Capítulo 3: Festa dos prazeres da ilha encantada
Quantidade palavras: 1252
O quarto era suntuoso, havia lençóis de seda sobre a grande cama, o dossel era de ouro, as cortinas brancas foram fechadas, Ivan estava deitado olhando para o teto. Era noite, ele não dormia, seus instintos clamavam pela caçada. Se sentou, o colchão se afundando com seu peso, cabelos escuros cobrindo sua visão, jogou os fios para trás e se levantou. Era um corpo esguio em uma camisa semi aberta de cordões.
Se sua beleza encantava em pleno dia, à noite ela se tornava como um veneno mortal. Seu corpo clamava, sua garganta estava ressecada. Sua mente estava repleta de olhos azuis-celestes, seu nariz ainda imerso no perfume corporal do cavalariço. Sabia onde estava só com o olfato e se concentrasse na audição, ouviria o som dos batimentos cardíacos. Aquele jovem, com certeza, seria delicioso.
Batidas na porta romperam suas considerações cuidadosas em como abordaria o rapaz. Olhos abertos, tão cinzas quanto a lua. Ele caminhou para a porta, esta foi aberta e uma mulher estava ali, era uma das nobres que viu no salão pela manhã. Era bonita para uma humana, seu cheiro estava carregado do hálito do rei, possivelmente uma de suas amantes.
A nobre sorriu.
– Conde Aldrelean, não é? Sou Madame Manon. – mão estendida, o conde beijou o dorso.
– Uma honra conhecê-la. Deseja entrar?
O que Ivan poderia fazer quando seu jantar vinha, de tão bom grado, se oferecer para ele? Ela o beijou ferozmente, era uma mulher libertina e indomável. Foi empurrada contra a porta, o conde abriu a roupa da madame com pouca educação, rasgando e por fim gravando seus caninos no pescoço da jovem. O sangue fluiu, tinha um gosto agridoce na ponta da língua. A boca dela aberta em "o", não sentia dor, mas um prazer inimaginável e viciante. Afinal, um predador como ele teria seus truques para garantir o retorno dócil de sua presa.
O corpo dela estava mole em seus braços quando ele acabou. O conde a depositou em sua cama, Manon estava viva e acordaria em breve, mas não se lembraria do que ocorreu, mas saberia que sentiu muito prazer. Ivan limpou o canto da boca com o pano que carregava no bolso, beber direto da fonte era mais agradável que o sangue guardado nos porões do seu castelo. Ele usava uma erva para evitar que o líquido precioso coagulasse, mas o sabor continuava sendo detestável.
Ivantie foi em direção à janela, o jardim havia se transformado num palco perfeito para uma grande festa. Amanhã seria o grande dia, a noite seria festejada, desejos desfrutados e fantasias concretizadas. Talvez até mesmo as ideias do conde.
O rei adentrou a festa com uma comitiva, Luís XIV como o destaque, a máscara de sol em seu rosto, suas roupas douradas, ele encarnava a imagem literal de um "Rei-Sol". Estava no centro da festividade, no centro do poder, nada poderia detê-lo. Apenas a morte, e ela chegaria para ele também.
Do outro lado, a rainha, Maria Teresa, parecia interessada na companhia masculina dos nobres, sua atenção pouco voltada ao marido ou a amante que era tida como a senhora da festa.
Ivan desviou o olhar, procurando um rosto em meio aos servos, não notando quando Louise se aproximou. Ela vestia um elegante vestido preto com gotas de diamantes costurados ao longo da saia, sua máscara fazia alusão a lua, parceira ideal do sol.
– Isso vai acabar mal. – Ivan não se virou.
– Vim para pedir desculpas, mas vejo que continuará com essas críticas.
O conde pegou uma taça de vinho da mesa, estava pouco desejoso da bebida escarlate, mas poderia tomá-lo se quisesse.
– Sou seu amigo, Louise. Sempre desejarei seu bem, afinal, é a minha cunhada.
– Fui. Brândusa, está morta.
Era como cutucar uma ferida aberta, Ivan se encolheu em dor e Louise também. Embora fosse um fato, Brândusa estava morta, o povo tinha se reunido para prendê-la e depois a queimaram na fogueira como bruxa. As pessoas que a condessa ajudou, cada uma que ela curou com suas magias, estavam lá quando a amarraram no poste, quando acenderam a palha. Ivan e Louise chegaram tarde demais, só restando as cinzas para chorar. Hoje em dia, o vilarejo estava desabitado, o conde matou todos no mesmo dia.
– Continuamos como família. – ele replicou, taça vazia descansando sobre a mesa.
– Eu sei. Só.
– Está apaixonada, eu entendo. Sabe onde me encontrar quando acabar aqui. – o conde lhe deu tapinhas nas costas, parecia sem jeito ao fazê-las.
No palco erguido, uma peça de comédia-balé de Molière se desenrolava. O público estava em júbilo, o rei abraçado a Louise, se emocionava diante da peça. Já o conde encontrou finalmente o que buscava, o cavalariço tinha se aproximado, estava oculto nas sombras, assistindo à apresentação. Ivan cortou a multidão em direção ao jovem, que pareceu assustado quando o notou.
Olhos azuis-celestes, encontraram olhos cinzentos.
O plebeu não fugiu.
– Eu. Só estou de passagem. – o jovem estava acostumado a ser enxotado dos lugares pelos nobres, aquela não seria sua primeira vez.
– Gosta do que vê? – a pergunta tinha um duplo sentido desconcertante, o cavalariço arregalou os olhos, bochechas corando. – Falo da apresentação.
– Ah. Apresentação? Ah. É claro, mas se me pegarem aqui... Acho melhor eu ir embora.
– Fique. Me faça companhia enquanto passeio pelo jardim, creio que não seria de bom-tom para mim, acabar perdido pelos arbustos.
Era uma completa mentira, Ivantie nunca poderia se perder, seus instintos eram afiados demais para tal. Meio sem jeito, o jovem o acompanhou. Ele parecia tímido, mãos se apertando e olhares fixos na direção do conde, claro que o garoto tentava esconder seu interesse. Tão lindo, parecia um coelhinho acanhado.
– Seu sotaque é diferente. – principiou o plebeu.
– Sou da Romênia.
– Ah. E onde fica isso?
– Bem longe, mas poderia lhe levar para visitar, se quisesse.
– Não devia brincar assim com um plebeu.
– Eu não brinco. Meu nome é Ivantie Aldrelean e o seu?
– Jacques Aubinet, meu senhor.
O garoto abaixou a cabeça, bochechas se tornando róseas, isso deixou o conde ainda mais atiçado. Ele se aproximou, a sede deixada de lado, encanto se tornando o sentimento dominante.
– Seria estranho, se eu dissesse que sonho com o senhor? – comentou Jacques.
– Sonha? Isso é você flertando comigo? – havia um sorriso provocador no rosto de Ivan, do tipo que faria qualquer um se sentir tímido.
– Não ousaria. – um passo para trás, o jovem parecia prestes a fugir. – Não me entenda mal, apenas.
Jacques ergueu o olhar, lábios rosados sendo mordidos com relativa força.
– Apenas. O vejo nos meus sonhos e é sempre o mesmo lugar. Há tanta neve sobre os pinheiros e um castelo escuro sob luar. E depois eu vejo você e uma frase se repete: duas almas que se amam...
– Sempre se encontrarão.
– Isso. – Jacques se aproximou. – É essa a frase. Poderia ser que...
Ivan o beijou.
Talvez Ivantie nunca entendesse o que havia além da vida como vivia, mas de algum jeito aquela que se foi encontrou um caminho para retornar aos seus braços. E não importava se fosse um homem, não importava, mas sim o amor que permanecia enraizado em seu peito. O beijo se aprofundou, o conde sorvia a boca alheia, como um homem sedento.
Despedidas e reencontros, a vida era formada disso.
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