Capítulo 35
"Porque eu sei que você
Merece algo melhor que eu,
Melhor que eu, Melhor que eu
Você começa a chorar e eu não faço nada
Você acha que eu não me importo, como eu pude ser tão cruel?
E você nunca vai saber que você ainda está nos meus sonhos
Eu ainda falo com você enquanto eu durmo
Eu desejo o melhor para você."
-Better Than Me
Bohnes
— Ainda não entendo, Ava, vocês pareciam tão bem juntos. -Bianca reflete com a cabeça inclinada depois de ficar sabendo que terminei com Jhonatan.
— É, pode até ser, mas infelizmente, não fomos feitos um para o outro.
Respiro fundo para impedir que mais lágrimas caiam e ela perceba como estou mentindo descaradamente.
Viro as páginas do livro que tenho em mãos como se tudo estivesse normal.
— Se você não é feita para o Jhonny, ninguém mais será... -A loira resmunga mais para si mesma e faço de conta que não escutei nada.
É o melhor a ser feito.
Devo esquecer de uma vez por todas que alguma vez estivemos juntos.
Vai ser mais fácil com o tempo. É o que eu espero.
— Eu... eu preciso ir para a aula. -Sussurro me levantando e caminho para longe, fugindo do seu interrogatório antes que a garota comece a juntar as peças e descobrir que eu a coloquei no meio de toda essa confusão sem querer.
Ando a passos lentos até a sala e quando estou quase chegando, avisto Jhonny indo na mesma direção.
No momento em que nosso olhar se cruza, sinto um misto de saudade, vergonha e arrependimento tão profundos que meu coração quase para de bater.
Meus pés se prendem ao chão como se tivessem se fundido com o cimento e o garoto faz o mesmo, para a minha surpresa.
Suas mãos formam punhos apertados e a única coisa que consigo distinguir nas suas íris cafés, é o ódio que ele deve estar sentindo por mim.
Meus olhos se enchem de lágrimas e franzo o cenho me segurando para não correr até ele e implorar para que me perdoe por tudo.
Contudo, sei que fazer isso só pioraria ainda mais a nossa situação.
Balanço a cabeça para os lados soltando o ar lentamente e me obrigo a me afastar para não continuar me torturando.
Não vou conseguir fazer isso.
Não vou ser capaz de continuar vindo às aulas, me sentando na mesma sala que ele, vê-lo voltar a agir como antes e me esquecendo pouco a pouco.
Prefiro mil vezes andar sobre cacos de vidro do que ser submetida a isso.
Pelo menos a dor física é mais fácil de suportar.
Decido matar essa aula e poupar meu coração de mais uma ruptura.
Dou meia volta e rumo até o estacionamento, escapando como sempre.
Faltam apenas alguns passos para chegar na minha moto, quando dedos longos e finos seguram meu pulso me fazendo parar em seco.
— Onde pensa que vai? -Puxo uma longa respiração.
— Para a puta que pariu, se me der licença... -Resmungo arrancando meu braço com força do seu aperto.
— Já te disse para não me responder assim, garota. -Beto ralha e levanto uma sobrancelha desafiante.
— Ou o quê? Vai me dedurar para os meus pais? Ou vai desfazer nosso compromisso?
— Escuta aqui, Ava, você está brincando com a minha paciência. -Solto uma risada.
— É mesmo? Pois olha o meu grande foda-se para você. -Mostro o dedo do meio e ele cruza os braços como uma criança emburrada.
À essa altura não estou nem aí para as consequências dos meus atos.
Tudo de mais bonito que eu tinha, foi tirado de mim, então Beto que enfie um enorme pedaço de pau na bunda e vá se lascar.
— Estou falando sério, Rice. -Seus olhos são fogo puro. — Mas dessa vez eu vou te perdoar, já que fez o que eu pedi. -Bufo em deboche. — Agora, o que quero saber, é quando voltará para casa, como disse, estou perdendo a paciência.
Mas que droga.
Pensei que ele me daria algum tempo depois que eu terminasse com Jhonatan.
Se Beto está pensando mesmo que irei com ele para servir de namorada troféu, ele está muito enganado.
Eu já sacrifiquei minha relação e não penso sacrificar a minha liberdade.
— Não posso simplesmente sair agora, Beto. Devo pelo menos terminar o semestre para não ficar prejudicada. -Explico com uma calma impressionante. — Você não quer que todos saibam que a sua namorada reprovou em alguma matéria, não é mesmo? -Uma careta se forma no meu rosto ao falar as últimas palavras, mas para a minha sorte ele não percebe que estou a ponto de vomitar só de pensar na possibilidade de ter suas mãos em cima de mim outra vez.
Beto pensa por alguns minutos e sinto meu corpo inteiro estremecer enquanto ele fica em silêncio.
— Tudo bem, você vai ficar até o final do semestre. Nenhum dia a mais, nenhum dia a menos, Ava. -Solto a respiração disfarçadamente. — E se por algum instante pensar em fazer alguma besteira como fugir de novo, eu não vou pegar leve como da última vez. -Seus dedos apertam meu queixo me arrancando um gemido de dor. — Espero que tenha entendido. -Balanço a cabeça para cima e para baixo.
Sou liberada e me afasto imediatamente do idiota, esfregando meu rosto com cuidado.
Observo o idiota desaparecer entre a multidão de alunos chegando para as suas aulas e corro até Mabel com o coração batendo a mil por hora.
Subo na moto e dirijo pela cidade sem ter coragem de ir para casa.
E se ele estiver me seguindo? E se o maldito souber onde vovó mora e quiser fazer algo contra ela também?
Mas que droga!
Viro em uma das ruas paralelas e acabo indo parar no cemitério jardim que Jhonny me trouxe quando briguei com Bianca.
Estaciono debaixo de uma sombra e me sento no pequeno banquinho de cimento para contemplar a cidade e tentar talvez encontrar uma resposta para todos os meus problemas.
Enquanto andava sem rumo, dentro de mim sentia que esse lugar me chamava, quase como uma conexão mística.
O que vou fazer com a minha vida? Como solucionar esse dilema sem causar ainda mais sofrimento para as pessoas que amo?
Se depender de Beto, ficarei sozinha para sempre.
Ou na pior das hipóteses, serei arrastada paro o inferno chamado casa dos meus pais.
— Deus, por que eu? -Suspiro desanimada ao mesmo tempo em que uma lágrima escapa pela minha bochecha e se seca com o vento fresco do meio dia.
Caramba, como as horas passaram tão rápido?
Resgato o celular de dentro da mochila e procuro o chat de Jhonatan.
Releio cada frase que trocamos, cada palavra, cada sentimento implícito até mesmo nos emojis ridículos que ele me mandava.
Vejo a foto no seu perfil e deslizo o dedo pela tela com o coração apertado.
Seu olhar sedutor para a câmera me faz sorrir nostálgica.
O garoto sempre foi um galã de primeira e no começo eu não entendia como as meninas caiam aos seus pés, mas depois de passar tempo ao seu lado, eu finalmente compreendi que Jhonatan Cross é muito mais do que aparenta.
Ele é gentil, amável e carinhoso.
É cavalheiro embora tenha o corpo coberto de tatuagens, e seu coração é tão grande que só de lembrar dos seus beijos, das suas carícias e palavras de conforto quando estávamos naquela barraca debaixo da chuva, minha respiração falha e desato a chorar outra vez.
A vida inteira eu pensei que encontraria alguém que fizesse meu mundo virar de ponta cabeça, que acelerasse meus batimentos cardíacos apenas por estar perto e quando Beto se declarou para mim, fiquei tão iludida que me entreguei por completo sem perceber que com ele, nada disso acontecia.
Mal sabia que estava entrando por vontade própria em uma relação que me destruiria para sempre.
Cada segundo que passa, me arrependo amargamente de ter tratado Jhonny daquela maneira, no entanto, sei que ele merece alguém melhor do que eu e é o mínimo que eu posso fazer por ele depois de todos os momentos felizes que ele me presenteou sem esperar nada em troca.
Protegê-lo é o meu dever, é a única coisa que me mantém firme.
Meu celular começa a tocar de repente e quase o derrubo com o susto.
— Ava por favor, me diz que você está bem! -Lanna quase grita do outro lado da linha. — Fiquei sabendo que Beto iria te buscar, ele fez algo com você? Se aquele maldito ousar te tocar eu vou picar aquela minhoca que ele chama de pau em pedacinhos! -Sorrio entre as lágrimas que caem sem parar.
— Estou bem, prima... -Sussurro com a voz trêmula. — Pelo menos por enquanto. -Completo e escuto-a praguejar sem parar.
— Eu sabia que aquele maldito não iria te deixar em paz. Você tem que sair daí, Ava, sabe como ele é maluco.
Oh eu sei, e como sei.
— Não precisa se preocupar, eu já dei um jeito nele. -Respiro fundo e então me pego contando tudo o que aconteceu desde que cheguei aqui.
Lanna escuta tudo sem dizer uma palavra sequer e sei muito bem o que ela deve estar pensando.
— Oh não, querida... não sabe como lamento. -Aperto as pálpebras com força.
— Sabe, Lanna, eu o amo com todo o meu ser, e não posso deixar que Beto o machuque. -Explico entristecida. — Jhonatan é... ele é a pessoa mais incrível que eu conheço e não é justo que tenha que passar por toda essa merda por minha causa.
— Prima, o que não é justo, é você ter que terminar com o seu namorado por culpa daquele embuste!
— Eu sei disso, mas eu não posso voltar atrás. O estrago já está feito e Jhonatan me odeia.
Puxo um fio da calça jeans.
— Ele não te odeia, Ava. Só deve estar chateado com as palavras que lhe disse. Tenho certeza que ele ainda te ama e sente a sua falta assim como você sente falta dele. -Solto um suspiro esperançoso.
Pode até ser que Lanna tenha razão, contudo, eu devo continuar com meu plano e desaparecer de novo ou não sei o que vou fazer para sobreviver com aqueles três.
— Preciso fugir, Lanna. -Expiro com força. — Devo sumir do mapa, pelo menos por um tempo até descobrir o que fazer.
Lanna não diz nada por alguns minutos como se estivesse pensando em uma solução para me ajudar.
Meu olhar se perde nas ruas abaixo de mim, nos carros que passam a toda velocidade e nas pessoas que caminham sem parar.
Deus, como eu vou sentir falta disso.
Como vou sentir falta de passear pelas ruas movimentadas, de sentir a brisa fresca acariciando meu corpo e principalmente de ter os seus braços tatuados rodeando a minha cintura.
— Olha, meu namorado mora a uma hora e meia de distância, você pode ir até a sua casa quando o semestre acabar e eu te alcanço lá para vermos o que fazer.
Nego com veemência.
— Me desculpe, Lanna, mas não posso aceitar.
— Ele é uma boa pessoa, Ava. Prometo que não vai te machucar, até porque se ele relar em um fio de cabelo seu eu acabo com ele. -Sorrio me divertindo brevemente com o seu instinto protetor.
Não queria me arriscar a ficar com um desconhecido, mas simplesmente não tenho outra saída.
É isso ou pagar um hotel de meia boca em algum lugar de procedência duvidosa, já que a grana que eu tinha guardado está acabando.
— Tudo bem, Lanna... obrigada. -Concordo baixinho e ela suspira aliviada. — Te aviso quando terminar aqui para que você me passe o endereço do seu namorado. -Continuo massageando as têmporas.
Preciso lembrar de comprar mais remédio para dor de cabeça.
Converso mais um pouco com a minha prima antes de encerrar a ligação e aproveito para marcar um horário no estúdio de tatuagens.
Quero fazer uma última homenagem ao garoto que me fez acreditar que o amor existe.
Quase não consegui dormir à noite. Meu corpo todo ficou encharcado de suor e os pesadelos não me deixaram em paz por um milésimo de segundo.
Vovó ainda não sabe que terminei com Jhonatan, mas tenho a leve impressão de que ela desconfia que algo está acontecendo, já que ele parou de nos visitar de uma hora para a outra. Mesmo assim ela não diz nada e me serve uma boa quantidade de comida em um prato.
— Sabe que não consigo comer tudo isso, não é mesmo? -Sorrio triste.
— Ultimamente você mal toma café da manhã para ir para a faculdade, Ava. Não quero que acabe desmaiando de fome no caminho. -Seu olhar atento recai sobre o meu corpo encolhido na cadeira macia.
Hoje me levantei ainda pior do que nos dias anteriores.
É como se eu estivesse pressentindo que algo grande está por acontecer, o que me faz experimentar um medo absurdo, uma sensação de que estou apenas esperando o inevitável, caminhando passo por passo para a minha própria execução.
Enfio alguns pãezinhos na boca para não ter que conversar e engulo com dificuldade por conta desse maldito nó na minha garganta.
Eu sabia desde o início que era uma granada prestes a explodir e agora que está acontecendo, não posso evitar que as pessoas que mais amo saiam feridas e isso faz meu estômago se contorcer e me seguro para não botar todo o seu conteúdo para fora..
— O que quer que tenha acontecido, vocês vão se ajeitar, querida. -Vovó diz de repente e elevo a cabeça com os olhos cheios de lágrimas.
— C-como sabe? -Ela se senta ao meu lado e abraça meu corpo com cuidado.
— É fácil notar quando uma garota passa de sorrir o dia inteiro a vegetar pela casa como se apenas existisse, filha. -Sua voz suave acaricia todo o meu corpo e sinto um arrepio percorrer minha pele fria.
— Dói tanto vovó... -Desabafo entre mais lágrimas e ela aperta o abraço sobre mim.
— Eu sei, meu amor, eu sei.
— Faz essa dor passar, por favor. -Peço em um fio de voz e ela segura meu rosto com as duas mãos.
— Dê tempo ao tempo. -Seus dedos alisam meu cabelo carinhosamente. — A dor faz parte do processo, querida. Ela te dá forças para seguir adiante, não importa o que aconteça. Você é uma garota extremamente forte, Ava, e tenho certeza de que vai dar um jeito de consertar tudo. -Recebo um beijo na testa.
Me sinto horrível por não contar a verdade para ela. Vovó me ajudou sem nem questionar e agora não faz ideia do que realmente está acontecendo.
— Obrigada, vovó. -Agradeço muito mais do que apenas pelo incentivo.
— Por nada, meu anjo. Vai ficar tudo bem, ok? - Ela reitera e balanço a cabeça para cima e para baixo sem forças para mais nada.
— Devo ir para a faculdade, nos vemos mais tarde. -Beijo sua bochecha enrugada com carinho.
Mentir já se transformou em uma tarefa ridiculamente fácil à essa altura.
Aceno uma última vez antes de sair e dirigir direto para o estúdio de tatuagens.
Ultimamente não estou indo para a faculdade. Não suporto ver Jhonatan por lá e ter que fingir que está tudo bem, então passo quase todas as tardes enfiada naquele cemitério escrevendo palavras aleatórias em um diário estúpido, um conselho da minha psicóloga.
Ela também não sabe que em alguns dias irei embora.
Na verdade, ninguém sabe.
Fiz Lanna prometer que não abriria o bico, assim ficará mais difícil para aquele verme me encontrar outra vez.
Ao chegar na Bad Blood, estaciono no lugar de sempre e vou até o balcão como de costume.
Debby aparece correndo de maneira desajeitada e me recebe com a sua alegria contagiante.
— Olá querida, chegou em ponto hoje! -Ela me recebe ofegante. — Aqui, você já sabe o procedimento. -Pego uma caneta para assinar os papéis com os dedos trêmulos.
Uma vez que finalizo, vou até a sala para ser tatuada.
Liv faz todos os preparativos para começar a tatuagem e lhe explico que desenho quero.
Depois de pensar por um bom tempo, decidi fazer uma âncora.
Ela representa a minha última esperança. Um pedido desesperado de que de alguma forma, Jhonatan saiba que me arrependo por tê-lo feito sofrer e que entenda que o amo infinitamente.
Uma pequena lágrima escorre pela minha bochecha quando lembro de tudo o que aconteceu e penso no que ainda está por acontecer sem nem perceber quando a morena finaliza o seu trabalho.
Liv diz algo sobre os cuidados que devo tomar, mas escuto sua voz distante, quase como se ela não estivesse presente.
— Está tudo bem, Ava? -Sinto um aperto leve na minha mão e levanto a cabeça sentindo minhas bochechas queimarem.
Caralho, eu não deveria estar fazendo todo esse drama, ainda mais diante de dois desconhecidos.
— E-eu... me desculpe por isso. Hã... obrigada pela tatuagem, Liv, ficou linda como sempre. -Praticamente escapo dos seus olhares de pena e curiosidade.
Piloto de volta para o cemitério e nem bem desço da moto, pego o pequeno caderno que carrego comigo juntamente com uma caneta preta.
Imediatamente começo a escrever tudo o que sinto, todas as minhas frustrações e desejos mais profundos.
Embora tenha achado a ideia ridícula em um início, ela se tornou a única coisa que me faz sentir que ainda estou no controle.
A única coisa que me faz lembrar de que algum dia eu fui amada.
NOTA DO AUTOR
Oláaaaaa lindos e lindas!
Como estão hoje? Espero que tudo ótimo.
Vou deixar mais um capítulo pra vcs e sair de fininho hahaha
Não se esqueçam de votar e comentar!
Amo vcs 🥰
Bjinhosss BF🖤🖤🖤
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