8 - PRIMEIRA A LUTAR

𝗙𝗔𝗦𝗘 𝟭 — 𝗗𝗜𝗩𝗘𝗥𝗚𝗘𝗡𝗧𝗘
𝙇𝙤𝙘𝙖𝙡𝙞𝙯𝙖𝙘̧𝙖̃𝙤: 𝘈𝘶𝘥𝘢́𝘤𝘪𝘢

Soco. Soco. Defende.

Repete.

— O que acha de margaridas? Muito cafona? — Perguntei para ela, rolando a tela do tablet. — É cafona.

— O que é que você está fazendo afinal? — perguntou Christina.

Ela e Beatrice treinavam movimentos de luta, ainda fracos e desequilibrados.

Não havia visto Eric ainda — talvez seja sorte. Cheguei tarde hoje, mas bem a tempo do treinamento de depois do almoço começar.

Quatro colocou os iniciados para finalmente começarem a treinar luta corpo a corpo. Até agora, poucos estava indo bem na missão.

— Ah, é para um tipo de formatura dos iniciados da Erudição. E, bom, eu estou ajudando com a decoração.

— Quantos trabalhos você tem?

— Cientista, diplomática, prodígio, sucessora da líder, iniciado, e agora decoradora.

— É brincadeira, não é? — disse Beatrice, incrédula. Ela estava mais solta comigo, ao que parecia.

— Tá bom, eu não sou oficialmente decoradora, só quero deixar bem claro minhas preferências para uma cerimônia descente, digna de Juliett Syrus.

— Eu não me referia a isso.

— Juliett! — exclamou Quatro, me chamando, ele perto de um dos ringues. — Vocês duas, alguém mandou parar? — gritou para Christina e Beatrice.

Revirei os olhos, dando as costas para minhas amigas — eu poderia usar termo? Caminhei até Quatro, calmamente. Ele estava de braços cruzados, parecendo entediado com o trabalho.

— Sim, Quatro?

— Pare de conversar com os meus iniciados.

— Você manda em mim por acaso?

— Eu mando nos meus iniciados, e você está atrapalhando o treinamento delas.

— Não é como se pudesse ficar pior — reclamei. — Agora, me diga, tapete de veludo azul claro ou escuro?

— Para que isso? — perguntou ele, fazendo uma careta.

— Quero deixar minha opinião bem clara para a "formatura" dos iniciados da Erudição — falei. — Então, azul claro ou escuro?

— Eu vou saber, Juliett? O claro?

— Não! Nunca! — quase gritei, chamando a atenção de alguns iniciados. — Meu vestido é azul claro, Por acaso você quer que eu vire parte do tapete?

Quatro congelou, não parecendo entender meu raciocínio.

— Então por que você perguntou?

— Você não é mulher! Só mulheres entendem o quanto isso é importante, seu animal! — bati em seu braço, nervosa.

— Caramba! Isso foi necessário?

— É necessário que você desencalhe logo!

Quatro fez cara de indignado, não querendo acreditar no que eu disse.

— Eu conheço pretendentes...

Ele iria me responder se não fossemos interrompidos por Eric entrando no galpão. Ele dava passos largos e confiantes, demonstrando a todos ali que ele era o líder, que ele estava acima de todos.

O blazer escuro com retalhos cinzas me lembrou dos tempos juntos na Erudição quando éramos mais novos.

— Prontos para uma luta de verdade?

— Nem de longe — respondeu Quatro.

A postura dos dois era semelhante — cabeças erguidas, estabilizados no chão e braços cruzados. Foi então que vi a parte de trás do pescoço de Quatro, um pedaço do que parecia ser uma tatuagem despojava dali.

Fiz uma nota mental para perguntar sobre ela mais tarde.

— Quer escolher?

— Escolher o quê? — perguntei, bloqueando a tela.

— O primeiro a lutar — respondeu.

— Eu prefiro evitar o rancor das pessoas contra mim, então eu passo. Escolha você.

— Tá bom. Primeira a pular!

Os iniciados pararam o que estavam fazendo, Beatrice dando um passo a frente, temendo Eric.

— Última a pular! Para o ringue!

Me xinguei, sabia que vinha algo desse tipo.

Beatrice me encarou assustada, eu negando ter algo relacionado a isso. Christina a incentivou a ir, caso contrário eu achava que ela nunca conseguisse subir sozinha no ringue.

— Até quando é para lutar? — Perguntou a última a pular, acho que seu nome era Molly.

— Até o outro apagar.

— Ou desistir — disse Quatro, interrompendo Eric.

— Isso era antes — retrucou Eric, não olhando para Quatro. — Novas regras: ninguém desiste.

— Quer matar uma iniciada de primeira?

— Um homem nunca desiste — respondeu, monótono.

— Sorte a sua que essas não eram as regras quando lutamos.

Eric o ignorou, mas vi sua mandíbula trincar de raiva.

— Isso lhe dará pontos, então lutem.

Todos nos reunimos envolta do ringue para testemunhar a primeira luta.

Beatrice e Molly se colocaram em posição, passando a circularem pela pequena área, sem realmente se atacarem.

Molly andou para frente, Beatrice, com medo, recuou até ter decido do ringue. Os olhares dirigidos por seus colegas variavam de "eu sabia que ela desistiria" e "sobe lá e derruba aquele tanque".

— É para hoje — reclamou Eric, com tédio.

Então Beatrice tentou mais uma vez.

Molly avançou com os punhos cerrados. Pronta para acerta a adversária, ela atacou. Beatrice desviou a tempo.

Ela era rápida, sua pequena estatura a ajudava. Enquanto Molly era mais encorpada, seus movimentos eram mais lerdos, porém mais fortes.

Beatrice aparentemente não tinha percebido isso.

Ela achou uma brecha e tentou socar Molly no quadril — péssima escolha. Molly era bem maior que ela, pegando a iniciado pelos ombros e a prendendo pelos braços, podendo então distribuir socos consecutivos em seu estômago.

Beatrice parecia prestes a apagar.

Ela olhou para Quatro parado ao meu lado, seus olhos passearam entre nós. Seu nariz sangrava e eu já via marcas futuras de hematomas.

— Não preciso ver isso — sussurrou Quatro para mim, virando-se para sair.

Foi a brecha perfeita para Molly a jogar do chão e Beatrice se desestabilizar.

— Eric, acaba com isso — pedi, esperando que ele encerrasse a luta injusta.

Molly o encarou, sabendo também que era ela quem havia vencido.

— Você ouviu a moça.

O punho de Molly se chocou contra o nariz e lábios de Beatrice, abrindo-os e deixando o sangue escorrer enquanto a consciência se esvaia dela.

— Que droga! — exclamei baixo para só ele ouvir. — Não era desse jeito! Todos já sabiam que ela não venceria agora!

— Significa que ela não pertence a Audácia — disse ele, dando de ombros.

— Você é um idiota, Eric Coulter. Ainda bem que largou a Erudição, lá nunca seria seu lugar!

Se as palavras o feriram, ele não demonstrou, mas, quando respondeu, senti sua voz tremer.

— Eu sei, Juliett.

Passei por ele, andando até onde Beatrice começava a recobrar a consciência. Christina já estava ao seu lado, ajudando a amiga. Al e Will se aproximavam também.

— Beatrice? — chamei, sacudindo seu ombro de leve. — Consegue me ouvir?

Ela murmurou algo parecido com um sim.

Eric mandou os outros iniciados voltarem a treinar, ele puxando um tablet do bolso e pesquisando por algo. Senti seu olhar, como se me perguntasse o que eu ainda estava fazendo ali.

— Al, você pode pegar gelo ou um pano úmido? — pedi.

— Claro — disse ele, saindo para o cooler com compressas.

— Você está bem? — perguntou Christina, ajudando Will a levantar a amiga até um banco.

— Acho que sim.

Agradeci quando Will me trouxe a compressa gelada e um pano. Enrolei o tecido envolta da embalagem congelada, entregando-a a Beatrice que tratou logo de limpar o sangue que escorria.

— Sente algo estranho? Tontura, ânsia? Sente que vai desmaiar novamente? — perguntei, guardando o tablet na minha bolsa que estava ao seu lado.

— Minha cabeça doí — respondeu ela.

— Quero ter certeza de que foi só um impacto de nada ou uma concussão, tudo bem? Podemos ir agora para a ala médica da Erudição...

— Não precisa — disse ela, o sangue ainda não parando.

— Se tiver atingindo o lugar certo, você pode ficar cega. E eu não estou sendo pessimista.

— Juntem aqui! — exclamou Eric para todos.

Beatrice se levantou, com dificuldade por conta da tontura.

Todos os iniciados seguiram para onde Eric estava, em frente a um painel.

— Esse é o ranking de agora — disse ele, os nomes começando a surgir um por um. — Quem está abaixo da linha vermelha, é melhor começar a se esforçar, caso contrário será cortado no final do primeiro estágio.

Todos foram dispensados para o almoço.

— Então? — comecei. — Quer arriscar ficar cega?

— Podemos não ir para a Audácia?

— Posso tentar me virar com a enfermaria daqui.

Will e Christina ajudaram Beatrice a chegar até a enfermaria. Ainda bem que eles sabiam o caminho, se fosse por mim talvez nunca chegaríamos lá.

Eles se despediram e saíram para almoçar, Christina dizendo que nos traria algo.

— Cadê o médico? — perguntou Beatrice, se sentando na maca.

— Não tem médico — respondi. — As únicas "enfermeiras" daqui são voluntariadas da Abnegação, mas não sei onde estão. Elas tratam coisas simples, sabe? Como não tem o estudo complexo da anatomia, geralmente só dão pontos e aplicam remédios. Quando o quadro é grave, o paciente é encaminhado para a sede médica da Erudição.

— Entendi.

— Segue meu dedo, quero ver se não tem nenhuma lesão.

Conforme fui testando seus reflexos, não achei nada de alarmante. Achei analgésicos e pomada cicatrizante em um dos armários.

— Sem os exames certos, não consigo afirmar se você está realmente bem, mas alguns analgésicos devem te ajudas. Tome de doze em doze horas e passe essa pomada nos cortes. Eles devem estar cicatrizados em uma ou duas semanas no máximo.

— Obrigada — disse ela. — Por que está me ajudando?

— Você fica na defensiva rápido, hein? — exclamei. — Eu posso ser inteligente, com um futuro destinado a política e essas coisas chatas, mas eu sempre quis seguir carreira na área humana. Descobrir curas, fazer cirurgias que ninguém fez antes. Eu queria salvar vidas, mas eu só faço o contrário. Não importa o quê.

— O que quer dizer?

A voz de Beatrice me despertou de um transe que nem percebi ter entrado.

— Nada importante — respondi, plantando um sorriso falso em meus lábios. — Eu te admiro, sabia?

— Por quê? Eu sou só uma garota da Abnegação, Juliett.

— Mas você teve coragem em ignorar o resultado do seu teste de aptidão. Deve-se conhecer muito a si mesma para isso.

— Viu meu teste? — perguntou, nervosa.

— É claro que vi.

Quando modifico os componentes da minha criação, tive que assistir a todos os testes cujos resultados foram postos manualmente. Eram esses que deveríamos desconfiar.

Meus pesadelos eram assombrados por visões do que poderia ser o futuro. Da desgraça que eu criei e seria libertada. Temi o que aconteceria se o plano falhasse. E com tantas falhas, não importava o quando eu falava, ninguém me ouviu.

Eruditos eram movidos pela ganância e poder, nascidos com o dom da manipulação. Futuros tão brilhantes desperdiçados em almas corrompidas.

Eu costumava me perguntar cada vez mais se eu não deveria deletar o programa.

— Beatrice, tome cuidado com quem você desafia.

— Está falando da Jeanine? — perguntou ela. Sua mente provavelmente deveria estar trabalhando para descobrir se eu sabia seu segredo ou não. — Ouvi dizer que a Erudição quer derrubar a Abnegação.

— Se ela está, eu não sei se conseguiria, falando sinceramente. Mas há várias falhas no sistema atual. Alguém precisa corrigi-las. — Me levantei da maca ao lado dela, pegando minha bolsa depositada ali. — Eu vou ver onde está a Christina e a comida que ela prometeu, está bem? Espero não me perder...

— Juliett, no me teste, eu... — Beatrice não terminou. Tão despreparada, coitada. Ela não sabe que não deve revelar indiretamente informações não importantes.

— Eu acho que você está segura — respondi.

Quando sai da enfermaria, me certificando de estar longe o bastante para ela não me ouvir, eu soltei o ar que nem percebi que prendia.

— Segura por enquanto.


𝐍𝐎𝐓𝐀𝐒 𝐅𝐈𝐍𝐀𝐈𝐒:

Oi, gente. Como vocês estão?
Então, eu comecei as aulas online, né? Sabe o que já fizeram? Os alunos hackearam o programa e agora a diretoria está aparecendo do nada nas nossas aulas! Ah, temos os nossos professores velhinhos (mas que amamos) não conseguindo permitir que os alunos entrem nas aulas. Hahaha. Aí as vezes ficamos sem aula, mas fazer o quê?

Estão gostando da história?
Agora já arrumei um tempinho para escrever. Sabiam que eu toco piano?
Obrigada pelos votos e comentários.

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[NÃO REVISADO]

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