1 - 𝙋𝙍𝙊́𝙇𝙊𝙂𝙊

𝗗𝗜𝗩𝗘𝗥𝗚𝗘𝗡𝗧𝗘

Disparei a flecha em direção ao alvo preso no suporte. Não obtive sucesso, no entanto. A ponta tinha como lâmina uma fina camada do novo experimento que eu estava testando. Ele deveria ser mais fino e muito mais letal, difícil de remover. Entretanto, ainda não havia conseguido balancear seu peso. Errei o alvo.

Xinguei, esbravejando em busca do motivo pelo o qual eu não conseguir melhorar minha mira, sendo que eu a treinava há anos. Era certo de que eu treinava relativamente pouco. Os estudos me ocupavam a maior parte do tempo. Minha mãe exercia grande papel no meu confinamento pessoal. Ela fazia de tudo para me impedir de atravessar para outras facções, para me impedir de viver.

Engatei outra fecha no arco, puxando a corda até ela tencionar. Perto do meu rosto, mirei novamente o centro pintado por vermelho. Preparei para soltar a flecha, mas antes fui impedida. Ele se posicionou atrás de mim, segurando minhas mãos até mais acima e separando meu pé. Ele soltou a flecha que rodopiou do ar até atingir diretamente o alvo.

— Sempre mire mais acima — disse ele, em meu ouvido. — O peso tende a fazê-la cair.

— Eu teria conseguido sozinha.

— Não teria não, principalmente porque você é muito mais baixa, isso atrapalha na hora de mirar.

— Pode sair de cima de mim agora? — Perguntei.

Ele recuou, mas não tanto. Ele cruzou os braços, sorrindo para mim. Abaixei o arco, o colocando pendurado em meu ombro. Mudei o peso do meu corpo para o outro pé. Quando sai de manhã, o dia estava mais quente. Entretanto, agora passava a esfriar. Eu não deveria ter vindo de saia.

— Como me achou? — Perguntei. Ele abriu a porta, esperando que eu passasse. — É sério, Eric.

— Eu não te vi nas aulas mais cedo, Juliett. E eu sei bem onde você vai quando não está estudando.

— Demorou esse tempo todo para vir até aqui? Você que mais mata aula em toda a cidade.

— Fiz o teste hoje — revelou.

— E então? Em qual facção foi classificado?

— Audácia.

Congelei no lugar. Sorri para meu melhor amigo, feliz por ele ter pegado a facção que mais queria. Eric não tinha um bom entendimento com os pais, nunca teve. Nascido na Erudição, os pais dele sempre esperaram que o filho fosse estudioso e tirasse as melhores notas. Não que ele não o fizesse, mas o problema estava no irmão mais novo de Eric, a quem todos esperavam um grande futuro, deixando o mais velho de escanteio.

— Isso é bom — falei, o abraçando. — Sua vida vai ser bem melhor assim, Eric.

— A cerimônia será amanhã.

Eric estava feliz, mas sua voz indicava o contrário. Algo o incomodava — além das vestes finas que trajava e eu sabia o quanto a incomodavam. Ele me puxou para seus braços, me apertando entre eles.

— Eu não quero te deixar — sussurrou, a voz tremendo. — Eu não posso te deixar, não sozinha.

— Vai ficar tudo bem — falei, baixinho. — Eu vou ficar bem.

— Não vai, não. Sabe exatamente o que vai acontecer no minuto em que eu for embora.

— Eu sei, mas vou ficar bem contanto que você esteja na Audácia, treinando para um dia voltar e me salvar.

— Juliett...

— Estou feliz por você, Eric.

Vi Tobias passar por nós, correndo com a mão no nariz que pingava sangue. Tentei perguntar se ele estava bem, já que era um de meus poucos amigos, porém Eric me impediu.

— Foi você não é? — Perguntei, suspirando. — Qual o seu problema com ele? Sabe que o Tobias é meu amigo.

— Eu também sou seu amigo.

— Eu te socaria, sabia?

— Você não tem coragem.

Quando pegamos o trem, ficamos a viagem inteira sem nos falarmos, somente Eric com os braços em torno de mim. Aproveitamos a companhia um do outro enquanto ainda podíamos. Claro que membros de outras facções sussurraram sobre estarmos juntos. O relacionamento entre membros de facções distintas era raro, ainda mis comigo fazendo parte da que governa. Sua facção era depois da minha, então quando estávamos próximos da Erudição, Eric tirou a jaqueta azul, a colocando sobre meus ombros.

— Vai se lembrar de mim, assim — disse ele.

— Eric, só não morra. E eu posso ir de visitar, além disso, eu farei o teste em dois anos.

Desembarquei do trem, o deixando. Antes do trem se mover novamente, nossos olhares se encontraram pela última vez.

No dia seguinte, quando Eric deixou o sangue cair nas brasas, ele nunca mais olhou para mim,

mesmo quando tentei chamar sua atenção para, pelo menos, conseguir dizer um último adeus.

Meses depois, quando o dia de visita chegou, Jeanine tentou me manter presa na Erudição. Entretanto, enquanto ela estava em uma reunião, corri para pegar o trem. Felizmente, passei pela segurança sem ser notada.

A estrutura da Audácia era escura. Todos os familiares que vieram visitar foram guiados para o que parecia ser uma espécie de cratera. As cores encheram o espaço, mas os que vestiam preto predominaram. Amaldiçoei minha baixa estatura, dificultando para que eu o achasse. Braços fortes me circularam por trás, congelei imediatamente.

— Não acha aqui um lugar muito perigoso para uma formiguinha de óculos?

— Tobias! — Exclamei. Ele me soltou imediatamente, me virando até me abraçar e me levantar do chão. — Não acredito que sobreviveu!

— É claro que sobrevivi, Juliett — disse ele. — O que esperava? Que Eric me matasse?

— Eu não duvidaria — respondi, rindo. — Falando em Eric, onde ele está? Vim visitá-lo.

— E eu pensando que veio por minha causa — disse ele, fingindo tristeza. — Acho que ele está no abismo, ou no refeitório. Eu te levo até ele. Vem.

Tobias me puxou pela mão, me levando pelos corredores escuros e frios do complexo. As paredes de pedra machucariam qualquer um que ali batesse. Tomei cuidado para não me chocar contra elas, mesmo sabendo que ele não deixaria isso acontecer.

— Aqui é o abismo — disse Tobias. — Ele serve como um lembrete de que existem uma linha tênue entre a coragem e a estupidez.

A ponte de ferros conectava um lado ao outro, havendo uma grade em somente um dos lados. O mar bateu contra as rochas lá embaixo. Sua largura se estendia até onde eu não conseguia ver, o único jeito de passar para o outro lado era atravessando.

Imaginei em como deveria ser a iniciação para terem pessoas que chegavam ao ponto de tirar a própria vida.

— Filosófico — falei, depois de algum tempo encarando seu fim. — Podemos ir?

— Claro.

Tobias continuou me guiando para o que deveria ser o refeitório. Mesas longas preenchiam o lugar, o mezanino acima com poucas pessoas. Alguns audaciosos estavam ali com seus familiares, outros com amigos, e alguns sozinhos. Avistei Eric ao longe, sozinho na mesa mais distante. Ele encarava os vão de ferros da mesa, o olhar perdido.

— Ele continua o mesmo idiota — disse Tobias. Acertei meu cotovelo em suas costelas. — Ai, Juliett! Ele me odeia, eu odeio ele. Simples.

— Obrigada por me trazer. Te vejo ano que vem.

— Também vou sentir sua falta.

Com isso, ele se afastou, olhando uma última vez para mim.

Caminhei até Eric. Algumas pessoas de outras facções me encararam, sussurrando sobre o que a prodígio de Jeanine Matthews estava fazendo ali. Eu os ignorei.

— Em vez de ficar deprimido aí sentado, você deveria ter ido me buscar — falei, sentando ao seu lado.

Eric se assustou com a repentina chegada. Ele me abraçou apertado, não acreditando que eu estava ali. Ele pousou sua mão em minha bochecha, garantindo que eu não era uma alucinação.

— O que está fazendo aqui? Sozinha?

— Eu não estava sozinha, Tobias me resgatou da cratera.

— Quer dizer o "fosso"? — assenti. — Eu não sabia que vinha.

— Eu te falei que vinha no dia do seu teste. Caramba! Os socos que tomou te deixaram idiota?

— Vou ignorar essa última parte, porque, você espertinha, sabe que senti sua falta. Como chegou aqui?

— De trem. — Eric me encarou, esperando a real resposta. — A Erudição está praticamente vazia, foi fácil sair sem ninguém me ver.

— Se arriscou para vir aqui? — Perguntou, não acreditando.

— Eu estava com saudade, está bem? Não é como se eu tivesse outros amigos lá.

Um anúncio foi feito pelos autofalante, indicando que a visita estava acabando. Lamentei que eu vivesse chegado muito tarde.

— Eu preciso ir — reclamei. — Mas eu volto no ano que vem.

— Eu te acompanho até o trem. Vamos.

E no ano seguinte, quando eu voltei para o dia de visita, as coisas haviam mudado para pior. Eric e Tobias se matavam a cada minuto, uma provocação a cada segundo. Tobias continuava me tratando com antes, como se eu fosse a coisa mais especial em sua vida.

Eu costumava ser assim para Eric.

Até que ele começou a ter poder com o cargo de líder, a arrogância surgiu como nunca e ele passou a me menosprezar, como se eu não fosse mais nada para ele.

Saí da Audácia no segundo em que ele perguntou o que é que eu queria. Eu respondi que vim visitá-lo, ele retrucou com outra pergunta: por que ele iria me querer ali?

Tobias tentou de impedir, dizendo que eu podia passar o dia com ele já que eu fui uma das primeiras a chegar. Me desculpei, dizendo que não me sentia bem e que deveria voltar para a Erudição.

No instante em que pisei nos laboratórios, colocando o jaleco e pensando em algo para pesquisar e assim passar o tempo, Jeanine entrou, me oferecendo a pesquisa do ano, aquela que me imortalizaria na Erudição.

Quando eu aceite, eu fechei um pacto com o demônio.


𝐍𝐎𝐓𝐀𝐒 𝐅𝐈𝐍𝐀𝐈𝐒:

Sejam bem-vindos a minha mais nova fanfic. Dessa vez se passando no cenário de Divergente. Alguns avisos antes de continuar:

• A história pode ou não seguir estritamente os acontecimentos do filme.

• Criei uma pasta no Pinterest com algumas fotos e looks da nossa protagonista para aqueles que quiserem ter uma maior noção dela. O nome da pasta é Ludens.

• Uma vez ou outra terá graphics do capítulo. Depende da minha criatividade.

• Comentários são bem vindos. Junto dos votos, fazem com que capítulos sejam postados rapidamente.

• Todos os personagens originais do livro e filme pertencem a escritora Veronica Roth.


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[NÃO REVISADO]

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