Capítulo 05
"Envie seus sonhos
Onde ninguém se esconde,
Dê as suas lágrimas para a maré."
-WaitM83
Chego em casa em questão de minutos.
Não parei de pensar no tal Jhonatan durante todo o caminho.
Esse garoto é um perigo ambulante. As tatuagens, a pose de bad boy e a sua beleza gritante são só uma parcela do estrago que sei que ele pode causar.
Não faço ideia do porquê ele está tão empenhado em se aproximar de mim, só sei que não estou gostando nada disso, embora uma parte de mim se sinta levemente envaidecida por ele ter me notado, como qualquer adolescente boba dessa universidade.
Qual é, eu sou humana e também tenho meu orgulho.
Estaciono com cuidado na garagem e caminho até a sala depois de trancar o portão.
Encontro vovó deitada no sofá vendo uma das suas novelas mexicanas. Desde que tenho memória, ela sempre gostou dessas novelas. Passava as tardes inteiras vendo cada uma delas, enquanto eu saía pela cidade com vovô e Mabel.
Era incrível como ele sempre sabia exatamente o horário em que elas terminavam, então passávamos em uma padaria para comprar alguns pãezinhos e quitutes e chegar bem a tempo para tomar um café da tarde.
A mulher magra e com apenas algumas rugas no rosto que evidenciam a sua idade, se senta ao notar minha presença e abre um enorme sorriso, como sempre.
— Como foi a aula hoje, meu amor? -Vovó indaga em um bocejo.
— Hum... normal. -Sussurro.
Me sento ao seu lado com cautela e seu olhar recai imediatamente no meu pulso decorado com uma tatuagem novinha em folha, ainda coberta pelo plástico filme.
Engulo em seco morrendo de medo da sua reação, no entanto, quando ela deixa escapar uma risada sonora e nega com a cabeça, o alívio me invade e solto a respiração pouco a pouco.
— Finalmente está traçando seu próprio destino. -Seus lábios pronunciam de maneira solene.
— Não está brava comigo?
Ela arregala os olhos e franze o cenho ao mesmo tempo.
— Por que eu estaria?
— Não sei... meus pais sempre me proibiram de fazer qualquer coisa em mim mesma, tatuagens, piercings...
— Querida, você é quem deve decidir o que faz ou deixa de fazer com o seu corpo. Além do mais, eu seria muito hipócrita se achasse ruim. -De repente vovó levanta a barra da blusa e revela uma enorme tatuagem na cintura.
A imagem do meu avô sorrindo me faz suspirar de saudades. Os traços são tão reais que parece que ele está me olhando diretamente. Quase como se ele estivesse respirando.
Derramo uma lágrima ao lembrar de como ele era carinhoso comigo e como sempre me entendia e me escutava sem me julgar, por mais que parecesse algo bobo.
— Caramba vovó, como eu nunca percebi isso?
— Talvez seja porque eu quase não a mostrei a ninguém.
Contorço os lábios em um sorriso genuíno e abraço seus ombros magros.
— Só para que saiba, ela é muito linda, eu amei.
— Não é? Dessa maneira, Sebastian sempre estará em mim, na minha pele e no meu coração.
— Isso é muito fofo, vó.
Ela respira fundo e aperta os olhos para se recuperar antes de continuar falando.
— Seu avô foi a melhor coisa que me aconteceu, querida. -Ela olha para um lugar qualquer como se estivesse revivendo cada memória. — Sabe, no começo nós nos odiávamos. Eu não queria saber de nenhum homem na minha vida, mas ele ao parecer tinha outros planos. -Ela sorri com carinho.
Imediatamente a imagem de certo moreno me vem à mente e balanço a cabeça com força. Não confunda as coisas, Ava Rice.
— No final das contas, acabei entendendo que esse jovem mal encarado e rebelde seria o amor da minha vida. E não me arrependo de tê-lo dado uma chance. -Aperto seus dedos em um apoio silencioso.
Os dois tinham o amor mais puro que já conheci, nem mesmo o tempo conseguiu apagar a faísca entre eles. E quando vovô partiu, foi como se tivesse levado uma parte da esposa com ele.
Aquele brilho que Elizabeth Dalton tinha apenas quando via o marido.
O sorriso espontâneo que se formava no seu rosto sem ela nem perceber, a alegria com a que fazia tudo por ele, assim como ele por ela.
Eram duas almas destinadas a viver juntas, mas não a morrer juntas.
Coloco a mochila em cima da mesinha de centro e o potinho de creme que Jhonatan me deu sai rolando pelo vidro fazendo um barulho engraçado.
Vovó levanta uma sobrancelha e encara o creme com curiosidade.
— O que é isso? -Ela pergunta pegando o objeto e segurando-o nas mãos enrugadas.
— Hum, é uma pomada cicatrizante para a tatuagem. -Explico baixinho.
— Oh, se soubesse que iria passar na farmácia, teria pedido para comprar alguns remédios que preciso.
— Na verdade eu não fui à farmácia.
— Então como conseguiu isso?
Olho para todos os lados, menos para ela. Só de lembrar como o garoto simplesmente me deu a pomada e saiu, meu sangue ferve e não sei se é de irritação ou...
— Ava?
— E-eu ganhei ela. -Digo a primeira coisa que me ocorre.
— De quem?
— Um... amigo. -Minto.
Jhonatan e eu definitivamente não somos amigos, mas eu tenho certeza de que perderia umas boas horas tentando explicar o que de fato somos, até porque nem eu sei bem como classificar essa nossa situação.
Vovó abre um sorriso de orelha a orelha e se levanta em um pulo com uma agilidade surpreendente para uma senhora de setenta e poucos anos.
— Eu sabia! -Ela grita batendo palmas. — Sabia que você já tinha conhecido algum garoto! Trocaram números de telefone? Ele te chamou para sair? -De repente sou inundada por uma enxurrada de perguntas e me arrependo por não ter pensado em algo decente para lhe dizer.
— Vó, Jhonatan está na minha sala, mal conversamos. -Resmungo.
Sua língua faz um barulho estalado e recebo aquele típico olhar de quem não está nada convencida com o meu teatro.
— Tudo bem, querida. -Ela sorri novamente, mas dessa vez, seu olhar determinado não me passa despercebido. — Eu vou fazer algo para jantar, o que acha de uma lasanha? -Pergunta enigmática e a observo desconfiada.
— Acho que está ótimo. E o que quer que esteja planejando, pode ir parando por aí. -Dou a volta pelo sofá e abraço seu corpo por trás.
— Não estou planejando nada, Ava.
Respiro fundo sabendo que ela está mentindo descaradamente.
— Mas quando quiser, pode convidá-lo para jantar... -Continua e me afasto com os braços cruzados.
— Pode ter certeza de que isso não irá acontecer. -Murmuro indignada. — Irei tomar um banho e já volto para ajudar com o jantar.
Não espero que minha avó responda. Saio correndo até o meu quarto e vou direto para o banheiro.
Pelo visto, Beth Dalton colocou uma ideia na cabeça e não vai parar até conseguir o que quer.
Me lavo rapidamente com cuidado para não machucar a tatuagem e quando acabo de me secar, caminho até a minha cama e me sento ainda com a toalha enrolada no corpo.
Demoro alguns segundos para notar a pomada descansando despretensiosamente em cima da mesinha de cabeceira e sorrio sem me surpreender.
Não está tramando nada, não é mesmo vovó?
Pego o potinho na mão e o giro entre meus dedos observando cada detalhe e inevitavelmente lembrando do garoto que me fez trazê-lo para casa.
Será que eu deveria usá-lo? Ou será que o certo seria eu lhe devolver e pedir para ele nunca mais me dar nada, que eu não preciso da sua compaixão?
Penso na possível saída para esse dilema até que sinto uma comichão no punho como se fosse um sinal do universo.
Quer saber? Que se exploda.
Retiro o lacre de segurança do pote e abro a tampa com cuidado, como se de dentro dele fosse sair alguma cobra de mentira, como aqueles brinquedos de pegadinha.
No entanto, encontro nada mais do que um creme branco quase transparente com um cheiro suave e adocicado.
Deslizo a ponta do dedo dentro dele e levanto uma sobrancelha ao sentir a textura leve da pomada.
Passo um pouco em cima da tatuagem e o frescor repentino me faz soltar um suspiro aliviado.
O maldito tinha razão. Essa porcaria é muito boa.
Decido que mesmo tendo gostado do produto, vou fazer questão de comprar outro para lhe devolver.
Coloco o nome da marca no navegador do meu celular e dou de cara com vários resultados.
Quase engasgo ao ver o preço do potinho de cem gramas, que é o que ele me deu.
Caramba. Essa coisa é realmente cara.
A mais barata que encontrei, custa mais de trinta dólares.
Embora também venha de uma família super rica, aprendi a economizar em certas coisas sem saber que isso seria útil para mim em um futuro.
Se não tivesse guardado cada centavo mesada que recebia dos meus pais, agora estaria completamente ferrada. Pelo menos eles serviram para alguma coisa.
Anoto o endereço de onde vendem o mesmo produto para ir comprar quando estiver livre antes de vestir qualquer roupa e descer para a cozinha.
Vovó já está montando a lasanha quando chego e pede ajuda com as louças sujas em um murmuro estranho.
Ela está visivelmente mais tensa do que minutos atrás, o que me deixa levemente preocupada.
Seus dedos estrangulam a colher de pau enquanto mexe o molho com mais força do que o necessário.
— Se continuar apertando desse jeito, vai acabar quebrando-a. -Sussurro preocupada.
Vovó solta a colher em um suspiro e minhas suspeitas se confirmam.
Algo grave aconteceu para que seu humor mude dessa maneira tão drástica.
— Está tudo bem, vovó?
Engulo em seco com medo da resposta.
— Seus pais me ligaram. -Ela cospe em uma careta como se estivesse falando sobre o próprio diabo em pessoa.
Meus batimentos cardíacos se aceleram em questão de segundos e escuto um zunido na minha cabeça. Mas que droga!
Arrasto meu corpo até uma das cadeiras e meus olhos se enchem de lágrimas com medo de que eles tenham me encontrado.
— O-o quê eles disseram? -Pergunto em um fio de voz.
Estou tremendo e suando. Isso é o que acontece quando alguém te machuca de tal forma que você não pode sequer controlar suas próprias reações.
Vovó percebe minha angústia e segura o meu rosto com carinho. Um sorriso triste se forma nos seus lábios pintados com um batom vermelho sangue.
— Eles perguntaram se você estava comigo.
Merda. Merda. Merda.
— E o que respondeu? -A essa altura eu estou chorando desesperadamente e não me importo nem um pouco com isso. Se eles me encontrarem, eu terei que fugir de novo e não quero fazer isso.
— Eu disse que não te vejo a anos e que se souber de algo eu os avisarei imediatamente.
NOTA DO AUTOR
Helloooo amoresssss
É véspera de natal e eu não podia deixar vocês sem capítulo, não é mesmo?
Estou atolada de coisas pra fazer, mas acordei mais cedo só para postar!
Pq eu amo vcs hahaah
Espero que tenham gostado,
Não se esqueçam de votar e comentar!
E tenham todos um feliz natal, que o Papai Noel realize todos os seus desejos
(principalmente aqueles mais picantes 😎)
Amo vcs, 🥰
Bjinhossssss BF 🖤🖤🖤
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