0.1 - Pessoas.

Não era para mim algo pessoal. Eu pedi uma capa, tinha uma ideia, escrevi, me empenhei. E, então, enquanto minha melhor amiga dormia do meu lado no quarto vago da minha casa, eu simplesmente apaguei tudo porque precisava tornar aquilo que eu estava sentindo real. Ela ficou puta porque tinha adorado. Então, sinto muito, Ji, te recompenso de outra forma.
Ademais, eu simplesmente precisava escrever um pouco sobre algo
que ainda dói aqui. Algo que martela e que eu minto para mim mesma dizendo que não dói tanto quanto antes.
Mas dói.
Eu passo para agradecer também a Natália, querida trancyz, a quem fez a capa, se empenhou, eu amei cada detalhe presente no designer.
Não tá uma história linda e nem planejada. Eu só.orexisava por para fora algo que eu precisava dizer um pouco sobre. Eu só precisava dizer que pessoas confusas não tem o direito de quebrar pessoas.
At.te, Det.


"Eu queria, primeiramente, pedir desculpas por não ter entrado em contato com você antes. Esse é o primeiro pedido de desculpas, amor. Em segundo, queria que você me perdoasse por não ter lhe dado um motivo plausível o suficiente.[...]"

Encostado no sofá, Yoongi olhava a tevê inerte em tudo. Rodava algo na tela que ele não sabia dizer o que era. Não era interessante. Apenas rodava. Ao contrário de como estava sua mente tão barulhenta de tanta coisa que tinha a dizer e pensar. Conseguia escutar os gritos na tevê e o barulho dos carros do lado de fora de seu apartamento.

As cortinas fechadas, o celular silencioso e o estado inerte dele não combinavam com o homem de meses atrás que tão adorável estava agora cinza.

Ele estava cinza. Perdido. Inerte. Parado. Vivendo em um automático gritante de doloroso. Queria ser aquele homem de antes, mas como ser se sua alma parecia tão rosada e dolorida com um envoltório de tantas perguntas e críticas que fazia a si mesmo.

Era estranho para seu melhor amigo, quase irmão, vê-lo assim. E aquilo magoava algo em seu ser que ele não sabia explicar. Mas algo doía.

Como se as contas matemáticas não batessem com as alternativas, Taehyung estava perdido e assustado com tudo.

Assustado com aquela zona cinza que envolvia Yoongi e que ele não podia fazer nada.

Lidar com os picos de mudanças entre raiva e pesar eram difíceis, qualquer coisa doía em Yoongi e fazia entrar em um modo defensivo que servia como um tiro para Taehyung.

Mas ele sentia que não podia culpar, porque ele entendia. Ele sabia o que era aquilo e sabia que não sabia o porquê.

[...] você me deu os melhores momentos que eu podia ter. E eu sei que você vai perguntar a si: então por que você simplesmente foi embora?[...]

Os estágios do luto sempre foram sinceros quanto ao fato que de uma forma ou outra, primeiro ou segundo, a depressão sempre iria aparecer e tomar lugar. Ele iria aparecer. E à medida que os dias foram passando, que as semanas foram passando e que os três meses fecharam certo com a data exata, Taehyung se sentiu extremamente cansado porque o pico depressivo de Yoongi não havia ido embora. E machucou como o inferno em seu peito vê o melhor amigo em um estado vegetativo e automático.

[...]então, eu me peguei sentindo como se algo estivesse esmagando a minha mente. E mesmo que eu quisesse muito viver ao seu lado, algo pesava em minha costas.[...]

Então, Taehyung não sabia ao certo se ele realmente entendia aquilo. Se ele conseguia entender a dor do abandono que ele sentiu comparando com a de Yoongi. Ele não sabia se falavam mais a mesma coisa.

[...] E você foi a melhor coisa que eu podia deixar entrar na minha vida, amor. Nada conseguia tirar um sorriso tão genuíno de mim senão suas reclamações ranzinzas.[...]


Ele acordou cedo naquele dia em específico, tomou um banho quente, aproveitou que ainda faltava tanto tempo para o seu despertador tocar. Aproveitou e vestiu uma roupa bonita, penteou os cabelos e ponhou um tênis novo que quase nunca usava, passou o melhor perfume, usou uma mochila diferente e tomou o café da manhã em casa mesmo. E enquanto trabalhava, enquanto terminava de fechar as planilhas dos boletins que precisava lançar logo no sistema, ele tentou esquecer que dia era aquele.

"Hoje são 28 de Junho, só mais um dia qualquer."

— Yoonie! Quais os códigos das medicações que vão para o anestesista?

E aquele apelido ruim rondava seus ouvidos. Era um apelido ruim. Por que tinha de se tornar um apelido ruim?

[...]eu gostava de como você conseguia dizer tanto para mim apenas me olhando, eu amava cada movimento seu e todos os que você não fazia.[...]

Era margoso na sua boca, não era bom, fazia sua cabeça doer; era um apelido ruim.

Espreguiçando, deixou as coisas pender para trás enquanto fingia não ter escutado o outro falar consigo. Não ia responder. Não queria, não queria ver e nem falar com ninguém. Queria voltar para sua casa, deixar a playlist rodar e então definhar em sua cama debaixo do edredom escutando apenas o barulho da vizinhança.

— Eu consegui lançar os matérias usados durante a cirurgia no sistema, mas as medicações ainda são um tanto difíceis para mim, desculpe.

Quis sumir. Queria não ver aquele homem em sua frente, não ter que falar com ele. Queria a sala vazia, estava gritando que não queria viver perto de mais ninguém.

— Talvez se você ler o monitor e prestar atenção consiga entender o que ele te pede.

Maníaco. Odiava os picos maníacos, odiava os picos depressivos e odiava mais ainda os picos de saudades. Aquela saudade avassaladora que lhe feria o peito tão forte. Queria que alguém lhe dissesse como acabar com todo aquele sentimento pesado que ele estava carregando. Entender como parecia tão fácil escutar da boca dos outros que precisava superar.

[...] então, eu não vi escolha. Eu pensei que não aguentaria. Estava tudo tão turvo para mim, tão pesado e tão, tão difícil [...]

Como dizer qual era a sensação de pegar o celular e não ver nada? De ver o nada específico que ele tanto procurava. Nada. Por que precisava ser tão difícil lidar com essa coisa estranha que embaralhava na sua mente?

Inerte, deitou-se na cama de casal enorme que havia em seu apartamento e tentou não reparar em mais nada daquilo que havia ficado ali, que ele sequer havia mexido. Evitava olhar assim como evitava olhar nos olhos dos amigos quando eles perguntavam: já apagou tudo dele? E então ele confirmava, mesmo que em sua galeria ainda tivesse todas as fotos dele ali em uma pastinha; bem identificado e visível assim que abria a galeria.
Por que precisava ser tão difícil?

[...] eu quis inúmeras vezes dar um fim nisso tudo, não em você, mas neles, em todos os pensamentos da minha cabeça. O problema era que você era um dos pensamentos embaraços da minha cabeça [...]


Caminhando pela trilha de pedras, ele gemeu cansado, arrastando a mochila preta enquanto escutava atrás de si um Taehyung irritado pela dificuldade que era estar ali naquele mundo selvagem.

— Porra, é pior que ter que acordar de madrugada e sair de casa.

Era dia 03 de julho e Yoongi riu. Parou, cedeu com a mochila e riu. Riu do quão idiota aquilo era. Do quão ridículo Taehyung conseguia ser e riu genuinamente de algo, não sabia, mas ele estava rindo.

— Ah, per favore, non ridere di me! — E Yoongi riu mais ainda. Precisava rir. Precisava respirar e expulsar aquilo que estava gritando bem em seu peito. Um riso leve e doloroso, mas um riso tão esperado.

— Você tá reclamando desde que chegamos, mané, você que deu a ideia, não esquece. — E rindo, ele voltou a subir por aquela trilha ainda escutando Taehyung reclamar de algo que para ele não cabia mais dar atenção.

[...] acho que eu mesmo havia me enganado. Tentando acreditar em algo que eu julguei errado. E eu admito que o medo daquilo que eu estava, era daquilo que eu havia te feito.[...]

— Se for azul, mas somente se for azul, eu deixo você escolher o próximo local da viagem.

— Eu não viajaria com você nem se me pagassem. Esse sofrimento de hoje já me bastou para não repetir.

— Um cretino, Yoongi, você é um cretino!

— Chore mais baixo que eu quero dormir, Taehyung.

[...] E eu sinto muito que eu tenha destruído todas as declarações.[...]

Era agosto. Cinco meses. 

Saía com Taehyung constantemente, acompanhava ele durante seus passeios em museus. Ia com ele nos encontro do grupo de apoio. Tinha voltado a desenhar e agora fazia academia. As janelas nem sempre ficavam fechadas e agora tinha um serzinho correndo pela casa que tentava sempre pular em cima do fogão da cozinha.

[...] E mesmo que eu saiba que vá sentir sua falta, esse é o fim.[...]

Taehyung já conseguia respirar aliviado, conseguia tirar o amigo de casa mais vezes, conseguia fazê-lo levantar da cama para fazer uma caminhada e os picos haviam melhorado.

[...] E dói, dói pra caralho, você nem tem ideia do quanto está doendo.[...]

— Do que você tá falando, Yoongi? O melhor sem dúvidas é o Android. O sistema de operações é tão maleável!

E os pequenos momentos com Taehyung valiam a pena porque se sentia melhor.

Era tão difícil admitir que estava melhor porque não estava se sentindo tão digno de viver. Mas ele se sentia melhor, estava vivendo os pequenos pontos de felicidade que Taehyung havia prometido na madrugada em que ligaram chorando dizendo que tudo tinha chegado ao fim e que ele aparecera em sua casa.

E ele estava melhor, estava melhorando. E isso foi uma vitória enorme para Min Yoongi. Era sua estação favorita, seu melhor amigo estava ali e ele já conseguia abrir as cortinas e encarar o fora do apartamento. O outono finalmente havia finalmente chegado e o fim de um ciclo se findava.

"Acho que rosa não é exatamente uma cor tão bonita, Yoonie. Prefiro roxo.

Queria iniciar isso que eu prefiro não dar um nome de uma forma descontraída, mas eu não sei qual vai ser o rumo das minhas palavras daqui para frente nesse papel. Mas eu precisava falar. Precisava voltar aqui e te dizer algo.

Eu não sei ao certo em como começar a dizer o que eu queria e estava planejando dizer, então, me desculpe. Ah, mas, espere, não vamos considerar esse pedido de desculpas, tudo bem?

Eu queria, primeiramente, pedir desculpas por não ter entrado em contato com você antes. Esse é o primeiro pedido de desculpas, amor. Em segundo, queria que você me perdoasse por não ter lhe dado um motivo plausível o suficiente para simplesmente não existir mais para você.

Acho que eu estive vivendo uma farsa tão controlada que não conseguia livrar aquele sufoco da minha garganta nunca, mesmo que eu me empenhasse tanto para fazer esse sufoco sumir.

Eu queria poder olhar nos seus olhos e te fazer entender que eu realmente sinto muito. Eu sinto muito, sinto muito por ter feito você gastar tudo aquilo que podia ter gastado com outra pessoa, com uma pessoa que realmente estivesse disposta a estar com você até quando você estivesse vendo seu primeiro cabelo branco. Eu realmente sinto muito por isso.

Por fazer você gastar as declarações. Por fazer você odiar as músicas que te lembram a mim. Por te fazer odiar ler os livros que comprou e leu por minha causa. Por te fazer odiar ver qualquer foto nossa. Por te fazer odiar ter que dizer aos nossos amigos que acabou.

E principalmente por te fazer odiar ter que lembrar de quando você me fazia sentir que eu era o sistema solar inteiro.

Eu sinto muito por não ser mais a sua pessoa favorita e por não ser o seu. Eu sinto muito, eu sinto tanto que escrever isso nessa folha tá doendo como um inferno. E é tudo por você.

Estávamos cercados de algo bom e tão ruim em mim. Eu amo você. Eu amo muito você, você era genuinamente genuíno na minha vida.

Acho que devíamos, sim, tentar. Acho mesmo. Mas às vezes a gente simplesmente não tem mais força, eu não tinha força para encarar nós juntos.

As pessoas não precisam de pessoas confusas; pessoas de mente problemáticas. Por isso pessoas mentem e escondem quem são para tentar se encaixar em algo.

E isso me destruiu. Essa noção da minha mente me destruiu, amor.

Ademais, meu objetivo não era em si te dar uma desculpa, era dizer que eu amo você. Mesmo que eu não esteja mais aí para te dizer isso.

Eu gostava de como você conseguia dizer tanto para mim apenas me olhando, eu amava cada movimento seu e todos os que você não fazia. Mas eu odiava que havia algo que me fazia insuficiente, errado e tão ruim.

Eu amava poder desfrutar de você em um todo. Corpo e alma, um tão famoso clichê. E tão diferente quanto, tudo em você é genuíno. E isso criou um abismo na minha mente: por que eu não consegui me dar em toda a alma para você, amor?

Acho que eu mesmo havia me enganado. Tentando acreditar em algo que eu julguei errado. E eu admito que o medo daquilo que eu estava, era daquilo que eu havia te feito. Eu pude sentar com Taehyung e tentar saber se valia a pena dar aquele passo em falso nesse chão de areia, temi cair, ir pro fundo e não conseguir voltar com medo de que você não fosse sólido. E, no fim, eu fui essa sua areia. E dói, dói pra caralho, você nem tem ideia do quanto está doendo.

Eu quis inúmeras vezes dar um fim nisso tudo, não em você, mas neles, em todos os pensamentos da minha cabeça. O problema era que você era um dos pensamentos embaraçosos da minha cabeça. Era aquele nó não problemático na minha mente. Mas tão problemático.

Você me deu os melhores momentos que eu pude ter em vida. E eu sei que você vai perguntar a si: então por que você simplesmente foi embora?

Eu fui embora porque pessoas confusas não podem ter o direito de destruir pessoas.

E eu sinto muito que eu tenha destruído todas as declarações.

Ademais, Yoonie, eu, Park Jimin, vou guardar em minha alma todas as memórias que eu tenho de você.

Eu fui um homem apaixonado, eu sou um homem apaixonado e talvez eu venha a ser um homem apaixonado.

Ademais, mais um vez, continue iluminando a todos como a lua faz.

E mesmo que eu saiba que vá sentir sua falta, esse é o fim.

Atenciosamente, Park Jimin."

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