CAPÍTULO XVI
"É incrível como ele é tão diferente de Romeu na mesma proporção em que são tão iguais." — Meneghello, Eleonora
Opto por sair de casa alguns minutos mais cedo; afinal, preciso andar para espairecer o turbilhão de pensamentos que rondam minha mente, tal como o turbilhão de emoção que massacra meu coração.
Tudo está tão intenso no presente momento que eu mal me reconheço. Parece-me que eu perdi a fé de que conseguirei assinar aquele contrato algum dia e isso, meus caros, não é nem um pouco parecido com o meu eu de; sei lá, três dias atrás(?).
É impressionante o modo como o tempo voa e o destino nos prega peças, fazendo com que nos afundemos cada vez mais em nossa própria mente.
Balanço a cabeça em sinal de negação, pensamentos assim logo de manhã costumam se tornar destrutivos. Não preciso de mais uma dor de cabeça, ao menos, não agora e, além do mais, será hoje o tão esperado almoço com meu cliente em potencial... não há garantia nenhuma de que dará certo e conseguirei o contrato, assim como não há garantia nenhuma de que dará errado.
Como diriam os meus pais: quem não arrisca não petisca.
Sou tirada de meus devaneios pela buzina do carro de Stefani, paro de andar no exato momento em que ela para seu carro.
— Entra aí! Você me parece péssima e...
— Eu não vou tomar whisky com você às — checo o relógio — sete da manhã. — Digo a olhando desconfiada
— Até parece que eu ingiro bebida alcoólica à essas horas. — Minha amiga responde entediada — Entra logo, Els.
— De você, não duvido mais nada. — Ralho enquanto abro a porta do carro, dando-me por vencida
— Giancarlo disse que você conheceu Pietro ontem. — Ela comenta "despretensiosamente"
Entre aspas mesmo, pois quaisquer comentários feitos por Stefani têm, sim, segundas intenções.
E isso quando não têm terceiras e quartas também.
A olho com curiosidade, ela não pode estar pensando que eu ficaria com Pietro, não é mesmo? Me contento em menear a cabeça de maneira afirmativa, ainda mantendo meu olhar sobre ela.
— Ele é bem bonito, não acha?
— Stef... eu te amo, de verdade, mas para de bancar a casamenteira para meu lado! Eu só quero paz e; talvez, beijar umas bocas. Sem contar que ele é a cara de Romeu... não tem como eu superar Romeu estando com o irmão gêmeo dele. Tem?
Ela suspira, certamente está se sentindo frustada, essa foi mais uma de suas inúmeras ideias que eu descartei e, pelo visto, o fiz com êxito.
— Ainda acho que deveria tentar conhecê-lo. Sabe, eles podem ser idênticos no quesito aparência, mas Pietro é bem mais maduro e bem mais sua cara.
— Stefani Lacorte. Não ainda quer dizer não. — Cito um trecho de uma de nossas músicas favoritas; amém Magic
— Depois reclama de estar solteira aos vinte e seis, você dispensou todos os caras que foram legais com você porque tinha a vã esperança de que ficaria com Romeu. E agora, qual sua desculpa? Desisto!
Rolo os olhos, em um ato clichê em demasia e recosto minha cabeça na janela do carro. Eu reclamava muito de ser solteira aos vinte e seis, isso até Ludo arrumar um jeito de me colocar em contato com o CEO da empresa cuja qual eu sempre quis ter como cliente.
Agora, talvez, eu tenha finalmente me tocado de que a minha carreira é a coisa mais importante de minha vida e que não é nenhum pouco triste pensar dessa forma. Cada pessoa encontra a plenitude a sua própria maneira. Uns precisam casar, outros precisam de filhos e, para outros, ser bem sucedido no âmbito trabalhista já basta.
Nenhuma das opções são inferiores às outras. Todas possuem seu próprio brilho, seu próprio peso e sua própria verdade; no fim do dia, todas as opções acima se equivalem.
O dia parece estar passando em câmera lenta.
Há um enorme relógio redondo e — exageradamente — branco pendurado na parede vermelha à minha frente; ele está tiquetaqueando lentamente, como se zombasse de mim, tal como ele sempre fez.
Não há reuniões com clientes, tampouco com funcionários ou acionistas, o dia está tranquilo e eu odeio dias tranquilos tanto quanto odeio dias exageradamente ensolarados.
Respiro fundo e atualizo a minha página de e-mails pelo o que deve ser a décima sexta vez em cinco minutos. Obviamente obtenho o mesmo resultado de antes.
O fato frustrante de não ter sequer um novo e-mail para me retirar desse tédio.
Olho para a mesa de Ludovica, ela lixava suas unhas na vã tentativa de sair do tédio que a cercava. Nem ao menos ela estava tendo algo para fazer.
Checo o relógio novamente.
Qual é, apenas um minuto se passou? Parece-me que hoje o dia será longo... e não será um longo bom.
"Stefani..." — Mando mensagem para minha melhor amiga
"Diga, the mônia." — A resposta vem segundos depois
"Você não teria o número de Pietro... teria?"
"MENTIRA QUE VAI MANDAR MENSAGEM PRA ELE!? Já prevejo uma casa cheia de remelentos e você gritando com eles."
"Stefani; é só pra conversar sobre o casamento de minha irmã e do gêmeo cujo o nome não deve ser mencionado."
"Romeu virou Lord Voldemort agora?"
"STEFANI! NÃO FALA O NOME COM R... ou digite, sei lá."
"Jesus, tá pior do que eu pensava. Você não precisa de uns beijos, você precisa dar até não conseguir mais andar. To te mandando o número dele, o use com sabedoria... tipo, pra convidar ele pra uma transa rápida."
"STEFANI! Desisto de você."
Apago a décima quinta tentativa de puxar assunto. Gente, mensagens de texto deveriam ser banidas do universo observável — e do não observável também.
Quem é que sabe puxar assunto — de uma maneira digna — através desse negócio? Eu não posso falar com ele sobre batatas, ou sobre o clima. Por Deus!
"O..." — mando
"Oi, foi isso que eu quis dizer... mandei antes sem querer. XD" — mando logo em seguida
"Puta que pariu, Eleonora, quem é que usa 'XD' em pleno dois mil e dezoito?" — Minha mente me acusa
"Boa estratégia. Você deve ser a Eleonora, certo?" — a resposta vem poucos minutos depois, minutos os quais pareceram uma eternidade
"Não foi estratégia... realmente mandei sem querer."
"Não está mais aqui quem lhe acusou."
"Eu estava pensando, podíamos tomar um café qualquer dia desses... ou um whisky." — Escrevo, porém não chego a enviar; apagando a mensagem logo em seguida
Bloqueio o celular e o guardo na gaveta. Por que eu tenho de ser esse desastre ambulante de irritação constante?
O não eu já tenho, de qualquer forma; não iria morrer se tentasse, mas eu NÃO tentei. Muitos "nãos" em uma frase só, mas fazer o que.
Olho, novamente, para o relógio pendurado na parede. O horário do almoço finalmente chegou.
Apanho minha bolsa e retiro meu celular da gaveta; saindo de minha sala logo em seguida.
— Quer me acompanhar, Ludo? — Ela nega delicadamente com a cabeça
— Muito obrigada, mas eu fiquei de almoçar com o Martino. Além do mais, você tem o almoço com um cliente em potencial, não serei eu a tornar o almoço informal. — Ela conclui seu pensamento
Sorrio e assinto.
Martino é o namorado de Ludo, ao menos ela ainda não me chamou para ser madrinha... foco no ainda. Entro no elevador no exato momento em que a tela de meu celular brilha, indicando uma mensagem de Pietro.
"Quer jantar comigo hoje?"
Não me permito pensar, a porta se fecha quase no mesmo instante em que envio a resposta.
"A que horas e onde nos encontramos?"
HEY MEU POVO QUE COME PÃO COM OVO!
COMÉ QUE CÊS TÃO? Espero que bem.
Primeiramente, quero vos desejar um feliz natal!
Gostaram do capitulo sete? Se sim, mete seu dedo na estrelinha, fará uma autora extremamente feliz.
Até a próxima segunda!
Kissus da tia Bia!
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