PURE

42

É um vazio intenso, imenso, que dói.

É um vazio, não tem palavras.

Um vazio nem sempre é ruim e eu quero te contar um segredo.

E é isso que Jimin sente quando olha para Jungkook.

Jimin, o garoto desconcertado, incompleto, danificado, com estragos, cheio de corrupções ao longo da vida, planos falhos, família quebrada, a carteira vazia, um maço de cigarros no bolso, e, quando pendendo pela rua, uma garrafa entre os dedos.

Costumava segurá-la tão bem, era feita para as suas mãos, dava pica beber pelo gargalo. E costumava fumar mais, agora só um ou dois de vez a vez, naquela altura especial que trazia todos os danos à toa.

E entre bairros perigosos, agora obrigado a andar sobre eles sóbrio, pobre coitado.

Um pouco de whiskey? Se quiser voltar com calma te arranjo vodka.

Velhos tempos.

Bebidas exóticas, geladas, negras, coloridas, estranhas, mexidas, muito álcool, pouco álcool, menos misturas, mais puro.

Puro. Puro. Puro. Vazio.

E quantas vezes ele não pensou?

Seria tão bom, velhos hábitos. Talvez arranjasse alguém que o escondesse, que o protegesse de quem o perseguia, menos aos demónios, esses não, deixe-os ficar, ele merece.

Coitadinho, pobre coitado, tão destroçado pela morte.

E coca? Te arranjo da boa. Não? Tem a certeza? E uma cerveja, rasca especial para você.

Nem gostava de cerveja, mas nunca se recusava afinal.

Cerveja pura, preta, branca, caseira?

Marcas não importam, nem no álcool nem nos cigarros.

Haveria alguém que o pudesse esconder se ele voltasse? Esconder do quê?

Ora essa, por favor, do mundo, de todos aqueles, dos demônios não, de Jungkook.

Jungkook não era vazio, não muito.

E era engraçado, enquanto Jimin se sentia sentia vazio, Jungkook sentia-se cheio.

Completo.

Mas, vamos lá, o pobre desgraçado, apaixonadinho, apaixonadíssimo, coração quebrado, estava cheio.

Completo, quero eu dizer.

Completo quando estava com Jimin e era uma ironia tão perfeita que ninguém aguentava.

Ironia ignorante, quis eu dizer.

Mas como íamos, não era?

Vazios nem sempre são maus, mas completos sempre são bons, mais ou menos, veremos.

E os dois juntos são o quê?

Poderia te contar segredos agora, mas mante-los não é melhor? Não é? Não seria? Não será?

Completos ou vazios?

Novamente aquele dia.

Não era tão ruim quanto no mês passado. Era para ser, mas não era.

Só quando fazia um novo ano é que Jimin pensava em voltar.

Sabores da vida.

Voltar a beber, a deixar-se ir, a sentir aquela alegria tão real, surreal, irreal.

Mas era quando voltava daquele lugar, aquele lugar que simbolizava tão bem a morte, que dava jus ao ditado "a morte chega a todos", que Jimin sentia que ele tinha de parar com todas as coisas erradas que ele fazia, todas elas, não importa se a lista é longa.

Foi por isso que ao sair do lugar, aquele lugar, os seus dedos puxaram um cigarro do maço com pressa, e levou-o aos lábios, acendeu-o até, caminhando com ainda mais pressa, no entanto, parando enquanto tragava, afastando os cabelos enquanto lutava para parar a tosse inusitada.

E depois foi como uma correria lenta, uma correria de tartaruga, caso isso faça sentido.

Park Jimin, esse mesmo, jogou o cigarro no chão, pisou-o com o pé, mesmo que isso não fosse a melhor solução a nível ambiental, e mesmo que os seus pés não parassem e ele ainda tivesse mais cigarros no bolso, Jimin tirou o capuz dos cabelos, disposto a ver a luz do dia entre os cílios, porque os olhos piscavam abismados.

Fez o caminho todo sem um único queixume e logo no início da rua que marcava o seu destino, ajeitou os cabelos, limpou as mãos nas calças, e mesmo que ele não pudesse fazer nada sobre, cheirou as suas roupas, com medo de cheirar a cigarro.

Seu zíper das calças não estava aberto, estava?

Bateu na porta daquela casa, esperando ver Jeon Jungkook, como previsto, como um alerta de cliché, e deixaria aquelas palavras saírem da sua boca como nunca antes. E estava limpando as mãos suadas nos jeans de novo quando a porta foi aberta e ele prendeu o ar, querendo gritar as palavras para o Jeon, mas perdendo todo o ar quando o seu cliché escorreu bem por entre os seus dedos.

''Bom dia.'' A mulher saudou, olhando por trás de Jimin, sem lhe conhecer o rosto ou o motivo por estar ali de manhã cedo.

''Eu vim ve... Quer dizer... o Jeon está?''

O Jeon?

''Tem marcação?'' Ela questionou, indiferente à atrapalhação do mais novo. ''Está cedo.''

''O quê...?'' Ele murmurou, um pouco perdido, engolindo em seco. ''Não. Jungkook não está, é isso?''

Ou talvez ele não quisesse ver Jimin? Talvez a saída de Jimin da última vez que se viram não o tivesse agradado e tivesse uma fotografia de Jimin ao lado da porta com o aviso ''não deixar entrar em nenhuma circunstância'' ?

''O menino está tomando banho.'' Ela respondeu, olhando com pena o homem na sua frente, que ajeitava os cabelos, nervoso, sem saber sequer o que dizer. ''Posso chamar.'' Disse por fim, revirando o seu olhar quando Jimin acenou de forma frenética. ''Só um segundo.'' Avisou, fechando a porta com calma.

Graças a Deus que... Bom, Jimin não acreditava em Deus.

Mas olhe lá se ele acreditasse em presságios e levasse aquilo como um sinal divino de ''esqueça sua paixoneta por Jeon Jungkook!''.

Ele esperou por uns minutos e entendia, porque a senhora não devia ter corrido, talvez até estivesse esperando o Jeon sair do banho.

Estava de costas para a porta quando a ouviu abrir e, esperando que não fosse a mesma mulher para lhe dizer o que ele mais temia, virou-se e deu de caras com quem mais queria ver, mesmo que Jungkook, honestamente, não o estivesse esperando.

E lá estava ele, com os cabelos húmidos, arriscando dizer molhados, roupas simples e claramente combinadas à pressa, enquanto passava a mão pelo nariz, claro, até ver Park Jimin.

''Jimin?'' Ele perguntou, um pouco confuso sobre quais as possíveis intenções do menor naquele momento, ali, com ele. Ouviu-o respirar fundo, parecendo tão sério. ''Está tudo bem?''

''Você quer...'' Ele começou, arranhando a garganta em uma pausa, enfiando a ponta dos dedos nos bolsos dos jeans, tentando afastar o nervosismo e soar normal ''...hum... sair comigo? Tipo, em um encontro?'' 

A A 

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