Maternidade

Eu andava sozinha pelas ruas de um subúrbio qualquer, o vento gelado perturbava meus cabelos e me ardia os olhos. Eu quase fechava os olhos e mantinha os braços ao redor de mim mesma enquanto caminhava, imaginava eu, para casa.

O caminhão de coleta de lixo adentrou a rua e então me dei conta de que eram 3h da manhã, porque esse é o horário que ele costuma passar.

Quanto mais ele se aproximava maior ele ficava de forma que parecia que em breve subiria nas calçadas.

Seu barulho era ensurdecedor e eu precisei cobrir os ouvidos.

O caminhão estava quase me alcançando quando uma casa iluminada e com música alta me chamou a atenção.

A casa tinha o muro de tamanho médio e acima dele havia uma grade pintada de verde escuro.

O jardim estava mal cuidado, apenas a grama estava aparada e muitos brinquedos de criança se espalhavam pelo quintal.

Eu ouvia uma mulher cantando e via sua silhueta dançando através de uma janela que estava coberta por uma cortina um pouco transparente.

O som do rádio brigava com o barulho do caminhão.

De repente um menino engatinhou para fora do quintal por baixo do portão e foi engatinhando até o meio da rua.

Eu me desesperei e comecei a gritar pela mãe dele no portão, mas ela não me ouvia ou ela ouvia mas não ligava.

O caminhão se aproximava do menino e ele zanzando bem no meio da rua.

Rapidamente fui ao resgate dele. O peguei no colo e voltei para a calçada na frente do portão da casa da qual ele saiu.

Continuei a gritar pela mulher que me ignorava chegando até a fechar a janela para não me ouvir importunar-lhe a canção.

Decidi por fim passar o menino por por baixo do portão mas por algum motivo o vão que o permitiu sair estava fechado.

Então pensei em passar ele por cima do portão com muito cuidado para que ele caísse sentado na grama.

Mas quando fiz que ia levantá-lo a criança começou a crescer em meus braços. 2 anos, 3 anos, 6 anos, 8, 11. E embora magrinho eu não mais o suportava nos braços de forma que vendo seu sorriso arteiro fui obrigada a colocá-lo no chão com 12 anos, 15 anos, 16 anos.

Ele então abriu o trinco do portão e entrou em casa de novo.

Fiquei me perguntando como aquele menininho de cabelos loiros escuros e bochechas rosadas em tão pouco tempo se tornou um rapaz com sorriso arteiro me pregando uma peça como se eu fosse idiota.

E fui de fato idiota, porque para salvar a vida dele eu pus a minha própria em risco e será mesmo que ele um dia fora alguém? Ou apenas minha ilusão?

O que se diz da maternidade é que o amor nunca acaba, mas a mãe dele nem se importava.

O caminhão passou por mim nem tão barulhento e nem tão gigantesco. Passou e trouxe consigo um vapor quente e esfumaçado com odor de chorume.

Segui então meu caminho, mas como é de se esperar eu não cheguei em casa antes de acordar.

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