuda. Fiquei com medo de fazer algo e acabar estragando todo o plano, já que você estava se saindo bem sem mim.

— A culpa não foi sua. Desculpe-me, por favor. — Dirigi meu olhar a ele, para que pudesse ver que as desculpas eram sinceras.

— Não tem o que desculpar. E de certa forma, sou culpado sim. — Nesse momento entramos na sala e encontramos Ária organizando uns papéis. A sala tinha uma janela enorme, que estava aberta, assim como suas cortinas cor de creme. Tinha duas estantes cheias de livros e papéis, também empoeirados e sujos. Havia uma mesa grande de madeira escura, com uma poltrona atrás e outra na frente (a cor devia ser algo puxado para o branco, mas estava realmente encardido). Sobre a mesa, os vários papéis espalhados pareciam ser documentos.

— Olá! Em que posso ajudá-los? — Ária sorriu.

— Contei a ela.

— Oh... bem... sente-se aqui querida, por favor. — Puxou uma das poltronas. — Lewis, vá buscar Luzia e Ivan, por favor.

— Certamente. — E saiu.

— Ária, não acho que tenha sido eu a fazer aquelas coisas. — Olhei para minhas mãos, após me sentar na poltrona.

— Sei que é difícil de acreditar, mas... temos quase certeza de que foi você quem fez aquilo. — Falou devagar, como se explicasse alguma lição à uma criança.

— Mas nunca conseguiria matar alguém. — Meus olhos se encheram de lágrimas.

— Olha... vamos fazer assim: você conversa um pouco com Luzia sobre isso e depois vai jantar com todos nós no salão de baile do castelo, certo?

— Por que preciso falar com ela?

— Porque é como uma psicóloga. E você está precisando de uma. — E se dirigiu à porta, de onde Luzia, a Sacerdotisa Anciã, estava entrando.

— Olá, Alessia. — Luzia sentou na outra poltrona. Ária saiu e fechou a porta atrás de si. Da janela vinha uma luz alaranjada, mostrando que o sol já se punha.

— Olá. — Não pude evitar fitar o chão.

— Não precisa ficar assim. — E delicadamente me fez erguer a cabeça. — Sei o que está sentindo e porquê está sentindo.

— Sabe? — Será que seria uma daquelas conversas com cartomantes, em que você acaba caindo no jogo de perguntas delas e relata toda a sua vida para depois cobrar para dizer algo que você já sabia?

— Sim. Você se achava incapaz de matar alguém, uma pessoa boa e pura. Acreditava que tinha um coração bom e que nunca faria mal a ninguém. — Apenas assenti com a cabeça. — E agora você está achando que é alguém ruim, que seu coração escureceu e que você se tornará uma máquina de matar. — Não pude deixar de me assustar com suas palavras. Então, ela sorriu docemente e continuou. — Agora vou te revelar uma coisa.

— Diga. — Observei-a atentamente.

— Não foi você quem matou aquelas pessoas, foi algo que estava e está dentro de você. E não era seu amigo fantasma. — Senti-me um pouco mais aliviada. — Se sente melhor agora?

— Um pouco.

— Porque isso que falei era o que você queria ouvir. — Seu sorriso era triste.

— Bem... sim.

— Não precisa ter vergonha disso. Todos nós achamos a mentira mais doce e agradável. Temos medo de encarar a verdade, porque muitas vezes ela dói. — Luzia falava e apenas assentia com a cabeça, sentindo lágrimas se formarem de novo. — A verdade pode ser difícil, mas é o caminho que te levará até o fim. A escolha é sua. Você quer saber a verdade?

Demorei a responder. Estava pensando sobre o que havia dito. Lembrei-me de quando pensei que o Mestre das Sombras estava traindo minha confiança e não quis acreditar. Preferi acreditar na ilusão de que queria me ajudar. Recordei todos me dizendo para ficar longe, coisa que não fiz. Segui a mentira, acreditei, confiei novamente, então por que cheguei a um fim? A resposta me veio à cabeça no mesmo instante: porque este não era o fim. E porque não havia traído minha confiança e estava tentando me proteger.

Sorri ao pensar nisso, porém, logo tirei o sorriso do rosto e voltei a encarar a sacerdotisa. Me observava com um sorriso leve, seus olhos tinham uma expressão de suavidade e contentamento, que me fizeram voltar a sorrir.

— Sim. Quero saber a verdade.

— Antes me diga sobre o que estava pensando. — Seu tom não era intrometido, por isso decidi contar uma parte da verdade.

— Estava pensando em uma pessoa que pensei ter traído minha confiança. Uma pessoa que todos disseram que faria isso e não quis acreditar, mesmo quando descobri que a pessoa estava fazendo isso. Acontece que essa pessoa só estava tentando me proteger e foi julgada de uma maneira errada. Então, não segui exatamente o caminho da mentira, porque isso ainda não acabou.

— Quem seria essa pessoa? — Senti meu sangue gelar.

— Ethan. — Falei o nome da primeira pessoa que me veio à cabeça. Dessa vez tive que mentir, não podia contar sobre o Mestre das Sombras... com certeza ela contaria à Ária ou ao Ivan e iriam caçá-lo, prendê-lo e quem sabe até torturá-lo! Não! Não podia deixar isso acontecer!

— O rapaz que foi ferido no ombro?

— Sim. Se feriu para me salvar.

— A atitude dele foi muito honrada. — E deu outro de seus sorrisos serenos. — Mas agora está na hora de você saber o que realmente aconteceu com você.

— Tudo bem. — Resolvi aceitar o que o destino me reservou.

— O que matou aquelas pessoas foi algo dentro de você. Algo que está com você agora. Uma Lembrança.

— Uma Lembrança?

— Sim. Uma lembrança de outra vida. Uma vida em que você foi uma guerreira. Acredita em reencarnações?

— Acredito. Mas... como você pode ter tanta certeza?

— Posso reconhecer a presença delas.

— Uau! Isso é realmente interessante, mas um pouco assustador.

— Não é algo fácil de explicar e entender, por isso pensa que é assustador. No entanto, vou tentar ensinar-lhe um pouco do que sei sobre essas coisas.

— Por favor. — E me ajeitei para prestar atenção.

— Todas as pessoas, sejam humanos ou criaturas mágicas, pertenceram a vidas passadas. Suas almas vão "pulando" de corpo em corpo até cumprirem sua missão.

— Que missão?

— Você saberá quando cumpri-la. Às vezes já te ocorreu de estar num lugar e achar que esteve ali antes, mesmo sem ter estado?

— Acho que sim.

— Alguma vez já fez algo que jamais pensou que conseguiria?

— Sim.

— Essas coisas ocorrem porque em alguma outra vida sua alma esteve naquele lugar ou fez determinada coisa. E nesses momentos, as Lembranças, que é como as criaturas mágicas chamam os fragmentos das almas de vidas anteriores, vêm à tona e tomam conta de nosso corpo e alma sem que nós percebamos. — Apenas a observava, completamente absorta em suas explicações. — Agora você entende?

— Sim. Mas não sei como isso torna o que fiz mais fácil de aceitar.

— E não torna mesmo. — E sorriu, me deixando completamente confusa.

— Então, por que me disse tudo isso?

— Para você entender como fez tudo aquilo.

— Certo. Entendi.

— Agora você precisa aceitar e parar de se culpar pelo que já está feito. Para essa parte da sua alma, a Lembrança Guerreira, provavelmente o que fez foi o certo a se fazer. Para ela, aquilo era o necessário para salvar as pessoas de quem gostava e muitas outras. Nem ela nem você sabiam que Leslie tomaria o poder em seguida. Se isso não tivesse acontecido, os outros habitantes de Fantasy já estariam a salvo.

— Então, mesmo que ache terrível ter matado, essa parte de mim acha que aquilo foi o certo a se fazer? — Isso saiu mais como uma afirmação.

— Exatamente. E agora que essa parte se revelou, você tem duas opções: ou deixa que te ajude e faça parte de você, ou a expulsa de vez e a apaga de sua memória. — Luzia se levantou da poltrona. Já havia escurecido e nem tinha notado como o tempo passou. — Mas essa é uma decisão que leva tempo, não é para ser tomada às pressas. Você precisa refletir.

— Sim. Prometo que vou pensar a respeito.

— Ótimo. Agora o que acha de irmos jantar?

— Acho ótimo! Estou com muita fome.



Recado:

Primeiramente, eu queria me desculpar com aqueles leitores que estavam lendo Magic aqui no Wattpad e de repente perceberam que a história havia sumido. Não foi outro dos Bugs do aplicativo, fui eu quem retirou a história para poder revisá-la e corrigi-la mais uma vez. 

Eu estava relendo uns trechos e notei alguns erros bizarros, então achei melhor tirar a publicação para poder arrumar aos poucos. Conforme for corrigindo, irei repostando os capítulos.

Obrigadinha! <3

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