Capítulo 03

"Ao menos por enquanto
Tento evitar decepções 
Ao menos por enquanto
Com um dedo de cada vez, eu viro as páginas"
-At least for now
Justin Bieber

passou uma semana desde que cheguei nessa cidade e até agora as coisas estão caminhando normalmente. Não tive notícias dele e muito menos da minha família, o que no momento, é um alívio. Não faço ideia de até quando meu paradeiro será desconhecido, mas espero que dure o tempo necessário para que eu possa desaparecer outra vez sem deixar rastros.

A faculdade resultou ser muito mais tranquila do que eu esperava. Bianca até me ajudou bastante me ensinando onde fica cada sala, o restaurante, banheiros, essas coisas. Ela também me convidou para ver um filme na sua casa no final de semana e embora tenha ficado receosa com a ideia, aceitei mesmo assim.

É difícil dizer não para essa garota.

Ainda mais quando ela parece uma modelo saída de uma capa de revista e te encara com aqueles olhos azuis penetrantes.

Aproveitei também para marcar um horário no estúdio de tatuagens, que depois de uma breve investigação, descobri ser um dos melhores da região.

Estou nervosa, mas ao mesmo tempo sinto que se não fizer isso, nunca saberei como é a sensação daquilo que me foi privado por tantos anos.

É algo que preciso fazer, como um ato de rebeldia e libertação do meu antigo eu.

Por falar em tatuagem, o garoto que falou comigo no primeiro dia simplesmente parece ter esquecido da minha existência.

Levamos várias matérias juntos e sempre que ele chega, vai direto para a sua cadeira com a cabeça erguida sem nem olhar para os lados, como se fosse dono do lugar. Sua postura é de quem sabe que tem um corpo e rosto atrativos e não tem medo de usar isso ao seu favor.

Ele sempre está com uma jaqueta de couro preta e das vezes que o vi sem ela, pude notar que seus braços são cobertos de desenhos de várias formas e cores que se perdem na manga da blusa de algodão que ele usa por baixo. O pescoço também ostenta algumas tatuagens e sem querer me pego curiosa para saber se o resto do seu corpo também está forrado pelas linhas quase perfeitas em um contraste com a pele bronzeada.

— Até mais tarde vovó! -Grito da sala e ela responde do quarto alguma frase que entendo por partes.

Vou direto para a faculdade e rezo para que a manhã passe rápido.

Dizer que estou ansiosa para fazer a tatuagem seria um eufemismo.

Não vejo a hora de ser liberada dessa aula para correr até o estúdio, mas para a minha infelicidade, o professor insiste em repetir pela décima vez um tema que todos estão de saco cheio e sem querer, abaixo a cabeça me apoiando no meu braço por cima da mesa e acabo pegando no sono.

Embora esteja dormindo melhor nos últimos dias, isso não significa que parei de ter pesadelos. Eles ainda me torturam de vez em quando e preciso respirar fundo para lembrar de onde estou e principalmente que estou a salvo.

Preciso lembrar também de marcar uma consulta com uma psicóloga.

Meus pais não me deixaram ir a uma quando eu morava com eles por medo do que seus amigos iriam pensar.

Porque é claro, eles jamais conseguiriam lidar com uma filha louca.

Idiotas.

Durmo em segundos sem nem me importar com o que irão pensar.

O cansaço mental na maioria das vezes é bem mais intenso do que o físico. Ele te esgota, te deixa sem vontade de fazer nada e te faz pensar que você não vale a pena o esforço.

— Ei, novata... -Alguém empurra meu ombro de leve e levanto a cabeça assustada.

Olho para todos os lados tentando me situar e dou de cara um par de olhos castanhos fixados em mim.

— Mas o que...

— Se não acordar, vai acabar sendo expulsa da sala. O professor odeia que façam isso. -O garoto sussurra com aquele maldito sorrisinho no rosto. Sua voz rouca ridiculamente sensual desliza pelos meus ouvidos e é como se eu ainda estivesse sonhando.

— Não estava dormindo. -Minto para tratar de manter minha dignidade intacta.

— Arram... estava até babando. -Ele aponta para o meu braço com uma sobrancelha levantada.

— Eu não...! Quer saber, vá cuidar da sua vida. -Resmungo nervosa.

Ele chacoalha a cabeça para um lado e para o outro sem deixar de sorrir e se endireita na cadeira quase ao lado da minha.

Caramba, não tinha notado que ele estava tão perto.

Me viro outra vez para a frente e tento me concentrar no que o bendito professor está falando, mas é praticamente impossível quando estou tão consciente da presença desse idiota do meu lado.

Desde que ele falou comigo da primeira vez que nos vimos, eu não fui com a sua cara. Não sei se é porque estou desiludida com toda a espécie masculina ou se é porque ele tem cara de ser daqueles garotos que te bajulam até conseguirem o que querem e uma vez que o fazem, esquecem da sua existência como se você não passasse de mais um nome na sua lista de conquistas.

Se ele estiver pensando que vai conseguir pegar a garota nova, está muito enganado.

— Muito bem, nos vemos na próxima aula. -O professor suspira com pouca vontade. — E por favor, cheguem no horário ou não entrarão. -Ele olha diretamente para o idiota tatuado enquanto fala. O garoto por sua vez, cai na risada antes de se levantar e jogar a mochila no ombro de qualquer jeito.

Espero que ele saia da sala para então juntar meus materiais e praticamente escapar até a Mabel.

Não queria correr o risco de encontrar Bianca pelo caminho e acabar me atrasando.

Quase não consegui uma hora livre na Bad Blood e fiquei sabendo que os minutos lá são bem disputados, portanto não posso me dar o luxo de chegar tarde.

Apesar de o trânsito a essa hora estar caótico por conta das pessoas indo para casa almoçar, consigo passar pela porta do estúdio minutos antes da minha hora.

Uma garota loira e muito bonita me cumprimenta com um enorme sorriso nos lábios vermelhos e vou até o balcão onde ela se encontra para confirmar meus dados, idade e toda essa baboseira que pedem. Quando está tudo revisado, ela me pede para esperar alguns minutos que o tal Nick está quase terminando de tatuar outro cliente.

Enquanto espero, envio uma mensagem para Lana dizendo onde me encontro e o que estou prestes a fazer e ela me responde com vários áudios de apoio e muitos emojis fofinhos.

Deus, como sinto saudades da minha prima.

Depois de quase dez minutos, um homem barbudo sai da sala sorrindo e me lança um olhar animado antes de desaparecer porta afora.

Outros dez minutos se passam e finalmente escuto meu nome sendo chamado por uma voz feminina.

Muito bem, chegou a minha vez.

— Pode se sentar aqui. -Uma garota morena e muito bonita aponta para a cadeira preta bem parecida com as que os dentistas usam e faço o que ela pede sem pestanejar.

Meu coração bate tão rápido que quase não consigo respirar direito e ela parece perceber que estou muito nervosa.

— Ei, vai ficar tudo bem, ok? Não precisa ter medo. Qualquer coisa é só você falar comigo, me chamo Olívia, por certo. -Balanço a cabeça apenas para não parecer uma boba. — Agora me conte o que quer tatuar para que possamos ver algo bem bonito.

No caminho para o estúdio, eu pensei em vários desenhos que representassem o que estou sentindo e cheguei à conclusão de que queria uma flor de lótus.

Alguma vez li que elas representam a resiliência, a força para começar de novo seja onde for, em um lago ou no lodo.

— Q-quero uma flor de lótus. -Digo baixinho e ela concorda solene.

— Uma ótima escolha. Tem algum significado especial para você?

A pergunta me pega de surpresa, mas estou tão nervosa que de repente começo a contar um resumo dos motivos de ter optado por esse desenho específico, omitindo as partes mais obscuras, é claro.

Enquanto converso com a morena com o corpo quase todo coberto de tatuagens, o tatuador imprime a imagem que lhe indiquei em um papel, passa um gel meio pegajoso nele e o coloca no meu pulso para transferir o delineado do desenho da minha pele.

Escuto o barulhinho da máquina funcionando e ele me avisa que vai começar a fazer a tatuagem para que eu não me assuste.

O cara é enorme, musculoso e todo tatuado, mas por incrível que pareça, seu toque é delicado e ele passa as pequenas agulhas na minha pele com tanto cuidado e concentração que quase não sinto nada.

Ele é muito bom no que faz pelo jeito, mas mesmo assim, não me atrevo a olhar para o que ele está fazendo. Por um lado não quero ver o sangue que escorre ao ser perfurada e por outro lado, acho que é mais emocionante ver o desenho só quando ele estiver pronto. Uma surpresa agradável para mim mesma.

— Espero que esteja tudo bem... -Olívia diz séria depois de me escutar por quase meia hora e faço um sinal com a mão para restar importância ao assunto .

— Não precisa se preocupar, como disse, tudo de mal ficou para trás. Mas obrigada mesmo assim.

A morena afirma com a cabeça ao mesmo tempo em que Nick se afasta e avisa que já acabou o seu trabalho.

— Caramba! Nem percebi. Valeu por me distrair, Olívia. -Sorrio animada e aliviada por ter acabado.

Observo minha nova tatuagem com os olhos esbugalhados.

Ela ficou perfeita.

Exatamente do jeito que eu queria.

Escuto atentamente as recomendações sobre como devo cuidar dela e anoto os nomes dos cremes que Nick me indica para passar em cima e facilitar a cicatrização.

Me despeço dos dois já com vontade de voltar para mais uma sessão.

Do lado de fora, me sento em cima da moto e encaro novamente o desenho no meu pulso ainda sem acreditar no que acabei de fazer.

Me sinto culpada como se estivesse fazendo algo errado, mas ao mesmo tempo tento me convencer de que não há nada de mau nisso.

É meu corpo, portanto são minhas decisões.

Dou partida na moto e volto para a faculdade já que tenho mais algumas aulas antes do dia acabar.

Não consigo parar de olhar para o meu braço e solto uma risadinha percebendo que provavelmente pareço uma maluca.

Depois de estacionar no lugar de sempre, vou direto para a sala onde teremos a próxima aula e me sento na última cadeira como de costume tomando cuidado para não esbarrar em nada já que a ferida está recente.

Defino um alarme para passar em uma farmácia depois da aula para comprar tudo o que me indicaram.

Não quero que a ferida acabe infeccionando e deformando o desenho, portanto pretendo cuidar dela tal qual me disseram para fazer.

Quero só ver o que vovó dirá quando lhe mostrar a tatuagem. Não tenho medo da sua reação, sei que ela vai gostar, porém tenho quase certeza de que será engraçado.

Ainda bem que fui inteligente o bastante para escolher o braço que menos uso, então por enquanto não preciso me preocupar com isso.

Anoto tudo o que o professor fala durante as horas torturantes da sua aula. Estou tão distraída com tudo o que aconteceu hoje, que demoro alguns minutos para perceber que o idiota tatuado está sentado bem na minha frente, me encarando exatamente da mesma maneira que fez das outras vezes.

— Qual é, cara? Perdeu algo na minha testa por acaso? -Resmungo acirrada.

Isso está começando a ficar irritante.

— Você é estressadinha assim sempre? -Ele pergunta sem nem se afetar com minha rudez.

— Só com pessoas esquisitas que ficam me encarando sem um motivo aparente.

Guardo meus materiais sem pressa para ver se ele pega a deixa e vaza, mas ele continua lá me olhando.

— E quem te disse que não tenho nenhum motivo?



NOTA DO AUTOR

Sextouuuuuuuuuuu pessoal!
E como eu sou mto boazinha com vcs,
resolvi postar cap hoje pra já entrarmos no 

clima do natal! 
Tenham um ótimo final de semana.
Espero que tenham gostado, 
Não se esqueçam de votar e comentar

Amo vcs 🥰
Bjinhosssss 🖤🖤🖤

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