Capítulo 2: O Palácio de Versalhes

Quantidade de palavras: 822


O interior do palácio conseguia ser mais luxuoso que seu exterior. Havia lustres de cristal fino que pendiam do teto, como brincos bem elaborados de uma nobre; estátuas de ouro de mulheres, tinham as mãos ocupadas segurando os candelabros que seriam utilizados assim que a noite chegasse; havia afrescos nos tetos, em desenhos de anjos e santos, dando um ar quase divino ao ambiente.

Alguns nobres estavam no salão, um grupo de homens e mulheres tomando chá e lançando olhares curiosos e até lascivos em direção ao visitante. Ivan se sentou na poltrona, capa dobrada em seus braços. Parado ali, parecia mais uma das estátuas gregas, belo e frio como mármore. Olhos cinza absorvendo a beleza do entorno, cada parede e coluna eram partes de uma gigantesca obra de arte.

Sentiu. Alguém o observava, não eram os nobres, era outra pessoa. Ele vasculhou o salão. Houve um fechar de porta. A sensação se foi. Do outro lado do ambiente, Louise lhe chamou:

– Ivan?!

Ele se virou e se levantou para saudar a velha amiga. Louise tinha os cabelos castanhos claros em tranças elaboradas e elegantes, que deixavam seu pescoço exposto; seu vestido cinza tinha renda dourada e sua longa saia arrastava no piso encerado.

– Louise, uma honra revê-la.

Ambos se abraçaram e se afastaram em meio a risos.

– Finalmente, saiu de sua caverna. – ela lhe cutucou o braço.

Ele revirou os olhos de maneira nada elegante. Louise riu.

– Quero que conheça alguém. – ela puxou seu homem para frente, ele tinha uma altura mediana, peruca branca, tez rosada e rosto bem proporcional. Era um sujeito de beleza singular, não muito marcante. – Esse é meu amado.

– Luís XIV. O rei. – acrescentou o monarca.

Ivan apresentou as devidas saudações diante do representante de Estado mais comentado dos últimos tempos. Um homem ambicioso e detentor de poder, esses dois ingredientes poderiam se somar numa grande explosão. Um sorriso. Humanos arrogantes e ambiciosos eram os mais divertidos. Eles brincavam de poderosos, de dignos e elevados, mas desconheciam o preço real do poder e a dimensão da escuridão que habitava na ganância.

As trevas sempre moravam perto demais das ambições e desejos humanos.

– Conde Ivantie Aldrelean! Primeira vez que vejo alguém da Romênia. Então, diga-me, como é lá? – o rei o encarava como um animal exótico em exibição. Era, em síntese, desconfortável.

O conde tentou não fazer uma careta, apenas sorrindo superficialmente.

– Frio. – respondeu.

O rei esperou por mais, óbvio, que não veio. Ivan não era do tipo que falava em demasia, sua preferência era a solitude de uma sala cheia de livros.

– Um homem de poucas palavras! E quem seria sua acompanhante? A condessa? – a curiosidade da pergunta se mesclou a um tom de lascívia.

– Essa é Lenuta, minha acompanhante e amiga.

– Só ela? E sua esposa? Filhos? Servos? – Luís XIV insistiu, parecia desacreditado que um nobre só tivesse aquilo de companhia.

– Sem esposa. Sem filhos. Sem servos.

– E como vive? Numa caverna? Ou vai me dizer, que vive como a plebe, fazendo tudo sozinho? – o rei riu de sua própria piada.

O conde o encarou, seu rosto inexpressivo. A risada deu lugar a constrangimento, o rei se calou.

– Ignore o Ivan, ele não entende piadas. – comentou Louise, acariciando o braço do amante.

– De qualquer forma, espero que aproveite sua estadia, a serviçal lhe indicará seus aposentos. Faço questão que se hospede no palácio. Preciso ir agora, existem alguns preparativos a serem aprovados por mim antes da festa. – O monarca beijou Louise, um beijo apaixonado e cheio de promessas para a noite. Em outras palavras, o romeno desviou o olhar em vergonha.

O rei se apressou para a saída, seja devido a própria gafe ou a companhia cinzenta de Ivan, Luís XIV parecia ansioso para sair dali. Quase sozinhos, já que os nobres ainda continuavam tomando chá não muito longe — parecia que naquele lugar um segundo de privacidade era impossível —, o conde se aproximou da amiga.

– Louise se envolvendo com um homem casado? Isso não vai acabar bem.

– E o que isso tem a ver com você? O chamei aqui para compartilhar de minha alegria e não para me criticar!

– Louise, você não se machucou o suficiente da última vez? – Ivan voltou a alertar, ele se lembrava do choro de Louise quando seu primeiro amante morreu. Ambos não haviam sequer trocado um único beijo, já que tinham se confessado há pouco tempo. Ela chorou por dias, sendo confortada por sua irmã mais velha, na época a condessa de Ardeal, esposa de Ivantie.

– E você não está enclausurado em sua dor? Dois séculos já se passaram, Ivan! Ela morreu! Siga em frente! – replicou Louise, seu rosto vermelho de raiva.

O conde endureceu, seu corpo tremia, raiva deixando suas pupilas rubras. Ele saiu do salão, sem olhar para trás.

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