Capítulo 12 - Terra das Cachoeiras
O município de Presidente Figueiredo, distante a 128 quilômetros da cidade de Manaus, conhecido popularmente como "Terra das Cachoeiras" por abrigar aproximadamente 159 cachoeiras, divididas entre quedas d'água, corredeiras, cavernas e grutas, o que faz do município um dos principais destinos de ecoturismo e turismo de aventura da região.
O helicóptero pousa no heliponto próximo ao verde gramado do Parque Hotel Cachoeira dos Pássaros, a confortável pousada disposta em chalés e cercada pela exuberante floresta amazônica. O gerente do hotel vem recepcioná-los, junto com outros três empregados.
- Seja muito bem vindo, diretor Lacerda - cumprimenta, com um aperto de mãos. - Lucas, há quanto tempo, a última vez que esteve aqui era um menino magrelo e agora já é um rapaz alto, forte e bonito, está muito parecido com o seu tio - disse o gerente, abraçando o jovem. - E esta bela moça deve ser a Maria Julia. O meu coração se enche de alegria pelo seu retorno.
- Muito gentil de sua parte, mas o meu nome é Lyara, pode me chamar de Lya - fala, descendo do helicóptero com o macaco em seu ombro.
- Como desejar, senhorita Lya - afirma, curvando-se. - Eu preparei os três melhores chalés para a sua estadia.
- Obrigado, Sebastião! Leve as bagagens para os quartos. Eu vou mostrar o lugar para a minha filha - comunica, segurando a mão dela.
O diretor faz um breve tour pelo hotel acompanhado do sobrinho e de Lyara. Ela fica encantada com a beleza do lugar e logo faz amizade com a mascote do hotel: uma arara. Após ver a índia conversando com a ave Lucas curioso, pergunta:
- Você realmente consegue falar com todos os animais, Lya?
- Não com todos, apenas com os macacos e com algumas espécies de pássaros.
- Por que não fala com os outros? Eles são metidos?
- Cada animal tem uma linguagem diferente. É como... Se você precisar falar com um norte-americano tem que saber o idioma inglês e se precisar falar com um argentino tem que saber o castelhano. Na natureza funciona da mesma forma, cada animal tem o seu idioma.
- Que maneiro! Ensina-me a falar com o Kanauã? Tô doido pra trocar uma ideia com esse peludinho - comenta, sorrindo para o macaco em seu ombro.
- Tá bom. Eu vou lhe ensinar.
- Beleza! Ei Lya, vamos à cachoeira?
- Vamos sim! Quer dizer... Eu posso ir à cachoeira com o Luquinhas, Cael? - pergunta se virando para o diretor.
- Pode sim, Lya - responde o pai, satisfeito.
Os dois jovens e o macaco saem correndo em direção à cachoeira.
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Após algumas horas.
Lacerda pega uma garrafa de cerveja e vai andando pela trilha em meio à natureza. Chegando à cachoeira, encontra Lucas sentado em uma pedra. Ele se aproxima do jovem e o questiona:
- Queria tanto tomar banho de cachoeira, por que não está na água?
- Eu ia entrar, mas aí pensei: o tio Lacerda vai me matar se eu entrar na água junto da Lya.
Lacerda observa as roupas de Lyara espalhadas pelo chão e quando olha em direção a queda d'água avista Lyara, completamente nua com os braços abertos e olhos fechados.
- LYA! O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? - grita Lacerda, atirando a garrafa no chão.
- TÔ TOMANDO BANHO DE CACHOEIRA. VOCÊS NÃO VÃO ENTRAR? A ÁGUA ESTÁ MUITO GOSTOSA.
- Está gostosa mesmo - insinua Lucas, sorrindo.
- Desarma essa barraca¹⁷, ou vai sair daqui com o sorriso banguelo - fala o diretor, irritado.
- Foi mal, tio. É um músculo involuntário - responde, cobrindo a excitação com as mãos.
- Volte para o hotel, Luquinhas.
Lucas vai embora. Lacerda entra na cachoeira e vai em direção a Lyara que está em pé na caverna atrás da queda d'água.
- O que você está fazendo pelada, Lya?
- Eu que te pergunto o que você está fazendo de roupa? A gente toma banho é pelado.
- O que foi que eu lhe ensinei?
- Você ensinou pra eu não ficar sem roupa na frente de um homem mais velho, mas o Luquinhas não é velho, ele tem quase a minha idade.
O diretor respira fundo e retruca:
- Não é para você ficar sem roupas na frente de nem um homem. A não ser que esteja apaixonada por ele. Entendeu?
- Entendi. Então eu posso ficar sem roupa na sua frente. Estou apaixonada por você - disse Lyara, colocando os braços em volta do pescoço dele.
- Cof! Cof! Como é que é?
- Eu estou apaixonada por você, Cael.
- Você não pode estar apaixonada por mim, eu sou o seu pai - fala se desvencilhando dos braços dela. - Você deve estar confundindo seus sentimentos, você é muito jovem e inocente não sabe o que está dizendo.
- Eu posso ser jovem, mas sei muito bem o que estou sentindo. Você é muito chato, confuso e... E muito bonito. E eu estou apaixonada por você. Eu sei que é errado, porém não mando no meu coração.
Lyara caminha lentamente para fora da caverna pula na água e vai nadando até a beira. Ela cata as roupas do chão e sai andando pela trilha. Enquanto o diretor permanece parado no mesmo lugar, imóvel, sem reação.
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Quando Lacerda retorna encontra no restaurante do hotel, sentados à mesa almoçando, Lyara, Lucas, Valéria e Vitório, filho de Valéria.
- O que você está fazendo aqui? - questiona o diretor.
- Oi, Lacerda! - disse levantando-se e dando dois beijos no rosto dele. - Você está todo molhado. Sebastião traga uma toalha, por favor - fala a secretária, voltando-se para o gerente que está em pé atrás dela.
- Eu estava me refrescando na cachoeira. O que você veio fazer aqui?
- Eu vim buscar o Vitório, ele estava fazendo uma pesquisa aqui em Figueiredo, sobre o quê mesmo filho?
- Olá, diretor Lacerda! - exclama Vitório, apertando a mão do empresário. - Eu estava fazendo um estudo sobre modelos de extração de minério menos agressivos ao meio ambiente.
- Você é um garimpeiro? Os garimpeiros destruíram a minha tribo. Eu odeio garimpeiros.
- Eu não sou garimpeiro, Lya. Eu sou estudante de engenharia florestal.
- Não seja modesto, filho. Você já é um engenheiro praticamente formado - discorre a mãe orgulhosa. - Lya, o Vitório vai terminar a faculdade esse ano, é o mais novo da turma dele, com apenas 20 anos de idade, já fez intercâmbio no Canadá e é fluente em cinco idiomas.
- Eu acho que ninguém pediu meu currículo, mãe - fala Vitório, constrangido.
- No momento não temos nenhuma vaga disponível, mas deixe o seu currículo no balcão, que em breve entraremos em contato - desdenha Lucas.
- Não ligue filho. Isso é inveja, pois nem passar no vestibular ele conseguiu. Está na terceira tentativa, não é mesmo? Tricampeão em reprovação - rebate Valéria, irritada.
- Pois é Valéria, e mesmo eu sendo burro é o meu sobrenome que está naquele letreiro. Sendo assim, eu vou ser mais bem-sucedido que o seu filho nerd.
- Luquinhas, basta! - exclama o diretor, batendo com a mão na mesa.
- Foi a Valéria que começou tio.
- E eu estou terminando - disse, recebendo a toalha que o gerente lhe entregara. - Obrigado, Sebastião. Pode me trazer uma cerveja, por favor?
- Sim, senhor!
- Traz uma cerveja pra mim também, Sebastião - fala Lucas, sinalizando com o polegar.
- Não, Luquinhas. A Alice disse que você está de castigo e proibido de beber até passar no vestibular.
- Poxa, tio, só uma - implora, com as mãos juntas em prece.
- Só uma - confirma, erguendo o dedo indicador.
- Eu posso tomar uma também? - pergunta a índia, curiosa.
- Desde quando você bebe cerveja, Lya? - questiona o diretor.
- Eu nunca bebi, mas eu queria experimentar.
- Ok! Traz três cervejas, Sebastião. E seja o que Deus quiser - disse coçando a barba.
O gerente retorna rapidamente com três cervejas em uma bandeja. Após ele servir os copos, o diretor, seu sobrinho e sua filha fazem um brinde. Em seguida, Lyara bebe o conteúdo do copo todo de uma vez.
- Eita, Lya! Vai com calma - espanta-se Lucas.
- Quero mais - fala a índia, lambendo os beiços.
- Ei Luquinhas, por que está de castigo? O que você aprontou dessa vez? - questiona Vitório, puxando assunto.
- Eu fui pego dirigindo bêbado numa blitz policial há duas semanas - responde, enquanto serve o copo de Lyara. - Aí minha mãe confiscou o meu carro e me proibiu de beber. Não posso nem sair com meus amigos. Agora é do cursinho pra casa.
- Veja o lado bom, ao menos você tem letreiros com o seu sobrenome - ironiza Vitório.
- Não enche meu saco, Vitório - retruca, revirando os olhos. - Gostou mesmo hein, Lya - comenta, observando a prima virar mais um copo de cerveja. - Acho que chega de cerveja por hoje. Ah, vamos até gruta, Lya? A trilha é muito irada.
- Posso ir até a gruta, Cael? - pergunta Lyara, soluçando.
- Pode, mas toma um copo d'água primeiro - responde o diretor, rindo da moça. Ela bebe a água às pressas e se levanta da mesa juntamente com Lucas. Lacerda o alerta: - Leva o equipamento, Luquinhas. É pra voltar antes do pôr do sol.
- Mas o pôr do sol na gruta é a melhor parte, tio.
- Obedeça, Luquinhas! Ei Lya, calce um tênis para não machucar seu pé na trilha.
- Tá bom, eu vou calçar - fala, caminhando em direção à porta.
- E coloca um biquíni também. É pra usar biquíni, entendeu? - grita o diretor.
- TÁ BOM! - berra a índia, saindo do restaurante.
- Ah, essas crianças - disse Valéria, suspirando. - Filho, por que você não vai junto com eles?
- Eu acabei de almoçar, mãe.
- Vai, Vitório. Caminhar é ótimo pra digestão.
- Estou indo, mãe - responde Vitório, levantando-se e indo ao encontro de Lucas e Lyara.
-Então Lacerda, eu sei que pediu para eu liberar a sua agenda do final de semana, mas surgiu um convite irrecusável: uma entrevista para um programa de televisão. E o melhor de tudo a entrevista vai ser ao vivo e com alcance nacional. O que me diz? - conta, empolgada.
- Não! Desde quando eu dou entrevista, Valéria? Eu sou empresário, não sou artista - fala o diretor, bufando. - Eu pedi pra você apenas um final de semana de folga pra eu poder ficar com a minha filha, descansar um pouco. Custa me deixar em paz por dois dias?
- Eu sinto muito por atrapalhar o final de semana em família. Eu vou pegar o meu filho e vou embora, afinal não passo de uma mera empregada - disse a secretária, dramatizando.
- Desculpa Valéria. Eu estou com a cabeça cheia, por causa do que a Lya me falou, mas isso não vem ao caso... Continua, essa entrevista é sobre o quê?
- A entrevista será no domingo a noite, ao vivo. Eu sei que não gosta de se expor, mas o seu ato de benevolência abrigando as vítimas do incêndio da Matinha é um dos assuntos mais comentados na internet. E toda essa mídia está repercutindo positivamente, pois estamos com todos os hotéis lotados e reservas até o final do ano que vem. Além disso, a Câmara Municipal está querendo fazer uma homenagem pra você na segunda-feira e lhe entregar o Título de Cidadão Honorário - explana Valéria, enquanto digita ao celular.
- Nossa! Em pensar que eu ofereci a hospedagem só pra me livrar de uma jornalista e agora tenho mais jornalistas em cima de mim - comenta, virando o copo de cerveja. - Será se nessa homenagem eu ganho uma medalha ou algo do tipo?
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Na trilha em meio a exuberante natureza.
- Que droga meu celular está ficando sem sinal - comenta Lucas, segurando o aparelho.
- E pra quê você precisa de celular agora? Está vendo o caminho pelo GPS¹⁸? Você disse que sabia o caminho, Luquinhas.
- Eu sei Vitório, cresci correndo nesse mato. É que eu estava teclando com a minha namorada. Eu vou voltar um pouco na trilha. Esperem aqui - fala Lucas se distanciando.
- Desse jeito ele vai ser um ótimo guia, abandonando os turistas no meio do nada.
- Eu não sou turista, sou índia. A selva é a minha casa - disse Lyara, caminhando pela mata.
- Ei Lya, é melhor esperarmos o Lucas voltar. Aonde você vai? A gente não pode sair da trilha, têm animais selvagens aqui. LYA! - grita, na tentativa de alertar a jovem. - Que droga! Lá vai ela sumir no meio da floresta por mais quinze anos, o diretor vai me matar - sussurra preocupado. - LYA ME ESPERA! - berra Vitório, correndo atrás de Lyara.
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17_A expressão armar a barraca é usada para dizer que um homem ficou visivelmente excitado.
18_GPS é uma tecnologia de localização por satélite.
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