Capítulo único
Aleá ajustou as luvas de couro e puxou as alavancas quentes que regulavam o funcionamento do motor. Usava um traje metálico dourado que reluzia no interior do gigante. A sacerdotisa do Culto do Óleo de Silicone olhou através dos EPI de lente oval, maravilhada, a máquina funcionando. Fungou fundo para que o cheiro de óleo queimado e combustível penetrassem fundo em sua alma. Finalmente, ergueu a jarra de óleo acima da cabeça e pronunciou mais uma parte do ritual.
— Que o poder do methil-polisil-oxanes lubrifique as divinas engrenagens!
Derramou, lentamente, o óleo dourado e viscoso na boca do funil. Duas sacerdotes, com os macacões prateados, apoiavam com devoção o funil de cano longo que conduzia o óleo para tanque.
O lubrificante fluiu para a caixa de marchas, como o sangue de um titã para alimentar a força brutal daquela máquina de combate. O ritual de lubrificação do draco-mecano prosseguia.
Aleá desceu pela escada da barriga do mecano e foi até o oleáreo pegar um pote de graxa de sabão de alumínio. Trazendo-o aos pés da máquina, fez a oração, junto com os acólitos de prata e bronze.
— Oh, grande Molykote, que as engrenagens de nosso campeão fiquem precisamente lubrificadas. Dai resistência ao fluxo! Suportai mais pesada das cargas! Preservado seja o metal, mantida seja a pressão!
Sob a supervisão atenta de Aleá, as acólitas tiraram a graxa da lata com colheres e aplicaram nas engrenagens das pernas e braços da imensa máquina,
— Glória! Glória aos mestres da ciência! Pois nela se encerra o último mistério!
O trabalho estava terminado. Aleá reuniu sua equipe para mais uma prece.
— Devemos gratidão ao sábio K-Droide, mestre dos infográficos e senhor dos manuais! Graças a K-Droide! Sem manuais, o que seria de nós? Graças a K-Droide, pois os manuais são a nossa luz-guia! Glória a todos manuais de nossa base! Que sejam eternamente preservados!
Aleá alinhou suas acólitas em duas filas perfeitas. Na primeira, as de macacão prateado e na seguinte, as de bronze. O tecido metálico, liso e lustroso, fora banhado com o lubrificante de nano-carbonita, tornando-os repelentes e intocáveis a todos os tipos de óleos e graxas. Eles brilhavam com orgulho, observando a chegada do piloto. Sua capa azul era segurada por dois meninos que vinham seguindo-o com sorrisos brancos destacados nos rostinhos cor de chocolate.
— Salve, salve o piloto! — Bradaram as companhias de prata e bronze.
O piloto os saudou com um aceno vigoroso e encenou o asana do guerreiro, erguendo as palmas da mão unidas, enquanto flexionava as pernas para baixo. Isso deu oportunidade aos porta-capa de desatarem a capa azul dos botões, acima do ombro. A dupla escalou o draco-mecano com agilidade e prendeu a capa, formando o estandarte, vinte metros acima, na ponta do chifre central.
Aleá se aproximou do piloto e com seu baton de graxa de capivara, untou a testa do guerreiro proferindo bênçãos.
— Que as bênçãos das sete ciências recaiam sobre ti, nobre piloto e defensor de nosso povo!
O traje vermelho do piloto contrastava sua tez escura azulada. Seus olhos grandes, fixos na sacerdotisa, não demonstravam qualquer emoção. Não cabia ao piloto sorrir, não cabia a ele amar, sua única e mais sagrada função era pilotar a máquina de maneira otimizada.
O operador do portão, a quase um quilômetro de distância, mantinha olhar fixo no piloto através de seus binóculos. Assim que ele recebeu o beijo de Aleá e subiu para o cockpit do draco-mecano, ele colocou o instrumento de lado e começou a girar a manivela. O portão da estação subiu devagar. A escuridão, vinda de fora, escorreu para dentro do hangar, comendo o piso, depois as paredes. Mesmo os uniformes brilhantes das equipes prata e bronze, foram engolidos. A última luz que permaneceu, foi o dourado do macacão de Aleá, mas nem o mais sagrado dos dourados, pode resistir ao poder do breu.
A escuridão dominou todo o espaço, trazendo junto de si uma onda de silêncio, até que cada um não podia ouvir nada além do que os batimentos do próprio coração.
Um par de fachos de luz cônica acendeu-se a partir dos olhos do draco-mecano e fizeram a escuridão recuar. O ronco do motor se expandiu, vencendo o silêncio e o guinchar das engrenagens antecipando as pancadas das patas metálicas contra o piso da estação.
Sacerdotes de abastecimento, solda e lubrificação vibraram.
— Vai, dragão! Vai, dragão! Senhor da luz, contra senhor da escuridão!
Aleá, orgulhosa, observou-o furando a escuridão. O portão aberto formava um retângulo de escuridão densa. Ele saiu da estação e o portão desceu, fazendo a escuridão recuar até que todo o hangar se preencheu com luz gloriosa.
O operador de esteiras colocou-as em movimento. O zumbido de cem máquinas soou no hangar e Aleá observou a nova peça que deslizava até sua equipe. Bradou com lágrimas nos olhos.
— Glória! Glória a Molykote! — Era uma expressão berrada, chorosa e mais fervorosa que as de costume. A equipe estava excitada.
— É um o Drax-5002! — Uma das acólitas de bronze deixou escapar.
— Vamos lubrificar um Drax-5002! — Saltitou uma das prateadas.
O mecano de quarenta metros de envergadura deslizava lentamente.
— Oremos, irmãs! — Disse Aleá sentindo fulguras divinas recaindo sobre si.
— Depressa, Xuli! Busque o manual da série Drax 5K! — Aleá chamou a líder dos acólitas de prata.
— Será uma grande honra, senhora!
O dia só começava, mas seria glorioso para a equipe.
— O manual, senhora! Aqui está! — Xuli entregou-o com entusiasmo.
— Vamos, irmãs! Em formação. Façamos a leitura do sagrado manual. Magna, a primeira página, por favor.
A acólita de bronze tomou o manual em mãos e leu em voz alta — Informações gerais: Este manual apresenta informações sobre diferentes versões da série Drax 5K. Portanto, podem existir descrições de equipamentos e características que não são aplicáveis ao modelo específico adquirido. Leia cuidadosamente este manual para conhecer o funcionamento, os combustíveis, lubrificantes e...
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