3. O que ele quer, o que ela quer
Apesar de ser muito elogiado na faculdade, eu ainda tinha muita insegurança quanto à minha arte, por não conseguir superar um acontecimento do sexto ano. Quando eu estava no sexto ano, ainda em minha cidade natal, Sorocaba, tive um trauma com a aula de artes. Nunca fui um aluno muito bom nessa matéria, por incrível que pareça. Na escola, artes era sobre repetir padrões de traços, desenhar apenas o que era pedido e fazer resenhas das mais diversas artes. Eu ia mal em quase tudo, justamente por não seguir os padrões. Quero dizer, quando você olhava para mim ficava evidente que eu era, na verdade, o menino mais certinho de todos. Cabelo tigela bem preto e olhos castanhos escuros. Um pouco alto e desengonçado demais para a minha idade, ainda mais com meus óculos. Quero dizer, com os óculos agora, pois não os tinha na época, e com o recente cabelo roxo. Mas ainda era o mesmo careta. Menos com a arte. Com a arte eu não gostava de seguir padrões, gostava de demonstrar tudo o que meu coração queria.
Voltando ao episódio no sexto ano... Naquela época, ainda não tinha aprendido que era preciso seguir o padrão se quisesse obter nota, então sempre tirava notas ruins. Tanto que, em determinado bimestre, fiquei de recuperação em artes. Foi meu pior momento. E não foi completamente minha culpa. O professor dera uma chance de recuperação de nota para toda a sala (porque, por algum motivo, ele achava que todos eram péssimos), mas marcara para um dia no qual não haveria aula. Não lembro exatamente o motivo para a falta de aula, apenas do que isso causou. O louco do professor, sem avisar ninguém, estacionou o carro na frente da escola, abriu o porta-malas e esperou os alunos. Bizarro! Obviamente, eu não fui um desses alunos. E os que entregaram só sabiam do carro porque alunos de séries posteriores já haviam avisado que isso poderia acontecer. E um dos alunos que foi até o carro do professor entregar o trabalho, inclusive, era meu primo. Não éramos da mesma sala, mas do mesmo ano. Ele era do C e eu do B, algo assim. Na época não havia WhatsApp para te avisarem que precisava entregar trabalho, e ele não ia aumentar sua conta de telefone absurda só para me avisar isso. E era de se esperar que eu soubesse porque, segundo ele, todos os alunos sabiam. Infelizmente, nunca fiz parte do "todo". Não tinha amizade com quase ninguém, exceto meu primo. Só que ele, ao contrário de mim, era popular, então era difícil ter tempo para mim. Ainda por cima, eu morava longe da escola, então nem passou pela minha cabeça ir até lá e ver o que deveríamos fazer quanto ao trabalho.
Bom, resumo da ópera: fiquei de recuperação. Na verdade, não apenas eu. Um grupo de 6 alunos no total, ficamos todos com zero. Foi uma baderna, e me senti mal porque nunca tinha ficado de recuperação antes, afinal, estava apenas no sexto ano. E a recuperação era assistir Mamma Mia e fazer uma resenha (ou resumo, não lembro ao certo). Meu pensamento exato, ao ouvir isso, foi "Puts, eu já não sou muito chegado em filme". Mas beleza. Aluguei o filme — porque na época ainda era em locadora que conseguíamos os filmes, pelo menos em Sorocaba —, e passei meu final de semana preocupado porque, cara, fiquei de recuperação! Chega a ser até cômico e me faz rir agora, mas eu quase chorei na hora. E eu decidi que aquilo precisava ficar impecável. Então começou. Eu fiz um baita de um resumo, deu umas cinco páginas de Word. Assisti umas cinco vezes. Foi quando comecei a gostar da história, o que se intensificou quando tirei nota máxima. Também foi aí que eu comecei a gostar muito de ABBA, muito mesmo. Hoje é minha segunda banda favorita, por causa daquele filme. E, pela experiência que tive até minha primeira nota máxima em artes, Mamma Mia se tornou meu filme favorito, porque eu gostei mesmo das músicas além de tudo.
Só que eu não disse isso para falar do meu filme favorito, ou da minha segunda banda favorita. Entrei nesse assunto para explicar o porquê de estar tremendo e suando frio enquanto esperava o professor me devolver meu desenho geométrico... Interpretativo. Sim, você deveria dar margem para interpretação usando só formas geométricas. Devo dizer que amei a proposta porque, apesar de ter forma e material determinados (giz pastel por cima de traços em lápis 6B, para que ficasse evidente que fizemos tudo em uma única versão; se já usou 6B, deve ter uma ideia do quão impossível é apagar seu traço), eu tinha liberdade para deixar a linha artística aflorar. E eu, inspirado pelo filme "2001: uma Odisseia no Espaço", desenhei um triângulo amarelo, emanando linhas de energia, dando a luz a um círculo vermelho. Era uma representação do nascimento, da alegria que isso gerava e do laço de amor entre mãe e filho. Bem, essa pelo menos era a interpretação que eu tinha em mente, mas sabia muito bem que poderiam existir outras. Há infinitas formas de se interpretar uma obra, principalmente por causa da bagagem cultural de quem a vê.
— Lucas. — O professor chamou. Por sorte eu era o único Lucas da sala. Levantei, desajeitado, meus óculos quase caindo do rosto. Arrumei a armação e caminhei até sua mesa, tentando parar de tremer. O professor, um senhor grisalho e muito severo, analisou-me enquanto erguia a canson A3 do meu trabalho, o desenho virado para ele. — O senhor me surpreendeu bastante. — Quando ele sorriu, consegui parar de tremer. Mesmo se fosse uma nota mediana, estava evidente que ele gostara. — Espero que continue assim. — Estendeu a A3 para mim e respirei fundo antes de ver a nota. 9,5. Eu quis explodir de alegria. Aquele professor já avisara que não era de dar mais do que 8. — A maior nota da sala. — Ele aumentou o tom de voz ao dizer isso, chamando a atenção de todos. A maior parte da sala me fuzilou com os olhos, raivosa. — Parabéns.
— Obrigado. — Baixei o rosto, com um sorriso tímido, e arrumei a armação dos meus óculos, devolvendo o desenho para ele e voltando para o meu lugar. Ele continuou entregando as notas e eu peguei meu celular, compartilhando a novidade com meus pais.
Nada iria acabar com meu bom humor.
Quando cheguei no Tatuapé, mais cedo do que o normal, comecei a ficar ansioso por algo que não tinha nada a ver com a faculdade: Caroline. A garota que eu conhecera no dia anterior ainda não se encontrava no ponto de ônibus, ou no ônibus. Por isso eu fiquei no primeiro lugar da fila do ônibus, ainda na plataforma, deixando todo mundo passar na minha frente enquanto esperava ela.
Fiquei duas horas ali, com um misto de êxtase pela nota e preocupação com a demora de Caroline. Será que ela faltara naquele dia? Será que já fora para casa? Será que eu não teria a chance de vê-la novamente?
Então suas mechas de tom rosado apareceram, descendo a escada rolante. Eu quis fechar os olhos e agradecer a Deus por isso, mas achei que ela estranharia me ver fazer isso. Sorri e ela sorriu de volta, caminhando até mim.
— Olá. — Ela parou ao meu lado e balançou as pernas. Parecia nervosa, por algum motivo. Será que também recebera alguma nota, e não fora das melhores?
— Tudo bem, Caroline?
— Sim, e com você?
— Melhor impossível! — E não era só por causa da nota.
— Que animação! — Soltou uma risadinha encantadora. Havia algo de muito único nela, e eu ainda ia descobrir o que era. — Aconteceu alguma coisa?
— Tirei a maior nota da sala em Desenho Geométrico!
— Que legal! — Sabe quando a pessoa só diz que é legal para ser educada? Não era o caso. Caroline sorria tanto que parecia uma conquista dela. — Você faz Design?
— Sim. — Fiquei ainda mais extasiado por ela entender tão rápido qual o meu curso. — O que você faz?
— Letras.
— Sua cara! — Sorri, porque era mesmo. Acho que se existisse um perfil perfeito para o curso de Letras, esse perfil seria o de Caroline. Tudo nela transpira Letras, até a mochila absurdamente gorda e pesada. Dava para ver o formato dos livros nela. Ao notar isso, coloquei a mão em sua alça e olhei nos olhos de Caroline. — Não quer que eu carregue? Está muito pesada para seu tamanho.
— Minha mãe vai dizer o mesmo quando ver isso. — Riu, balançando a cabeça e afastando a mochila de mim. — Já vamos entrar no ônibus. Se fôssemos sair juntos ou algo assim, eu deixaria porque você é obviamente mais forte que eu. — Por algum motivo ela ficou vermelha e eu me senti lisonjeado. O motorista nos chamou e subimos as escadas do ônibus, logo passando nossos bilhetes únicos no visor diante da catraca e nos sentando lado a lado, no mesmo lugar do dia anterior. — Você mora aqui há muito tempo?
— No Tatuapé ou em São Paulo?
— No Tatuapé.
— Desde janeiro.
— E você nasceu onde? — Quando ela perguntou, percebi que era muito observadora. Claro que dei dicas ao perguntar se estava se referindo à cidade, mas, ainda assim. A maior parte das pessoas não dava a mínima quando eu falava isso.
— Sorocaba, lá na fazenda. — Zoei, fazendo-a rir. — O pessoal sempre acha que é uma cidade rural, e que eu sou acordado pelo galo todos os dias para ordenhar a vaca, se não fico sem leite pro café... Então eu já me adianto na brincadeira.
— Você tem um pouco de sotaque do interior mesmo, então já tinha imaginado. — Viu, observadora! — Mas não posso dizer muito sobre, porque todo mundo diz que eu falo com o 'r' puxado.
— E você é de onde?
— São Paulo mesmo.
— Então por que falam do seu 'r'?
— Deixa eu te mostrar. — E, dizendo isso, ela colocou as mãos sobre as coxas e começou: — Por quê? Por favor. Ratoeira. Roseira. Raro. Rubro. — Comecei a rir assim que o motorista deu partida no ônibus lotado. Ela realmente falava com o 'r' muito puxado, não como uma pessoa do interior de São Paulo ou como qualquer outra pessoa que eu já conhecera. Era engraçado e encantador ao mesmo tempo.
— Ok, isso vai me ajudar a não me sentir mal quando disser "nóis" sem querer em uma conversa.
— Você não precisa ser do interior para falar "nóis", aqui em SP falam direto. — Gostei do modo que ela disse "SP", lembrou-me daquela música "Não Existe Amor em SP". Aliás, espero que haja, ou terei sérios problemas. — E não se preocupe em falar corretamente comigo, porque eu posso me preocupar com o modo que falo, mas não me importo se a fala dos outros tiver inadequações.
— Inadequações? — Eu fiquei encantado com a palavra. É, ela realmente se preocupava em falar corretamente, o que era um charme.
— Quando começamos o curso de Letras, nos deparamos de cara com Linguística, a principal matéria que nos ensina a não ter preconceito linguístico. — Sorriu, os olhos brilhando em sintonia, e ficou evidente como gostava do curso. — Confesso que tinha antes, mas aprendemos que quando uma pessoa fala fora do padrão não está errada, apenas teve inadequação na fala. Não há erro na língua, principalmente porque ela é algo vivo e sofre constante mudança. O que achamos inadequado hoje, pode se tornar norma amanhã.
— É muito legal da parte de vocês pensar assim.
— Amém Sociolinguística. — Ela riu, fazendo-me rir também. Então olhei de soslaio para a janela e percebi que meu ponto habitual se aproximava, mas não queria acabar a conversa. Então decidi descer no mesmo lugar que no dia anterior.
— Acho que, pelo que está dizendo, Linguística é uma matéria que qualquer curso de humanas deveria ter. — Inclusive o meu, mas não me atentara à matriz curricular do Mack para considerar se tinha ou não.
— Talvez tenha, eu apenas nunca vi as matérias presentes em outros cursos.
— Vou me informar disso depois e te falo. — Apesar de minha frase ser inocente e simples, havia um grande significado por detrás dela: eu queria rever Caroline. E pretendia revê-la.
— Vocês têm aula com Photoshop?
— Sim.
— Eu amo Photoshop!
— Você sabe mexer no Photoshop? — Fiquei impressionado. A maior parte das pessoas costuma dizer que Photoshop é muito difícil e nem tentam aprender a mexer. Acho que, como eu, Caroline não se encaixa no "todo".
— Sim! O CS6 é o meu favorito, o meu tem até 3D, apesar de eu nunca usar. Uso mais as ferramentas comuns para vetorizar imagens e fazer todos os tipos de edição com elas, para criar capas de livros. — Sua animação logo sumiu quando olhou pela janela. — Ah, seu ponto está chegando. — E se movimentou para me dar passagem.
— É. — Meu ponto falso estava chegando. Levantei e passei por ela, tristonho. Então algo me atingiu: — Te vejo amanhã?
Ela me olhou, piscou e pareceu pensar em algo. Levou alguns segundos até dizer:
— Te vejo amanhã!
E eu saí do ônibus ainda mais animado, repleto de perspectivas para o dia seguinte. E para o próximo. E o próximo. E o próximo...
A animação de Lucas era quase palpável.
— Olá. — Balancei as pernas ao ficar ao seu lado, nervosa. Será que ele estava esperando alguém? Uma namorada, talvez? Um cara tão lindo assim não podia ser solteiro, a lei da vida não permite. Quero dizer, sempre que encontro um cara incrível, ou ele namora, ou é gay. Não há uma trégua para mim. Um bi não podia aparecer na minha vida não? Descomprometido, por favor. E calma, eu estou mesmo chamando Lucas de lindo em pensamento? Uau. É inédito para mim gostar de caras que não usam óculos. Acho que óculos são meu ponto fraco, e Lucas não estava de óculos em nenhuma das ocasiões em que nos vimos. Diferente do cara lindo da biblioteca.
— Tudo bem, Caroline? — Ele falava meu nome diferente, com um sotaque que parecia ser um pouco como o do interior.
— Sim, e com você?
— Melhor impossível! — De fato, a animação dele era quase palpável. De novo pensei em uma possível namorada e, apesar de não querer deixar na cara que gostaria de ter informações sobre, tive que me pronunciar.
— Que animação! — Ri, porque o bom humor dele me causava igual bom humor. — Aconteceu alguma coisa?
— Tirei a maior nota da sala em Desenho Geométrico! — Quando ele disse isso, tive vontade de apertá-lo em um abraço de comemoração. Pena que não tínhamos intimidade.
— Que legal! — E eu realmente achava legal. Sou péssima com réguas, então eu com certeza tiraria zero. Quem no mundo consegue desenhar linhas tortas usando uma régua? Só eu mesmo! E, como se uma chavinha tivesse virado em minha cabeça, percebi que essa informação entregava qual o curso dele. — Você faz Design?
— Sim. — Ele sorriu ainda mais e interpretei isso como amor pelo curso. É muito bom ver alguém que realmente ama o que faz. — O que você faz?
— Letras. — Se ele fizesse alguma piada como "em qual letra está agora" ou se perguntasse se eu queria ser professora, eu pararia o assunto na mesma hora. Não há nada que me irrite mais do que a visão estereotipada que as pessoas têm do curso de Letras.
— Sua cara! — Ele sorriu e eu quis abraçá-lo. Era a melhor reação que uma pessoa já tivera diante de minha revelação de curso. — Não quer que eu carregue? Está muito pesada para seu tamanho. — E eu derreti com isso, apesar de ter tomado um susto quando ele tocou em minha mochila.
— Minha mãe vai dizer o mesmo quando ver isso. — Ri e balancei a cabeça, tratando de afastar a mochila dele. Se um dia virássemos amigos, então eu o deixaria ser gentil. Naquele momento, só tinha vergonha da possibilidade de ser uma folgada. Não queria me aproveitar de sua simpatia. — Já vamos entrar no ônibus. Se fôssemos sair juntos ou algo assim, eu deixaria porque você é obviamente mais forte que eu. — Fiquei envergonhada por ter dado a entender que pensava em ter um encontro com ele. Qual o seu problema, Caroline? O cara só está sendo legal! Não é para dar em cima dele! Logo você, que nunca dá em cima de ninguém. O motorista nos chamou e subimos as escadas do ônibus, logo passando nossos bilhetes únicos no visor diante da catraca e nos sentando lado a lado, no mesmo lugar do dia anterior. — Você mora aqui há muito tempo? — Será que estava muito evidente que eu tentava puxar papo porque queria conhecê-lo melhor? Espero que não!
— No Tatuapé ou em São Paulo? — Quando ele disse isso, lembrei do sotaque do interior e me dei conta de que minha teoria estava correta.
— No Tatuapé. — Vamos por partes, assim consigo descobrir o máximo de coisas.
— Desde janeiro.
— E você nasceu onde?
— Sorocaba, lá na fazenda. — Eu ri quando ele disse isso, porque estava claro que ele ouvira muito aquele comentário. E eu sabia que Sorocaba não era uma cidade rural, mas o senso comum sempre indica que qualquer cidade de interior é rural. Sorocaba é uma cidade grande, até. Não se compara a São Paulo, claro, mas São Paulo é uma cidade enorme, então não dá para usar como parâmetro. — O pessoal sempre acha que é uma cidade rural, e que eu sou acordado pelo galo todos os dias para ordenhar a vaca, se não fico sem leite pro café... Então eu já me adianto na brincadeira. — Tive que rir de novo, porque a imagem que essas frases criaram na minha cabeça era um misto de humor e encanto.
— Você tem um pouco de sotaque do interior mesmo, então já tinha imaginado. — Tive que revelar o quanto prestara atenção. — Mas não posso dizer muito sobre, porque todo mundo diz que eu falo com o 'r' puxado. — E soltei a informação mais inútil de todas.
— E você é de onde?
— São Paulo mesmo.
— Então por que falam do seu 'r'? — Bem, essa é a minha pergunta também, o tempo todo.
— Deixa eu te mostrar. — Eu ia pagar mico? Ia, mas queria fazê-lo sorrir. — Por quê? Por favor. Ratoeira. Roseira. Raro. Rubro. — Ele riu e eu quis gritar, triunfante. Consegui!
— Ok, isso vai me ajudar a não me sentir mal quando disser "nóis" sem querer em uma conversa. — E quando ele disse "nóis", derreti mais um pouquinho.
— Você não precisa ser do interior para falar "nóis", aqui em SP falam direto. — Principalmente homens, não sei porquê. — E não se preocupe em falar corretamente comigo, porque eu posso me preocupar com o modo que falo, mas não me importo se a fala dos outros tiver inadequações. — E eu quis me matar assim que disse isso. Quão idiota é falar termos da faculdade em conversas do dia a dia?
— Inadequações? — Viu? Ele estranhou, porque nenhuma pessoa inteligente cometeria o mesmo erro que eu.
— Quando começamos o curso de Letras, nos deparamos de cara com Linguística, a principal matéria que nos ensina a não ter preconceito linguístico. — Sorri, lembrando de algumas das minhas aulas favoritas. — Confesso que tinha antes, mas aprendemos que quando uma pessoa fala fora do padrão não está errada, apenas teve inadequação na fala. Não há erro na língua, principalmente porque ela é algo vivo e sofre constante mudança. O que achamos inadequado hoje, pode se tornar norma amanhã.
— É muito legal da parte de vocês pensar assim.
— Amém Sociolinguística. — Rimos e percebi quando ele olhou para a janela. Será que a conversa estava chata? Minha companhia era insuportável?
— Acho que, pelo que está dizendo, Linguística é uma matéria que qualquer curso de humanas deveria ter.
— Talvez tenha, eu apenas nunca vi as matérias presentes em outros cursos.
— Vou me informar disso depois e te falo. — Isso me fez ficar um pouco esperançosa. Ele pretendia me ver de novo? Não me achara tão chata quanto parecia?
— Vocês têm aula com Photoshop? — Perguntei, aleatória como sempre.
— Sim. — Ele sorriu e eu percebi, pelo brilho em seus olhos, que gostava de Photoshop tanto quanto eu.
— Eu amo Photoshop! — Mais informação inútil. Parabéns Caroline!
— Você sabe mexer no Photoshop? — Parecia descrente.
— Sim! O CS6 é o meu favorito, o meu tem até 3D, apesar de eu nunca usar. Uso mais as ferramentas comuns para vetorizar imagens e fazer todos os tipos de edição com elas, para criar capas de livros. — E percebi onde nosso ônibus estava chegando. — Ah, seu ponto está chegando. — Eu me movi para dar passagem para ele, apesar de querer conversar ainda mais.
— É. — Por algum motivo, ele pareceu triste. E me surpreendeu ao perguntar: — Te vejo amanhã?
Olhei para ele e pisquei várias vezes. Ele estava mesmo gostando de me conhecer? Será que era solteiro? Ou alguém com uma namorada muito legal? Porque meio que parecia que estava querendo "marcar" para me encontrar. Por que ele queria me encontrar? E será que não disse por educação? Bem...
— Te vejo amanhã! — Arrisquei, querendo me prender ao fio de esperança que nascia. Então o observei sair do ônibus e sorri comigo mesma, pensando nas possibilidades.
Nós nos encontramos nos outros dias, sempre conversando sobre os assuntos mais variados. Então sexta-feira chegou e Lucas me surpreendeu com algo que eu nunca imaginara.
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