Capítulo 32

"Eu me sinto cansado esta noite
Palavras inesquecíveis
Não posso voltar atrás, desculpe
Sou egoísta, me desculpe
(Esta noite) uma noite escondida
Nas memórias borradas
Por que tudo está ficando mais difícil de novo?"
- Sorry 
The Rose

"O tempo está acabando, Ava. Tic, tac, tic, tac."
-Número desconhecido
15:25 PM

"Não vai me responder? Oh claro, deve estar aproveitando 
seus últimos dias com aquele cara, como a putinha que é."
-Número desconhecido
00:12 AM

"E não adianta me bloquear, vadia,
eu comprarei cem chips se for necessário
e não ouse trocar de número,
porque vou até a maldita

China para conseguir o seu contato outra vez."
-Número desconhecido
08:36 AM

"AVA, VOCÊ TEM UMA SEMANA PARA
ME RESPONDER OU ARQUE COM AS CONSEQUÊNCIAS."
-Número desconhecido
10:42 PM

Esse garoto está realmente maluco, Ava. -Vovó sussurra me devolvendo o celular e recebo o aparelho com as mãos trêmulas.

Aperto as pálpebras com toda a força que possuo ao som de uma longa respiração.

Os últimos dias foram assim.

Uma enxurrada de mensagens começou a chegar no meu celular depois da ligação daquele verme e em absolutamente todas elas, havia uma ameaça estampada para quem quisesse ver.

Fiquei tão afetada que quase não quis sair com Jhonatan durante a semana e quando estávamos juntos, não conseguia parar de pensar no babaca do Beto e odeio o fato de que ele provavelmente deve ter percebido que algo não anda bem.

Eu poderia ser sincera com ele, lhe contar toda a merda que está acontecendo comigo, só que eu simplesmente não consigo.

Não quero que Jhonny fique preocupado, muito menos que comece a me tratar como se eu fosse uma donzela em perigo.

— O que eu vou fazer, vovó? E se ele vier atrás de mim como está prometendo? Eu... eu preciso sumir de novo. Não posso expor vocês a esse perigo desnecessário. Não posso. -O ar escapa pelos meus pulmões como um balão furado e os braços enrugados me apertam em um apoio necessário.

— Você não está colocando ninguém em perigo, querida. Eu sei me defender muito bem, esqueceu? -Balanço a cabeça para um lado e depois para o outro.

— Por mais que tenha ido ao exército, mesmo assim, aquele louco pode lhe fazer algum dano, eu... -Murmuro.

— Eu vou correr esse risco, Ava. -Ela me interrompe com cautela. — Quando disse que a protegeria com unhas e dentes, estava falando sério. Se for preciso, farei uma ligação para o seu pai. Essa palhaçada tem que acabar. -Pela primeira vez na vida, vovó se dirige ao filho com um tom tão sombrio que meu corpo inteiro se arrepia.

Ela nunca vai deixá-lo de amar, isso é mais do que evidente, mas mesmo assim, ao saber que a sua neta está em perigo por sua culpa, é como se ela colocasse de lado esse amor de mãe e ficasse apenas com o amor incondicional de avó.

— Mas e Jhonatan? O que farei com ele? E se Beto...

Vovó me interrompe mais uma vez.

— Tenho certeza que o seu namorado também sabe se defender, afinal de contas, ele é filho de um dos maiores lutadores do país. -Um lampejo passa pelo seu olhar e solto uma risadinha.

É engraçado como a grande maioria da população feminina dessa cidade tem uma queda gigante por Angel Cross, e não as julgo, o pai de Jhonny é realmente um colírio para os nossos olhos.

— Você não pode parar a sua vida, suas relações de afeto e amizade por culpa de uma pessoa, Ava. Deve enfrentá-lo e se for preciso, botar a boca no trombone para que todos saibam como esse mauricinho é de verdade. -Vovó continua com uma raiva contida e concordo com a cabeça.

Ela está repleta de razão, no entanto, não é tão fácil assim.

Por mais que eu não queira admitir, Roberto ainda tem certo domínio sobre mim.

Ele sabe perfeitamente como entrar dentro da minha mente e me deixar para baixo, como sempre fez. O idiota pode me desestabilizar com apenas uma palavra e me deixar sem chão, da mesma maneira que na faculdade quando recebi a sua ligação.

Não quero mais ser refém das suas garras, mas ao mesmo tempo, eu sei que por mais que tente me afastar, por mais que eu fuja e me esconda, ele vai me achar e vai me levar para baixo, para o fundo do poço.

Estou cem por cento consciente disso, o problema é que não quero levar mais ninguém comigo. Por isso devo estar bem longe quando a merda acontecer.

— Eu sei, vovó... eu sei. -Me levanto do sofá com certa dificuldade. — Pouco a pouco estou me abrindo para novas amizades e até mesmo um relacionamento, graças às sessões com a psicóloga e o psiquiatra, mas o reaparecimento de Beto trouxe à tona todos aqueles sentimentos que eu fiz questão de trancar debaixo de sete chaves e para dizer a verdade, não faço ideia de como reagir a isso. -Suspiro desanimada.

Minhas pernas estão feitas gelatina e não sei como vou conseguir dirigir até a faculdade e principalmente fazer de conta que nada está acontecendo.

De todas formas, pego minha mochila, chaves da Mabel e bebo um longo gole de suco antes de rumar até a porta da garagem.

— Ava? -Vovó chama antes que eu desapareça da sua vista.

— Hum?

— Você não está sozinha, meu amor. Lembre-se disso. -Meus olhos se enchem de lágrimas e me limito a concordar com a cabeça sem ter coragem de me virar.

Continuo meu caminho até a minha moto e em questão de segundos estou na avenida que me leva até a faculdade, pilotando no modo automático e pensando em como minha vida se tornou esse redemoinho de confusão e principalmente, como caralhos vou sair dele.

Ao chegar no estacionamento, não vejo Jhonatan em lugar nenhum.

Ultimamente ele sempre me espera e me recebe com um abraço e um beijo daqueles de tirar o fôlego, no entanto, hoje algo deve ter acontecido para que ele se atrase.

Dou de ombros enquanto guardo o capacete no compartimento.

Talvez seja melhor assim.

Aquelas mensagens de Beto me deixaram anestesiada para qualquer tipo de interação.

Conforme vou caminhando para dentro da faculdade, uma sensação estranha me invade.

Minha pele inteira se arrepia e as batidas do meu coração aumentam cada vez mais.

Giro meus pés no meu próprio eixo e olho para todos lados em busca de uma explicação para essa impressão ridícula de que estou sendo observada.

Que diabos está acontecendo?

Retiro meu celular da mochila me preparando para ligar para qualquer pessoa, até que dois braços me puxam para trás e solto um grito assustado que atrai a atenção de várias pessoas que caminhavam ao meu redor.

— Ei, está tudo bem? Sou eu, Ava! - A voz de Jhonny chega até os meus ouvidos antes mesmo que possa vê-lo e observo seu rosto com os olhos tão arregalados que seu sorriso se desfaz lentamente.

— E-eu... eu... -Engulo em seco várias vezes.

O garoto segura meu rosto com as duas mãos e me aproxima para mais perto para poder me abraçar como de costume.

— Quem pensou que fosse, amor? -Ele pergunta baixinho no meu ouvido em um tom carregado de preocupação.

— Ninguém... você me pegou de surpresa e eu acabei me assustando, não foi nada demais. -Respondo ofegante. — Me desculpe por gritar.

— Ava, será que você pode, por favor, me dizer o que está acontecendo? Nunca se assustou assim comigo. -Seus olhos estão atentos a qualquer movimento e meu estômago se contorce perigosamente. Sinto uma vontade insana de vomitar, mas engulo em seco outra vez forçando um sorriso nos meus lábios.

— É que não te vi no estacionamento, Jhonatan, achei que não viria hoje... foi só um susto bobo. -Beijo sua boca para impedi-lo de continuar falando e ele respira fundo antes de nos afastarmos.

— Tive que dar uma carona para minha irmã até o trabalho... algum idiota furou os pneus do seu carro, por isso demorei para chegar. -Ele explica contrariado. — Você anda algo estranha ultimamente, Ava, tem certeza que está tudo bem? -Insiste e confirmo com o semblante mais falso da minha vida.

— Estou bem, sério! Mas e a sua irmã? Já fizeram o boletim de ocorrência? -Mudo de assunto e ele chacoalha a cabeça para os lados, porém segue o meu jogo mesmo assim.

— Sim, já tomamos as medidas necessárias. Ela só está furiosa, mas isso é normal naquela garota. -Recebo um beijo na testa e caminhamos até a nossa sala, cada um perdido nos próprios pensamentos.

Sentamos lado a lado ao chegar, e conforme as horas passam lentamente, vou me sentindo cada vez mais presa dentro de mim mesma.

Jhonatan parece distraído com os colegas, o que de certa forma é algo bom para mim.

Porque se ele me perguntar mais uma vez se estou bem ou não, tenho quase certeza de que eu vou desabar bem na sua frente.

Assim que a primeira aula acaba, nos separamos e cada um vai para a sua sala correspondente, de maneira que fico sozinha outra vez.

Aproveito para ligar para Lana e perguntar se ela sabe o que diabos está acontecendo com meus pais e Beto, e para o meu desespero, ela afirma que não conversou com nenhum deles, portanto, não tem nenhuma informação que possa me ajudar.

Quando serei finalmente livre?

Meu corpo inteiro treme de ansiedade, como se inconscientemente eu soubesse que algo muito ruim está por vir.

Sacudo a cabeça para me livrar desses pensamentos negativos e decido comprar algo para comer, já que meu estômago está roncando tão alto que é bem capaz de ser ouvido a quilômetros de distância.

Vou até o restaurante, faço o meu pedido rapidamente e uma vez que o recebo, devoro o sanduíche de peito de peru e bebo o suco de laranja em questão de segundos.

Avisto Bianca conversando com um cara, provavelmente da sua sala e no momento em que seu olhar se cruza com o meu, uma pergunta silenciosa paira no ar.

Balanço a cabeça para os lados e ela faz uma careta furiosa. A loira chega a se levantar para vir na minha direção, mas ela para de repente ao ver Jhonny fazendo o mesmo.

Droga.

Não queria que nossa amizade se resumisse a isso.

Gostaria que pudéssemos conversar sem nenhum problema, nos reunir, dar risada de coisas bobas...

É só que eu já deveria me acostumar com o fato de que comigo, as coisas nunca vão ser normais.

— Já lanchou? -Desvio o olhar da minha amiga e confirmo a pergunta levantando a bandeja vazia.

Jhonatan faz um som de aprovação antes de se sentar ao meu lado.

— E você, comeu algo? -Encosto a cabeça no seu ombro.

— Ainda não... o que me sugere? Estou faminto.

Seus dedos sobem pelo meu braço, depois pelo pescoço, colocam uma porção de cabelo atrás da minha orelha e por último seguram meu queixo, virando o meu rosto para depositar um beijo rápido na minha boca.

— O sanduíche está muito bom, mas acho que não vai matar a fome de um garoto do seu tamanho. -Brinco e ele solta uma risadinha rouca.

— Você sabe muito bem o que pode matar a minha fome, mas infelizmente, devemos esperar que a aula acabe para fazer isso entre quatro paredes ou na sua moto... -Jhonny diz baixinho no meu ouvido e quase engasgo com a minha própria saliva.

— Jhonatan! -Ralho sentindo minhas bochechas esquentarem rapidamente.

— O que foi? Só estou dizendo a verdade. -Seus braços me apertam contra si e respiro fundo de olhos fechados.

— O que vai fazer depois da aula? -Ele continua ao perceber que fiquei afetada com o comentário picante.

— Nada de interessante, na verdade, acho que irei direto para casa. -Confesso cansada.

Jhonny então me puxa para cima das suas pernas e olho para os lados ficando aliviada ao notar que ninguém está nem aí para nós dois.

— O que acha de ir ao cinema comigo? -Ele contorna meus lábios com a ponta dos dedos.

Oh não.

Era isso o que eu temia.

Não que eu não queira sair com ele, é só que no momento estou paralisada de medo de ser vista com o garoto.

Não sei como Beto ficou sabendo que eu estava saindo com ele, mas uma coisa é certa, ele deve ter algum contato aqui na Brown que lhe diz tudo sobre mim.

— Ava? -Jhonny reitera depois de alguns minutos.

Estou a ponto de lhe dizer que não posso ir, inventar qualquer desculpa ridícula como das outras vezes, contudo, seu olhar esperançoso me deixa completamente desarmada.

Porra.

Estou sendo tão injusta com ele e isso me quebra por dentro a cada dia.

— Tudo bem... -sorrio afagando seu rosto com carinho. — Mas eu escolho o filme. -Brinco e ele confirma rapidamente.

— Por mim, você pode escolher até o nome dos nossos futuros filhos se quiser. -Arregalo os olhos mais uma vez. — Desde que não seja Adão, é claro.

Solto uma gargalhada sincera.

— Por que isso?

— Porque seu nome parece com Eva, seria algo estranho... Adão e Ava.

Agora estou rindo descontroladamente.

Você é estranho, Jhonatan Cross. -Aperto as suas bochechas e ele arfa supostamente ofendido.

— Pode até ser, -ele resmunga contra os meus dedos — mas pelo menos eu não fui tolo o bastante para cair no conto de uma serpente e uma garota. O paraíso era a melhor coisa que eles tinham... -Franzo o cenho contrariada.

— Eva como sempre sendo recriminada por algo, quando na verdade ela foi tão vítima quanto o seu namorado. Na verdade, Adão era um idiota... quem lhe mandou morder a maçã? E por que diabos estamos falando sobre Adão, Eva e toda essa coisa de maçã e serpentes?

Jhonny sorri ainda mais com o meu discurso e me abraça novamente.

— Gosto disso, sabe?

— Do quê? -Respiro fundo deixando que o seu perfume me tranquilize como sempre.

— De conversar com você sobre qualquer coisa. Não me cansaria nunca... -seus olhos brilham em um prenúncio de que algo maior está por vir. — Você é o meu paraíso, Ava Rice.

O cinema está um pouco lotado quando chegamos e vamos direto para a fila da bilheteria para não correr o risco de ficar de fora da sessão.

Confesso que demoramos alguns minutos para entrar em um consenso sobre que filme veríamos, mas no final das contas optamos por um de ação onde uma garota é sequestrada e deve lutar contra seus sequestradores e quando consegue fugir e voltar para casa, seus pais não a reconhecem, como se ela nunca tivesse existido.

A proposta parece ser bem interessante e tem tudo para ser um filme bom.

Depois de comprar as entradas, vamos até o candy bar e peço um balde de pipocas com um copo grande de refrigerante para mim e Jhonny escolhe um suco goiaba.

Depois de muita insistência, deixo que ele pague pelo nosso pedido com uma carranca no rosto.

— Não adianta ficar assim, amor. A regra é clara: eu te convidei, eu pago. -Ele beija a minha testa sem deixar de sorrir.

— Então para a próxima, quem te convida sou eu. -Murmuro sem conseguir manter a pose de emburrada por muito tempo.

— Tudo bem, estressadinha, agora vamos que o filme está quase começando.

Aceno com a cabeça e rumamos até a entrada das salas.

Jhonny franze o cenho quando estamos quase chegando e pragueja baixinho para si mesmo.

— Gata, me espere aqui. Esqueci de comprar alguns doces, já volto. -Ele diz depois de alguns minutos. Esse garoto parece uma formiguinha.

Entro na fila para guardar o nosso lugar e enquanto espero que o meu namorado volte, aquela sensação de estar sendo observada me invade outra vez fazendo todo o ar dos meus pulmões se esvair rapidamente.

Olho para os lados desesperada e de repente o que vejo me faz querer vomitar.

Ele está ali.

Parado como uma maldita estátua, os olhos injetados olhando diretamente nos meus e a boca curvada em um sorriso macabro.

Beto parece um demônio saído diretamente do inferno, como uma assombração que não me deixa em paz um segundo sequer.

O tempo parece parar e não consigo desviar o olhar do seu como se estivesse hipnotizada pela maldade que ele emana pelo simples fato de existir.

O garoto não pisca, não se mexe, não parece nem mesmo respirar, o que me faz pensar se estou realmente vendo-o ali ou se tudo não passa de um engano da minha mente cansada de ter sido perseguida a semana inteira.

Prendo a minha própria respiração na esperança que ele desapareça como em um passe de mágica e começo a ficar cada vez mais desesperada conforme ele continua ali.

— Olha, achei aquela balinha que você gosta! -Jhonny ressurge bem na minha frente e finalmente consigo piscar e olhar para o garoto que franze o cenho ao notar o meu estado. — Você está pálida, Ava, parece até que viu um fantasma. Está tudo bem? -Ele sussurra segurando meu rosto.

— S-sim, eu só... me distraí um pouco. -Quando volto a olhar na direção onde Beto estava parado, não o encontro mais. É como se ele tivesse se esfumado.

Talvez eu tenha imaginado tudo.

Não há maneira dele saber exatamente onde estou. Quero dizer, ele já sabe que estou morando nessa cidade, mas não onde estou nesse preciso momento.

Pelo menos é o que eu espero. 

NOTA DO AUTOR

Hellooo amorecos
Primeiramente, não me matem (ainda kkk)
guardem esse ódio pq a treta está apenas começando hahaha
Espero que tenham gostado, 
não se esqueçam de votar e comentar!

Amo vcs, 🥰
Bjinhossss BF 🖤

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