13 - JOGOS DE GUERRA

𝗙𝗔𝗦𝗘 𝟭 — 𝗗𝗜𝗩𝗘𝗥𝗚𝗘𝗡𝗧𝗘
𝙇𝙤𝙘𝙖𝙡𝙞𝙯𝙖𝙘̧𝙖̃𝙤: 𝘈𝘶𝘥𝘢́𝘤𝘪𝘢

Estar abordo daquele trem nunca foi algo que já imaginei fazer. Ele sempre estava em alta velocidade, nunca pensei que conseguiria subir nele.

Mas felizmente descobri que ele parava em um certo ponto — na saída dos fundos da Audácia. E foi assim que consegui chegar onde eu estava agora.

O dia dos jogos de guerra havia finalmente chegado. E com isso, Eric havia me convencido a vir, mesmo que fosse somente para assistir.

Enquanto Beatrice estava apagada, Cristina foi comigo atrás de roupas apropriadas para o que faríamos. De acordo com ela, eu não poderia manter a classe e brigar de salto alto. Após horas de discussão, finalmente cedi, aceitando o que Cristina me dera.

Por baixo do pesado colete azul escuro, eu vestia uma blusa de mangas compridas preta, a calça de couro sendo da mesma cor. Ainda usava coturnos envernizados. Eu me sentia parte da Audácia, mesmo que fosse mentira.

Desde a luta de Beatrice com Peter algumas horas atrás, Eric havia tomado a decisão de tirar a garota da Audácia e torná-la uma sem-facção. Enquanto eu encarava a porta aberta do trem, eu ficava imaginando quando ela apareceria correndo, provando não ser fraca como todos pensavam.

— Sabia que não achei que viria — sussurrou Eric, atrás de mim. — Me surpreendeu, Juliett.

— Eu não perderia a chance de atirar em você — respondi, irônica.

— Não teria coragem — afirmou. — E nem poderia. Você estará comigo a noite toda. Quero ficar de olho em você para que não se machuque.

— Não preciso de uma babá.

— Nem de perto — concordou. — Mas você não é imortal.

Então, os suspiros de exclamação nos chamaram a atenção. Na porta do vagão, Beatrice era amparada por Christina, enquanto Quatro sorria para ela do canto oposto.

— Eu achei que tinha que vir — disse ela aos amigos que perguntavam por que ela estava ali.

— Quem te liberou? — perguntou Eric, me fazendo andar com ele até onde estavam.

— Eu mesma.

— Você? — repetiu, logo encarando-a com descrença. — Está bem.

Sua atitude me surpreendeu, mas eu sabia que não ficaria assim, sem ameaças ou dor física. Algo estava por vir.

Conforme nos aproximávamos de fosse lá onde os jogos aconteceriam, Quatro e Eric pegaram as bolsas em que as armas estavam e as jogaram em frente aos iniciados.

— O jogo é simples — disse Quatro. — É como Caça-Bandeira.

— A arma da vez — mostrou Eric, levantando o rifle disparador vermelho.

— Chama isso de arma? — zombou Moly, tentando chamar a atenção de Peter ao seu lado.

Em um piscar de olhos, Eric atirou contra a perna da garota. No mesmo segundo em que o dardo penetrou sua perna, Moly se jogou contra a lata do trem atrás de si. Logo, caindo no chão e gritando de dor.

— Dardo neuroestimulante — apresentou. — Um presentinho da Juliett para vocês hoje. Ele simula a dor de um ferimento feito por uma bala de verdade. Só dura alguns minutos.

Senti Quatro se inclinar em meu ombro, perguntando:

— Isso é seguro?

— Quer que eu responda sinceramente? — perguntei de volta. — Eu não tive tempo para testar, então estou torcendo para que não cause efeitos colaterais.

— Como o quê?

— Não sei. Algo como amputar a perna ou o braço? Disso eu acho que não passa. Eu espero.

Quatro e eu trocamos olhares cúmplices, nós dois torcendo para que não chegasse a esse ponto.

— Dois times. Quatro e eu somos os capitães — anunciou Eric.

— Você escolhe primeiro — mandou Quatro.

Eric olhou a todos no vagão antes de anunciar o primeiro membro:

— Está bem. Edward.

— Eu fico com a careta — disse Quatro.

— Escolhendo os mais fracos para ter a quem culpar quando perder? — debochou o líder.

— Por aí — ponderou. — Você já tem a Juliett mesmo.

Pisei em seu pé com força quando falou isso, Quatro tendo que segurar ao extremo um grunhido de dor. Eric apenas assentiu, mesmo que seu olhar dirigido a mim dissesse o oposto do que foi dito.

Conforme os times eram formados, todos já pegavam as armas. Até mesmo eu tinha uma, por mais que eu não acreditasse que fosse atirar.

Ao longe, vi a silhueta do que no passado devia ter sido um parque de diversões abandonado. Instantaneamente descobri que seria ali que jogaríamos.

Meu medo logo chegou quando Eric e todos do seu time se colocaram em posição para saltar do trem. Eu não havia pensado naquele detalhe, e agora parecia tarde demais para desistir. Senti mãos me segurando pela cintura, mais apertado do que um abraço normal.

— Esqueceu que teria que pular?

— É tarde demais para eu voltar, não é? — perguntei e ele assentiu. — Não me deixe cair.

— Eu nunca deixaria, amor.

E num piscar de olhos, segundos em que corremos para a beirada, senti meu corpo no ar, a gravidade logo nos atuando em puxar-nos a orbita gravitacional. Fechei meus olhos e não consegui mais abri-los, mesmo que sentisse que já estivéssemos em um terreno firme.

— Já pode abrir os olhos, Juliett — sussurrou em meu ouvido. — Está segura.

Lentamente, fiz como instruído. Quando abri meus olhos completamente, percebi que estávamos no chão. Perto de nós, estava uma alta torre e mais a frente tinham caixotes que seriam ótimos esconderijos.

— Juntem aqui — mandou Eric aos iniciados, correndo para que desse tempo de montar uma estratégia antes do time de Quatro saltar. — Qual o seu plano?

Enquanto pensavam, Eric tirou uma bandeira florescente de dentro do colete. Ela seria o que esconderíamos.

— Vamos mandar uma equipe para tentar achar a bandeira deles — sugeriu Edward.

— Deveríamos atacá-los com toda força — contrapôs Peter.

— Esse é o melhor jeito de perder — afirmou Eric. — Não sabemos onde estão.

— Vamos dividir em dois grupos: um de ataque e outro defesa — propôs Molly.

— Vamos esconder a bandeira lá em cima — sugeriu Peter, apontando para a torre. — Uma pessoa fica na defesa e o resto parte para o ataque.

Eric pareceu ter aprovado o plano do garoto. Enquanto isso, eu já sabia onde a bandeira do outro grupo estava. Tão óbvios, e nem um pouco discretos. Dali de baixo, pelo canto livre de qualquer construção, vi as luzes azuis dos uniformes de duas pessoas do time de Quatro. E ali com eles o tecido laranja brilhante resplandecia.

Molly foi a escolhida para proteger a bandeira, afinal Cristina a chamava de tanque de guerra por um motivo. Quando todos se colocavam em posição de ataque, escondidos atrás dos caixotes, Eric lhes entregava os disparadores de fumaça que bloqueariam sua visão.

Entretanto, eles não pensaram em como pegar a bandeira, fazendo assim com que eu tomasse a liberdade de ir atrás dela. Mas eu não iria sozinha. Quando vi ele passar por mim, agarrei-o pela blusa, fazendo com que parasse de andar.

— Mudou de ideia e agora você me quer, Juliett?

— Credo! — exclamei. — Hoje não, querido. Nós vamos atrás da bandeira.

— E você sabe onde ela está? — perguntou Peter.

— É claro que sei — respondi, sorrindo. — Cubra a retaguarda.

— E quem cobre a frente? Você?

— Você que não é.

Fora da vista de todos dos dois times, corremos pela lateral das construções, onde nunca procurariam por nós.

Peter e eu tínhamos as armas engatilhadas, prontos para atirar caso víssemos qualquer movimento próximo de nós. Ao longe, ouvimos os disparos contínuos que vinham da briga. Infelizmente, eu perdia a briga entre Quatro e Eric, algo que sempre quis ver.

A bandeira estava bem mais baixa do que tive a impressão de ver — deviam tê-la colocado ali quando desciam. Ela estava apenas alguns metros acima, o que foi fácil para que eu conseguisse subir pelas estreitas escadarias.

— Você quer ajuda? — gritou Peter lá de baixo. — Ou consegue pegar?

— Eu consigo pegar — respondi.

— Então vai mais rápido! — mandou. — O outro time vai nos vencer com a sua lerdeza!

— Você pode ficar quieto? — gritei, irritada.

— Eu ficaria se você fosse mais rápida! — disse ele. — Uma tartaruga é mais veloz, Juliett!

Então, alcancei a bandeira — não graças a Peter. Lá de baixo, ele comemorou. Mas chegara a hora de eu descer, e o tempo estava acabando. Sendo assim, sem mais nem menos, apenas gritei para que me pegasse.

Peter gritou, rapidamente esticando os braços conforme me joguei da escada. Senti o aperto firme conforme ele me colocou no chão, sua respiração exaltada de medo e alívio.

— Nunca mais faça isso! Poderia ter morrido.

— Mas você me pegou — aleguei. — Vamos logo.

Corremos de volta para onde o tiroteio continuava. Peter sempre atrás de mim, olhando para os cantos conforme chegávamos perto dos tiros que eram disparados continuamente.

E nosso trabalho em equipe valeu a pena.

Levantei a bandeira um minuto antes que Beatrice conseguisse fazê-lo de cima da torre. O time de Eric gritou em vitória conforme viram a mim e a Peter chegando. Até mesmo Quatro, cujo time perdera, aplaudiu minimamente a mim, um misto de orgulho e surpresa.

Peter pegou a bandeira de minhas mãos, correndo para onde o grupo festejava com a vitória. Logo, todos eram instruídos por Quatro para voltarem para o complexo da Audácia

Quando finalmente pude respirar aliviada, todos já estavam longe. Braços me levantaram do chão, me rodando no ar inúmeras vezes. Um sorriso belo e perfeito no rosto de Eric resplandecia sob a luz amarela dos postes.

Eu não sabia se agi por impulso ou foi o calor do momento, mas correspondi quando Eric trouxe seus lábios aos meus. E depois de longos e tediosos anos, eu me senti feliz mais uma vez. Aquele sentimento que crescia em mim era tão errado.


𝐍𝐎𝐓𝐀𝐒 𝐅𝐈𝐍𝐀𝐈𝐒:

Ahhh como eu queria escrever esse capítulo logo! Não fazem ideia do quão ansiosa eu estava por esse momento.

Estão gostando? Mesmo depois de tantos meses sem atualizar?

Publicando capítulo fora de data? Exatamente, tudo porque publiquei uma nova fanfic sobre Medici, Masters of Florence chamada RENAISSANCE. Poderiam dar uma olhadinha?

VOTEM e COMENTEM
[NÃO REVISADO]

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