Capítulo 01

"Porque eu não preciso do seu amor, não preciso do seu dinheiro
Eu não quero sua merda estúpida, você pode pegá-la de volta
Você fica dizendo que eu sou louco para não te aceitar de volta
Mas se isso me deixa louco, você é um psicopata"
-Psychopath
Charlotte Lawrence Feat. Nina Nesbitt & Sasha Sloan

Tem certeza que quer fazer isso? -Lana pergunta pela milésima vez.

Estamos na rodoviária, mais especificamente no guichê de uma das várias empresas de transporte.

Entrego o dinheiro para a atendente e ela me passa uma passagem só de ida para bem longe daqui. Confirmo que meus dados estejam corretos antes de me afastar.

— Não tenho outra saída, prima. É isso ou continuar vivendo naquele inferno. -Respiro fundo. — Não consigo mais, eu... droga, me desculpe. -Seco os olhos com um pedaço de papel. — Ele é quem deveria fugir, não eu, porém infelizmente a realidade é uma merda.

A garota cuja semelhança comigo é curiosamente reconfortante me encara com os olhos vidrados assim como os meus e seus braços envolvem meu corpo em um abraço apertado. Lana é a única pessoa aqui que confio mais do que tudo e sei que jamais vai me entregar.

— Sabe que eu acredito em você, não é mesmo? -Balanço a cabeça em concordância. — Sempre vou estar aqui para você, irmã. Não importa o que aconteça. - Ela promete em um choramingo e acaricio seus cabelos castanhos um pouco mais claros do que os meus com os dedos trêmulos.

— Eu sei, Lana. Eu sei... -Meu peito se aperta com a saudade dela mesmo que ainda não tenha partido.

Vou sentir falta das nossas noites acordadas vendo as estrelas no pátio da sua casa enquanto bebíamos litros de refrigerante e comíamos porcarias sem pensar nas consequências.

E de como sua companhia era suficiente para me fazer esquecer de todos os demônios que me atormentavam sem parar. Como seu pai, meu tio, estava sempre fora por conta do trabalho, eu aproveitava para dormir na sua casa com a desculpa de que ela não deveria ficar sozinha quando na verdade quem não queria ficar sozinha com minha própria família era eu.

— Te amo, prima. -Nos abraçamos uma última vez bem a tempo de escutarmos a chamada para a partida do meu ônibus.

Te amo, prima. -Respondo com a voz embargada. — Obrigada por tudo, te aviso quando chegar e por favor, se alguém te perguntar algo, diga que não faz ideia de onde estou e que não me comunico com você há dias. -Reitero nervosa.

Só de pensar na possibilidade de ser encontrada por ele outra vez, meu corpo inteiro se arrepia e sinto um sabor amargo na boca que me faz querer vomitar todo o conteúdo do meu estômago.

— Fique tranquila, não penso dirigir a palavra para esses idiotas. Se for preciso, ligarei até mesmo para a polícia. -Sorrio com a ideia. — Boa viagem, Ava. Que seu coração se cure e sua alma finalmente seja livre. -Minha prima faz um sinal na minha testa e fecho os olhos absorvendo toda a sua energia positiva.

Lana sempre foi assim.

Desde pequena ela gostou de tudo o que está relacionado com a natureza e afirma que nossa vida gira em torno das energias do universo.

Por um lado acho isso fofo, mas por outro lado, meu coração quebrado já não acredita mais nesse tipo de coisas como alguma vez o fiz.

Estou fragmentada em tantos pedaços, que não sei se algum dia serei capaz de juntar todas as peças.

— Até qualquer dia, Lana. -Balanço a mão ao mesmo tempo em que entro no ônibus.

— Até qualquer dia, Ava! -Ela grita pela janela correndo atrás do veículo até que não consegue mais alcançá-lo.

Me encosto na poltrona e somente no momento em que as luzes se apagam e o silêncio ensurdecedor invade o interior do ônibus, eu me permito chorar sem me preocupar com o que possam pensar de mim.

Encosto a cabeça no vidro frio e abraço minha mochila com o que consegui pegar de roupas e meus documentos enquanto escapava rezando para não ser vista.

Demorei muito tempo para aceitar que a culpa não era minha.

Me fizeram duvidar até de mim mesma, me fizeram acreditar que eu estava errada, que tudo foi produto da minha imaginação.

Eu sabia que algo estava errado. Que todas as noites mal dormidas, todos os pesadelos com ele só podiam significar uma coisa.

Eu era a vítima.

Eu sou a vítima.

E como qualquer vítima que sabe que provavelmente não vão lhe escutar ou que se o fizerem, ele vai acabar ficando em liberdade, fiz o único que me restou: eu fugi.

— Senhorita, chegamos. Deve descer do ônibus agora. -Abro os olhos assustada ao sentir um leve aperto no meu ombro e me apego ao banco por alguns segundos acreditando que tudo não passou de um sonho e outra vez estou sob o seu domínio.

— Oh, me desculpe se a assustei, é que essa é a última parada... -O homem vestido com um uniforme azul se afasta com cuidado ao perceber o terror no meu olhar e eventualmente lembro de onde estou e principalmente o porquê estou aqui.

— Hã, e-eu já vou descer. Me deixe só juntar minhas coisas. -Junto a pequena coberta jogada na poltrona do lado e meu celular que descansava entre as minhas pernas e enfio tudo dentro da mochila esmagando o resto das roupas que levo dentro.

Escapo do olhar atento do motorista que não parece ter mais do que quarenta anos, pulo para fora saltando de dois em dois os degraus e respirando fundo ao pisar no chão firme.

Finalmente cheguei.

Finalmente estou a salvo.

Giro no meu próprio eixo tentando lembrar para que lado estava a saída.

Faz tanto tempo que não venho a essa cidade que tudo parece ser novo para mim.

Vou até um quiosque e compro um chip jogando o meu antigo no lixo ali mesmo. Coloco-o no meu celular e envio uma mensagem para Lana, como prometi.

Também ligo para minha avó materna e ela me ordena ficar no mesmo lugar e esperá-la, que virá me buscar.

Além de Lana, é claro, vovó foi a única a acreditar em mim e quando soube o que estava acontecendo, exigiu que eu viesse morar com ela.

Então sem que meus pais soubessem, pedi a transferência de faculdade e desembolsei uma boa quantidade de dinheiro para que tudo continuasse no sigilo. Por sorte eu tinha uma poupança que guardei durante todos esses anos da mesada que recebia.

Minha família tem dinheiro. E muito. Só que isso não os impede de serem uns filhos da puta.

Esse é um dos motivos pelos quais minha avó decidiu se afastar da própria filha.

— Oh, aqui está o meu bebê! -Uma mulher de pouco mais de setenta anos aparece na minha frente e imediatamente meus olhos se enchem de lágrimas.

— Vovó... -Corro até os seus braços enrugados e ela me aperta contra si.

— Como está? Eles te machucaram? Sabem que você está aqui?

Enquanto me enche de perguntas, seus dedos suaves percorrem a minha bochecha como se quisesse se certificar de que estou inteira.

Se ela soubesse que é todo o contrário...

— Estou bem, vó. -Minto. — Podemos ir? Estou cansada, gostaria de dormir um pouco.

Seu olhar astuto me analisa por alguns segundos, mas ela decide não insistir e caminhamos até o seu carro estacionado de qualquer jeito em um dos lugares vazios do estacionamento.

Não demoramos a pegar a avenida para a sua casa e no caminho avisto um estúdio de tatuagens aberto.

Anoto o nome e o número do lugar no meu celular para voltar depois. Prometi a mim mesma que eu seria uma nova pessoa e nada melhor do que começar fazendo algo que sempre tive vontade, mas que nunca me permitiram.

Meus pais diziam que tatuagens eram coisa de marginais e por um bom tempo eu aceitei isso como o certo. Até conhecer pessoas maravilhosas que tinham praticamente o corpo inteiro decorado com desenhos de várias cores e tamanhos e confirmar que tudo o que me fizeram acreditar, não passava de preconceito disfarçado de opinião.

Agora que finalmente posso decidir por mim mesma, a primeira coisa que farei, será um desenho que expresse o que estou sentindo nesse momento. Paz.

— Chegamos, amor. -Minha avó sussurra emocionada e retiro o cinto de segurança respirando profundamente como se um peso estivesse saindo de cima de meu peito junto com ele.

— Chegamos... -Murmuro.

— Preparada para ser você mesma?

Como nunca estive em toda a minha vida

NOTA DO AUTOR
Hellooo amores, quarta feira e estamos aqui com capítulo 

novinho em folha pra vcs! 
Antes de continuar, eu vou deixar avisado que

como vcs já puderam perceber, Ava está fugindo de algo 
que lhe aconteceu, então teremos avisos de gatilho mais pra frente;
Eu deveria ter colocado no começo, mas estou tão ocupada que 

esqueci kkkkkkkkkkkkk e peço um milhão de desculpas por isso!
Mas não precisam se preocupar, que como sabem eu nunca
me explano em temas complexos e delicados,
mas mesmo assim vou avisar qdo chegar a hora. 

É isso, espero que tenham gostado.
Não se esqueçam de votar e comentar! 

Amo vcs 🥰
Bjinhosssss BF 🖤🖤🖤

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